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Educação nos anos iniciais com ênfase em Matemática: desafios e perspectivas da prática educativa contemporânea

Erison Ricardo Marchi

Ivete Fernandes Gomes

 

DOI: 10.5281/zenodo.17407996

 

 

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo discutir o ensino da matemática nos anos iniciais do ensino fundamental, analisando suas bases teóricas, desafios e perspectivas no contexto educacional contemporâneo. A matemática, muitas vezes considerada uma área de difícil compreensão, deve ser compreendida como uma linguagem essencial para o desenvolvimento do raciocínio lógico, da autonomia intelectual e da formação cidadã. Partindo de uma revisão bibliográfica fundamentada em autores como Paulo Freire, Ubiratan D’Ambrosio, Dermeval Saviani e Sérgio Lorenzato, o estudo reflete sobre o papel do professor, as metodologias de ensino e a importância da formação docente. Defende-se que o ensino de matemática, nos anos iniciais, deve superar a mera reprodução de algoritmos e procedimentos mecânicos, promovendo a construção significativa do conhecimento e o pensamento crítico. Conclui-se que a educação matemática, quando orientada por princípios humanistas e críticos, contribui para a formação integral do aluno e para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e consciente.

 

Palavras-chave: Educação Matemática. Ensino Fundamental. Aprendizagem significativa. Metodologia. Formação docente.

 

 

INTRODUÇÃO

 

A educação nos anos iniciais constitui o alicerce para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social do indivíduo. É nesse período que se formam as bases do pensamento lógico, da linguagem, da autonomia e da convivência social. Dentro desse processo, a matemática ocupa papel de destaque, pois possibilita à criança compreender e interagir com o mundo de maneira crítica e estruturada. No entanto, historicamente, a matemática tem sido vista por muitos estudantes como uma disciplina árida, complexa e desmotivadora. Essa percepção, de acordo com D’Ambrosio (1996), decorre de práticas pedagógicas centradas na repetição e na memorização, que desconsideram o contexto sociocultural do aluno e o caráter dinâmico do conhecimento matemático. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017) destaca que a matemática deve ser trabalhada como uma forma de pensamento e não apenas como um conjunto de regras. O ensino dessa área, nos anos iniciais, deve priorizar o desenvolvimento de competências que envolvam a resolução de problemas, o raciocínio lógico, a criatividade e a comunicação de ideias.

Este artigo busca discutir o papel da educação matemática nos anos iniciais, analisando suas implicações teóricas e metodológicas à luz de uma perspectiva crítica e humanizadora. Fundamenta-se em revisão bibliográfica, dialogando com autores que abordam o ensino da matemática como prática social, cultural e política.

 

 

Desenvolvimento

 

 

  1. A educação nos anos iniciais e o papel formativo da escola

 

Os anos iniciais do ensino fundamental representam uma etapa fundamental da escolarização, na qual se consolidam os processos de alfabetização e letramento, inclusive o letramento matemático. Segundo Saviani (2008), a educação deve articular-se à formação integral do ser humano, compreendendo o conhecimento como uma forma de emancipação e não apenas de adaptação ao meio.

Nesse sentido, a escola é espaço de socialização do saber historicamente construído. O papel do professor é mediar o processo de aprendizagem, proporcionando ao aluno condições de compreender criticamente a realidade. Freire (1996) reforça que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção ou construção. Assim, a aprendizagem da matemática deve permitir que a criança atribua sentido ao que aprende.

De acordo com Lorenzato (2006), é nos anos iniciais que o aluno começa a perceber a matemática em seu cotidiano — em medidas, contagens, formas e relações espaciais. Cabe ao professor aproveitar essas experiências para construir uma ponte entre o conhecimento espontâneo e o saber sistematizado.

Portanto, o ensino de matemática deve ultrapassar o caráter meramente instrumental e tornar-se um meio de desenvolvimento cognitivo, social e cultural. Quando a escola reconhece a matemática como linguagem e cultura, promove uma formação mais crítica e significativa.

