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Folclore e cultura popular

Ana Cristina dos Santos Januário

 

DOI: 10.5281/zenodo.17244089

 

 

RESUMO

Este trabalho vem proporcionar aos educadores uma análise crítica da prática pedagógica, provocando um repensar na postura do professor em sala de aula em relação ao folclore enquanto um recurso que auxilia a construção da aprendizagem durante todo o processo de desenvolvimento social e cognitivo. Por intermédio deste trabalho é possível relacionar o folclore na aprendizagem com o desenvolvimento psicológico dos alunos, proporcionando momentos de grande valia para o processo de ensino e aprendizagem. Os espaços construídos em salas de aula, muitas vezes provocam em alguns alunos um sentimento de cobrança, o que pode acarretar insegurança, desmotivação e por fim problemas no processo de ensino e aprendizagem. Por este motivo tenho observado a postura dos meus alunos quando realizam atividades envolvendo o folclore. Para estes alunos o que seria impossível em atividades tradicionais, é extremamente aceitável em atividades envolvendo esta forma de ensinar. Durante aplicação de avaliação interna do município de Araras, pude comprovar que as crianças nos dão a devolutiva daquilo que aprenderam, de forma natural, sem perceber que estão sendo avaliadas. As observações realizadas por mim, me fez crer na ideia de que o professor pode e deve interferir nos processos de avaliação para oportunizar ao aluno momentos enriquecedores na construção do conhecimento.  É muito importante valorizar as brincadeiras, os brinquedos e os folclores infantis. Enfim, as atividades lúdicas que propiciam ensino-aprendizagem dos educandos, interagindo com várias áreas do conhecimento, de modo integrado e prazeroso.

 

Palavras-chave: Folclore. Brincadeira. Educação infantil.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Ao falarmos de educação, sempre devemos levar em consideração que o mundo da criança difere do mundo do adulto, pois nele existe o encanto da fantasia, do faz de conta, do sonhar e do descobrir, as crianças brincam com o que têm nas mãos e com o que têm na cabeça.

Os brinquedos exercem um fascínio sobre a criança devido as suas cores, modelos e atribuições.

A entrada da criança no mundo do faz de conta possibilita sua nova capacidade de lidar com a realidade, pois seu pensamento evolui mediante suas ações, fazendo com que as atividades ganhem importância no desenvolvimento do seu pensamento infantil.

A arte dentro do processo educativo procura encaminhar a formação do gosto pelo folclore, estimular a inteligência, desenvolver criatividade e contribuir para a formação da personalidade do indivíduo, a arte na Educação Infantil, infelizmente, tem sido encarada como uma atividade curricular sem significados, onde a criança apenas risca, rabisca, pinta, cola, ou seja, numa sucessão de atividades sem sentido.

A brincadeira dentro da educação infantil proporciona à criança, além do prazer de exercitar e expor seus sentimentos, a construção de um indivíduo crítico, obtendo experiências que o ajudarão a refletir, desenvolver valores, sentimentos, emoções.

Este tema foi escolhido pela necessidade de compreender e acompanhar a importância da ludicidade no processo de ensino-aprendizagem das crianças da educação infantil, em especial de 4 a 5 anos de idade.

A questão a ser abordada aqui é: de que forma as brincadeiras e os folclores podem colaborar na aprendizagem desses pequenos? Qual a melhor forma de levar a ludicidade e de que maneira o professor deve fazer as intervenções durante as realizações das brincadeiras propostas? Buscar sugestões de atividades para aplicarmos de forma prazerosa para ensinar as crianças os conteúdos de forma que aprendam de maneira agradável.

No meio educacional da criança, o discurso referente ao valor do brincar, na forma de folclore, fez-se e faz-se presente, ora direcionado como proposta de atividade pelo professor, ora como atividade livre, confiando na natureza. Mas, além disso, o que pretendo problematizar é a forma em que as brincadeiras influenciam na aprendizagem da criança, considerando que ela carrega marcas e/ou referências culturais passadas pela família, pela sociedade, pela mídia e pela tecnologia com a qual convive. Trazer a ideia de cotidiano no brincar é lançar um olhar diferenciado no dia-a-dia da criança na escola, é permitir a possibilidade de participação, de relação com o mundo.

Que possamos considerar aquilo que os sujeitos pensam sobre o brincar e, especialmente, suas práticas cotidianas e essa perspectiva teórica leva-nos a considerar os espaços que damos ao brincar, o que fazemos com ele enquanto escola e, sobretudo, a observar as marcas contemporâneas que se fazem presentes no brincar das crianças. Isso requer abertura às possibilidades de intervenção das crianças, como sujeitos ativos, os quais, a partir do mundo em que estão inseridos, têm necessidades, e por isso interagem e são capazes de burlar as regras dos adultos.

Meu principal objetivo com este trabalho de pesquisa é fundamentar a importância que tem o folclore, no processo de ensino-aprendizagem desde a Educação Infantil, assim como também caracterizar o folclore, diferenciar os folclores, brinquedos e brincadeiras e ainda propor sugestões de algumas atividades/brincadeiras que poderão ser usadas na educação infantil.

A pesquisa inserida, no decorrer deste trabalho, foi produzida, de forma descritiva e explicativa, por meio de levantamentos bibliográficos, procurando enfatizar que o ato de brincar pode ser um instrumento importante na socialização da criança na idade pré-escolar.

No primeiro capítulo, será abordada a importância do contato entre as pessoas, de que maneira a interação pode transformar os indivíduos, e como os seres humanos se desenvolvem? 

No segundo capítulo, serão mostrados alguns folclores, brinquedos e brincadeiras, além de explicar a forma como deve-se organizar uma brinquedoteca.

No terceiro capítulo, serão apresentados os eixos de trabalho da Educação Infantil e como são divididos, além de algumas sugestões de atividades lúdicas para serem trabalhadas, de acordo com cada eixo apresentado.

 

 

CAPÍTULO I

 

  1. DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM HUMANA

 

De acordo com Oliveira (1993), Vygotsky busca compreender a origem e o desenvolvimento dos processos psicológicos ao longo da história da espécie humana e da história individual, mas não chegou a formular uma concepção estruturada do desenvolvimento humano, para que pudéssemos interpretar o processo de construção psicológica do nascimento até a idade adulta. Mesmo que esse seja objeto privilegiado de Vygotsky, ele não nos oferece uma completa interpretação em suas descobertas, oferece reflexões e dados de pesquisa sobre vários aspectos do desenvolvimento humano.

Durante estudos sobre a questão do desenvolvimento humano, Vygotsky se preocupava com os processos de aprendizado, porque para ele, o aprendizado está relacionado ao desenvolvimento, desde o nascimento da criança.

Ainda segundo Oliveira (1993), existe um percurso de desenvolvimento, em parte definido pelo processo de maturação do organismo individual, pertencente à espécie humana, mas é o aprendizado que possibilita o desenvolvimento que, não fosse o contato do indivíduo com certo ambiente, não ocorreriam.

Nesse caso, se pensarmos em um indivíduo que cresce em um ambiente isolado em uma cultura, que não possui um sistema de escrita, de acordo com Vygotsky esse indivíduo jamais será alfabetizado, pois o interesse pela leitura e escrita não poderá ser despertado sozinho, já que este não terá contato com indivíduo que permita tal aquisição. Somente quando o mesmo for desligado do seu contexto social e da sua convivência e for inserido em um cotidiano que se tem acesso à escrita e à alfabetização. Vygotsky afirma, mediante seus estudos, que será despertada a aprendizagem deste indivíduo devido a mudança de ambiente e será iniciado o aprendizado.

 

É um processo pelo qual o indivíduo adquire informações habilidades, atitudes, valores, etc. a partir de seu contato com a realidade, o meio ambiente, as outras pessoas. É um processo que se diferencia dos fatores inatos (a capacidade de digestão, por exemplo, que já nasce com o indivíduo) e dos processos de maturação do organismo, independentes da informação do ambiente. Em Vygotsky, justamente por sua ênfase nos processos sócio-históricos, a idéia de aprendizado inclui a interdependência dos indivíduos envolvidos no processo. O termo que ele utiliza em russo (obuchenie) significa algo como “processo de ensino aprendizagem”, incluindo sempre aquele que aprende, aquele que ensina e a relação entre essas pessoas. (OLIVEIRA,1993, p.57).

 

Em outro caso, supondo que uma criança normal, que cresce num ambiente somente de pessoas surdas-mudas, ela não desenvolverá sua linguagem oral, mesmo com todos os requisitos inatos necessários para isso. Isso porque as crianças que não possuem contato com outros seres humanos que falam, ficam impedidas de aprender a se comunicar verbalmente, passando a se comunicar de outras formas.

De acordo com Oliveira, Vygotsky dá importância ao papel do outro social no desenvolvimento do indivíduo, porque em sua concepção, é o aprendizado com o outro que possibilita o despertar de processos internos, ligando o desenvolvimento da pessoa a sua relação com o ambiente sócio cultural em que vive.

Continuando o estudo de aprendizado das crianças, Vygotsky buscou descobrir até onde ela chegou, com relação ao seu desenvolvimento. Foram feitos então alguns testes para que, através dos mesmos, fosse levantado o que se sabe ou não referente ao senso de maturidade que a mesma tem para o aprendizado. Quando se constata que a criança já sabe andar, amarrar um calçado sozinho sem a ajuda de um terceiro, fica explicitada a ideia de que a mesma já se tornou independente naquela atividade e que o seu conhecimento é suficiente para o desempenho da função.

Esta forma de avaliação do comportamento infantil busca demonstrar o que se considera como conquista adquirida pela criança, nas situações da vida diária, e que não será mais necessário trabalhar, para que haja um desenvolvimento referente àquela ação ou referente àquela área. A esta capacidade de realizar estas tarefas, Vygotsky chama de nível de desenvolvimento real, que já foram completados, consolidados.

Outro nível de desenvolvimento que Vygotsky chama a atenção, é o nível de desenvolvimento potencial, isto é, a capacidade da criança desempenhar uma atividade necessitando ainda do auxílio de um adulto ou de um companheiro mais capaz. No caso das tarefas em que a criança não consegue realizar sozinha, mas conseguirá se receber os comandos, orientações dadas por outra pessoa.

 

Essa possibilidade de alteração no desempenho de uma pessoa pela interferência de outra é fundamental na teoria de Vygotsky. Em primeiro lugar porque representa de fato, um momento do desenvolvimento: não é qualquer indivíduo que pode a partir da ajuda de outro, realizar, qualquer tarefa. Isto é. A capacidade de se beneficiar de uma colaboração de outra pessoa vai ocorrer num certo nível de desenvolvimento, mas não antes. (OLIVEIRA,1993, p.59).

 

O nível de desenvolvimento potencial do indivíduo ajuda a entender o momento em que as novas informações vão ser inseridas dentro da zona de conhecimento. A partir disso, onde existe o que já é conhecido pela criança (real) e o que o mesmo precisa aprender (ideal), aparece como complemento entre estas duas zonas um “local” referencial conhecido como Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), a qual o indivíduo que ensina precisa saber, para que a criança que está sendo submetida ao aprendizado, e, portanto, depende da ajuda de outras pessoas, seja brevemente, independente em relação ao novo conteúdo proposto.

 

A zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentemente em estado embrionário. Essas funções poderiam ser chamadas de ‘’brotos’’ ou ‘’flores’’ do desenvolvimento, ao invés de frutos do desenvolvimento. (OLIVEIRA, apud Vygotsky 1993, p.60).

 

A questão que intriga quem ensina e quem está envolvido neste processo de aprendizagem, é como atingir esta ZDP? A escola tem o papel de fazer com que a criança avance em sua compreensão de mundo, a partir daquilo que já conhece, tendo como meta etapas posteriores, que ainda não foram alcançadas.

Vygotsky salienta que o único bom ensino é aquele que provoca no aluno o adiantamento do seu conhecimento, mas isso não deve se dar através de uma forma autoritária de ensinar, e sim baseando em uma abordagem que estimule a curiosidade e o interesse da criança.

Vygotsky também fala sobre a importância que julga considerável na ação do meio cultural e das relações sociais que o indivíduo vive diariamente. Pois ele acredita que no relacionamento entre o sujeito e o ambiente, sendo ele cultural ou social, o indivíduo recebe uma carga de informações que o ajuda a reconstruir seus conceitos anteriores e leva a recriar seus novos conceitos e formando assim um aprendizado dialético, que promove individualmente constantes mudanças.

Estas mudanças geram a criação de uma nova cultura, por parte deste indivíduo que mediante este processo elabora uma formação sócio histórica que fundido a outras transformações individuais, constrói a sociedade humana como um todo.

Para Vygotsky, a escola é um interessante ambiente para se aplicar a imitação, como forma de aprendizagem entre os pequenos, e a utilização deste recurso não deve ser enfadonho, mas usada pensando na construção da capacidade da criança de aprender algo novo, através de alguém que pode ajudar a atingir à sua Zona de Desenvolvimento Proximal, proporcionando o conhecimento referente ao que se sabe e algo que se deve aprender.

Ainda segundo Vygotsky apud Oliveira, outra forma de se conseguir atingir a ZDP da criança dentro do ambiente escolar, é estimulando a imaginação da criança, propondo brincadeiras de faz de conta, usando brinquedos como ferramenta.

No mundo da imaginação, a criança constrói seu próprio pensamento, usando diferentes objetos para brincar, como um cabo de vassoura para simbolizar um cavalo, mas dentro de um ambiente visual real, a criança não consegue se desvincular daquilo que está vendo de forma concreta e real.

Quando a criança adquire a linguagem e passa a utilizar a representação simbólica, ela terá condições de libertar a sua imaginação, ligando os elementos concretos presentes no momento atual. Como por exemplo, se ela está visualizando uma pessoa sentada, e o seu relato será de que a pessoa está em pé, mesmo que você peça a ela para falar assim, ela mudará a frase afirmando que a pessoa está sentada.

E quando utiliza um brinquedo, a criança interage com ele através da sua própria imaginação, pois cada um tem um significado que vai além da realidade concreta. O brinquedo proporciona então, uma situação de transição entre o que é real e o que é imaginação, construindo um novo conhecimento que poderá utilizar no seu cotidiano.

Tanto pela criação da situação imaginada pela criança, como pela definição de regras específicas, o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança. Assim, ela se comporta de forma mais avançada do que nas atividades da vida real, separando o objeto de seu significado, contribuindo assim com seu próprio desenvolvimento, aprendendo por meio de folclores e brincadeiras.

 

 

CAPÍTULO II

 

  1. FOLCLORE, BRINQUEDO, BRINCADEIRA E ORGANIZAÇÃO DOS BRINQUEDOS

 

Conforme os estudos realizados para este trabalho, foi possível constatar a importância do folclore no desenvolvimento da criança e como podemos utilizar esse momento no processo de ensino e aprendizagem.  O professor está sempre à procura de caminhos que ajudem nesse processo, tão natural para alguns alunos e tão desconfortável para outros.

O folclore não representa uma fórmula mágica, capaz de sanar os problemas de aprendizagem, emocionais e de mau comportamento na educação, mas representa um meio de auxiliar a aprendizagem. Desta forma, entendemos que o folclore não é um mero passatempo e que brincar é coisa séria!

O professor da educação infantil tem que assumir o papel de mediador nessas atividades, vislumbrando a formação de conceitos e o processo de desenvolvimento de forma geral. Há que se proporcionar momentos de atividades lúdicas livres – porém acompanhada do olhar e análise das situações ou folclores de papeis sociais pelo professor – e as atividades lúdicas dirigidas, com objetivos e intencionalidades específicas.

Sob essa perspectiva, a atividade traz inúmeros benefícios, porque solicita a inteligência, possibilita uma maior e melhor compreensão do mundo, favorece a simulação de situações, antecipa soluções de problemas, sensibiliza, alivia tensões, estimula o imaginário e, consequentemente, a criatividade. Permite, também, o desenvolvimento do autoconhecimento, elevando a autoestima, propiciando o desenvolvimento físico-motor, bem como do raciocínio e da inteligência, sensibilizando, socializando e ensinando a respeitar as regras.

Enfim, o brincar diverte, traz alegria e faz sonhar. Podemos concluir que com o folclore a criança tem a oportunidade de organizar seu mundo seguindo seus próprios passos e utilizando melhor seus recursos. Ao utilizar o folclore como instrumento facilitador no ensino- aprendizagem, percebemos que esta é uma proposta criativa e recreativa de caráter físico ou mental, que permitirá ao educando criar, imaginar, fazer de conta, funcionar como laboratório de aprendizagem.

Para a incorporação do folclore faz-se necessário uma política educacional que garanta a formação do profissional. Que o educador reflita sobre sua postura em relação ao ensinar, aprender e ao avaliar seu educando dentro da metodologia lúdica.

O brincar e a aprendizagem social, segundo Kostelnik (2015), “mantêm uma relação complexa. Na brincadeira a criança aprende a se autocontrolar, divide papéis e opiniões, aprende a respeitar e valorizar o próximo, entre outros, com o fim de que a brincadeira prossiga sem problemas”. Desse modo, podemos afirmar que não há sequer um elemento da competência social para o qual a brincadeira não contribua.

A brincadeira amplia vários conceitos, possibilita as mais variadas experiências nas diversas áreas do conhecimento. Partindo disso, vejamos como o folclore, o brinquedo e a brincadeira possuem papel didático e não só podem como devem, ser explorados pelos professores.

