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Proposta para promover a aquisição da leitura: reflexões sobre a parceria entre pais e professores

Eliel Azambuja de Souza

 

DOI: 10.5281/zenodo.17193736

 

 

RESUMO

A aquisição da leitura é um elemento crucial na formação educacional das crianças, e a parceria entre pais e professores desempenha um papel fundamental nesse processo. Este estudo propõe uma reflexão sobre estratégias para promover a aquisição da leitura, reconhecendo as limitações de tempo e recursos que muitos pais e escolas enfrentam. O objetivo geral consiste em desenvolver uma campanha de conscientização sobre leitura que envolva pais e professores, buscando melhorar o desempenho de leitura das crianças. A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica, que forneceu uma base sólida para a construção da campanha. Os resultados esperados incluem um aumento na participação dos pais nas atividades de leitura com seus filhos, melhorias no desempenho de leitura das crianças e um fortalecimento da parceria entre a escola e a família. Este estudo destaca a importância da colaboração entre pais e professores para promover a aquisição da leitura e enfatiza que, mesmo diante de limitações, a campanha de conscientização pode ser uma solução eficaz nesse contexto.

 

Palavras-chave: Aquisição da leitura. Parceria entre pais e professores. Campanha de conscientização.

 

 

ABSTRACT

Acquiring reading is a crucial element in children's educational development, and the partnership between parents and teachers plays a fundamental role in this process. This study proposes a reflection on strategies to promote reading acquisition, recognizing the time and resource limitations that many parents and schools face. The general objective is to develop a reading awareness campaign that involves parents and teachers, seeking to improve children's reading performance. The methodology adopted was bibliographical research, which provided a solid basis for building the campaign. Expected results include an increase in parental participation in reading activities with their children, improvements in children's reading performance and a strengthening of the partnership between school and family. This study highlights the importance of collaboration between parents and teachers to promote reading acquisition and emphasizes that, even in the face of limitations, the awareness campaign can be an effective solution in this context.

 

Keywords: Reading acquisition. Partnership between parents and teachers. Awareness campaign.

 

 

INTRODUÇÃO

 

A aquisição da leitura é uma etapa crucial na formação educacional das crianças e desempenha um papel determinante em seu sucesso futuro no ambiente escolar. Uma sólida base de leitura não apenas influencia diretamente o desempenho acadêmico, mas também estimula o desenvolvimento cognitivo, a compreensão do mundo e a habilidade de se comunicar eficazmente. Nesse contexto, a parceria entre pais e professores se apresenta como um fator-chave para o estímulo à leitura e o desenvolvimento das habilidades de leitura nas crianças. A colaboração entre esses dois atores pode potencializar o processo de aprendizado, proporcionando um ambiente mais rico em estímulos e apoio à criança.

No entanto, apesar da importância evidente da parceria entre pais e professores no contexto da aquisição da leitura, a implementação eficaz dessa colaboração muitas vezes enfrenta obstáculos significativos. Questões como a falta de tempo dos pais, as restrições de recursos nas escolas e a falta de conhecimento sobre como apoiar o desenvolvimento da leitura são apenas alguns dos desafios que podem comprometer essa colaboração. Portanto, esta pesquisa se propõe a explorar estratégias que possam superar essas barreiras, promovendo uma parceria efetiva entre pais e professores para impulsionar a aquisição da leitura nas crianças. Diante dessa realidade, esta pesquisa busca responder à seguinte pergunta: Como promover efetivamente a aquisição da leitura por meio da parceria entre pais e professores? O objetivo geral deste estudo é desenvolver estratégias e diretrizes que facilitem a promoção da aquisição da leitura, considerando as restrições de tempo e recursos que muitos pais e escolas enfrentam.

Para atingir esse objetivo, os objetivos específicos incluem: revisar a literatura acadêmica relevante sobre a aquisição da leitura e a parceria entre pais e professores; identificar os principais desafios enfrentados por pais e professores na promoção da aquisição da leitura; desenvolver uma campanha de conscientização que envolva pais e professores na promoção da leitura; e avaliar a eficácia dessa campanha por meio de indicadores de desempenho de leitura das crianças.

