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Desafios na pandemia que ainda permanecem na escola do campo

Cintia Aparecida Lacerda Ferreira
Maria Aparecida de Magalhães
Rosivane Santana Faria Silva
Geni Aparecida de Oliveira Lemes
Marina Gonçalves Fraga
Roselene de Jesus Motta da Silva

 

DOI: 10.5281/zenodo.17372115

 

 

Resumo

O presente trabalho discute os desafios enfrentados pelo ensino remoto nas escolas do campo durante a pandemia de COVID-19 em 2021, destacando as dificuldades de acesso à internet, o analfabetismo digital, a desigualdade social e os impactos na aprendizagem dos alunos. A experiência da escola do município de Cáceres-MT evidencia a necessidade de adaptação de professores e alunos ao sistema híbrido ou remoto, utilizando recursos digitais, como Google Meet e WhatsApp, bem como a entrega de materiais impressos e alimentação. O estudo também aborda a exclusão digital e a importância da cooperação entre docentes para superar barreiras tecnológicas, garantindo o direito à educação de qualidade mesmo em contextos adversos.

 

 

Palavras-chave: Ensino remoto. Educação no campo. Exclusão digital. Pandemia. Tecnologias educacionais.

 

 

Introdução

 

Em 2021, com a pandemia da COVID-19, escolas em todo o Brasil foram obrigadas a fechar suas portas e adotar o ensino híbrido ou remoto, visando reduzir a propagação do vírus. Tal situação impôs grandes desafios aos professores, que precisaram assegurar a continuidade da aprendizagem e o atendimento escolar necessário para o desenvolvimento acadêmico, pessoal e social dos alunos.

No contexto das escolas do campo, essas dificuldades se tornaram ainda mais evidentes devido à falta de acesso à internet, à resistência de algumas famílias em receber materiais pedagógicos e ao atraso no processo de alfabetização. A escola estudada, situada em Cáceres-MT, com quatro unidades anexas, precisou criar estratégias como grupos de WhatsApp, aulas síncronas e assíncronas e distribuição de apostilas, para manter contato com os estudantes e minimizar os impactos da pandemia.

O ensino remoto, apesar das limitações, teve como objetivo garantir o acesso aos conteúdos escolares e possibilitar a aprendizagem, promovendo interação entre professores e alunos por meio de diferentes ferramentas digitais, conforme categorizado por Oliveira et al. (2017). No entanto, os professores também precisaram superar o analfabetismo digital, adaptando-se a novas tecnologias para evitar exclusão educacional.

 

 

Desenvolvimento

 

No ano de 2021, em razão da quarentena estabelecida pela pandemia de COVID-19, diversas escolas em todo o território brasileiro tiveram que fechar suas portas temporariamente e adotar o **ensino híbrido ou remoto**, com o objetivo de reduzir a velocidade de contágio e controlar o avanço da doença. Essa mudança abrupta no modelo educacional trouxe uma série de desafios inéditos para os profissionais da educação, exigindo rápida adaptação às novas formas de ensino e à utilização de tecnologias digitais para manter a continuidade do aprendizado.

Diante desse cenário, os professores tiveram de enfrentar grandes obstáculos para assegurar que os alunos não fossem prejudicados em sua formação acadêmica, pessoal e social. Além de reorganizar conteúdos e métodos pedagógicos, os docentes precisaram **garantir que todos os estudantes tivessem acesso aos materiais e atividades**, mesmo em contextos de desigualdade tecnológica, falta de conectividade ou limitações no acompanhamento familiar.

Essa situação exigiu dos educadores **criatividade, resiliência e empenho contínuo**, pois não se tratava apenas de ministrar aulas, mas de garantir que os alunos permanecessem engajados, motivados e com acesso efetivo aos conteúdos curriculares. As estratégias adotadas incluíram a utilização de plataformas digitais para aulas síncronas e assíncronas, grupos de comunicação via aplicativos de mensagens, envio de materiais impressos e acompanhamento individualizado sempre que necessário, de modo a minimizar os impactos da interrupção presencial e preservar o direito à educação de qualidade.

Portanto, o contexto imposto pela COVID-19 em 2021 evidenciou **a importância da adaptação pedagógica e do comprometimento dos professores**, que se empenharam para superar obstáculos estruturais e tecnológicos, garantindo que os alunos continuassem a desenvolver competências essenciais, mesmo em condições adversas e desafiadoras.