 

2.1 O folclore

 

O folclore, as brincadeiras, os brinquedos, enfim, as atividades lúdicas, acompanham o desenvolvimento da civilização humana desde seus primórdios. Sommerhalder e Alves (2011) afirmam que em Homo Ludens, HUIZINGA (1980) argumenta que o folclore puro e simples é o princípio vital de toda a civilização, é uma função da vida.

Os indícios de folclores, brinquedos, brincadeiras, não são recentes, ao contrário, em todos os cantos do mundo, são antigos. Segundo Vasconcellos (2006), o Museu Britânico, em Londres, possui em seu acervo, brinquedos com mais de cinco mil anos, pertencentes à civilização egípcia. No Brasil, nas cavernas de São Raimundo Nonato no Piauí, ainda podemos encontrar figuras que estão gravadas as representações de brinquedos e possíveis brincadeiras que crianças e adultos, utilizavam há dez mil anos atrás, com datas da época. Com essas informações, podemos afirmar que o folclore está presente em toda a história da humanidade “(MELLES DE OLIVEIRA, 2005, p. 40).

A ideia que temos hoje, é que o folclore é um produto cultural, é produzido de acordo com a cultura, representando valores, signos, hábitos e costumes produzidos pela sociedade e indivíduos que dela fazem parte.

Se pudermos conversar com pessoas de mais idade, poderemos descobrir muitas brincadeiras que desconhecemos, como também iremos perceber que muitas das brincadeiras que conhecemos, foram reformuladas, recriadas, assim como poderemos descobrir novas brincadeiras e folclores interessantes. Outra forma de descobrir as brincadeiras atuais das crianças, seria observando-as no momento do recreio na escola, passeando pelo bairro onde as crianças brincam pelas ruas.

De acordo com Sommerhalder e Alves (2011), quando falamos em folclores e brincadeiras, nos vem a imagem de nossa infância ou de uma criança brincando, isso porque é difícil imaginar uma criança que não goste de brincar e/ou jogar, pois o prazer com que elas se entregam à estas atividades lúdicas é gratificante. Quem pensa que um dia deixaremos de brincar ou jogar, se engana, pois, nós adultos, não deixamos de brincar, apenas deixamos as simples brincadeiras por outras mais complexas, como esportes, danças, teatros, lutas.

O folclore é nosso ponto de partida, a partir dele, começamos uma fantástica descoberta no mundo da cultura. Daí então, entramos em contato direto com o mundo que nos cerca.

É assim também que o bebê estabelece suas primeiras relações com sua mãe: um folclore de olhares, toques, expressões que permitem que bebê e mãe se relacionem, se conheçam, se reconheçam. Cria-se um espaço intermediário entre bebê e mãe onde as necessidades do bebê se encontram com o desejo da mãe de satisfazê-las, de acolhê-las, possibilitando ao primeiro segurança e suporte para enfrentar as fragilidades de um mundo que está além de si mesmo.

Ainda segundo Sommerhalder e Alves (2011), é através da brincadeira/folclore que a criança busca alternativas e respostas para suas dificuldades e/ou problemas, satisfaz seus desejos. Dessa forma, também aprende e constrói conhecimentos, explorando, experimentando, inventando e criando. Aprende o significado e o sentido da cooperação, da competição, explora e experimenta diversas habilidades motoras, reconhece valores e atitudes de respeito, etc.

Aos olhos da criança o mundo é um grande parque de diversões, é o elo dela com o mundo maior que a cerca, portanto, espaço potencialmente educativo e/ou formativo. Esse é um dos motivos, talvez o mais importante, que possibilita a inserção do folclore ao cenário escolar.

Kishimoto (2006, p.13) argumenta que:

 

Tentar definir o folclore não é tarefa fácil. Quando se pronuncia a palavra folclore cada um pode entendê-la de modo diferente. Pode-se estar falando de folclores políticos, de adultos, crianças, animais ou amarelinha, xadrez, adivinhas, contar estórias, brincar de “mamãe e filhinha”, futebol, dominó, quebra-cabeça, construir barquinho, brincar na areia e uma infinidade de outros.

 

Há estudiosos que descrevem o folclore como elemento da cultura, relacionando-o aos aspectos sociais como o prazer de jogar, “não-seriedade”, por não ter ligação com o dia a dia, as regras existentes, a liberdade de jogar etc. Entretanto, outros autores como Vygotsky apud Oliveira (2003) afirmam que nem sempre o folclore assume essas características, obtendo em alguns casos o prazer e o esforço para alcançar o objetivo da brincadeira. Em suas regras, todo o folclore possui sua característica marcante, seja ela explícita ou implícita.

Os folclores, brinquedos e brincadeiras são atividades fundamentais da infância. Do ponto de vista educacional, o folclore tem um sentido mais específico como: divertimento, brincadeira, passatempo e visa a estimular o crescimento e a aprendizagem das crianças. O folclore é composto de regras, e é considerado um grande aliado na educação. Quando utilizado de forma equilibrada, proporciona grandes desafios e novas experiências, ajudando no amadurecimento e a desenvolver a personalidade. (MACEDO, 2000).

De acordo com Piaget (1990), os folclores se classificam em:

- Folclores de exercícios: aqueles que acompanham quase todo o desenvolvimento da criança representam as primeiras experiências motoras, o simples ato de repetir a mesma ação inúmeras vezes.

- Folclores simbólicos ou faz de conta: a criança se propõe a realizar coisas, resolver problemas ainda não possíveis de soluções na vida real.

- Folclores de construção: Situam-se num período de transição entre folclores simbólicos e os de regras, meio caminho entre folclore e a organização do pensamento.

- Folclores de regras: Possível, após certo desenvolvimento da inteligência, característico do indivíduo socializado.

Segundo Kishimoto (2006, p.27), alguns autores apontaram pontos comuns que entrelaçam a família dos folclores:

 

       1.liberdade de ação do jogador ou o caráter voluntário e episódico da ação lúdica; o prazer (ou desprazer), futilidade, o “não sério” ou o efeito positivo;

  1. as regras (implícitas ou explícitas);
  2. a relevância do processo de brincar (o caráter improdutivo), a incerteza de seus resultados;
  3. a não literalidade ou a representação da realidade, a imaginação e
  4. contextualização no tempo e espaço.

 

Ainda de acordo com as ideias de KISHIMOTO, o uso do brinquedo/folclore educativo funciona como grande instrumento para as situações de ensino-aprendizagem e desenvolvimento infantil. Pois considera-se que a criança aprende de modo intuitivo, espontâneo em processos interativos sociais e afetivos.

 

2.2 O brinquedo

 

E na hora de escolhermos um brinquedo, muitas das vezes, o adulto cria uma ideia de que o brinquedo bom, é aquele sofisticado, que faz tudo sozinho, canta, chora, gira, faz xixi, dança, anda. Uma simples bola de meia, boneca de pano ou mesmo uma vassoura, talvez faça um efeito muito mais significativo em termos de aprendizagem e desenvolvimento da criança do que aqueles objetos mais sofisticados, com designer moderno, fashion e tecnologia de ponta.

De acordo com Sommerhalder e Alves (2011) (BENJAMIN (1984, p. 70) “[...] quanto mais atraentes forem os brinquedos, mais distantes estarão de seu valor como ‘instrumentos’ de brincar; quando ilimitadamente a imitação anuncia-se neles, tanto mais desviam-se da brincadeira viva”. À criança só resta reproduzir. O exercício de criar, recriar, montar, desmontar, cede lugar à reprodução. Isso quer dizer que, quanto mais sofisticado for o brinquedo, mais a criança se tornará prisioneira. Quanto mais simples, mais a criança irá inventar possibilidades.

E para completar, Kishimoto (2006) diz ainda que o brinquedo propõe um mundo imaginário da criança e do adulto, criador do objeto folclore. No caso da criança, o imaginário varia conforme a idade: para o pré-escolar de 3 anos, está carregado de animismo; de 5 a 6 anos, integra predominantemente elementos da realidade.

Sommerhalder e Alves (2011) esclarecem que, na percepção da criança, qualquer objeto pode ser um brinquedo quando esse assume uma função lúdica. Ele é um estimulador da imaginação e da fantasia, por expressar, muitas vezes, imagens de representação de aspectos da realidade, oferece à criança a oportunidade de lidar com substitutos de objetos reais. A criança pode ou não se apoiar neste objeto para brincar, sendo qualificado como um bom material, quando maior for a possibilidade do brincante imaginar e criar.

O brinquedo é o suporte usado para desenvolver a imaginação do aprendiz em uma ação lúdica. Trata-se de um elemento cultural que é utilizado pelas crianças independente de sua proposta inicial, sem determinar a brincadeira. Compreende-se que um dos objetivos do brinquedo é substituir os objetos reais para que as crianças os manipulem, os conheçam e interajam com estes e quanto mais este material permitir a expressão da imaginação e da fantasia maior será a sua qualificação educativa (KISHIMOTO, 2006).

Além dos sentidos que as crianças atribuíram ao brinquedo e os significados sociais e culturais que estes assumiram, o brinquedo é também em alguns momentos um objeto transicional, pois se encontravam no meio caminho entre a realidade concreta e a realidade psíquica da criança. Ao utilizar um brinquedo é fundamental que as crianças possam desmontá-lo, sujá-lo, enfim, conhecê-lo. Neste processo de brincar com o objeto folclore (brinquedo), elas experimentam a tarefa constante de construção e reconstrução da realidade interna e externa (ALVES e SOMMERHALDER, 2006).

Segundo Vygotsky (1998), a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZPD), se dá com o processo de desenvolvimento e a relação do indivíduo com seu ambiente e também com o brinquedo.  O autor define a ZPD, como:

 

A distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração companheiros mais capazes. (Vygotsky, 1998, p. 112)

 

O autor afirma, ainda, que a aquisição do conhecimento se dá, por intermédio das zonas de desenvolvimento: real e proximal.  A zona de desenvolvimento real é a do conhecimento já adquirido, é o que a pessoa traz consigo, já a proximal, só é atingida, de início, com o auxílio de outras pessoas mais “capazes”, que já tenham adquirido esse conhecimento.

Segundo Kishimoto (2006), o brinquedo pode ter funcionalidades lúdicas ou educativas, de acordo com suas considerações, funciona como folclore, quando o brinquedo traz diversão, prazer e até desprazer, quando é escolhido pela própria criança.  E é educativo, quando é colocado pelo professor ou um adulto para completar seu saber e sua apreensão do mundo.

Segundo Kishimoto (2006) o brinquedo é compreendido como um "objeto suporte da brincadeira", ou seja, brinquedo aqui estará representado por objetos como piões, bonecas, carrinhos etc. Os brinquedos podem ser considerados: estruturados e não estruturados. São denominados de brinquedos estruturados aqueles que já são adquiridos prontos, é o caso dos exemplos acima, piões, bonecas, carrinhos e tantos outros.

 

O vocábulo “brinquedo” não pode ser reduzido à pluralidade de sentidos do folclore, pois conota criança e tem uma dimensão material, cultural e técnica. Enquanto objeto, é sempre suporte de brincadeira. É o estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil. (Kishimoto, 2006 p.21)

 

Os não estruturados são aqueles que, não sendo industrializados, são simples objetos como paus ou pedras, que nas mãos das crianças adquirem novo significado, passando assim a ser um brinquedo. A pedra se transforma em comidinha e o pau se transforma em cavalinho. Portanto, vimos que os brinquedos podem ser estruturados ou não estruturados, dependendo de sua origem ou da transformação criativa da criança em cima do objeto.

O brinquedo pode favorecer a imaginação, a confiança e a curiosidade, proporcionar a socialização, desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da criatividade, da concentração.

O brinquedo deve sempre estar colocado ao alcance da criança, ele será seu parceiro na brincadeira. A manipulação do brinquedo leva a criança à ação e a representação, a agir e a imaginar. As situações imaginárias e de faz-de-conta que as crianças vivenciam tem-se manifestado, pode-se dizer, com mais diversidade, as crianças buscam imitar, imaginar, representar e comunicar de uma forma especifica que uma coisa pode ser outra, que uma criança pode ser um objeto ou animal, que o lugar “faz-de-conta” é outro daquele diferente em que está, e assim estará caminhando para a aprendizagem.

A educação lúdica é um grande suporte para o aprendizado das crianças, pois é de forma espontânea.

Acreditamos que o folclore auxilia positivamente no aprendizado das crianças, pois juntamente com as brincadeiras elas desenvolvem também a coordenação motora.

Cabe no folclore que podemos observar o desenvolvimento de cada uma. Além de se expressar de maneira corporal, assimila os conhecimentos transmitidos pelo educador ao professor selecionar os folclores que possuem algum significado positivo na aprendizagem dos seus alunos, passando a ser uma ótima influência para os pequenos aprenderem.

 

2.3 A brincadeira

 

Quem nunca brincou quando criança? Difícil encontrar alguém que diga que nunca fez isso. Muitas brincadeiras como: pega-pega, esconde-esconde, pular corda, brincar de casinha, queimada, futebol, entre outras, fizeram parte da infância de muita criança. Quem não se lembra dessas práticas culturais que alegravam os dias de brincadeiras na escola, com as amiguinhas de infância?

Segundo Kishimoto (2006), a criança quando brinca toma uma certa distância da vida cotidiana, entrando no mundo imaginário. Portanto, assim como o brinquedo que desperta a imaginação e a fantasia, o folclore tem na ação voluntária uma característica marcante. Ao brincar, a criança mostra toda a sua sensibilidade ao duvidar daquilo que vê, que pega. Assim, ao brincar, a criança não está somente ancorada ao presente, mas também tenta resolver problemas do passado ao mesmo tempo em que projeta para o futuro. A menina que brinca com a boneca antecipa sua possível maternidade e tenta enfrentar as pressões emocionais do presente. Brincar de boneca permite-lhe representar sentimentos ambivalentes, como o amor pela mãe e os ciúmes do irmãozinho que recebe os cuidados maternos. Kishimoto (2006) classifica as brincadeiras em: tradicionais, de faz-de-conta e de construção e enfatiza como cada uma delas pode contribuir para a aprendizagem das crianças de Educação Infantil. Para ela, a brincadeira tradicional infantil, filiada ao folclore, incorpora a mentalidade popular, expressando-se, sobretudo, pela oralidade. A importância de se trabalhar com essas brincadeiras explica-se pelo poder da expressão oral.

Na visão de Kishimoto (2006) sobre as brincadeiras tradicionais, ela abre espaço para que os brinquedos e brincadeiras sejam resgatados e até mesmo introduzidos nas Escolas. Há que se lutar para que se torne uma realidade presente na proposta pedagógica da escola. Na brincadeira com folclores de construção, o importante é enriquecer, estimular e desenvolver as habilidades, construindo casas e prédios com tijolinhos que estimulam a imaginação.

 

Construindo, transformando e destruindo, a expressa seu imaginário, seus problemas e permite aos terapeutas o diagnóstico de dificuldades de adaptação, bem como a educadores o estímulo da imaginação infantil e o desenvolvimento afetivo e intelectual. Dessa forma, quando está construindo, a criança está expressando suas representações mentais, além de manipular objetos. (Kishimoto, 2006, p.40).

 

A criança, quando brinca, aprende a se expressar no mundo, criando ou recriando novos brinquedos e participando com eles de novas experiências e aquisições. Assim, consegue o “passaporte” para a realidade.

É através da brincadeira que a criança tem mais espaço para a vida afetiva e mais possibilidades de desenvolver sua capacidade de concentrar sua atenção. Ela explora seus sentimentos, tenta compreender o desconhecido, por isso precisa brincar para se sentir segura.

Para Macedo (2000), a brincadeira é uma aprendizagem social: ela não é inata, aprende-se a brincar. Cabe aos educadores proporcionar e criar um ambiente que estimule a brincadeira, pois a criança se desenvolve pela experiência social e nas interações que estabelece, desde cedo, com a experiência dos adultos e do mundo que por eles foi criado. A brincadeira é uma atividade social privilegiada de interação específica e fundamental, que garante a interação e construção do conhecimento da realidade, vivenciada pelas crianças e de constituição do sujeito-criança como sujeito produtor da história, principalmente na educação infantil.

Segundo os Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil:

 

Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais (BRASIL, 1998, p. 22).

 

A brincadeira é uma linguagem expressa, intensa e preferida pelas crianças, ocorre de forma imaginária, sendo assim oposta à realidade.   Vem carregada de emoções e afetos, o que a caracteriza como uma atividade séria e intensa, especialmente na infância.

Brincar representa a capacidade de mobilizar fantasias que ajudam a criança a compartilhá-las com outras pessoas, de modo que permita a produção de saberes significativos e singulares (SOMMERHALDER; ALVES, 2011).

Por desenvolver-se na dimensão imaginária, é carregada de fantasia e simbolismo, dando a oportunidade de a criança compreender o outro em suas relações humanas e com os objetos da cultura, promovendo inúmeras aprendizagens.

Para PIAGET (1971), quando brinca, a criança assimila o mundo à sua maneira, sem compromisso com a realidade, e sua interação com o objeto não depende da natureza do objeto, mas da função que a criança lhe atribui. Ao que ele chama de folclore simbólico, em que a criança atribui novos significados à vários objetos.