A metodologia adotada nesta pesquisa foi a pesquisa bibliográfica, que permitiu a coleta e análise de informações de estudos e obras relevantes sobre o tema. A partir dessa revisão, foram elaboradas estratégias práticas para promover a parceria entre pais e professores na promoção da aquisição da leitura. Esta pesquisa tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento de estratégias eficazes que aproximem pais e professores na importante missão de promover a aquisição da leitura nas crianças, reconhecendo as limitações do contexto educacional contemporâneo.

 

 

  1. REFERENCIAL TEÓRICO

 

2.1 APRENDIZAGEM E PROCESSAMENTO DA LEITURA

 

Os processos envolvidos no desenvolvimento da leitura acionam capacidades sensoriais e cognitivas de maneira complexa. Uma das formas de compreender a aprendizagem e o desenvolvimento da leitura é considerar que podemos aprender a processar palavras com base em nosso conhecimento prévio. Nesse sentido, construímos gradualmente uma memória a partir de nossas experiências com palavras desde o momento do nascimento, quando a criança começa a ter acesso a uma variedade de estímulos. Como explicado por Lent (2018, p. 13), a aprendizagem envolve um processo no qual o indivíduo capta informações do ambiente, as guarda por algum tempo e, eventualmente, as utiliza para orientar seu comportamento futuro. Cada experiência, estímulo sensorial e interação com os outros contribui para a formação das memórias e representações da criança, fundamentais para seu desenvolvimento linguístico e habilidades cognitivas.

Cosenza e Guerra (2011, p. 104) argumentam que os aprendizes de leitura utilizam o sistema fonológico para decodificar palavras novas ou irregulares, e à medida que a habilidade aumenta, o cérebro se torna capaz de reconhecer os padrões ortográficos de maneira rápida e automática. Isso está alinhado com o modelo de dupla via ou modelo de dupla rota (Coltheart, 2005). Conforme o autor, a diferença entre a leitura de palavras conhecidas e palavras novas reside no fato de que as palavras novas são lidas por meio da rota fonológica, convertendo grafemas em fonemas (rota não-lexical), enquanto as palavras conhecidas são lidas por um processo de identificação direta, permitindo uma decodificação semântica mais rápida (rota lexical).

A evolução no processamento da leitura segue o fluxo das experiências do leitor. À medida que o léxico mental recebe mais entrada de informações, o leitor tem mais recursos para acessar palavras de forma automática e integral. Coltheart (2005) também argumenta que essa teoria pode explicar algumas dificuldades na aprendizagem da leitura, como as diferentes formas de dislexia, onde tanto a rota fonológica quanto a rota lexical podem ser observadas, com padrões diferentes dos leitores proficientes (rota fonológica para palavras desconhecidas ou pseudopalavras e rota lexical para palavras cuja leitura está automatizada).

É fundamental destacar que, ao contrário da aquisição da fala, que pode ocorrer naturalmente com a exposição e o desenvolvimento adequado das capacidades cognitivas e físicas, a habilidade de leitura requer ensino consciente. É necessária a participação ativa do aprendiz, independentemente da idade de aquisição, e a mediação de um professor ou tutor. No entanto, existem casos em que limitações individuais relacionadas a processos neurológicos, psicológicos e sociais podem dificultar a aprendizagem da leitura, e essas dificuldades são frequentemente identificadas durante o período de aprendizado da leitura na escola. A próxima seção abordará alguns exemplos de dificuldades e transtornos da leitura.

 

 

  1. O ENVOLVIMENTO DE PAIS NA VIDA ESCOLAR DO ALUNO

 