 

 

  1. A matemática como linguagem e forma de pensar

 

A matemática, segundo D’Ambrosio (1996), é uma criação humana que surge das necessidades de compreender e intervir no mundo. Para o autor, a etnomatemática — isto é, a matemática das diversas culturas — revela que não existe uma única forma de raciocinar matematicamente, mas múltiplas maneiras de compreender o real.

Nos anos iniciais, ensinar matemática é ensinar uma forma de pensar, organizar e representar o mundo. Lorenzato (2012) afirma que aprender matemática é aprender a raciocinar, a argumentar, a justificar e a estabelecer relações. Isso implica desenvolver o pensamento lógico e a capacidade de resolver problemas.

Smole (2003) complementa que a matemática, quando trabalhada como linguagem, favorece a comunicação de ideias, a construção de argumentos e a expressão da criatividade. Assim, o ensino dessa disciplina deve ser orientado pela resolução de situações-problema e pela exploração de diferentes estratégias de solução.

A BNCC (2017) reforça essa perspectiva ao indicar que a matemática deve contribuir para a formação do pensamento crítico e da autonomia intelectual. O estudante deve ser capaz de formular, investigar e resolver problemas, aplicando os conceitos aprendidos em diferentes contextos.

Dessa forma, a matemática nos anos iniciais precisa ser compreendida como uma construção social e simbólica, que dialoga com o cotidiano e com outras áreas do conhecimento. A aprendizagem significativa ocorre quando o aluno percebe a utilidade e o sentido do que aprende.

 

 

  1. O papel do professor e as metodologias de ensino

 

O professor é o principal mediador do processo educativo. Para Freire (1996), o educador deve atuar como um sujeito dialógico, comprometido com a transformação social. Isso implica repensar as metodologias utilizadas no ensino da matemática, buscando aproximar o conhecimento científico da realidade vivida pelos alunos.

Lorenzato (2006) defende que o professor de matemática deve ser pesquisador de sua prática, investigando como seus alunos aprendem e o que os motiva. O uso de materiais manipuláveis, jogos, atividades exploratórias e situações do cotidiano pode favorecer a compreensão dos conceitos e a construção do raciocínio lógico.

Segundo Vygotsky (1998), o desenvolvimento cognitivo ocorre por meio da interação social e da mediação cultural. O ensino da matemática, portanto, deve promover o trabalho colaborativo, o diálogo e a troca de experiências entre os alunos. Aprender matemática é também aprender a argumentar e a respeitar diferentes formas de pensar.

Freire (1987) destaca que a educação deve ser libertadora, e não bancária. No ensino da matemática, isso significa abandonar práticas centradas na repetição mecânica e na avaliação classificatória. O professor deve valorizar o erro como parte do processo de aprendizagem e incentivar o pensamento reflexivo.

As metodologias ativas — como a resolução de problemas, a aprendizagem baseada em projetos e o uso de tecnologias digitais — são alternativas que estimulam a autonomia e o protagonismo do aluno. No entanto, é fundamental que essas metodologias estejam fundamentadas em princípios pedagógicos sólidos e não apenas em modismos educacionais.

 

 

  1. A formação docente e os desafios contemporâneos

 

A qualidade do ensino de matemática está diretamente relacionada à formação do professor. Para Saviani (2008), a valorização docente é condição essencial para a melhoria da educação. O professor precisa compreender tanto os fundamentos teóricos da matemática quanto as metodologias adequadas para o ensino nos anos iniciais.

Segundo D’Ambrosio (1999), o educador matemático deve compreender o conhecimento como um fenômeno cultural e dinâmico. Isso requer uma formação que ultrapasse o domínio técnico e envolva também aspectos éticos, políticos e sociais. A matemática, nesse sentido, deve ser vista como uma forma de leitura e interpretação do mundo.

A formação inicial, muitas vezes, não prepara adequadamente o professor para lidar com as dificuldades dos alunos ou para explorar diferentes estratégias de ensino. Lorenzato (2012) argumenta que a didática da matemática precisa ser constantemente revisitada e contextualizada.