 

2.4 Organização dos brinquedos

 

De acordo com Michelet (1992), a organização dos brinquedos e outros materiais folclores é fundamental. Por isso é muito importante ser discutido com os educandos, que deverão compreender que para facilitar o encontro de tudo o que há de legal a ser usado, precisarão manter a brinquedoteca em ordem, pois o espaço será explorado por todas as outras crianças da escola e todos precisam se comprometer e fazer a sua parte.

Para facilitar a visualização e manter os brinquedos organizados em uma brinquedoteca, até mesmo na hora de guardar os mesmos nas estantes e armários, é importante relacionar cores, idade média de utilização, baseando-se na função e no desenvolvimento da criança. Pode-se fazer faixas pintadas ou de fitas nos armários e marcar nomes correspondentes aos brinquedos:

 

  1. Brinquedos para a primeira idade e brinquedos para atividades sensório-motoras (como: chocalhos; mordedores; móbiles; animais e objetos em borracha; pelúcias de 20 a 50 cm; brinquedos para empurrar rolar e puxar; veículos sem pedais; cubos; formas para empilhar; caixas de encaixe de formas e cores; esferas; caixas de música etc.): cor vermelha.
  2. Brinquedos para atividades físicas (como: veículos com pedais, patinetes, triciclos, patins, bolas, cordas, pingue-pongue, pipas, boliches, folclores de argolas, pernas de pau, bambolês, piões etc): cor azul escuro.
  3. Brinquedos para atividades intelectuais (como: quebra-cabeças, caixas científicas e de experiências, brinquedos e folclores de perguntas e respostas, brinquedos didáticos, folclores matemáticos e lógicos, blocos de construção etc): cor amarela.
  4. Brinquedos que reproduzem o mundo técnico (como: fogões, aparelhos eletrônicos reduzidos com a função de imitar o real, robôs, aparelhos audiovisuais com função real, veículos com miniatura, pistas para carros, trens, acessórios – como autoramas – etc.): cor verde.
  5. Brinquedos para desenvolvimento afetivo (como: bonecos, personagens imagináveis, bonecas para vestir, acessórios e móveis de boneca e de casinha, acessórios de beleza, brinquedos de profissões, bebês, casa de bonecas, tapete de folclore, cidades, fazendas, zoológicos, cabanas, tendas, fortes e ranchos, miniatura de figuras de animais, soldadinhos de chumbo etc.): cor rosa;
  6. Brinquedos para atividades criativas: (como: mosaicos; materiais de colagens; origami; caixas de pintura; folclore de desenho; modelagem; adesivos; trabalhos de furar, amarrar, enfiar, traçar e recortar; quadro-negro; brinquedos musicais; marionetes; fantoches; teatrinho etc.): cor azul claro.
  7. Brinquedos para relações sociais (como: folclores de numerais e de letras, folclores de mágica, coleções de folclores, folclore de simulação e de interpretação, folclores de sorte – como dados, bingo – etc.): cor laranja. Sommerhalder e Alves (2011), p. 97.

 

E para facilitar ainda mais, os mesmos autores sugerem que sejam feitos catalogação/registro de todos os brinquedos com número de identificação, data da aquisição ou doação, letra do armário ou cor da estante em que é guardado o brinquedo.

Aflalo (1992) sugere que façam uma ficha para cada brinquedo, colocando desde a foto do brinquedo, recorte ou fotocópia da embalagem e cópia das regras do folclore em anexo. Ele também cita a importância da catalogação de brinquedos, usando ficha contendo código, nome, ano de fabricação, fabricante, local, tipo, descrição detalhada de seus componentes, quantidade do mesmo, doador, preço, local da compra, localização na brinquedoteca, acondicionamento, até mesmo maneiras de guardar o brinquedo, disponibilidade de empréstimo e outras observações. O importante é que o brinquedo tem que estar catalogado dentro da brinquedoteca e que tenha um computador ou um caderno que mostre todos os dados necessários para o usuário.

Seja no computador ou no livro, o registro deve facilitar informações sobre cada brinquedo catalogado, sua localização, quantidade de peças, se está ou não disponível para retirada, fabricante, data de aquisição, última limpeza, saída para limpeza ou conserto ou limpeza, data de retorno, desligamento efetivo, mesmo quando tratarmos de brinquedo de sucata.

Esse trabalho de classificar e catalogar os brinquedos, será uma forma de organizar a brinquedoteca para facilitar a localização, substituição no caso de um deles estiver quebrado e outras informações importantes, assim, não verão a brinquedoteca como um ambiente com amontoado de brinquedos, sem organização e cuidados.

Garon também defende a classificação simplificada de brinquedos e nos apresenta a seguinte proposta:

 

  1. brinquedos para berço, encaixes de formas e cores, brinquedos para apertar, bater, puxar, empurrar, brinquedos para areia e água e outros brinquedos de estimulação e coordenação motora, para ação e descoberta;
  2. bonecas, bonecos, bichos e acessórios destes;
  3. móveis, louças, telefones e outros utensílios de casinha;
  4. veículos e acessórios;
  5. bolas, cordas de pular, boliches, petecas, pingue-pongue, boias, pipas, balanço, escorregadores, bicicletas, patins, taco, redes e outros brinquedos para exercícios físicos e habilidades;
  6. fantoches, marionetes, teatrinho, fantasias, maquilagem, mágica, acessórios que imitam profissões, mini cenários como fazendinhas, forte apaches e outros brinquedos para dramatização;
  7. carimbos, quadro-negro, tintas, massinhas, materiais para tapeçaria, tecelagem, bordado e outros materiais para atividades artísticas e trabalhos manuais;
  8. instrumentos e brinquedos musicais;
  9. brinquedos de construção e montagem;
  10. lotos, dominós, folclores de tabuleiro, pebolim, futebol de botão, cartas, folclores de ação, folclores de estratégia e outros folclores de sociedade;
  11. quebra-cabeças;
  12. folclores e brinquedos de vídeo, informáticos e eletrônicos;
  13. lupa, binóculos, lunetas, caleidoscópios, microscópios, ‘Kits’ de química, biologia, física, brinquedos de letras, números, palavras, línguas, noções de geografia, história e outros objetos para aprendizagem e descoberta;
  14. aparelhos de foto, vídeo, som e outros equipamentos;
  15. livros, revistas. Sommerhalder e Alves (2011), p. 100.

 

Outra possibilidade de organizar brinquedos seria através de carteirinha com número de inscrição ou matrícula. Há várias formas de se organizar uma brinquedoteca, mas devemos nos atentar para que esta ação não dificulte o uso destes, pois a ação do brincar deve ser privilegiada pelas crianças.

 

 

CAPÍTULO III - OS EIXOS DE TRABALHO E SUGESTÕES PARA TRABALHAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

É importante o professor conhecer os eixos de trabalho ou áreas de conhecimento para trabalhar na educação infantil, tanto para seu conhecimento, quanto para a formação social da criança.

 

3.1 Movimento

 

Segundo BRASIL (2002) movimento é um eixo muito importante para o desenvolvimento do ser humano, este não pode ser deixado de lado. Desde o nascimento, a criança vai ganhando experiência, confiança, através do contato com o mundo. Cabe ao professor e ou monitor, enriquecer o ambiente para que fique mais acolhedor, interativo, seguro e prazeroso.

A atividade de movimento envolve uma pluralidade de manifestações do ato motor que promovem o desenvolvimento de vários aspectos específicos da motricidade, estes são fundamentais para as crianças conseguirem agir sobre o meio físico. Devemos respeitar as capacidades, diferenças, limites e a faixa etária.

Os conteúdos do eixo movimento estão organizados em dois blocos. No primeiro, são destacadas as questões de reconhecimento do próprio corpo e as expressões de sensações e ritmos gestuais com crianças de zero a três anos. Já o segundo, trata dos aspectos progressivos das crianças de quatro a seis anos de idade, aprofundando e ampliando o trabalho, considerando a expressão, estruturas rítmicas através de danças e brincadeiras, além dos limites e potencialidades dos movimentos.

Brincadeiras de roda, danças circulares, são recursos folclores para propor às crianças, de modo a favorecer o ritmo corporal individual e coletivo. Durante a comunicação e expressão corporal, cultural, estarão interagindo e se reconhecendo, além de explorar seu próprio corpo, melhorando o equilíbrio corporal (BRASIL, 2002).

No segundo bloco, são destacados os assuntos tratando a importância na participação de brincadeiras e folclores de correr, escorregar, descer e subir, de forma a ampliar o conhecimento e controle de seu próprio corpo (BRASIL, 2002)

 

3.1.1Atividade 1

 

Arremesso

Objetivos:

- Exercitar os músculos e a coordenação motora.

- Perceber a noção de espaço e distância das crianças.

- Estimular a organização de dados.

- Promover a interação das crianças no desenvolvimento da     atividade.

         

Materiais:

Fita crepe, garrafas plásticas cheias de areia e uma fita métrica.

Organização:

As crianças farão o arremesso das garrafas uma por vez.

 

Procedimentos:

O professor irá traçar uma linha reta no chão utilizando fita crepe. As crianças deverão arremessar as garrafas cheias de areia, para frente. Assim o professor irá medir a distância dos arremessos utilizando uma fita métrica. Ao final da atividade pode-se elaborar um gráfico explicativo com as crianças em relação à distância dos arremessos e pesos das garrafas.

 

3.1.2 Atividade 2

 

Cabra-cega

 

Objetivos:

- Estimular a percepção auditiva e tátil das crianças.

- Promover o exercício de movimento.

- Perceber a capacidade de locomoção e socialização das crianças

 

Material:

Um lenço.

 

Procedimentos:

As crianças elegem um coleguinha para ser a cabra-cega. Usando o lenço vendamos os olhos da criança escolhida. Enquanto a cabra-cega roda em torno de si mesma, ela e as outras crianças podem recitar a seguinte parlenda.

 

Crianças: Cabra-cega de onde vieste?

Cabra-cega: Do moinho.

Crianças: O que trouxeste?

Cabra-cega: Pão e vinho.

Crianças: Me dá um pouquinho?

Cabra-cega: Não dou, não.

Uma das crianças toca a cabra-cega e fala:

- Então vai procurar quem te bateu.

 

Após o recital, a cabra-cega sai tentando pegar uma criança. Quando conseguir, deve acertar o nome do amigo que pegou. A criança pega será então a cabra-cega, e o folclore recomeça. Se a cabra-cega errar o nome do amigo, o folclore continua sem mudanças.

 

3.2 Música

 

A música representa a linguagem, com ela podemos nos comunicar, expressar, sentir. Ela está presente em quase todas as culturas e diversas situações de nossa vida, além de ser uma ótima ferramenta para o desenvolvimento da expressão corporal e interação social.

O trabalho com a música está dividido em dois blocos de conteúdos. O primeiro bloco trata-se da exploração, reconhecimento, expressão e produção de silêncio e som. Além de tratar de brincadeiras envolvendo dança, folclores com fazeres musicais, diferentes repertórios de canções, variando velocidades e produções (BRASIL, 2002).

Seguindo o referencial citado, o segundo bloco diz sobre os conteúdos de escuta de obras musicais de diferentes gêneros, com participações de canções, musicais e movimentos corporais, além de elementos musicais com informações sobre obras ouvidas e seus compositores.

 

3.2.1 Atividade 1

 

Música e coreografia caranguejo não é peixe

 

Objetivos:

- Perceber as variações rítmicas.

- Identificar segmentos do corpo.

- Promover o contato físico entre as crianças e o contato com a música.

 

Organização:

As crianças deverão estar dispostas em uma grande roda de mãos dadas.

 

Procedimentos:

Os alunos de mãos dadas giram em roda cantando a primeira parte da música.

 

Caranguejo não é peixe

Caranguejo peixe é

Caranguejo só é peixe

Na enchente da maré

 

Ao terminarem a primeira parte, param de girar e soltam as mãos do colega. Inicia-se então a segunda parte da música, acompanhando-se a letra com os seguintes movimentos:

 

Palma, palma, palma – batem palmas três vezes.

Pé, pé, pé – batem três vezes com o pé no chão.

Roda, roda, roda – giram com o corpo uma volta completa sem sair do lugar.

Caranguejo peixe é.

 

A seguir voltam a formar a roda de mãos dadas para cantar a última parte da música.

Caranguejo não é peixe

Caranguejo peixe é

Caranguejo só é peixe

Na vazante da maré

 

3.2.2 Atividade 2

 

Escravos de jó

 

Objetivos:    

- Trabalhar a atenção e os reflexos.

- Exercitar a coordenação motora grossa.

- Cantar a música em diferentes entonações.

- Aprimorar a destreza nos movimentos.

 

Materiais:

Uma garrafa pet de 250 ml, grãos de feijões ou milho, cola colorida ou adesivos para decorar.

 

Como fazer:

Colocar os grãos de feijão ou milho dentro da garrafinha, em seguida encher a garrafa com os grãos e fechar, pode-se decorar a garrafa com cola colorida, adesivos.

 

Organização:

Dispor as crianças em um grande círculo.

 

Procedimentos:

Assim que os alunos começarem a cantar vão passando o chocalho para o aluno da direita, de acordo com o ritmo (lento, devagar). Na palavra “tira” os alunos seguram o chocalho, em seguida na palavra “põe” colocam o chocalho a sua frente a parte “zigue-zigue-za” os alunos levam o chocalho até o aluno da direita, e sem larga-lo trazem-no de volta para sua frente, só largando o chocalho na sílaba “za”. Na primeira vez a música é cantada pela letra. Na segunda vez, é cantada com Lá, lá, lá...Lá, lá, lá... Na terceira vez é “cantada” com a boca fechada: Hum, hum, hum... Hum, hum, hum... Na quarta vez, é assobiada de acordo com o ritmo; e, na quinta vez, joga-se em silêncio, marcando o ritmo pela passagem do chocalho.

 

Escravos de Jó

Jogavam o caxangá.

Tira, põe, deixa ficar.

Guerreiros com guerreiros

Fazem zigue-zigue-za. (Bis)

 

3.3 Artes visuais

 

Segundo o RCNEI (BRASIL, 2002), na primeira parte, o conteúdo das artes visuais está relacionado ao fazer artístico e a apreciação. Exige que se tenha uma atenção às peculiaridades e esquemas de conhecimentos próprios a cada faixa etária e nível de desenvolvimento. Tal conteúdo busca a exploração e a manipulação de materiais, diferentes movimentos gestuais e o cuidado com os materiais e trabalhos produzidos sejam individuais ou coletivamente.

Um dos principais modos de trabalho, seria deixar que a criança desenhe livremente, usando diferentes materiais como areia, cartolinas, lixas e papeis. Além disso, dá-se ênfase para que a criança faça desenhos, pinturas e colagens a partir de seu próprio repertório, explorando e experimentando diferentes suportes.

E na segunda parte, tratam-se da apreciação, observação e identificação de imagens diversas, apreciação da própria produção e das dos outros. Além disso, trabalha-se com diferentes leituras de obras de artes, partindo da observação dos elementos da linguagem visual (ponto, linha, forma, textura, etc.). (BRASIL, 2002).

 

3.3.1 Atividade 1

 

Criando figuras

 

Objetivos:

- Expressar a criatividade.

- Utilizar a atividade como forma de representação de seus desejos, sentimentos, sonhos.

- Falar sobre a criação.

 

Materiais:

Folhas de revista, jornais, folhas de papel sulfite, cola e tesoura.

Organização:

Em um espaço ao ar livre ou outro espaço de preferência do professor, todas as crianças receberão os materiais para realizar atividade individualmente.

 

Procedimentos:

Propor para as crianças recortarem partes isoladas de diferentes figuras e, como um quebra-cabeça, pedir que colem as partes em uma folha de sulfite, descobrindo a nova figura criada. Em seguida orientar a cada criança expor oralmente sua criação.

 

3.3.2 Atividade 2

 

Desenho mágico

 

Objetivos:

- Manusear diferentes materiais, como o palito de dente.

- Realizar diferentes técnicas de pintura.

- Estimular a expressão por meio da arte.

- Incentivar a criatividade.

 

Materiais:

Folhas de sulfite, giz de cera, tinta guache preta e palitos de dente.

 

Organização:

A atividade será realizada individualmente pelas crianças

 

Procedimentos:

Propor as crianças para colorir a superfície de um lado da folha com giz de cera. Oferecer em seguida tinta guache preta para colorir a pintura a giz. Depois de seco, podemos contar uma história para as crianças e propor que desenhem o personagem principal ou a parte que acharam mais interessante da história, utilizando o arame. Para finalizar a atividade é possível organizar uma exposição dos desenhos.

 

3.4 Linguagem oral e escrita

 

A linguagem oral e a escrita representa um elemento importante de formação do ser humano, pois é através desses elementos que acontece a interação entre as pessoas e a inserção no mundo social. É por meio da comunicação e da expressão de ideias com acesso ao mundo letrado. E a educação infantil é a etapa essencial para se promover experiências significativas de aprendizagem da língua.

Considerando que a criança constrói seu conhecimento dentro de um contexto, podemos dizer que é por meio do diálogo que a comunicação acontece, e quanto mais puderem se falar, mais rápido irão desenvolver suas capacidades comunicativas. Além disso, quanto mais contato com o mundo letrado, mais eficientes se tornarão para elaborar hipóteses sobre a escrita. (BRASIL, 2002).

Os conteúdos abordados nessa área, se referem ao uso da linguagem oral para conversar, relatar vivências e expressar desejos, vontades, sentimentos. Além disso há a participação do aluno ouvindo diferentes gêneros textuais feito pelo professor ou outro adulto para as crianças de zero a três anos.