O engajamento dos pais na vida escolar de seus filhos foi amplamente investigado na década de noventa, visando demonstrar a produtividade da parceria entre a escola e a família. Inicialmente, esses estudos procuraram definir o que constitui esse envolvimento dos pais. Alguns pesquisadores o descreveram como o grau de participação dos pais em atividades relacionadas à educação de seus filhos, tais como acompanhar tarefas e trabalhos escolares, verificar os cadernos com as lições da escola, garantir a conclusão das tarefas, estabelecer horários de estudo e se informar sobre matérias e provas, entre outras (Freitas, Maimoni & Siqueira, 1994, e Maimoni & Miranda, 1999). Outros pesquisadores o definiram como as interações dos pais direcionadas ao desenvolvimento de seus filhos, encorajando esse desenvolvimento através do apoio aos esforços das crianças e proporcionando experiências de enriquecimento cultural (Bradley, Caldwell & Rock, 1998). Além disso, alguns consideram que um pai envolvido é aquele que auxilia nas tarefas domésticas quando solicitado, participa das atividades escolares e esportivas extracurriculares de seus filhos, auxilia os adolescentes na escolha de cursos e acompanha o desempenho escolar deles (Steinberg, Dornbush e Darling, 1992). Alguns estudos propuseram um modelo tridimensional, destacando que o envolvimento dos pais pode ser demonstrado através de seu comportamento em relação à escola, de sua disponibilidade afetiva e pessoal relacionada à vida escolar dos filhos, e da oportunidade de experiência intelectual/cognitiva que eles proporcionam a seus filhos (Grolnick & Slowiaczeck, 1994).

A pesquisa de Grolnick e Slowiaczeck (1994) descobriu que quando os professores percebem que os pais estão envolvidos, eles tendem a prestar um melhor atendimento aos alunos na escola. Da mesma forma, se os filhos percebem que seus pais estão envolvidos, eles podem ser influenciados pelo comportamento dos pais em relação à importância dada à escola. Por outro lado, filhos que obtêm boas notas podem incentivar as mães a se envolverem mais, e a presença de uma mãe envolvida influencia o envolvimento do pai.

Por outro lado, a pesquisa brasileira de Freitas, Maimoni e Siqueira (1994) revelou um resultado inesperado, pois, das nove variáveis analisadas nesse estudo como possíveis determinantes do envolvimento dos pais na vida escolar dos alunos, apenas duas mostraram uma forte relação com o envolvimento: a série cursada pelo filho e o horário de trabalho do pai, quando se esperava que fosse o horário de trabalho da mãe a ter esse resultado. Isso indica que o grau de envolvimento dos pais com os estudos de seus filhos parece ser influenciado por duas grandes dimensões: as necessidades do filho e a disponibilidade do pai, não necessariamente da mãe. Isso sugere a necessidade de reavaliar o papel do pai, quando presente na família, em relação à educação das crianças e dos jovens, uma vez que a mãe geralmente assume a responsabilidade pelo acompanhamento escolar dos filhos, na medida do possível.

Outro dado importante que surgiu tanto das pesquisas nacionais quanto das estrangeiras diz respeito à relação entre o nível socioeconômico e cultural e o envolvimento dos pais. Esses estudos mostram que os pais podem se tornar envolvidos na vida escolar de seus filhos, independentemente de seu nível socioeconômico.

A principal preocupação dos pesquisadores na área da Educação talvez seja responder à pergunta: por que existem bons e maus alunos? As pesquisas estão constantemente buscando respostas a essa pergunta por meio de diversas abordagens.

A abordagem atualmente adotada é a pesquisa relacionada à família, uma vez que há uma abundância de indícios sugerindo que algumas das causas das dificuldades escolares têm raízes familiares. Além disso, a assistência dos pais nas atividades de aprendizado em casa pode ser um fator crucial para o sucesso escolar dos alunos. Isso é corroborado pelas descobertas da pesquisa, embora seja importante ressaltar que a família não é a única responsável por esse aspecto.

Autores com diferentes abordagens teóricas parecem concordar que nenhum efeito adverso seja irreversível quando se trata de aprendizado e educação escolar. Portanto, um aluno com dificuldades escolares tem a possibilidade de reverter essa situação em qualquer fase de sua trajetória educacional. Bettelheim e Zelan (1992), dentro de uma perspectiva psicanalítica, enfatizam que uma criança que ingressa na escola com uma autoestima baixa pode reconstruir essa autoestima em um ambiente escolar que fortaleça seu ego por meio de experiências bem-sucedidas.

Essa capacidade de superar efeitos adversos é frequentemente descrita na literatura como resiliência. Marturano (1997: 132) define resiliência como a "capacidade de resistência ao estresse em crianças que crescem em condições desfavoráveis, desenvolvendo-se como adultos que desfrutam de um alto nível de bem-estar". A mesma autora, com base em outros estudos, identifica variáveis que atuam como fatores protetores, aumentando a resiliência. Esses fatores incluem características de personalidade (autonomia, autoestima, orientação social positiva), coesão e afeto familiar sem discordância, bem como supervisão comportamental ou firmeza e democracia nas interações com os filhos.