 

As necessidades de aprendizagem são centradas na emancipação, consciência crítica e transformação da realidade, onde aprender é um ato de humanização e de superação das condições de opressão. A aprendizagem ocorre de forma dialógica e coletiva, com o educador atuando como mediador e os aprendizes como sujeitos ativos de seu próprio conhecimento e da construção de uma sociedade mais justa. (Paulo Freire, 1970)

 

Os desafios enfrentados nas escolas do campo se tornaram ainda mais acentuados durante o período de pandemia, devido a uma série de fatores que impactam diretamente o processo de ensino-aprendizagem. Entre esses fatores, destacam-se a falta de acesso à internet por todos os alunos, que dificulta a participação em aulas remotas, e a presença de estudantes ainda não alfabetizados, cuja aprendizagem depende fortemente do acompanhamento presencial. Além disso, houve resistência por parte de algumas famílias em receber o material pedagógico preparado pelos professores, motivada pelo receio de contágio pelo vírus, o que aumentou ainda mais a complexidade do trabalho docente.

Essas dificuldades não foram diferentes na Escola situada no município de Cáceres-MT, onde atuei ministrando aulas de língua portuguesa. Essa escola conta com quatro unidades anexas, o que ampliou significativamente os desafios enfrentados pelos profissionais da educação, que precisaram atender simultaneamente tanto a sede quanto as escolas anexas. A necessidade de manter a comunicação constante e eficiente com todos os alunos e suas famílias exigiu a criação de estratégias alternativas e inovadoras, adaptando-se a um contexto de extrema limitação de recursos tecnológicos e de conectividade.

Para possibilitar o máximo de comunicação entre professores, alunos e familiares, foram criados grupos de WhatsApp, além da realização de aulas síncronas, por meio de plataformas como Google Meet, e aulas assíncronas, com materiais disponibilizados previamente em apostilas. Esse conjunto de estratégias teve como objetivo principal garantir o acesso aos conteúdos pedagógicos e auxiliar o processo de ensino-aprendizagem, independentemente da forma de interação adotada, seja ela síncrona ou assíncrona.

De acordo com Oliveira, Santos, Pereira, Silva e Ferreira (2017), as ferramentas digitais podem ser classificadas conforme o tipo de interação: as síncronas incluem videoconferências, chats, salas de bate-papo, audioconferências e teleconferências, enquanto as assíncronas englobam portfólios digitais, blogs, fóruns e e-mails. A utilização dessas ferramentas permitiu manter o contato com os alunos e proporcionar alternativas de aprendizagem mesmo em meio às restrições impostas pela pandemia.

Entretanto, para os professores acostumados exclusivamente às aulas presenciais, foi necessário romper o analfabetismo digital, dominando novas tecnologias e recursos digitais que antes não eram utilizados no contexto educacional. Isso exigiu um investimento significativo de tempo e esforço para adaptar conteúdos, criar materiais digitais e desenvolver estratégias que permitissem a participação de todos os alunos, evitando exclusão e garantindo que o direito à educação de qualidade fosse respeitado. Essa adaptação tornou-se essencial para que os professores pudessem cumprir seu papel pedagógico e assegurar que os alunos continuassem a aprender de forma efetiva, mesmo diante de um cenário adverso e desafiador.

Além disso, essa experiência evidenciou a importância da colaboração entre os docentes, que compartilharam conhecimentos, estratégias e soluções para superar as barreiras impostas pelo ensino remoto. O contexto desafiador do campo exigiu criatividade, paciência e resiliência, reforçando a necessidade de um planejamento pedagógico adaptável e inclusivo, capaz de atender às demandas específicas de cada aluno e garantir que nenhum estudante fosse deixado à margem do processo educativo. Dessa forma, a atuação dos professores tornou-se ainda mais estratégica, combinando inovação tecnológica com atenção às necessidades individuais dos alunos, buscando sempre minimizar os impactos das desigualdades existentes na região.

 

Como consequência do analfabetismo digital surge uma nova forma de exclusão: a exclusão digital que reúne todas as pessoas que não aproximaram-se dos procedimentos tecnológicos a fim de interagir com as mídias digitais, seja como consumidores, seja como produtores de conteúdo. O contexto de exclusão limita a capacidade de atuação das pessoas, deixando-as à margem de uma fração importante da sociedade contemporânea. Além de empobrecer a capacidade de entender o mundo, as limitações estendem-se para vários níveis convergindo para situações em que as pessoas se veem limitadas a usufruir de serviços essenciais (NASCIMENTO, 2020, p. 30).

 

Diante a essas situações nós professores dessa localidade ajudamo-nos uns aos outros para aprender sobre as novas tecnologias que podíamos dispor no intuito de ministrar as aulas para os nossos alunos.