Já para as crianças da faixa etária de quatro a seis anos de idade, os conteúdos são divididos em três partes: Falar e escutar, práticas de leitura e práticas de escrita.

No primeiro bloco, amplia-se o uso da linguagem oral nas diversas situações de interação. Há o trabalho de perguntas e respostas em diferentes contextos, com necessidades de argumentação e explicações. Também há o relato de experiências vividas e a narração de fatos em sequência temporal e o reconto de histórias conhecidas. Além do conhecimento e reprodução oral de folclores verbais (BRASIL, 2002).

No segundo bloco, trabalha-se da participação da criança em situações em que os adultos leem textos de diferentes gêneros, com o reconhecimento do próprio nome dentro do conjunto de nomes do grupo, observando e manuseando materiais impressos. Além da participação em situações em que as crianças leiam ainda que não de forma convencional (BRASIL, 2002).

No terceiro bloco, de acordo com o referencial citado, os conteúdos abordados são os seguintes: participação em situações cotidianas de uso da escrita, escrita do próprio nome quando necessário, produção de textos individuais e ou coletivos ditados oralmente ao professor, prática de escrita de próprio punho, respeito pela produção própria e alheia (BRASIL, 2002).

De acordo com o mesmo referencial, ainda neste bloco a criança aprende a habilidade da escrita, fazendo texto da forma que sabe, de próprio punho, trocando comunicações de grandes valores sociais e comunicativos. Recomenda-se que faça grupos escolhendo crianças com a heterogeneidade dos conhecimentos, para que as situações de interação aconteçam de forma mais significativa. Porém, é interessante em algumas ocasiões, deixar que possam montar seus grupos de preferências.

 

3.4.1 Atividade 1

 

Sequência de cenas

 

Objetivos:

- Desenvolver a oralidade e criatividade das crianças.

- Perceber a capacidade de narração das crianças utilizando a

- Sequência lógica.

- Estimular o faz-de-conta.

 

Materiais:

Cartolina branca, régua, tesoura, cola e figuras de uma história com cenas em sequência.

 

Como fazer:

Risque na cartolina quadrados com tamanho de 10 cm por 10 cm. Em seguida cole as cenas da história nos quadrados e recorte.

 

Organização:

Um aluno por vez realiza a contação da história.

 

Procedimentos:

Apresentaremos uma sequência de cenas incentivando os alunos a inventarem uma história a partir das imagens e contá-la para os amigos.

 

3.4.2 Atividade 2

 

Folclore da memória com fotos

 

Objetivos:

- Estimular a memória visual.

- Conhecer e reconhecer os amigos da sala.

- Promover a interação entre as crianças.

 -Perceber a correspondência que as crianças estabelecem entre imagem e o amiguinho, professora.

 

Materiais:

Cartolina branca cola régua, tesoura, lápis e pares de fotos 3x4 das crianças.

 

Como fazer:

Risque na cartolina retângulos de 5 cm por 4 cm, recorte e cole as fotos nos retângulos.

 

Organização:

As crianças estão organizadas em um grande grupo para jogar a ordem de quem dos jogadores pode ser de acordo com o número da chamada.

 

Procedimentos:

Misturamos todas as peças sobre uma mesa, viradas com a foto para baixo, as crianças cada uma na sua vez, devem virar duas peças, sem tirá-las do lugar, guardando na memória sua localização. As crianças devem encontrar duas fotos de um mesmo amiguinho. Vence quem ao final conseguir mais par.

 

3.5 Natureza e sociedade

 

É importante que se trabalhe na educação infantil os conhecimentos sobre a natureza e sociedade para que se explore a curiosidade para buscar respostas para tantas perguntas sobre diversos fenômenos e acontecimentos.

O trabalho com as crianças menores está relacionado aos conceitos sobre a participação em atividades que envolvam histórias, brincadeiras, folclores e canções que digam respeito às tradições culturais. Além do mais, a exploração de diferentes objetos, o contato com pequenos animais e plantas e, o reconhecimento do próprio corpo por meio da exploração de suas habilidades (BRASIL, 2002).

Os conteúdos são divididos em cinco blocos.

O primeiro, “Organização dos grupos e seu modo de ser, viver e trabalhar”), trata-se do conhecimento de modos de ser, viver e trabalhar de alguns grupos sociais do presente e do passado. Além da identificação de papeis sociais existentes em grupos de convívio, valorização do patrimônio cultural e interesse por diferentes formas de expressão cultural, dentre outros.

Outra orientação é que o trabalho pedagógico busque tanto o conhecimento de hábitos e costumes socioculturais diversos quantas correlações com aqueles em que as crianças conhecem, como por exemplo, os valores e os hábitos de várias famílias e grupos (BRASIL, 2002).

No segundo bloco (“Os lugares e suas paisagens”), são evidenciadas a observação da paisagem local e a valorização de atitudes de manutenção e preservação dos espaços coletivos e do meio ambiente.

No terceiro bloco (“Objetos e processos de transformação”) trata-se da questão da participação em atividades que envolvam processos de confecção e objetos e dos cuidados no uso dos objetos do cotidiano (BRASIL, 2002).

No quarto (“Seres vivos”), aborda-se o conhecimento dos cuidados básicos de pequenos animais, percepção de cuidados necessários à preservação da espécie e do meio ambiente.

No quinto e último bloco, (“Os fenômenos da natureza”) trata-se da questão da relação entre os fenômenos da natureza de diferentes regiões e das formas de vida dos grupos sociais, participação de diferentes atividades de observação, pesquisa sobre a ação da luz, som, força e movimento.

 

3.5.1 Atividade 1

 

Meios de comunicação – dramatizando o uso do telefone

 

Objetivos:

- Conhecer este meio de comunicação e sua utilidade

- Desenvolver a oralidade

- Criar situações de diálogo

- Dramatizar o uso do telefone

 

Materiais:

Papel firme (papel cartão ou um pedaço de caixa de sapato), fita adesiva, um pedaço de barbante ou lã e uma caixa de creme dental.

 

Como fazer:

Desenhe o teclado do telefone em um pedaço de papel firme, dobre para dar mais firmeza. Com fita adesiva prenda um pedaço de barbante ou lã ao “telefone”, na outra ponta do fio amarre o “fone”, que pode ser uma caixa de creme dental.

 

Organização:

A atividade pode desenvolver-se livremente, onde cada criança poderá confeccionar seu aparelho de telefone.

 

Procedimentos:

As situações de diálogo podem ser apresentadas às crianças, porém deixe que elas criem os diálogos. A partir das propostas de atividades apresentadas, levantamos possibilidades e sugestões de trabalho para enriquecer e auxiliar o fazer pedagógico na educação infantil. É preciso, então, que os professores se coloquem como participantes, acompanhando todo o processo da atividade, mediando os conhecimentos por meio da brincadeira e do folclore, afim de que estes possam ser reelaborados de forma rica e prazerosa.

 

3.6 Matemática

 

O mundo em que vivemos é constituído de fenômenos naturais e sociais. E os conhecimentos matemáticos fazem parte dele em vários momentos de nossas vidas, nos levando a participar de situações que envolvem números, medidas, noções espaciais, de quantidade. E para as crianças não é diferente.

Diante de nossas necessidades, utilizamos a contagem, marcamos pontos em situações de folclore, distribuímos objetos, brinquedos, guloseimas... e nem paramos para pensar, mas estamos usando a matemática quase sempre.

De acordo com o RCNEI (BRASIL, 2012), a abordagem matemática para as crianças da educação infantil, auxilia na organização de informações, desenvolvem o raciocínio lógico e assim, elas adquirem novos conceitos matemáticos para compreender melhor o mundo à sua volta.

Com a faixa etária de zero a três anos, o professor pode explorar a contagem oral, noções de quantidade, de tempo e espaço, utilizando músicas, folclores e brincadeiras.

O educador também poderá oferecer diferentes materiais para manipulação e exploração dos folclores, brinquedos, próprios para que descubram as características e propriedades de cada um (empilhar, rolar, encaixar etc.) (BRASIL, 2012).

Com as crianças maiores, há um aprofundamento maior dos indicados anteriormente, enfatizando a construção específica dos conceitos matemáticos.

O primeiro bloco (“Número e sistemas de numeração”) envolve a utilização da contagem oral nas brincadeiras e em situações diversas, da noção de cálculo mental para resolver problemas, a comunicação de quantidade por meio da linguagem oral e da notação numérica, a identificação da posição de objetos ou números numa série, além da identificação de números em diferentes contextos e da comparação de escritas numéricas (BRASIL, 2012).

O segundo bloco de conteúdo (“Grandezas e medidas”), as noções de comprimento, peso, volume e tempo são introduzidas aos educandos. Além disso, há o trabalho de experiências com o dinheiro em brincadeiras, o registro do tempo, etc.

O terceiro bloco (“Espaço e forma”), estão presentes as noções de representação de pessoas por meio de pontos, a exploração e identificação de propriedades geométricas de objetos e de figuras. Há também representações de pequenos percursos e trajetos, solicitando a identificação de pontos de referências.

É importante ressaltar que, as abordagens para noções de matemática na educação infantil devem ser realizadas utilizando recursos folclores, folclores de construção e de regras, ou a utilização de folclores cooperativos, tornando as aulas mais divertidas e cooperativa, em que os erros e desafios não sejam vistos como fracasso ou dificuldade, mas como oportunidade de crescimento em conjunto com o outro.

 

3.6.1 Atividade 1

 

Trilha Geométrica

 

Objetivos:

- Identificar as figuras geométricas de forma prazerosa.

- Exercitar a coordenação motora grossa juntamente com agilidade.

- Perceber a capacidade de associação das crianças em relação a números e quantidades.

 

Materiais:

Fita crepe, fita durex de várias cores, azul, amarela e vermelha. Um dado enumerado de 1 a 6. Para confeccionar o dado, usaremos cartolina colorida, régua e cola.

 

Como Fazer:

Iremos desenhar um tabuleiro no chão com fita crepe, contendo dentro figuras geométricas. O tabuleiro deverá possuir 12 quadrados, com diâmetro de 50 cm por 50 cm cada quadrado. Dentro dos quadrados podemos desenhar as figuras geométricas com durex colorido de modo que as crianças consigam perceber as figuras pela forma e cor.

 

Confecção do dado:

Riscar na cartolina uma cruz medindo 20 cm na vertical e 15 cm na horizontal. Dividir a cruz em quadrados de 5 cm cada. Em seguida deixar um espaço de 1 cm nas diagonais dos quadrados para colar as laterais do dado. Ao final dobre os quadrados e cole as laterais.

 

Organização:

Em fila. As crianças jogam o dado uma por vez para realizar o percurso da trilha.

 

Procedimentos:

Para iniciar a brincadeira, lançamos o dado, assim cada criança deverá percorrer dentro da trilha o número de casas que o dado indicar. Em seguida deverá dizer o nome da figura geométrica onde parou. Caso não consiga dizer o nome da figura a criança pagará um mico. Vence quem chegar ao final primeiro.

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Após esta pesquisa bibliográfica, vimos que a criança aprende enquanto brinca. De alguma forma, a brincadeira se faz presente e acrescenta ingredientes indispensáveis ao relacionamento com outras pessoas. Por meio da brincadeira, a criança envolve-se no folclore e partilha com o outro, ou seja, se conhece e conhece o outro. Além da interação, que a brincadeira e o folclore proporcionam, são de fundamental importância como mecanismo para desenvolver a memória: a linguagem, a atenção, a percepção, a criatividade e a habilidade para melhor desenvolver a aprendizagem.

Vimos que a ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade, mas principalmente na infância, na qual ela deve ser vivenciada, não apenas como diversão, mas com objetivo de desenvolver as potencialidades da criança, visto que o conhecimento é construído pelas relações interpessoais e trocas recíprocas que se estabelecem, durante toda a formação do sujeito.

Por meio das brincadeiras, os professores podem observar e constituir uma visão dos processos de desenvolvimento das crianças em conjunto e de cada uma em particular, registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim como de suas capacidades sociais e dos recursos afetivos e emocionais que dispõem. A valorização do professor, pelo caráter folclore e educativo dos folclores e brincadeiras na educação infantil, tornará o espaço de sala de aula um espaço adequado ao desenvolvimento da criança, assim como o aprendizado dos conhecimentos escolares.

Conclui-se, então, que o desenvolvimento do aspecto folclore, facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, intelectual, social e cultural, facilitando os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento, é preciso que o professor se conscientize que na brincadeira as crianças recriam e estabilizam aquilo que sabem sobre os mais diversos aspectos do conhecimento, em uma atividade espontânea e imaginária.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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Folclore e educação: perspectivas de diálogo cultural

Demetrius Viveiro Leiva
Kelly Cristina Viveiro Leiva
Natália Andréa Amaral Rios do Nascimento
Bruna Correia
Fabiana Leveghin Grossklauss

 

DOI: 10.5281/zenodo.17230133

 

 

RESUMO

Este trabalho aborda o folclore, propondo um diálogo cultural que enriquece a formação dos estudantes. O folclore, como patrimônio imaterial, é uma rica fonte de expressões artísticas que refletem a identidade e as tradições de um povo. Ao integrar elementos folclóricos nas aulas de arte, os educadores podem proporcionar uma experiência educativa mais significativa, promovendo não apenas o aprendizado das técnicas artísticas, mas também a valorização da cultura local. O estudo analisa diferentes manifestações folclóricas, como danças, músicas, contos e artesanato, e como essas expressões podem ser utilizadas como ferramentas pedagógicas no ensino de arte. A pesquisa destaca a importância de contextualizar o aprendizado artístico dentro da realidade cultural dos alunos, estimulando a criatividade e a reflexão crítica. Além disso, o trabalho discute os desafios enfrentados pelos educadores na implementação desse diálogo cultural em sala de aula, incluindo a necessidade de formação continuada e recursos didáticos adequados. Por fim, conclui-se que a integração do folclore no ensino de arte não apenas enriquece o currículo escolar, mas também contribui para a formação de cidadãos mais conscientes e respeitosos em relação à diversidade cultural.

 

PALAVRAS-CHAVE:  Folclore brasileiro. Patrimônio. Cultura.

 

 

  1. INTRODUÇÃO

 

Segundo o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, entende-se como Patrimônio Cultural Intangível, também conhecido como patrimônio cultural imaterial, a diversidade cultural como lócus de interesse e ação de reconhecimento oficial. Isso significa que os pesquisadores precisam relativizar seu próprio ponto de vista, pois o que é ou não é patrimonializável para ele e sua comunidade pode não ser para outro alguém em outro lugar. Nesse sentido é crucial o exercício de estranhamento da própria cultura como recurso metodológico que possibilita o entendimento das referências culturais do outro em seu contexto. 

Nessas condições, usa-se, também, o termo para designar as referências simbólicas dos processos e dinâmicas socioculturais de invenção, transmissão e prática contínua de tradições fundamentais para as identidades de grupos, segmentos sociais, comunidades, povos e nações.

Assim, Patrimônio Cultural, refere-se à práticas, expressões, saberes e celebrações que são transmitidos de geração em geração e que possuem um significado cultural e social para as comunidades. Diferentemente do patrimônio material, que inclui construções, objetos e sítios arqueológicos, o patrimônio imaterial engloba elementos intangíveis da cultura.

Dessa forma, o folclore pode ser considerado um patrimônio imaterial, devido ao seu papel na transmissão de tradições, crenças e valores de geração em geração. Assim como o casamento une duas pessoas em um compromisso duradouro, o folclore une uma comunidade através de suas histórias, rituais, músicas e práticas culturais compartilhadas. Da mesma forma que o casamento é uma expressão de identidade e união para as famílias envolvidas, o folclore representa a identidade coletiva e a continuidade cultural de um grupo de pessoas.

Entende-se o folclore brasileiro como um tesouro cultural que reflete a diversidade e a riqueza das tradições do nosso país. Suas manifestações, enraizadas na história e nas crenças populares, desempenham um papel fundamental na preservação da identidade nacional e na promoção da interculturalidade. Com suas danças, músicas, mitos e festividades, o folclore brasileiro é uma expressão viva da criatividade e da espiritualidade do povo, transmitida de geração em geração. É essencial que continuemos a valorizar, preservar e promover essas manifestações, reconhecendo seu significado como parte integrante da herança cultural do Brasil.

Quando nos referimos a cultural, temos o conjunto de valores, crenças, comportamentos, tradições e expressões. Ela se manifesta em diversas formas, tais como na língua que falamos, nas festas que celebramos, nas comidas que preparamos, na música e dança que apreciamos, e até mesmo nas normas sociais que seguimos.

A cultura, por sua vez, é transmitida de geração para geração e pode evoluir ao longo do tempo, incorporando novas influências e mudando conforme as necessidades e experiências das pessoas. É uma parte fundamental da identidade de um povo e desempenha um papel importante na forma como percebemos o mundo ao nosso redor.

Everardo Rocha, em sua obra O que é o Etnocentrismo traz a seguinte reflexão:

 

Quando compreendemos o "outro" nos seus próprios valores e não nos nossos: estamos relativizando. Enfim, relativizar é ver as coisas do mundo como uma relação capaz de ter tido um nascimento, capaz de ter um fim ou uma transformação. Ver as coisas do mundo como a relação entre elas. Ver que a verdade está mais no olhar que naquilo que é olhado. Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem e mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferença.