É relevante mencionar os resultados de uma pesquisa longitudinal conduzida por Bradley, Caldwell e Rock (1988), que acompanharam 42 alunos ao longo de dez anos, realizando avaliações aos dois e dez anos de idade. Essa pesquisa encontrou uma relação entre a estabilidade do envolvimento dos pais e a competência escolar dos alunos.

Diante dessas questões, muitos pesquisadores, preocupados com o bem-estar das crianças e com o objetivo de capacitar os pais a criarem filhos bem-sucedidos em sua jornada educacional, têm desenvolvido formas de envolver os pais desde cedo nas experiências de aprendizado essenciais para o desenvolvimento das crianças. Uma dessas abordagens foi concebida por Feuerstein (1980) e é conhecida como Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI), que visa ampliar o potencial de aprendizado de crianças, jovens e adultos, incluindo aqueles com desafios cognitivos. Um programa com objetivos semelhantes é o MISC (Mediational Intervention Sensitizing) de Pnina Klein (1992), que se concentra na preparação de mães e cuidadores para atuarem como mediadores eficazes no processo de aprendizado das crianças e em seu desenvolvimento.

A base da presente pesquisa é a proposta de Keith Topping (1989), que tinha como objetivo primordial promover uma maior participação da família no processo de aprendizagem do aluno. Reconhecendo a existência de resistência por parte do pessoal da escola, que teme a interferência dos pais, e a falta de clareza por parte dos pais sobre como e em que colaborar, Topping (1990, 1994) desenvolveu uma série de procedimentos, incluindo o conceito de "leitura conjunta". Nesse contexto, ações bem definidas são atribuídas aos pais, proporcionando uma compreensão mútua entre escola e família quanto ao que deve ser feito. Dessa forma, a escola não se sente ameaçada pela intervenção dos pais, enquanto estes têm a oportunidade de estar mais envolvidos na educação de seus filhos, contribuindo efetivamente para o aprimoramento de suas habilidades de leitura. Além disso, o compromisso de tempo dos pais é mínimo, simplificando a tarefa proposta, que consiste em dedicar pelo menos cinco minutos diários para ouvir o filho ler para o pai ou a mãe. Com base nos dados de suas pesquisas, Topping recomenda que, preferencialmente, essa atividade seja realizada pelo pai, caso ele esteja presente na família.

Um último ponto a ser considerado, abordado por Santos e Joly (1996), diz respeito aos benefícios que os próprios pais podem obter ao participar das atividades de leitura conjunta com seus filhos, melhorando suas próprias habilidades de leitura. Portanto, acredita-se que os pais podem ser mediados em suas atividades de leitura, tornando-se mais proficientes nessa habilidade e, posteriormente, aplicando os recursos aprendidos na mediação da aprendizagem de seus filhos em casa, em consonância com estudos anteriores de Bortone, Maimoni e Paiva (2000). A expectativa é que uma pesquisa baseada em propostas como essas possa oferecer suporte para uma colaboração mais eficaz entre a família e a escola.

 

 

  1. METODOLOGIA

 

Para o desenvolvimento do presente estudo, foi utilizada uma metodologia que se baseia nos dados provenientes de uma dissertação de mestrado anterior. A pesquisa original foi realizada na Escola Municipal Fernando de Barros no ano de 2009 e contou com a participação de 10 professores e 50 pais, com o objetivo de analisar a evolução do processo de alfabetização nas séries iniciais do ensino fundamental.

A abordagem metodológica adotada nesta pesquisa é do tipo bibliográfica, o que significa que os dados utilizados não envolvem coleta de novos dados de campo, mas sim uma análise aprofundada de dados previamente coletados e documentados durante a dissertação de mestrado. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas, questionários e análise de documentos relacionados ao processo de alfabetização na escola. Durante a análise, foram identificados temas relevantes, como a falta de articulação entre famílias e professores para a promoção do processo de aquisição de leitura por parte das crianças.