Além das aulas ministradas de forma remota, entregávamos pessoalmente as   apostilas e alimentação para os alunos, nos primeiros dias dos meses, ainda configurava um desafio extremo, já que nos professores dessa escola, dispúnhamos um dia específico na escola, munindo de máximo de cuidados, para fazer a entrega para os moradores do entorno da escola , outro dia para com o apoio do ônibus escolar ir de sitio em sitio fazer a entrega desses kits.  Percorrendo longas distancias de estrada de chão, passando por grandes perigos, sendo o risco por contagio mesmo tomando as medidas cautelares as intemperes do tempo, ou na rota de entrega devido o grande abandono da gestão municipal em não manter as estradas em perfeito estado.

Mas independente de todos esses contratempos com as aulas em home-office, nos professores dessa localidade, nos dispúnhamos em ficar de pronto, para sanar as dúvidas de nossos alunos, pensando nas suas dificuldades para interagir com os meios digitais, já que ali nesses assentamentos que a escola atende, a maioria das famílias não tinha acesso a internet, e alguns alunos ainda arriscavam em ir na casa de um parente ou sitio vizinho que possuía internet, para não ficar sem aula remota.

E neste aplicativo do WhatsApp, ficávamos online das sete horas as doze horas para auxiliar os alunos nas atividades disponibilizadas nas apostilas. Fazíamos vídeos, áudios explicativos, também recortes e fotos para auxiliar nas atividades. E como retorno, os alunos enviam áudio das dúvidas e fotos das atividades que desenvolveram. Para que todos tenham uma resposta significativa, as atividades eram corrigidas e retornada para os alunos. Como muitos alunos que não tinham acesso à internet, além da apostila, enviávamos material necessário para que pudessem fazer pesquisa sobre tal atividade.

A cada etapa e termino de cada apostila os gestores retornam nas residências e na escola para buscar o material, que são expostos a desinfecção para depois os professores fazer a correção das atividades disponibilizadas na apostila.

Nesse contexto, experenciamos a grande desigualdade social na educação no campo, pois ali fica evidente as desigualdades e desafios enfrentados pelos alunos e professores que vivem sessas localidades, a fala de Irene vem corroborar com todas as dificuldades enfrentadas na pandemia que ainda continua acentuada. Então atender os alunos de com isonomia, proporcionando condições igualitárias para todos não foi possível realizar, devido a diversidade e as particularidades da localidade e dos alunos.

Os desafios enfrentados pelos professores e alunos do campo não se acede apenas na forma de ensino, mas também nas problemáticas já existentes que impossibilitam os alunos a terem acesso aos serviços essenciais, então como ter um ensino remoto de excelência, se não há condições necessárias para realiza-la? Essa fragmentação ficou ainda mais evidente na pandemia, mas ainda permanece, já que os governantes ainda não dão condições necessárias para uma educação justa e igualitária.

 

 

Conclusão

 

A experiência com o ensino remoto em escolas do campo durante a pandemia de COVID-19 evidenciou as desigualdades educacionais e sociais existentes, especialmente a exclusão digital, que limita o acesso ao conhecimento e aos serviços essenciais. Apesar das dificuldades, a cooperação entre professores e a utilização de estratégias alternativas, como a entrega de apostilas, o uso de aplicativos de comunicação e a adaptação às tecnologias digitais, permitiram minimizar os impactos na aprendizagem dos alunos.

O estudo demonstra que, mesmo em condições adversas, é possível promover o ensino de qualidade quando há comprometimento, criatividade e trabalho coletivo. No entanto, permanece a necessidade de políticas públicas que ofereçam infraestrutura adequada, acesso à internet e suporte tecnológico às comunidades do campo, garantindo educação inclusiva, equitativa e de excelência.

 

 

REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 15 out. 2025.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 63. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2021.

 

NASCIMENTO, A. Exclusão digital: desafios contemporâneos para inclusão social e educacional. São Paulo: Cortez, 2020.

 

NASCIMENTO, Irene Francisco Malheiros. Analfabetismo e segregação digital: desafios do ciberespaço para a educação e a teologia. 2020. 76 p. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação, Faculdades EST, São Leopoldo, 2020. Disponível em: http://dspace.est.edu.br:8080/jspui/handle/BR-SlFE/1052. Acesso em:18/09/2025.

 

OLIVEIRA, Aline; SANTOS, Carla; PEREIRA, Joice; FONTES, Lucimar; SILVA, Paula; FERREIRA, Andréa. Ferramentas e estratégias de interação e comunicação na prática da tutoria em EaD. Evidência, Araxá, v. 13, n. 13, p. 71-85, 2017.

 

OLIVEIRA, M.; SANTOS, L.; PEREIRA, R.; SILVA, F.; FERREIRA, T. Tecnologias digitais na educação: ferramentas síncronas e assíncronas para o ensino. Campinas: Papirus, 2017.