 

Trazendo a reflexão para prática, pode-se dizer que a relativização é usada para entender que os costumes e as práticas de uma cultura devem ser analisados dentro do seu próprio contexto, sem julgamentos baseados em valores externos. Ou seja, relativizar significa considerar diferentes perspectivas e reconhecer que o que pode ser certo ou aceitável para uma cultura pode não ser em outra, respeitando a beleza que há sem ser e ter algo diferente.

 

 

  1. DESENVOLVIMENTO

 

 

Do patrimônio a realidade

 

No contexto brasileiro, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) é responsável pela salvaguarda do patrimônio cultural imaterial do país, reconhecendo e valorizando as expressões culturais das diferentes regiões brasileiras.

A valorização e salvaguarda do patrimônio imaterial são fundamentais para a manutenção da diversidade cultural e para a promoção do diálogo intercultural. Muitos países têm adotado medidas de proteção e promoção do patrimônio cultural imaterial por meio de políticas públicas e iniciativas de registro e documentação.

Exemplos de patrimônio imaterial incluem tradições orais, rituais religiosos, festas populares, músicas tradicionais, danças folclóricas, técnicas artesanais, culinária típica, entre outros. Esses elementos refletem a identidade cultural das comunidades, contribuindo para a diversidade cultural e para a preservação de conhecimentos ancestrais.

O folclore brasileiro é uma rica e diversificada manifestação das tradições, crenças, costumes e expressões artísticas que surgiram da mistura de diferentes culturas que compõem o Brasil. Ele abrange uma ampla gama de elementos, incluindo lendas, mitos, danças, músicas, festas populares, artesanato, culinária e rituais religiosos. Tal manifestação reflete a influência das tradições indígenas, africanas e europeias que se mesclaram ao longo da história do país.

Algumas das manifestações mais conhecidas do folclore brasileiro incluem o Bumba-Meu-Boi, o frevo, o maracatu, as festas juninas, as lendas do Saci-Pererê e do Curupira, além de práticas religiosas como a Festa de Iemanjá e o Círio de Nazaré. Essas expressões folclóricas são valorizadas como parte essencial da identidade cultural brasileira e continuam a ser celebradas e preservadas em todo o país, mesmo que em algumas regiões nem sempre são tão evidenciadas ou comentadas.

Assim, o folclore é visto como um conjunto rico e diversificado de tradições, crenças, mitos, lendas e práticas culturais que são transmitidos de geração em geração. Ele reflete a identidade de um povo e suas vivências ao longo do tempo. No Brasil, o folclore é especialmente vibrante, com influências indígenas, africanas e europeias, resultando em uma mistura única que se manifesta em danças, músicas, festas e contos.

Um dos elementos mais conhecidos do folclore brasileiro é o Saci Pererê, um menino travesso com uma perna só que usa um gorro vermelho e tem a habilidade de aparecer e desaparecer. Outro personagem famoso é a Iara, a sereia das águas doces que encanta os homens com sua beleza e canto.

Já em relação as festas populares, como o Carnaval e as festas juninas, também são expressões do folclore, trazendo à tona danças típicas, comidas tradicionais e muitas histórias que envolvem os costumes locais. O folclore não só preserva a história cultural de um povo como também ensina valores e sabedoria através das suas narrativas.

 

 

A Constituição Federal e as manifestações artística – o amparo legal.

 

*art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais;

*art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I- as formas de expressão;

II- os modos de criar, fazer e viver;

III- as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV- as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;

V- os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

 

Dessa forma, pode-se dizer que crenças, lendas, tradições, costumes e tradições, são bens imateriais, que compõem o patrimônio cultural, nos quais estão protegidos juridicamente pelo texto constitucional citado. Tratando assim de bens imateriais difusos de uso comum do povo e que podem ser protegidos pela a ação civil pública (Lei 4.3 / 85).

Em suma, pertencem ao folclore a mitologia, crendices, lendas, folguedos, danças regionais, canções populares, costumes populares, histórias populares ou religiosas, a linguagem típica de uma região, a medicina popular e o artesanato. Que vem sendo trazido e passado em gerações por meio de vivências, memórias, relatos, debates, reuniões, fotografias, entre outros.

 

 

Manifestações folclóricas significativas que refletem a diversidade do Brasil

 

  1. Bumba-Meu-Boi: Originária do Maranhão, festa popular que combina elementos indígenas, africanos e europeus em danças, músicas e representações teatrais que celebram a morte e ressurreição de um boi.
  2. Festas Juninas: Celebradas em todo o país, as festas juninas homenageiam Santo Antônio, São João e São Pedro. Elas incluem danças de quadrilha, comidas típicas, fogueiras e rituais religiosos.
  3. Maracatu: Originário de Pernambuco, o maracatu é uma expressão cultural afro-brasileira que envolve música percussiva, dança e performances rituais durante o Carnaval e outras festividades.
  4. Frevo: Originário de Recife, o frevo é uma dança frenética e contagiante, acompanhada por músicas animadas que fazem parte do Carnaval de Pernambuco.
  5. Lendas e Mitos Regionais: O folclore brasileiro é rico em lendas e mitos regionais, como o Saci-Pererê, o Curupira, a Iara e o Boitatá, que são transmitidos oralmente e enriquecem as tradições locais.
  6. Samba de Roda: Uma tradição afro-brasileira originária do Recôncavo Baiano, o samba de roda combina música, dança e poesia. É uma forma de expressão cultural que celebra a herança africana no Brasil.
  7. Círio de Nazaré: Uma das maiores manifestações religiosas do Brasil, realizada em Belém do Pará. É uma romaria que atrai milhões de fiéis que acompanham a procissão em homenagem à Nossa Senhora de Nazaré.
  8. Fandango: Uma dança tradicional que é especialmente popular no estado do Paraná, o fandango é caracterizado por um ritmo animado e a participação de dançarinos que se movimentam em pares. A dança é acompanhada por instrumentos como violão, sanfona e pandeiro.
  9. Folclore dos Açores: Em Santa Catarina, a influência da colonização açoriana trouxe diversas tradições folclóricas, como as danças de roda e as festas religiosas em homenagem aos santos. A cultura açoriana é celebrada em festivais que incluem música, dança e gastronomia.
  10. Boi de Mamão: Uma manifestação popular típica de Santa Catarina, o Boi de Mamão mistura teatro, música e dança. É uma brincadeira que narra a história do boi e tem forte ligação com as festas juninas.
  11. Cultura dos Imigrantes: A região Sul também é marcada pela influência de imigrantes europeus, como italianos e alemães. As tradições folclóricas desses grupos incluem danças típicas (como a Polka) e festas tradicionais (como a Oktoberfest em Blumenau).
  12. Dança dos Ventos: Uma manifestação cultural que ocorre nas comunidades indígenas do Sul, onde danças são realizadas para homenagear a natureza e os espíritos.
  13. Festa do Pinhão: Celebrada em várias cidades do Sul, especialmente em Campos do Jordão (SP) e na Serra Catarinense, essa festa valoriza o pinhão como um alimento típico da região, com comidas, músicas e danças folclóricas.

 

 

A festa Junina e sua importância

 

A festa junina tem suas origens em tradições europeias, especificamente nas festividades pagãs em homenagem ao solstício de verão, que eram realizadas no mês de junho. Com a chegada do cristianismo, essas celebrações foram adaptadas para incorporar elementos das festas católicas em honra a São João, Santo Antônio e São Pedro, que têm suas datas comemorativas próximas.

No Brasil, a festa junina foi trazida pelos colonizadores portugueses e se mesclou com as tradições indígenas e africanas, resultando em uma celebração única e colorida. Ela se tornou especialmente popular nas regiões Nordeste e Sudeste do país, onde é vivenciada com grande entusiasmo até os dias atuais.

Durante a festa junina, as comunidades se reúnem para celebrar com danças de quadrilha, músicas típicas, comidas tradicionais (como o milho cozido, a canjica e o quentão), além de brincadeiras e rituais religiosos em homenagem aos santos juninos. A atmosfera é marcada pela alegria, pelas cores vibrantes e pela valorização das tradições populares.

A festa junina se tornou uma das principais manifestações culturais do Brasil, sendo celebrada em escolas, igrejas, clubes e espaços públicos em todo o país. Sua importância vai além do aspecto festivo, pois representa a preservação da identidade cultural brasileira e a manutenção de tradições ancestrais.

 

 

O Patrimônio e sua importância

 

No Brasil, o governo tem promovido diversas iniciativas para preservar e promover o folclore, reconhecendo a importância dessas manifestações culturais para a identidade nacional. Algumas das principais iniciativas governamentais incluem:

  1. Instituição de Políticas Culturais: Através do Ministério da Cultura (hoje integrado ao Ministério do Turismo), o governo desenvolve políticas culturais que visam preservar e difundir as expressões folclóricas, proporcionando apoio financeiro e logístico para festivais, encontros e projetos relacionados ao folclore.
  2. Registro e Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial: O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) tem trabalhado ativamente na identificação, registro e salvaguarda de bens culturais imateriais, incluindo manifestações folclóricas. Isso inclui a concessão do título de Patrimônio Cultural do Brasil a expressões folclóricas de destaque.
  3. Incentivo à Pesquisa e Documentação: Através de programas de fomento à pesquisa e à documentação das tradições folclóricas, o governo busca garantir que esses conhecimentos sejam preservados para as futuras gerações, contribuindo para a valorização e compreensão do folclore brasileiro.
  4. Promoção do Turismo Cultural: O turismo cultural tem sido incentivado como uma forma de valorizar as manifestações folclóricas, com a criação de rotas turísticas que destacam festas populares, artesanato regional, culinária típica e outras expressões ligadas ao folclore

 

 

Folclore e a identidade

 

O folclore desempenha um papel fundamental na cultura brasileira, pois representa a expressão autêntica das tradições, crenças e costumes do povo. Sua importância pode ser destacada em diversos aspectos, como a preservação da identidade cultural, que o folclore brasileiro preserva, com as raízes culturais do país, transmitindo de geração em geração as práticas, crenças e narrativas que definem a identidade do povo brasileiro.

Outro papel é a promoção da Diversidade que as manifestações folclóricas refletem, pois trazem diversidade étnica, regional e social do Brasil, contribuindo para a valorização e celebração da pluralidade cultural do país. Além do fortalecimento da coesão social, uma vez que as festividades folclóricas promovem a integração comunitária, unindo as pessoas em torno de tradições compartilhadas e fortalecendo os laços sociais.

Podemos citar ainda, o estímulo à criatividade e expressão artística, que o folclore inspira a produção artística e cultural, influenciando a música, dança, literatura, artesanato e outras formas de expressão contemporâneas. E ainda, atração turística e desenvolvimento econômico, na qual as festas populares e manifestações folclóricas constituem importantes atrativos turísticos, promovendo o desenvolvimento econômico de diversas regiões do Brasil.

 

 

A relevância do folclore na contemporaneidade

 

O folclore serve como um repositório de histórias, costumes e tradições que definem a identidade de um povo. Em um mundo cada vez mais globalizado, onde culturas podem se mesclar ou desaparecer, o folclore é uma forma de manter viva a herança cultural e as raízes de uma comunidade. As histórias e lendas folclóricas, por exemplo, podem ser ferramentas poderosas na educação. Elas ensinam valores, ética e moral de uma maneira que ressoa com as pessoas, especialmente crianças. Além disso, promovem o respeito pela diversidade cultural ao apresentar diferentes modos de vida e sistemas de crenças.

O folclore continua a inspirar artistas contemporâneos em diversas áreas, como música, literatura, cinema e artes visuais. Muitas obras modernas incorporam elementos folclóricos, criando um diálogo entre o passado e o presente, o que enriquece a produção cultural atual. Em tempos de crise de identidade ou descontentamento social, muitos buscam no folclore uma conexão com suas raízes. Isso pode fortalecer o senso de pertencimento e comunidade, ajudando as pessoas a se reconectarem com suas origens.

Vale lembrar ainda, que por meio das manifestações artísticas há um papel importante no turismo cultural. Festivais, danças e tradições locais atraem visitantes que buscam experiências autênticas. Isso não apenas gera renda para as comunidades, mas também promove uma maior apreciação pelo patrimônio cultural, que vem evoluindo com o tempo. Muitas tradições são reinterpretadas para se adequar aos novos contextos sociais e tecnológicos, mostrando a adaptabilidade da cultura popular em face das mudanças contemporâneas.

Em suma, o folclore na contemporaneidade não é apenas um vestígio do passado; é uma parte dinâmica da vida social que continua a moldar identidades e enriquecer a cultura global.

 

 

O ensino de Arte e o folclore

 

O ensino de arte no Brasil, pautado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), busca garantir que todos os estudantes tenham acesso a uma formação integral que valorize a expressão artística como parte fundamental do desenvolvimento humano. A BNCC estabelece diretrizes que orientam os currículos das escolas, promovendo uma educação que estimule a criatividade, o pensamento crítico e a sensibilidade estética. 

Um dos principais objetivos do documento é integrar as diferentes linguagens artísticas — como artes visuais, música, dança e teatro — de forma que os alunos possam explorar suas potencialidades e se expressar de maneira autêntica. Essa abordagem multidisciplinar permite que as crianças e jovens desenvolvam habilidades variadas, desde a capacidade de criar e interpretar obras artísticas até o entendimento da cultura e da história por meio da arte.

Uma abordagem interessante é explorar as diferentes manifestações artísticas do folclore, como danças, músicas, artesanato e pintura. Por exemplo, os alunos podem aprender sobre as danças folclóricas de várias regiões e criar suas próprias coreografias inspiradas nessas tradições. Além da produção de artesanato que pode ser uma atividade prática onde os estudantes recriam objetos típicos de suas culturas locais.

Através do estudo das lendas e personagens folclóricos, como Curupira ou Iara, os alunos têm a oportunidade de desenvolver habilidades narrativas e visuais. Eles podem ilustrar essas histórias ou criar quadrinhos que representem o enredo e os ensinamentos dessas narrativas. Outro ponto importante é aspecto criativo, que com o ensino do folclore nas artes também promove a valorização da diversidade cultural. Os alunos aprendem a respeitar e apreciar as diferenças entre as várias tradições que existem no Brasil e no mundo, estimulando um ambiente inclusivo e colaborativo.

Ademais, o ensino de arte deve estar alinhado com as competências gerais propostas pela BNCC, que incluem o desenvolvimento da empatia, do trabalho colaborativo e da autonomia. Ao trabalhar em projetos artísticos em grupo, os alunos aprendem a se comunicar melhor, a respeitar opiniões diferentes e a colaborar para alcançar objetivos comuns.

Além do aspecto criativo, o ensino do folclore nas artes também promove a valorização da diversidade cultural. Os alunos aprendem a respeitar e apreciar as diferenças entre as várias tradições que existem no Brasil e no mundo, estimulando um ambiente inclusivo e colaborativo.

 

 

  1. CONCLUSÃO

 

O folclore é um exemplo claro de patrimônio imaterial, que abrange as práticas, representações, expressões e conhecimentos transmitidos de geração para geração. Ao reconhecer o folclore como patrimônio, valorizamos não apenas as tradições em si, mas também os modos de vida e as narrativas que elas carregam. Ele reflete a história, os valores e as crenças de um povo, permitindo que as novas gerações compreendam suas origens e se conectem com sua herança cultural.

Ao considerar o folclore como patrimônio, promovemos a diversidade cultural e o respeito pelas diferentes expressões artísticas e culturais. Isso é especialmente importante em sociedades multiculturais, onde a convivência entre diferentes tradições pode enriquecer o tecido social.

Embora o folclore seja um importante patrimônio cultural, ele enfrenta desafios na era moderna, como a globalização e a homogenização cultural. No entanto, esses desafios também trazem oportunidades para reinventar e revitalizar tradições, garantindo sua relevância para as novas gerações. Por fim, a preservação do folclore como patrimônio requer um compromisso coletivo entre comunidades, governos e instituições culturais. Iniciativas para apoiar práticas folclóricas, documentar histórias e promover festivais podem assegurar que essas ricas tradições continuem a prosperar.

Em suma, o folclore é um tesouro cultural que deve ser reconhecido, valorizado e protegido. Ao fazê-lo, não apenas honramos nossas raízes, mas também garantimos que futuras gerações possam desfrutar e aprender com esse legado inestimável, sendo uma fonte inesgotável de conhecimento, inspiração e orgulho para a cultura do país. Sua preservação e promoção são essenciais para a valorização da identidade nacional e para o enriquecimento da experiência cultural brasileira.

Por fim, ao incorporar o folclore no ensino de arte, estamos não apenas preservando essas tradições, mas também incentivando uma nova geração a se interessar por sua cultura e herança. Isso cria um ciclo positivo de aprendizado e valorização que pode impactar profundamente a formação dos jovens artistas.

 

 

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Silva, João Carlos. Patrimônio Cultural: Teoria e Prática. São Paulo: Editora Unesp, 2013.