Os resultados da dissertação anterior indicaram que essa falta de articulação era um desafio significativo dentro do contexto observado. Os pais e professores não estavam colaborando de maneira eficaz para apoiar o desenvolvimento da leitura das crianças. Esse problema destacado na dissertação anterior serve como base para a pesquisa atual, onde se busca aprofundar a compreensão desse desafio e suas implicações.

É importante reconhecer que a pesquisa anterior tinha suas limitações, incluindo o fato de ter sido realizada em 2009. No entanto, esses dados ainda são relevantes para a compreensão da problemática atual, e as conclusões da dissertação anterior servem como ponto de partida para a pesquisa em andamento. Além disso, todas as considerações éticas relacionadas à coleta e uso dos dados foram levadas em consideração em ambas as pesquisas. Nenhum dado foi utilizado sem o devido consentimento e respeito às diretrizes éticas.

Desta forma, esta pesquisa se baseia na metodologia da pesquisa bibliográfica, utilizando dados da dissertação de mestrado anterior como fonte principal. O foco está na falta de articulação entre famílias e professores no processo de aquisição de leitura por parte das crianças nas séries iniciais do ensino fundamental na Escola Municipal Fernando de Barros em 2009, e como essa problemática pode ser abordada de maneira mais aprofundada e atualizada.

 

 

  1. PROPOSTA PARA PROMOVER A AQUISIÇÃO DA LEITURA: REFLEXÕES SOBRE A PARCERIA ENTRE PAIS E PROFESSORES

 

Este capítulo apresenta uma análise aprofundada dos dados utilizados neste estudo, que se originam da minha dissertação de mestrado conduzida na Escola Municipal Fernando de Barros no ano de 2009. A pesquisa buscou compreender a evolução do processo de alfabetização nas séries iniciais do ensino fundamental, com um enfoque específico na interação entre pais e professores como fator influenciador desse processo. A escolha dessa instituição de ensino se deu devido à sua relevância no contexto educacional da época, bem como pela sua disposição em colaborar com o estudo.

Neste contexto, dez professores e cinquenta pais participaram ativamente da investigação, fornecendo informações que foram essenciais para a compreensão das dinâmicas envolvidas na alfabetização das crianças. Os dados coletados foram meticulosamente analisados e representam uma parte fundamental deste estudo.

Durante a pesquisa, tornou-se evidente que uma das principais lacunas dentro do universo observado era a falta de articulação efetiva entre as famílias e os professores para promover um processo sólido de aquisição da leitura por parte das crianças. Essa descoberta levanta questões importantes sobre o papel das parcerias entre escola e família no desenvolvimento educacional das crianças e destaca a necessidade de explorar maneiras de melhorar essa colaboração.

Ao longo deste capítulo, os dados coletados e as percepções obtidas durante a pesquisa serão detalhadamente apresentados, fornecendo uma base sólida para as discussões e conclusões que se seguirão no decorrer deste estudo.

A primeira pergunta formulada e dirigida a ambos os grupos, pais e professores, buscou compreender a abordagem que os adultos utilizavam ao introduzir a leitura às crianças. A questão era direta e procurava avaliar as práticas e atitudes dos participantes em relação a esse importante aspecto do processo de alfabetização.

Os resultados revelaram uma diferença significativa nas respostas entre os dois grupos. Surpreendentemente, cerca de 80% dos pais relataram que não introduziam ativamente a leitura às crianças, indicando uma possível lacuna na promoção do hábito de leitura em casa.

 

 

Gráfico 01 – Respostas dos Pais - Como adultos, vocês introduzem a leitura às crianças?

Fonte: elaborado pelo autor (2023).

 

Por outro lado, 64% dos professores afirmaram que sim, introduziam a leitura às crianças, sugerindo um nível mais elevado de envolvimento nessa prática dentro do ambiente escolar, mas que os pais são assumem essa responsabilidade.

 

Gráfico 01 – Respostas dos Pais - Como adultos, vocês introduzem a leitura às crianças?

 

Fonte: elaborado pelo autor (2023).

 

Essa discrepância nas respostas iniciais chamou a atenção para a importância de compreender como a colaboração entre pais e professores poderia ser aprimorada para garantir que as crianças recebessem um suporte consistente e eficaz no desenvolvimento de suas habilidades de leitura. Esses resultados iniciais foram fundamentais para orientar as análises subsequentes e as discussões sobre as dinâmicas de interação entre os dois grupos ao longo da pesquisa.