Além disso, os desafios contemporâneos exigem que o professor esteja preparado para lidar com as tecnologias digitais e as novas formas de aprendizagem. A pandemia de COVID-19 mostrou a importância do uso pedagógico das tecnologias, mas também evidenciou desigualdades no acesso e na formação digital dos docentes.

Portanto, é imprescindível investir em políticas públicas que garantam a formação continuada dos professores, promovendo espaços de estudo, reflexão e troca de experiências.

 

 

  1. Perspectivas para o ensino da matemática nos anos iniciais

 

O ensino da matemática nos anos iniciais deve ser repensado à luz de uma concepção crítica, humanizadora e significativa. D’Ambrosio (2002) defende que a educação matemática deve contribuir para a paz, a solidariedade e o respeito à diversidade. Isso implica considerar a matemática não apenas como disciplina escolar, mas como instrumento de cidadania.

Smole e Diniz (2011) afirmam que a construção do conhecimento matemático deve ser pautada em experiências que estimulem a curiosidade e o prazer em aprender. A ludicidade, a experimentação e o diálogo são caminhos para tornar a matemática mais acessível e prazerosa.

Freire (1996) reforça que ensinar exige amorosidade e respeito à autonomia do educando. O professor, ao planejar suas aulas, deve considerar o contexto sociocultural dos alunos e criar situações que despertem o interesse e a reflexão crítica.

A BNCC (2017) propõe que a matemática contribua para a formação do cidadão, capacitando-o a utilizar o raciocínio lógico na resolução de problemas da vida cotidiana. Isso exige currículos flexíveis, práticas interdisciplinares e avaliação formativa.

Assim, o ensino da matemática nos anos iniciais deve promover o desenvolvimento de competências cognitivas, afetivas e sociais, formando sujeitos críticos, criativos e conscientes de seu papel na sociedade.

 

 

Conclusão

 

A educação nos anos iniciais é a base de toda a formação escolar. A matemática, inserida nesse contexto, tem papel essencial na construção do raciocínio lógico e na compreensão do mundo. No entanto, para que o ensino dessa disciplina seja significativo, é necessário superar práticas tradicionais e promover uma educação matemática crítica, reflexiva e contextualizada.

O professor, como mediador do processo educativo, deve estar comprometido com uma prática pedagógica que valorize a participação ativa do aluno e o diálogo entre teoria e prática. A formação docente, inicial e continuada, precisa contemplar tanto o domínio dos conteúdos matemáticos quanto a compreensão de suas dimensões culturais e sociais.

As perspectivas para o ensino da matemática nos anos iniciais apontam para a necessidade de integração entre conhecimento científico, cultura e cidadania. A matemática deve ser compreendida como linguagem, instrumento de emancipação e caminho para a leitura crítica da realidade.

Conclui-se que a educação matemática, quando orientada por princípios humanistas e críticos, tem o potencial de transformar a sala de aula em um espaço de reflexão, criatividade e construção coletiva do saber.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC, 2017.

 

D’AMBROSIO, Ubiratan. Educação Matemática: Da teoria à prática. Campinas: Papirus, 1996.

 

D’AMBROSIO, Ubiratan. Etnomatemática: Elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

 

LORENZATO, Sérgio. O que é didática da matemática. Campinas: Autores Associados, 2006.

 

LORENZATO, Sérgio. Educação Matemática: Fundamentos e Metodologia. Campinas: Autores Associados, 2012.

 

SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. 41. ed. Campinas: Autores Associados, 2008.

 

SMOLE, Kátia Stocco. A Matemática na Educação Infantil: A construção do número e das operações. Porto Alegre: Artmed, 2003.

 

SMOLE, Kátia; DINIZ, Maria Isabel. Matemática e Educação Infantil: Uma abordagem lúdica. Porto Alegre: Artmed, 2011.

 

VYGOTSKY, Lev. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.