 

 

 

 

Educação e os desafios da docência: fatores que afetam o trabalho do professor

Adricele Sousa Alves Rezende dos Santos

Clediane Mota de Jesus

 

DOI: 10.5281/zenodo.17202117

 

 

RESUMO

A educação constitui-se como um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento humano e social, sendo o professor o agente central desse processo. Entretanto, diversos fatores influenciam diretamente o trabalho docente V. e refletem na qualidade do ensino. Este artigo tem como objetivo discutir os principais aspectos que afetam o exercício da profissão docente, considerando elementos como a valorização profissional, as condições de trabalho, as políticas públicas, as demandas sociais e os desafios enfrentados em sala de aula, como a indisciplina e a falta de recursos adequados. A análise busca evidenciar como tais fatores impactam o cotidiano escolar e a atuação do professor, apontando para a necessidade de reflexões e ações que contribuam para a melhoria das condições de ensino e para o fortalecimento do papel do educador na sociedade contemporânea.

 

Palavras-chave: Educação. Professor. Desvalorização.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Educar é transmitir conhecimentos, valores, habilidades, comportamentos e atitudes. A educação é um processo contínuo do desenvolvimento humano e ocorre em diferentes momentos. Pode-se considerar que a educação é uma forma de intervenção no mundo. (Freire, 1996. Página 38)

A educação não se limita apenas a conteúdos acadêmicos. Ela promove crescimento emocional, social e ético preparando o individuo para viver, transformar e exercer conhecimentos adquiridos de forma consciente, crítica e responsável. Para Paulo Freire, a educação é instrumento, ferramenta de tomada de consciência do ser indivíduo para tornar-se ser social, inserido numa coletividade. (BARRETO, 1998; FREIRE, 2002)

A escola surge a partir da necessidade de sistematizar saberes, preservar, organizar e transmitir conhecimentos. Apesar de se adequar de acordo com as necessidades e valores de cada época, a escola também ajuda seus alunos na inserção social de fato, institui a cidadania. É ela o lugar onde as crianças deixam de pertencer exclusivamente a família para integrarem-se numa comunidade mais ampla em que os indivíduos estão reunidos não por vínculos de parentesco ou de afinidade, mas pela obrigação de viver em comum. A escola institui, em outras palavras, a coabitação de seres diferentes sob a autoridade de uma mesma regra. (Canivez, 1991, página 33)

Em síntese, a educação acontece de forma contínua e complexa. Pode ser promovida de diversas maneiras, como em instituições de ensino com currículo definido, na troca de experiências entre família e amigos e na experimentação de diferentes culturas. Ela é tão importante que é direito garantido possuindo leis e diretrizes como consta no Estatuto da Criança e Adolescente–ECA (2009):

 

Art.53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando o pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania, e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes:

I. igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II. direito de ser respeitado por seus educadores;

III. Direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;

IV. Direito de organização e participação em entidades estudantis;

V. acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.

 

Entre muitos agentes envolvidos na função de educar, destaca-se o professor. Sua função antigamente era apenas ensinar de forma mecanizada, preparando mão de obra qualificada para o mercado de trabalho, sem se preocupar com assimilação de conteúdos. Atualmente, após passar por mudanças significativas atribui-se ao professor o dever de despertar pensamento crítico, incentivar a curiosidade e participar na construção de valores que poderão influenciar e orientar a convivência em sociedade. Para Tardif (2004)

 

Em seu trabalho, um professor se serve de sua cultura pessoal, que provém de sua história de vida anterior e de sua cultura escolar anterior, ele também se apoia em certos conhecimentos disciplinares adquiridos na universidade, assim como em certos conhecimentos didáticos e pedagógicos oriundos de sua formação profissional; ele se apoia também naquilo que podemos chamar de conhecimentos curriculares veiculados pelos programas, guias e manuais escolares; ele se baseia também em seu próprio saber ligado à experiência de trabalho, na experiência de certos professores e em tradições peculiares ao ofício de professor. (TARDIF, 2004, p.262-263)

 

A lei nº 9.394/96 estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Em resumo, a lei organiza o sistema educacional em níveis e modalidades, define responsabilidades dos entes federativos e traça os princípios da educação no país. Dessa forma, no artigo 13 da LDB trata-se sobre as funções do professor:

 

I. Participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;

II. Elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;

III. zelar pela aprendizagem dos alunos;

IV. estabelecer estratégias de recuperação dos alunos de menor rendimento;

V. ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;

VI. colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade

 

Muito se espera do professor, frequentemente reconhecido como a essência da instituição de ensino. Diversos estudos, reformulações e diretrizes têm sido elaborados no intuito de definir com precisão suas atribuições e responsabilidades. Mas, antes de tudo, é preciso ouvi-lo. Cury (2003) enfatiza que:

 

... os educadores, apesar das suas dificuldades, são insubstituíveis, porque a gentileza, a solidariedade, a tolerância, a inclusão, os sentimentos altruístas, enfim todas as áreas da sensibilidade não podem ser ensinadas por máquinas, e sim por seres humanos.” (2003, p.65)

 

 

FATORES QUE AFETAM O TRABALHO DO PROFESSOR

 

O trabalho do professor é fundamental para a formação e desenvolvimento dos estudantes, mas ultrapassa a mera transmissão de conteúdos. É uma prática social, política e cultural que exige habilidades pedagógicas, socioemocionais e cognitivas. Contudo, este trabalho é atravessado por múltiplos fatores que condicionam sua qualidade. Segundo Tardif (2012), a docência deve ser compreendida a partir das interações entre professores, alunos, instituições e sociedade. Assim, analisar e compreender os fatores que afetam o trabalho do professor é fundamental para a valorização da profissão e para a melhoria da educação.

 

 

Fatores institucionais

 

A infraestrutura escolar e os recursos pedagógicos disponíveis afetam de maneira significativa o trabalho docente. Escolas com salas superlotadas, ausência de materiais didáticos e falta de apoio da gestão dificultam a prática pedagógica. A valorização do professor está basicamente ligada às condições de trabalho que a instituição oferece. Segundo Moran (2000), entende-se como infraestrutura as condições e meios disponíveis para desenvolver um trabalho menos desgastante, trazendo mais conforto para a produtividade e saúde do trabalhador.

 

Uma organização inovadora, aberta, dinâmica, com um projeto pedagógico coerente, alerta, participativo; com infraestrutura adequada, atualizada, confortável; com tecnologias acessíveis, rápidas e renovadas. Uma organização que congregue docentes bem-preparados intelectual, emocional, comunicacional e eticamente; bem remunerados, motivados e com boas condições profissionais, onde haja circunstâncias favoráveis a uma relação efetiva com alunos que facilite conhece-los acompanha-los, orienta-los. (Moran, 2000, p. 14)

 

Se considerarmos que a escola é um ambiente de formação e desenvolvimento, sua estrutura física deve ser atrativa para despertar vontade e pertencimento tornando-se cenário de múltiplos interesses tanto para o aluno, quanto para o professor.

 

O espaço escolar não é apenas um continente, um recipiente que abriga alunos, livros, professores, um local em que se realizam atividades de aprendizagem. Mas é também um conteúdo, ele mesmo educativo. Escola é mais do que quatro paredes, é clima, espírito de trabalho, produção de aprendizagem, relações sociais de formação de pessoas. O espaço tem que gerar ideias, sentimentos, movimentos no sentido da busca do conhecimento, tem que despertar interesse em aprender, além de ser algo alegre, aprazível e confortável, tem que ser pedagógico. O aluno aprende dele lições sobre a relação entre corpo e a mente, o movimento e o pensamento, o silencio e o barulho do trabalho que constroem conhecimento. (DAVIS, 1993, P.53)

 

 

Fatores relacionados ao aluno

 

O aluno é o centro do processo educativo, e suas características individuais influenciam diretamente o trabalho docente.

Durante processos de socialização, a criança tem oportunidade de desenvolver a sua identidade e autonomia. Interagindo com os amiguinhos se dá a ampliação de laços afetivos que as crianças podem estabelecer com as outras crianças e com os adultos. Isso poderá contribuir para o reconhecimento do outro e para a constatação das diferenças entre as pessoas; diferenças essas, que podem ser aproveitadas para o enriquecimento de si próprias. As instituições de educação infantil se constituem em espaços de socialização, propiciam o contato e o confronto com adultos e crianças de várias origens socioculturais, de diferentes religiões, etnias, costumes, hábitos e valores, fazendo dessa diversidade um campo privilegiado da experiência educativa. Desse modo, na escola, criam-se condições para as crianças conhecerem, descobrirem e ressignificarem novos sentimentos, valores, ideias, costumes e papéis sociais. (SILVA, 2008).

Ritmos de aprendizagem distintos, dificuldades de leitura, escrita e interpretação, além de questões comportamentais, exigem estratégias diversificadas. De acordo com Libâneo (2013), a heterogeneidade dos estudantes impõe ao professor a necessidade de adotar metodologias diferenciadas, capazes de atender às necessidades específicas de cada indivíduo. Além disso, propostas de trabalho diversificadas e treinamento para as avaliações externas fazem com que as cobranças aumentem exigindo do professor mais tempo de trabalho, pois cada vez mais introduzem um volume de novos requisitos que o professorado passa a se sentir responsabilizado e culpado pelo seu desempenho, medido e avaliado desde fora do que acontece no seu espaço de trabalho, impelido a obter mais formação e buscar privadamente alternativas para melhorar seu desempenho, como se isso não fosse responsabilidade do coletivo escolar e do sistema de ensino. (Hypolito, 2011, p.13)

Há décadas se discute sobre o problema de indisciplina. Essas discussões já ultrapassam os limites da escola já que cenas de agressão e desacato ao professor alcançaram a impressa comum. A indisciplina escolar configura-se como um dos principais desafios enfrentados pelos educadores no contexto contemporâneo. Mais do que simples atos de desobediência, trata-se de um fenômeno multifatorial, relacionado a aspectos sociais, familiares e pedagógicos.

Boa parte dos professores está à beira de um ataque de nervos porque não consegue controlar a bagunça que come solta dentro das salas de aula. E o que é pior: não bastassem conversinhas, os risinhos, as guerrinhas de papel, o respeito pela figura do professor passou a ser tão raro como uma nota 10 em redação (Revista Veja, 1996, p. 54).

 

 

Fatores sociais

 

O trabalho do professor muitas vezes, é alvo de diferentes olhares e julgamentos por parte da sociedade. Se por um lado o professor é reconhecido como figura central na formação humana, por outro, muitas vezes é alvo de críticas, desvalorização e expectativas contraditórias. Esse julgamento social adoece entre o ideal da função de professor – requerido pelo sistema, como pelos alunos (e seus familiares) e pelo próprio aspirante à função de educador – e as condições que o mercado de trabalho impõe, perdura um espaço de tensão que ocasiona um nível de estresse elevado, pressionando para baixo a eficiência da atividade docente (Esteve, 1999: 9).

Conforme Libâneo (2012), o processo educativo é condicionado por fatores sociais, culturais e econômicos que transcendem a ação individual do professor. No entanto, o imaginário social tende a atribuir-lhe a total responsabilidade, ignorando o papel da família, da gestão escolar e das políticas públicas. Lira (2013) complementa que é essencial que a questão da desvalorização da profissão docente possa ser encarada como um problema a ser enfrentado a partir de uma política pública de Estado. Para que a mesma possa modificar a situação do professor, e não como mecanismos paliativos que em vez de melhorar a situação desse profissional acaba por impor novas exigências, ocasionando arrocho salarial, perda de garantias trabalhistas e previdenciárias. O desafio é articular o discurso político de valorização da profissão (ideia) com as possibilidades de sua materialização (efetivação) a fim de superar as questões[...] (LIRA, 2013, p. 09).

O prestígio social da profissão também se transformou ao longo do tempo. Paulo Freire (1996) lembra que ensinar é um ato político, que exige respeito e compromisso social, mas o cenário atual revela um enfraquecimento dessa autoridade docente. Muitos professores enfrentam desrespeito e até violência, o que evidencia a distância entre o reconhecimento idealizado e a realidade vivenciada no cotidiano escolar.

 

 

Fatores familiares

 

O contexto social e familiar dos alunos exerce influência direta sobre a aprendizagem e, consequentemente, sobre o trabalho docente. É preciso reconhecer a importância da relação entre escola e família. De acordo com Dessen e Polonia (2005):

 

Quando a família e a escola mantêm boas relações, as condições para um melhor aprendizado e desenvolvimento da criança podem ser maximizadas. Assim, pais e professores devem ser estimulados a discutirem e buscarem estratégias conjuntas e específicas ao seu papel, que resultem em novas opções e condições de ajuda mútua (DESSEN e POLONIA, 2005, p. 304).

 

Pais que não participam da educação dos filhos caracterizam-se pela ausência de envolvimento ativo no processo formativo, o que se manifesta na não presença em reuniões escolares, no desinteresse pelo acompanhamento das tarefas, na falta de diálogo sobre o desempenho acadêmico e na omissão quanto ao estabelecimento de rotinas de estudo. Esse afastamento transfere de maneira exclusiva à escola a responsabilidade pelo desenvolvimento da criança, enfraquecendo a relação de parceria necessária entre família e instituição de ensino. Conforme Oliveira e Marinho-Araújo. (2010, p. 105)

 

... na visão das famílias as interações estabelecidas com a escola ocorrem nos horários de saída, nas reuniões de pais convocadas pela escola ou em datas comemorativas, o que ilustra um relacionamento superficial e limitado a situações ‘formais’ (MARINHO-ARAÚJO, 2010, p. 105).

 

É indispensável à participação da família nos processos educativos para que a escola cumpra sua função social. Nesse sentido, quando os pais se omitem, não apenas o rendimento acadêmico é comprometido, mas também o desenvolvimento moral, social e emocional do estudante. Oliveira e Marinho-Araújo (2010) ressaltam que o engajamento familiar constitui um dos fatores determinantes para o sucesso escolar, pois possibilita maior acompanhamento do percurso educativo e favorece a construção de valores e responsabilidades. Assim, a ausência desse apoio pode gerar lacunas significativas no processo de aprendizagem e na formação integral da criança, dificultando sua autonomia e inserção social.

 

 

Fatores pessoais do professor

 

A qualidade de vida dos professores pode ser analisada em diferentes dimensões. Do ponto de vista físico e de saúde, observa-se que a sobrecarga de trabalho, as longas jornadas e a necessidade de levar atividades para casa contribuem para o cansaço, sedentarismo e problemas relacionados à voz e postura. Para Rodriguez e Alves (2008):

 

A qualidade de vida no trabalho na maioria das vezes ocorre em função de um conjunto de fatores que independem do profissional. O que se observa é que a atribulação da vida diária, inclusive, precisando dar aulas em diversos lugares para garantir uma vida financeira mais estável, acabam [sic] por levar o profissional docente a não perceber o nível de qualidade de trabalho oferecido. Muitas vezes estão envolvidos em escolas que não oferecem as condições mínimas de exercer suas atividades com dignidade, com respeito e ética, além de receberem um salário muito aquém de sua capacidade, de seu esforço e, especialmente, de sua responsabilidade quanto à educação dos jovens e adolescentes sob sua responsabilidade (Rodriguez e Alves, 2008, p. 7).

 

No aspecto psicológico e emocional, a pressão por resultados, a indisciplina em sala de aula, a burocracia e a ausência de reconhecimento impactam diretamente o equilíbrio emocional do professor. Casos de estresse, ansiedade e síndrome de burnout têm se tornado cada vez mais frequentes. Em síntese, os sentimentos podem ser definidos como:

 

A dor de um profissional encalacrado entre o que pode fazer e o que efetivamente consegue fazer, entre o céu de possibilidades e o inferno dos limites estruturais, entre a vitória e a frustração; é a síndrome de um trabalho que voltou a ser trabalho mas que ainda não deixou de ser mercadoria (CODO, apud KUENZER, 2004, p. 115).

 

No campo social e familiar, a baixa remuneração e a necessidade de acumular vínculos empregatícios reduzem o tempo disponível para lazer, convívio familiar e autocuidado. Além disso, a precariedade das condições de trabalho como turmas superlotadas, infraestrutura deficiente e falta de recursos pedagógicos intensifica a insatisfação profissional. Gentili (2008, p. 45), discute a complexidade do tema, resumindo que:

 

... a precariedade salarial está associada, assim, à progressiva precariedade das condições de trabalho pedagógico nas escolas. O baixo investimento em educação resulta em péssimas condições de infra-estrutura escolar, falta de material didático apropriado, ausência de bibliotecas e, como vimos, em salas de aula superlotadas. Os governos neoliberais tentaram atenuar essa situação mediante programas de modernização periférica que fizeram da chamada “transformação educacional” uma verdadeira caricatura do que deveria ser uma política pública democrática: compra de alguns poucos computadores, instalação de antenas parabólicas e aparelhos de vídeo, fax e data shows em escolas com goteiras permanentes, sem saneamento básico, com um único banheiro para meninos e meninas, muitas vezes sem giz e até mesmo sem energia elétrica.

 

Apesar disso, muitos professores encontram realização no impacto social de sua profissão. A possibilidade de transformar vidas por meio da educação, o reconhecimento de alunos e famílias e a construção de vínculos afetivos no ambiente escolar são fatores que contribuem para a manutenção da motivação e da identidade profissional, ainda que em meio a desafios.

 

 

CONCLUSÃO

 

O trabalho docente sofre a influência de múltiplos fatores, como condições estruturais precárias, excesso de demandas burocráticas, falta de recursos pedagógicos, desvalorização social e desafios relacionados à indisciplina escolar. Esses elementos, somados, comprometem não apenas a eficácia do processo de ensino-aprendizagem, mas também a motivação e a saúde física e emocional do professor.