A divergência substancial entre as respostas dos pais e dos professores quanto à introdução da leitura às crianças levantou uma importante questão: a alfabetização e o estímulo à leitura deveriam ser encarados como uma ação conjunta entre ambos os grupos. Enquanto os professores desempenham um papel fundamental na escola, fornecendo as bases pedagógicas para a alfabetização, os pais desempenham um papel igualmente crucial em casa, criando um ambiente propício para a prática da leitura. A disparidade nas respostas ressalta a necessidade de uma comunicação mais eficaz e colaborativa entre esses dois atores-chave no processo educacional das crianças. A pesquisa buscou, assim, entender como essa lacuna poderia ser superada, promovendo uma parceria mais sólida e efetiva entre pais e professores na promoção da alfabetização e da paixão pela leitura nas séries iniciais do ensino fundamental.

Durante a pesquisa realizada, foi constatado que a relação entre a escola e a família é fundamental, uma vez que a família desempenha um papel crucial na orientação e na formação da identidade de um indivíduo. Portanto, é essencial que a família e a escola estabeleçam uma parceria a fim de contribuir para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente. Para comprovar a importância dessa interação entre as duas instituições, existem exemplos de sucesso nos quais a participação das famílias na vida escolar das crianças resultou em melhorias significativas na aprendizagem e no comportamento.

Como destacado em uma reportagem da revista Veja, datada de 24 de setembro de 2008, o desempenho dos alunos da Coreia do Sul foi notavelmente superior à média de países mais desenvolvidos. Esse sucesso foi atribuído ao envolvimento ativo das famílias no processo de aprendizagem. Os pais acompanhavam regularmente seus filhos nas tarefas de casa e, em alguns casos, até retomavam seus próprios estudos para auxiliá-los no aprendizado.

Outro exemplo de sucesso ocorre nas escolas de Reggio Emilia, na Itália, que alcançaram resultados positivos em suas abordagens pedagógicas através da colaboração entre família e instituição escolar. Nesse modelo, pais e professores trabalham de forma cooperativa, reconhecendo que todos têm algo a aprender uns com os outros. Essa abordagem beneficia amplamente as crianças, estabelecendo um forte vínculo entre a escola e a comunidade, formando, assim, uma grande família (Abuchaim, 2009, p. 39).

Observando esses exemplos, fica evidente que é possível estabelecer uma relação mais estreita entre a escola e a família, desde que ambos desempenhem seus papéis de forma adequada. No entanto, é importante ressaltar que, embora os interesses sejam compartilhados por ambas as partes, a escola desempenha um papel central na promoção de iniciativas que incentivem o envolvimento das famílias. Isso pode incluir a abertura das portas da escola, a promoção de atividades culturais, projetos educacionais e orientação das famílias sobre seus direitos e responsabilidades como parte da comunidade escolar.

Por sua vez, as famílias têm a responsabilidade de se envolver na educação de seus filhos, auxiliando nas tarefas de casa e participando das reuniões de pais e mestres. No entanto, a educação é uma responsabilidade compartilhada por toda a comunidade, incluindo escola e família, que devem trabalhar juntas em busca de uma educação de qualidade para nossas crianças. O relato a seguir é um exemplo real, vivenciado pelo próprio pesquisador, de como é possível aproximar pais e educadores e desenvolver uma parceria eficaz entre família e escola.

Diante disso, a seguir, constrói-se uma proposta de solução para esta problemática: a construção de campanhas de conscientização direcionada aos pais. Reconhecemos que as campanhas de conscientização podem não parecer a melhor solução para o problema. No entanto, dad a falta de tempo dos pais devido a compromissos e jornadas de trabalho extensas, juntamente com as restrições de recursos nas escolas, outras abordagens que demandariam mais tempo, investimento ou infraestrutura não seriam viáveis.

Uma das principais limitações a serem abordadas é a falta de tempo dos pais. Muitos pais têm agendas lotadas, equilibrando responsabilidades profissionais, domésticas e pessoais. Isso pode tornar desafiador o engajamento em atividades de promoção da leitura. Propostas de intervenção precisam ser cuidadosamente projetadas para se encaixar nas rotinas agitadas dos pais, oferecendo soluções que sejam práticas e de curta duração.

Outro ponto crítico é a disponibilidade de recursos nas escolas. Especialmente em escolas públicas, os recursos financeiros e tecnológicos podem ser limitados. Isso implica que as soluções propostas devem ser realistas em termos de custos e disponibilidade de tecnologia. Investimentos significativos, como o desenvolvimento de aplicativos ou a criação de plataformas online, podem não ser viáveis para muitas instituições de ensino.

Além disso, é importante reconhecer a diversidade de famílias. As famílias variam em termos de estrutura, cultura, recursos e necessidades. O que funciona bem para uma família pode não ser adequado para outra. Portanto, as propostas precisam ser flexíveis e adaptáveis, de modo a atender às diferentes realidades e demandas das famílias envolvidas.

A motivação dos pais é outra consideração fundamental. Nem todos os pais podem estar igualmente motivados a se envolver ativamente na promoção da leitura em casa. Algumas famílias podem não perceber completamente a importância da leitura ou podem enfrentar barreiras emocionais para o envolvimento. É essencial abordar essa falta de motivação e oferecer incentivos ou abordagens que sejam eficazes para estimular o interesse e a participação dos pais.

A acessibilidade tecnológica também é um fator importante a ser levado em consideração. Propostas que dependem de tecnologia, como aplicativos educacionais ou plataformas online, podem excluir famílias que não têm acesso a dispositivos ou à internet. Portanto, é necessário considerar alternativas que sejam acessíveis a todos, de modo a não agravar as disparidades existentes.

Por fim, é relevante mencionar a resistência à mudança por parte de alguns pais e educadores. Tanto pais quanto professores podem estar habituados a abordagens tradicionais de ensino e envolvimento dos pais. Qualquer proposta que busque introduzir mudanças deve estar preparada para enfrentar essa resistência. Programas de capacitação e conscientização podem ser úteis para promover uma compreensão mais ampla dos benefícios das novas abordagens. Ao considerar essas limitações, podemos desenvolver estratégias mais eficazes que levem em conta as realidades e os desafios enfrentados pelas famílias e escolas, criando soluções significativas para a promoção da leitura em casa.

Esta campanha será realizada ao longo de seis meses e terá como principal objetivo envolver os pais na prática da leitura em casa, fortalecendo a parceria entre a escola e a família, conforme o seguinte cronograma:

 

Tabela 01 – Cronograma.

Semana

Tema

Atividades Planejadas

1

Introdução à campanha

- Apresentação da campanha e objetivos.

- Explicação da importância da participação dos pais.

- Anúncio da programação semanal.

2

Leitura em casa

- Destaque para a relevância da leitura em casa.

- Fornecimento de dicas práticas para os pais incorporarem a leitura à rotina diária.

3

Apoio dos pais nas atividades de leitura

- Exploração das formas pelas quais os pais podem auxiliar seus filhos na leitura de livros e textos.

- Incentivo à comunicação aberta entre pais e professores sobre o progresso da leitura das crianças.

4

Desenvolvimento da compreensão de leitura

- Discussão sobre como os pais podem ajudar seus filhos a compreenderem melhor o que estão lendo.

- Oferta de estratégias para melhorar a compreensão de leitura.

5

Estímulo à leitura crítica

- Abordagem sobre como os pais podem incentivar seus filhos a ler de forma crítica e questionadora.

- Sugestão de atividades que promovam a análise de textos e a reflexão sobre o conteúdo lido.

6

Avaliação da leitura e próximos passos

- Explicação do processo de avaliação do progresso da leitura das crianças.

- Compartilhamento de recursos e estratégias para continuar apoiando o desenvolvimento da leitura em casa.

Fonte: elaborado pelo autor (2023).

 

O ciclo da campanha será composto por várias etapas coordenadas para promover a leitura e o desenvolvimento da alfabetização. Inicialmente, os professores serão responsáveis pela elaboração dos folhetins educativos, que conterão informações relevantes sobre o tema da campanha, dicas de atividades de leitura e estratégias para promover o interesse das crianças pela leitura. Esses folhetins serão projetados de forma a serem de fácil compreensão para os pais.