Nesse sentido, a busca por soluções deve contemplar políticas públicas que assegurem melhores condições de trabalho, formação continuada, valorização profissionais e apoio psicológico. Também se faz necessárias ações institucionais voltadas ao fortalecimento da parceria entre família e escola, bem como à promoção de ambientes democráticos e inclusivos, revelam-se essenciais.

Assim, enfrentar os desafios que permeiam a prática docente significa investir na valorização do professor e, consequentemente, na qualidade da educação, reconhecendo-o como agente central na transformação social.

Ainda existem professores que amam educar. Esses educadores encontram realização pessoal e profissional ao ver o progresso de seus alunos e perceber que seu trabalho gera impacto social. Valorizar esses profissionais não significa apenas reconhecer seu esforço diário, mas também oferecer condições adequadas de trabalho, apoio psicológico, formação continuada e respeito social. Afinal, investir na motivação e bem-estar do professor é investir na qualidade da educação e no futuro da sociedade.

 

 

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Projeto pedagógico: “Releituras: a arte de expressar e brincar”: a importância do processo ensino-aprendizagem na Educação Infantil

Aline Andrade[1]

 

DOI: 10.5281/zenodo.17230084

 

 

RESUMO

O presente artigo visa apresentar, de maneira detalhada e fundamentada, elementos qualitativos acerca da importância de projetos pedagógicos na Educação Infantil, uma vez que reconhece-se o processo ensino-aprendizagem como base estruturante e indispensável para uma formação integral, crítica e humanizada do educando. Para atingir tal propósito, tornou-se necessário considerar de forma rigorosa e sistemática os principais documentos legais e normativos que regulamentam a Educação Infantil no Brasil, destacando a centralidade dos direitos da criança, das concepções de infâncias e das práticas curriculares, em consonância com a experiência pedagógica aqui relatada, intitulada “Releituras: a arte de expressar e brincar”. Este projeto foi aplicado em uma turma de crianças entre quatro e cinco anos de idade, oportunizando vivências que aliaram ludicidade, arte e natureza ao processo de construção do conhecimento, valorizando a participação ativa, criativa e autônoma das crianças. Assim, esse texto busca contribuir, assim, com reflexões, questionamentos e desdobramentos acerca de uma prática pedagógica significativa, contextualizada, referenciada e de qualidade, oferecendo uma possibilidade metodológica entre tantas que podem ser elaboradas para se construir sequências didáticas lúdicas e transdisciplinares na Educação Infantil. A intenção foi promover uma apropriação consciente e ativa dos objetivos educacionais na vida escolar e social das crianças, em consonância com as diretrizes legais, mas também em sintonia com as necessidades afetivas, cognitivas, motoras e expressivas da infância.

 

PALAVRAS-CHAVE: Projeto Pedagógico. Educação Infantil. Processo Ensino-Aprendizagem. Infâncias. Educação Integral.

 

 

ABSTRACT

This article aims to present, in a detailed and theoretically grounded way, qualitative elements regarding the importance of pedagogical projects in Early Childhood Education, recognizing the teaching-learning process as the fundamental basis for comprehensive, critical, and humanized student development. To this end, it was necessary to rigorously consider the main legal and normative documents of Early Childhood Education in Brazil, highlighting the centrality of children’s rights, conceptions of childhood, and curricular practices, in line with the pedagogical project “Rereadings: The Art of Expression and Play.” This project was implemented in a class of four- to five-year-old children, providing experiences that combined playfulness, art, and nature in the process of knowledge construction, valuing children’s active, creative, and autonomous participation. Thus, this text seeks to contribute with reflections, questions, and developments on meaningful, contextualized, referenced, and high-quality pedagogical practice, presenting one possible methodological approach among many for constructing playful and interdisciplinary didactic sequences in Early Childhood Education. The aim was to promote the conscious and active appropriation of educational objectives in children’s school and social lives, aligned with legal guidelines and in harmony with the affective, cognitive, motor, and expressive needs of childhood.

 

KEYWORDS: Pedagogical Project. Early Childhood Education. Teaching-Learning Process. Childhoods. Comprehensive Education.

 

 

INTRODUÇÃO

 

A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, constitui um espaço fundamental para a formação integral da criança. De acordo com a Constituição Federal de 1988 e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018), a criança é sujeito de direitos e deve ser compreendida em sua totalidade, considerando aspectos físicos, emocionais, cognitivos, sociais e culturais.

Nesse sentido, os projetos pedagógicos assumem papel de destaque ao se configurarem como instrumentos de articulação das práticas escolares, orientando o trabalho pedagógico de forma a promover aprendizagens significativas e assegurar o desenvolvimento integral das crianças (BRASIL, 2018). O artigo aqui apresentado baseia-se em uma experiência empírica de pesquisa-ação realizada a partir da aplicação do projeto pedagógico “Releituras: a arte de expressar e brincar”, cujo objetivo principal consistiu em proporcionar vivências às crianças em diferentes espaços educativos – tanto em sala de aula quanto em ambientes ao ar livre, em contato direto com a natureza – de modo a valorizar a ludicidade, a imaginação, a expressão artística e a interação social como eixos norteadores do processo ensino-aprendizagem.

Vale destacar que o projeto pedagógico “Releituras: a arte de expressar e de brincar” fundamenta-se em diferentes perspectivas teóricas.

Segundo Vygotsky (1991), o processo de aprendizagem é sempre socialmente mediado, e as interações entre criança, professor e colegas funcionam como motores essenciais para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Já Piaget (1976) destaca que o brincar é uma atividade central no processo de construção do conhecimento, uma vez que a criança aprende de forma ativa ao interagir com o mundo físico e social, reelaborando constantemente seus esquemas mentais. Dessa forma, projetos pedagógicos que integram arte, ludicidade e natureza se configuram como espaços privilegiados de expressão, significação e reelaboração das experiências infantis.

Assim, busca-se analisar como o projeto contribuiu para o processo ensino-aprendizagem das crianças, relacionando teoria e prática e destacando a relevância da Educação Infantil na promoção de experiências integradoras, lúdicas e significativas.

Para tanto, é fundamental compreender a infância como categoria social, histórica e cultural, que não pode ser reduzida a uma fase de transição ou a uma preparação para a vida adulta. De acordo com Ariès (1981), a concepção de infância é uma construção social e cultural que varia de acordo com os contextos históricos. No campo da Educação, Kramer (2003) reforça que a criança deve ser considerada produtora de cultura e de significados, e não apenas como um “vir a ser”, mas reconhecer a criança como sujeito pleno de direitos.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI, 2010) apontam que a criança deve ser entendida em sua integralidade, respeitando sua identidade, diversidade, seus ritmos próprios e suas formas singulares de expressão. A BNCC (2018) reafirma essa perspectiva ao enfatizar que a aprendizagem na Educação Infantil deve ocorrer prioritariamente por meio de experiências lúdicas, artísticas, culturais e sociais, vivenciadas em interações significativas com outras crianças, com adultos e com o ambiente.

Em relação ao processo ensino-aprendizagem atrelado à ludicidade, destaca-se que para Vygotsky (1991), a aprendizagem é um processo mediado que ocorre nas interações sociais. O conceito de “zona de desenvolvimento proximal” demonstra que, com apoio do professor e dos pares, a criança é capaz de realizar atividades que ainda não faria sozinha, avançando em seu desenvolvimento.

Na perspectiva piagetiana, por outro lado, a aprendizagem se dá a partir da ação concreta da criança sobre o mundo, por meio da assimilação e acomodação de esquemas cognitivos (PIAGET, 1976). Nesse contexto, o brincar é concebido como uma forma privilegiada de aprendizagem, pois permite à criança explorar, experimentar, transformar e reelaborar suas experiências.

A ludicidade, portanto, não deve ser vista como um elemento acessório ou secundário no processo pedagógico, mas sim como um princípio essencial e estruturante da prática educativa. Kishimoto (2011) reforça que o brincar é uma atividade que favorece de maneira ímpar a construção de conhecimentos, valores e atitudes, além de promover autonomia, criatividade, imaginação, socialização e expressão.

 

 

METODOLOGIA

 

O projeto pedagógico intitulado “Releituras: a arte de expressar e brincar” foi idealizado e colocado em prática junto a uma turma de Educação Infantil composta por crianças de quatro e cinco anos de idade, matriculadas em uma escola pública pertencente à rede municipal de ensino. A iniciativa surgiu a partir da necessidade de promover atividades que estimulassem a criatividade, a imaginação e a construção de novos sentidos por meio da arte, da linguagem e do brincar, elementos fundamentais para o desenvolvimento integral nessa etapa da vida escolar.

A escolha dessa proposta para essa faixa etária justifica-se pelo fato de que, entre os quatro e cinco anos, as crianças apresentam um significativo avanço em suas capacidades cognitivas, emocionais e sociais. É um período em que a linguagem oral se encontra em pleno processo de ampliação e sofisticação, permitindo maior clareza na comunicação e nas interações coletivas. Além disso, o pensamento simbólico começa a se consolidar, favorecendo a criação de narrativas próprias, a elaboração de enredos imaginativos e a representação de papéis em situações lúdicas, como as dramatizações.

Nesse contexto, o projeto não se restringiu apenas à execução de atividades isoladas, mas se constituiu como uma oportunidade de fortalecer a sociabilidade, pois as crianças, ao partilharem momentos de releitura e de produção artística, aprendem a respeitar o ponto de vista do colega, a esperar sua vez de falar e a cooperar em trabalhos coletivos. Do mesmo modo, buscou-se incentivar a autonomia, oferecendo às crianças liberdade para escolher materiais, explorar diferentes formas de expressão e assumir responsabilidades no processo criativo.

Dessa forma, o projeto representou um momento privilegiado para a vivência de experiências diversificadas, envolvendo releituras narrativas de histórias já conhecidas, dramatizações que permitiram dar vida a personagens e situações do cotidiano ou da imaginação, bem como produções artísticas em diferentes linguagens, como o desenho, a pintura, a colagem e a modelagem. Todas essas práticas pedagógicas foram planejadas com o intuito de enriquecer o repertório cultural e expressivo dos alunos, consolidando o brincar como eixo estruturante da Educação Infantil e reforçando a ideia de que a arte é uma poderosa ferramenta de aprendizagem e de desenvolvimento humano.A metodologia adotada foi estruturada em etapas que dialogaram entre si de forma sequencial e cumulativa, respeitando os princípios da BNCC (2018) e das DCNEI (2010):

 

  1. Apresentação da história: a narrativa de autoria da professora, Aline Andrade, foi contada em sala de aula, utilizando recursos visuais, como imagens, ilustrações e materiais concretos, de modo a envolver as crianças sensorial e emocionalmente.
  2. Interpretação e releituras: as crianças foram convidadas a expressar, por meio de desenhos, pinturas, falas espontâneas, podendo mostrar suas percepções sobre a história.
  3. Atividades ao ar livre: as cenas da história foram experienciadas em contato direto com a natureza, desde permitir as crianças brincarem com as folhas secas caídas ao chão do jardim da escola; sentirem o vento em dias oportunos para tal e reproduzirem balões que puder observar a ação do vento no brinquedo; brincarem com a água da chuva, ao ter sido simulado a chuva com a água da mangueira em um dia de sol; assim como momentos que proporcionaram perceber a intensidade do calor e da luz solar.
  4. Dramatização e jogos simbólicos: as crianças dramatizaram trechos da narrativa, explorando a linguagem corporal, oral e gestual, construindo coletivamente novas versões e interpretações da história.
  5. Socialização e registro: as produções e interpretações foram compartilhadas em grupo, fortalecendo a oralidade, a escuta e o respeito às diferentes expressões. O projeto pedagógico “Releituras: a arte de expressar e brincar” teve como objetos finais o livro feito pela criança de modo individual em sala de aula e também o livro desenvolvido ao ar livre feito coletivamente, com todas as crianças da turma, proporcionando interpretações próprias acerca da história.

 

A metodologia adotada no projeto foi cuidadosamente pensada de forma a integrar diferentes linguagens — verbal, corporal, artística e simbólica — com a utilização de múltiplos espaços educativos, como a sala de aula, o pátio e áreas externas da escola. Essa escolha teve como propósito ampliar as oportunidades de aprendizagem e proporcionar às crianças vivências diversificadas, que favorecessem tanto o desenvolvimento individual quanto coletivo. Ao variar os ambientes e as formas de expressão, buscou-se evitar a monotonia e estimular a curiosidade, a imaginação e a criatividade dos alunos, garantindo que cada criança tivesse a possibilidade de manifestar-se segundo suas preferências e potencialidades.

Essa metodologia foi orientada pelos princípios da Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018), a qual estabelece seis dimensões fundamentais para a Educação Infantil: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. No que se refere à dimensão conviver, o projeto promoveu situações de interação em grupo, nas quais as crianças puderam aprender a lidar com as diferenças, a respeitar regras de convivência e a valorizar a colaboração mútua. Ao mesmo tempo, o brincar foi colocado como eixo central, reconhecido como atividade primordial na infância, permitindo que as crianças vivenciassem experiências significativas de socialização, imaginação e simbolização.

A dimensão participar esteve presente na valorização do protagonismo infantil, incentivando os alunos a se engajarem ativamente nas propostas, a opinarem sobre as atividades e a tomarem decisões de forma coletiva. Já a dimensão explorar foi contemplada através do contato com diferentes materiais, texturas, sons, movimentos e ambientes, despertando a curiosidade natural das crianças e favorecendo a construção do conhecimento por meio da investigação e da experimentação. No âmbito da dimensão expressar, as atividades possibilitaram que os alunos externalizassem sentimentos, ideias e percepções em múltiplas linguagens, fosse pela fala, pelo gesto, pelo desenho ou pela dramatização. Por fim, a dimensão conhecer-se se materializou no estímulo à construção da identidade e da autonomia, permitindo que cada criança pudesse reconhecer suas próprias características, limitações e potencialidades.

Assim, ao articular de maneira intencional e planejada tanto as linguagens quanto os espaços educativos, a metodologia assegurou a integração das seis dimensões propostas pela BNCC, reafirmando a importância de uma prática pedagógica que valorize a criança em sua totalidade, respeitando sua singularidade e estimulando o desenvolvimento pleno em todas as áreas do saber e do convívio social.

 

 

O PROJETO PEDAGÓGICO “RELEITURAS: A ARTE DE EXPRESSAR E BRINCAR”

 

A história desenvolvida narra a amizade de três crianças, Laura, Carlinhos e Niara, que se relacionam de diferentes formas com a natureza: o vento, a chuva e o sol. Pode-se observar que Laura, por exemplo, pode ser a mais introspectiva, encantada pelo mistério do vento que não se vê, mas se sente; Carlinhos, o explorador, vivencia a alegria transformadora da água e da chuva; e Niara, a solar, irradia energia e prefere o calor e a luz intensa. Essa correlação entre personagens e forças naturais não é aleatória, uma vez que serve para personificar as emoções e as diferentes formas de interagir com o ambiente, estabelecendo um ponto de partida concreto para a exploração sensorial e afetiva.

Apesar de suas preferências distintas, o fio condutor da história é a descoberta de que a amizade os une e transcende as individualidades. Este aspecto é crucial, pois reforça o valor da convivência e da aceitação da diversidade, pilares essenciais da Educação Infantil. Ao final, a narrativa oferece um rico substrato para a compreensão de que a totalidade da experiência humana e natural (o ciclo sol-vento-chuva) é mais rica e completa quando compartilhada. Essa base narrativa multifacetada permitiu o desenvolvimento de atividades diversas que potencializaram os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento às crianças de quatro e cinco anos.

A partir dessa narrativa, foram desenvolvidas atividades que possibilitaram às crianças:

 

- Expressar sentimentos e interpretações por meio da arte do desenho;

- Vivenciar experiências sensoriais com a natureza;

- Recontar a história com suas próprias palavras;

- Dramatizar personagens e cenas;

- Construir vínculos afetivos com os colegas.

 

O projeto encontra profundo respaldo em Vygotsky (1991), que estabelece a interação social como motor do desenvolvimento. O processo de releitura e dramatização, realizado coletivamente, permitiu que as crianças apoiassem umas às outras nos desafios, atuando na Zona de Desenvolvimento Proximal. Ao discutir a história, ao negociar o papel na dramatização ou ao compartilhar a interpretação de um desenho, a criança aprende com o outro e pelo outro. O professor, neste contexto, não apenas transmitia conteúdo, mas mediava as interações e as descobertas.

A arte, em suas diferentes instâncias, atuou como a linguagem privilegiada para a construção de conhecimento. Conforme Malaguzzi (1999) preconiza, a pedagogia que valoriza a arte reconhece a potência criadora da infância. O forte engajamento e o entusiasmo observados, traduzidos em interpretações ricas e atentas, confirmaram a eficácia de oferecer múltiplos canais de expressão para além da linguagem verbal. A arte mostrou-se, portanto, um caminho de expressão e comunicação necessário e potente durante toda a feitura do projeto pedagógico “Releituras: a arte de expressar e brincar”.

As crianças demonstraram entusiasmo e forte engajamento, revelando compreensões diversas sobre a narrativa. Os desenhos evidenciaram interpretações atentas ao solicitado para cada cena (página), e as dramatizações fortaleceram a oralidade e a cooperação.

A arte mostrou-se fundamental em suas diferentes instâncias, desde produções desenvolvidas em sala de aula até nas interpretações das crianças ao ar livre, construindo cenas e personagens, observou-se ser um caminho de expressão e comunicação às crianças.