Em seguida, os folhetins serão enviados para os alunos, que desempenharão um papel fundamental na disseminação das informações para suas famílias. Os alunos levarão os folhetins para casa e compartilharão o conteúdo com seus pais e responsáveis. Os pais serão encorajados a praticar as atividades sugeridas nos folhetins com seus filhos, promovendo a leitura em casa de maneira interativa e estimulante. Os professores fornecerão orientações adicionais sobre como realizar essas atividades de forma eficaz.

Uma parte crucial dessa prática será a documentação das experiências pelos pais. Eles serão incentivados a registrar fotos e vídeos das atividades de leitura que realizarem com seus filhos. Esses registros servirão como evidência do envolvimento dos pais na promoção da leitura e no desenvolvimento da alfabetização de seus filhos. Os pais enviarão esses materiais aos professores, que farão uso deles para avaliar o progresso das atividades e o nível de envolvimento das famílias. Essa troca de informações será uma maneira de manter a comunicação entre escola e família, permitindo que os professores forneçam feedback e orientações adicionais, se necessário.

Dessa forma, o ciclo da campanha funcionará como um processo contínuo de criação de conscientização e envolvimento dos pais na promoção da leitura, com a participação ativa dos professores e dos próprios alunos como facilitadores dessa iniciativa. A equipe escolar estará disponível para oferecer suporte aos pais, responder a perguntas e fornecer orientações adicionais sobre como promover a leitura em casa de maneira eficaz. Os resultados da campanha serão avaliados através de indicadores específicos, como aumento na frequência de leitura em casa, melhoria no desempenho de leitura das crianças e feedback dos pais.

É importante ressaltar que essa campanha de conscientização reconhece as limitações dos pais em relação ao tempo e os recursos limitados da escola, buscando uma abordagem prática e realista para promover a leitura em casa. Acreditamos que, apesar das restrições, essa estratégia pode fazer a diferença no desenvolvimento das crianças e na promoção de uma cultura de leitura em família.

 

 

CONCLUSÕES E RESULTADOS ESPERADOS DA CAMPANHA

 

A campanha de conscientização sobre leitura proposta é uma resposta fundamental às limitações que enfrentamos, como a falta de tempo dos pais e recursos limitados das escolas. Reconhecemos que, idealmente, uma colaboração mais intensa entre pais e professores poderia ser alcançada por meio de cursos e plataformas educacionais sofisticadas. No entanto, dadas as circunstâncias, a campanha surge como a única solução viável e eficaz.

Esta iniciativa visa promover uma mudança positiva no envolvimento dos pais na educação de seus filhos, concentrando-se na promoção da leitura. Embora a campanha tenha limitações, como a falta de interação presencial devido às restrições de tempo, acreditamos que ela pode ter um impacto significativo. A abordagem de fornecer informações e atividades por meio de folhetos informativos, com o envolvimento ativo dos professores, é uma maneira eficaz de atingir os pais.

Os resultados esperados desta campanha são diversos. Primeiramente, esperamos ver um aumento na participação dos pais nas atividades de leitura com seus filhos. Isso deve levar a uma melhoria no desempenho de leitura das crianças e, por sua vez, impactar positivamente seu desempenho acadêmico geral. Além disso, esperamos que a campanha ajude a reduzir as disparidades de leitura entre os alunos, criando um ambiente de apoio que independe do nível socioeconômico ou cultural dos pais.

A parceria entre a escola e a família deve ser fortalecida com a implementação dessa campanha, com os professores desempenhando um papel ativo na orientação dos pais. Acreditamos que, à medida que os pais se sintam mais confiantes em seu envolvimento na educação de seus filhos, essa colaboração será aprimorada.

Em termos de avaliação, pretendemos medir o sucesso da campanha por meio do acompanhamento do aumento na participação dos pais, do progresso na leitura das crianças e de suas avaliações escolares. Também incentivaremos os pais a compartilharem seus próprios relatos de experiência e feedback, permitindo ajustes contínuos nas atividades propostas.

Assim, reconhecemos que esta campanha de conscientização sobre leitura pode ter limitações, mas a consideramos a melhor solução dadas as circunstâncias. Acreditamos que ela tem o potencial de trazer benefícios significativos às crianças, aos pais e à comunidade escolar como um todo, promovendo a importância da leitura e fortalecendo a parceria entre a escola e a família.

 

 

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