Para Malaguzzi (1999), criador da abordagem de Reggio Emilia, a criança possui “cem linguagens”, ou seja, múltiplas formas de se expressar, como o desenho, a música, a dança e o teatro. A pedagogia que valoriza a arte reconhece a potência criadora da infância, ressaltando o quão significativa foi a experiência de reproduzir as cenas da história ao ar livre, em contato com a natureza.

Segundo Louv (2005), o contato com ambientes naturais amplia a curiosidade, estimula a criatividade e promove o bem-estar infantil. Assim, unir práticas pedagógicas em sala de aula e na natureza fortalece uma educação integral, permitindo que a criança explore diferentes espaços e linguagens.

Por fim, a integração da natureza como ambiente pedagógico, apoiada por Louv (2005), permitiu que a teoria fosse vivenciada com os cinco sentidos. A experiência de reproduzir as cenas da história ao ar livre não apenas estimulou a criatividade e a curiosidade, mas também a saúde e o bem-estar infantil. Unir as práticas pedagógicas da sala de aula (onde se construiu conceitos) e da natureza (onde se experienciou conceitos) fortaleceu a proposta de uma educação integral, onde o corpo, a mente e a afetividade estão em sintonia, permitindo que a criança explore e se aproprie das diferentes linguagens e espaços de forma conectada e significativa. A natureza, assim, forneceu o contexto, o espaço e a matéria-prima para a imaginação e as aprendizagens, solidificando os objetivos do projeto de forma lúdica durante a sequência didática estabelecida.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O projeto pedagógico “Releituras: a arte de expressar e brincar” evidenciou que práticas fundamentadas na arte, na ludicidade e no contato com a natureza contribuem significativamente para o processo ensino-aprendizagem na Educação Infantil.

Observou-se que a aprendizagem se tornou mais significativa quando as crianças perceberam-se como protagonistas de toda a ação desenvolvida ao longo do projeto, ao expressar-se em diferentes linguagens e vivenciar experiências dentro e fora da sala de aula.

As crianças puderam se reconhecer como sujeitos ativos de sua aprendizagem ao participarem de atividades que estimularam a imaginação, a criatividade, a expressão artística e a convivência social. O brincar foi compreendido como direito e como meio essencial de aprendizagem, confirmando sua potência transformadora.

Assim, conclui-se que o projeto pedagógico “Releituras: a arte de expressar e brincar” favoreceu o desenvolvimento integral da criança, atendendo às diretrizes da BNCC (2018) e das DCNEI (2010). Além de reforçar a importância da criatividade, da imaginação e da ludicidade nas práticas pedagógicas, contribuindo para o fortalecimento das competências socioemocionais, da linguagem oral e da expressão artística.

Em vista disso, esse artigo sugere e discute a importância de sequências didáticas em que a criança seja protagonista de ações pedagógicas, evidenciando-a como capaz de realizar desafios ao ter oportunidades de se ver inserida nas atividades. Também destaca a necessidade de ampliar o contato com a natureza como espaço pedagógico e de fomentar novas pesquisas que investiguem os impactos de projetos transdisciplinares na Educação Infantil, dando oportunidades aqueles que articulem arte, cultura e meio ambiente.

Dessa forma, objetiva-se que o projeto pedagógico “Releituras: a arte de expressar e de brincar” possa servir como inspiração para outras práticas educativas que, ao integrarem narrativas, arte e natureza, reconheçam a criança como sujeito de direitos, potente, criativo e capaz de transformar o mundo em que vive.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 28 de Agosto de 2025.

 

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira, 2011.

 

KRAMER, Sonia. A infância e sua singularidade. São Paulo: Papirus, 2003.

 

LOUV, Richard. Last child in the woods: saving our children from nature-deficit disorder. Chapel Hill: Algonquin Books, 2005.

 

MALAGUZZI, Loris. As cem linguagens da criança. Reggio Emilia: Reggio Children, 1999.

 

MARANHÃO, Carolina Saraiva; VILELA, José Ricardo de Paula Xavier. A iminência entre a teoria crítica e a pesquisa empírica: contribuições para os estudos organizacionais. Disponível em: https://www.scielo.br/j/osoc/a/d3y5v9MH8mdCbKHpVMMHZsN/?lang=pt. Acesso em: 27 ago. 2025.

 

NEVES, Clarissa E. B.; CORRÊA, Maíra B. (Org.). Pesquisa social empírica: métodos e técnicas. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1998.

 

PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.

 

VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

 

[1] Pedagoga formada na Universidade Estadual de Campinas, Professora de Educação Básica I na rede municipal de Araras/SP desde 2020, Pós-graduada Lato-Sensu em: Educação Especial e Educação Inclusiva pela Faculdade Única, Educação Integral pela Faculdade IMES, Gestão Educacional: Direção, Coordenação e Supervisão pela Faculdade Iguaçu, Fundamentos e Práticas Educativas na Educação Infantil pela Faculdade Iguaçu e Educação em Direitos Humanos, Diversidade e Questões Étnicos-Sociais ou Raciais pela Faculdade Iguaçu.

 

 

 

 

A importância da musicalização na Educação Infantil para crianças pequenas

Taciane Giovana Ribeiro
Taís Eduarda Ribeiro

 

DOI: 10.5281/zenodo.17203228

 

 

RESUMO

Este artigo discorre sobre a relevância de se trabalhar a musicalização na Educação Infantil. Nota-se que a musicalização traz benefícios sociais, cognitivos, linguísticos, motores e emocionais para o desenvolvimento das crianças. O estudo ressalta sobre o valor do professor ser mediador e buscar na música maneiras de utilizá-la como um recurso pedagógico e lúdico no dia a dia. Assim sendo, o presente artigo aborda como a musicalização pode ser benéfica para pessoas com deficiência, desenvolvendo a socialização e a comunicação. Também trata da importância de se trabalhar cantigas populares e brincadeiras culturais, resgatando e preservando a cultura. Conclui-se que a musicalização é um recurso de grande conceito e significado para o desenvolvimento de múltiplas habilidades, contribuindo para a formação da criança. Assim, é de suma pertinência garantir a sua presença no cotidiano escolar, sobretudo na Educação Infantil.

 

Palavras-chave: Musicalização. Educação Infantil. Lúdico. Professor. Inclusão.

 

 

INTRODUÇÃO

 

A música está presente em todos os lugares do mundo, em diferentes culturas, etnias e contextos sociais. Segundo Jeandot (1993), no período gestacional, a música já está presente na vida do ser humano. Quando ainda estão no útero, os bebês já têm seu primeiro contato com a música através do ritmo que está presente nas pulsações do coração da mãe. Dessa maneira, nota-se que a música está presente desde a concepção e continua sendo estimulada por toda a vida, inclusive na fase de bebê, através das canções de ninar, como discorre Brito:

 

As cantigas de ninar, as canções de roda, as parlendas e todo tipo de jogo musical têm grande importância, pois é por meio das interações que se estabelecem que os bebês desenvolvem um repertório que lhes permitirá comunicar-se pelos sons; os momentos de troca e comunicação sonoro musicais favorecem o desenvolvimento afetivo e cognitivo, bem como a criação de vínculo fortes tanto com os adultos quanto com a música (BRITO, 2003, p. 49).

 

Logo, ao falarmos de Educação Infantil, devemos falar também da música, linguagem simbólica, que é tão importante para o desenvolvimento das crianças pequenas, que tem papel fundamental no desenvolvimento da comunicação da criança. Assim, compreendemos que a música seguindo os pensamentos de Nogueira (2003, p.01):

 

“[...] acompanha os seres humanos em praticamente todos os momentos de sua trajetória neste planeta. E, particularmente nos tempos atuais, deve ser vista como umas das mais importantes formas de comunicação [...]. A experiência musical não pode ser ignorada, mas sim compreendida, analisada e transformadas criticamente”.

 

A musicalização na Educação Infantil é primordial para o desenvolvimento integral da criança, vista como uma ferramenta lúdica de comunicação. Através da música, a criança explora sons, ritmos e movimentos que estimulam o desenvolvimento cognitivo, raciocínio lógico, habilidades sociais e emocionais. Dessa forma, podemos dizer que a música é peça fundamental para a formação continuada de qualquer criança, indo além do entretenimento, mas fazendo parte da prática pedagógica. Segundo Brito (2003, p.46):

 

“[...] importa, prioritariamente, a criança, o sujeito da experiência, e não a música, como muitas situações de ensino musical consideram. A educação musical não deve visar à formação de possíveis músicos do amanhã, mas sim à formação integral das crianças de hoje”.

 

É importante salientar que a música atua no desenvolvimento da linguagem,etapa de desenvolvimento importantíssima a ser desenvolvida na primeira infância. Assim, utilizá-la como recurso para se trabalhar a fala, cantando em roda, ao iniciar a acolhida, antes do lanche, antes do almoço, do jantar e em variados momentos em que o professor achar oportuno. Todo e qualquer momento é bem vindo para se trabalhar a oralidade através da musicalização. Desde que seja feito de maneira prazerosa, lúdica, que desperte e incentive o interesse da criança. Com base nas ideias de Gainza (1988, p.95).

 

Em todo processo educativo confunde – se dois aspectos necessários e complementares: por um lado à noção de desenvolvimento e crescimento (o conceito atual de educação intimamente ligado a ideia do desenvolvimento); por outro a noção de alegria, de prazer, num sentido amplo. Educar – se na música é crescer plenamente com alegria. Desenvolver sem dar alegria não é suficiente. Dar alegria sem desenvolver tampouco é educar.

 

Do mesmo modo, devemos destacar os benefícios de se trabalhar a música para a afetividade e a inclusão em sala de aula. À medida que incluímos a música em nossa rotina escolar, colocamos em prática a participação das crianças, pois através da música temos o lúdico, que desperta o interesse e a atenção da criança em querer ouvir, em querer participar. Dessa maneira, o professor pode buscar na musicalização a base para se criar vivências e recursos oportunos para incentivar a criação de vínculos e a quebra de barreiras das dificuldades apresentadas pelas crianças em geral, sejam elas pessoas com deficiência ou não.

Por fim, reconhecemos como a música é relevante para se preservar as nossas tradições, através das cantigas populares e brincadeiras tradicionais, exploramos formas de se aproximar dos costumes e vivências das famílias e da comunidade. Ademais, a medida que trabalhamos cantigas, músicas de roda, ou quando incluímos a música na rotina escola (na acolhida, antes do lanche ou antes de uma contação de história), estamos auxiliando na ampliação do vocabulário, na vivência simbólica e prazerosa para a criança.

 

 

A atuação da musicalização no desenvolvimento da linguagem na primeira infância

 

A música é uma ferramenta muito importante para o desenvolvimento da linguagem na primeira infância. Atividades como cantar, ouvir e dançar, influência no desenvolvimento da oralidade e da comunicação da criança. Segundo Gordon (2000, p.307), “A música é a voz cantada, por um lado, e a linguagem é a voz falada, por outro”, logo ambas se complementam sendo fundamentais para o aprendizado infantil. Nesse sentido, destacamos o que diz a Base Nacional Comum Curricular (BNCC):

 

Ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos, jogos de mãos etc., são atividades que despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade musical, além de atenderem a necessidades de expressão que passam pela esfera afetiva, estética e cognitiva. Aprender música significa integrar experiências que envolvam a vivência, a percepção e a reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez mais elaborados (BRASIL, 1998, p. 47).

 

Ao cantar uma canção, a criança amplia seu vocabulário e aprende a pronúncia correta das palavras e o ritmo da fala. No entanto, a criança desenvolve sua consciência fonológica, a memória e a capacidade de distinguir entre diferentes sons, elementos importantes para o desenvolvimento da comunicação. Segundo Gainza (1988), a musicalização promove a sensibilidade auditiva e faz com que a criança desenvolva a percepção rítmica. Esses elementos ajudam a aprimorar a organização da fala e a aquisição da linguagem. Segundo Soares e Rubio (2012),

 

A música pode contribuir com a aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento cognitivo/ linguístico, psicomotor e socioafetivo da criança, pois, já que estão todos correlacionados; áreas indissociáveis formam um único ser provido de necessidades, seja social, seja afetiva. (Soares; Rubio 2012, p.1)

 

Por outro lado, a musicalização também influencia no desenvolvimento da expressão corporal da criança. De modo que quando ela entra em contato com a música ela acaba se expressando através de gestos e movimentos de forma prazerosa e natural. Com a exploração do próprio corpo a criança amplia várias habilidades, como: consciência corporal, motricidade, noção de espaço e ritmo. Citando novamente os pensamentos de Gainza (1988):

 

“A música e o som, enquanto energia estimula o movimento interno e externo no homem, impulsionando-o a ação e promovem nele uma multiplicidade de condutas de diferentes qualidades e grau. (Gainza 1988, p.22)”.

 

Diante do exposto, notamos que a musicalização é de suma relevância para o desenvolvimento de múltiplas habilidades para a criança. Contribuindo de maneira essencial para a sua formação humana. Portanto, devemos garantir que ela se faça presente em seu cotidiano, buscando sempre aprimorar a maneira em que podemos encaixar a música na rotina diária dos pequenos. Conforme os autores Barreto e Chiarelli (2011, p.1):

 

A musicalização pode contribuir com a aprendizagem, evoluindo o desenvolvimento social, afetivo, cognitivo, linguístico e psicomotor da criança. A música não só fornece uma experiência estética, mas também facilita o processo de aprendizagem, como instrumento para tornar a escola um lugar mais alegre e receptivo, até mesmo porque a música é um bem cultural e faz com que o aluno se torne mais crítico.

 

Considerando o que os autores dizem, conclui-se que a atuação da música no desenvolvimento da linguagem na primeira infância facilita o processo de aprendizagem de diversas áreas, que são fundamentais para a construção do indivíduo, principalmente na primeira infância. Logo, como educadores devemos buscar alternativas possíveis para incluir a música em nossa rotina escolar, como no momento da acolhida, antes do lanche, do almoço, do jantar, ou de uma contação de história, por exemplo.

 

 

Benefícios e estratégias da musicalização para crianças com deficiência na Educação Infantil

 

A musicalização apresenta diversos benefícios e estratégias para as crianças com deficiência na educação infantil, contribuindo para o desenvolvimento da aprendizagem, da comunicação e da interação social. A música dialoga diretamente com os aspectos humanos de maneira ampla, como observa Gainza:

 

Cada um dos aspectos ou elementos da música corresponde a um aspecto humano específico, ao qual mobiliza com exclusividade ou mais intensamente: o ritmo musical induz ao movimento corporal, a melodia estimula a afetividade, a ordem ou a estrutura musical (na harmonia ou na forma musical) contribui ativamente para a afirmação ou para a restauração da ordem mental no homem. Na prática a música foi apreciadíssima pelo homem e teve uma importância social formidável. A aula de música na escola se transforma: há maior liberdade dos educandos e maior espontaneidade dos educadores aumenta a prática musical expressiva e criativa. Educar musicalmente é propiciar a criança uma compreensão maior de linguagem musical, através de experimentos e convivência orientada. (GAINZA,1988, p.36).

 

Segundo (LOURO, 2010), a música pode ser uma ferramenta facilitadora para a aprendizagem na educação com crianças com Necessidades Educacionais Especiais, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo, motor, linguístico e social. A autora ressalta que a maneira que conduzimos uma atividade é o que muda, e não como tratamos o aluno, por consequência todos somos beneficiados e incluídos.

O ensino da música contém diversas vantagens para crianças não verbais ou com dificuldade de linguagem, favorecendo a compreensão de comandos simples através de canções. Alguns exemplos, são: quando utilizamos canções curtas e rítmicas, ajudamos no desenvolvimento da atenção e da concentração da criança. Outro ponto importante é trabalhar a música com brincadeiras de palmas, utilizando instrumentos musicais e pedagógicos, fortalecendo a coordenação motora e estimulando a motricidade. Podemos também, utilizar canções calmas para controle da ansiedade, regulação emocional e da agitação. De acordo com Weigsding e Barbosa (2014, p.48):

 

Mais do que qualquer outra arte, tem uma representação neuropsicológica extensa, com acesso direto à afetividade, controle de impulsos, emoções e motivação. Ela pode estimular a memória não verbal por meio das áreas associativas secundárias as quais permitem acesso direto ao sistema de percepções integradas ligadas às áreas associativas de confluência cerebral que unificam as várias sensações. Exemplo pode ser dado referindo-se à sensação gustativa, olfatória, visual e proprioceptiva as quais dependem da integração de várias impressões sensoriais num mesmo instante, como a lembrança de um cheiro ou de imagens após ouvir determinado som ou determinada música. O conjunto dessas atividades motoras e cognitivas envolvidas no processamento da música é chamado de função cerebral. (WEIGSDING; BARBOSA. 2014. p.48).

 

Desse modo, refletimos o grande valor do estímulo musical na sala de aula para todas as crianças e de modo especial, para o favorecimento da inclusão, não somente das pessoas com deficiências, mas de todos os alunos como um todo. Por isso, nós como educadores devemos pensar em práticas metodológicas que abordam a música, não só como instrumento, mas como ferramenta fundamental para o desenvolvimento integral das crianças. Estevão (2002, p. 33) expõe que:

 

A música no cotidiano escolar pode não somente ajudar as crianças no aprendizado, mas também nos casos de crianças que tenham problemas de relacionamento ou inibição, para isso é preciso aliar música e movimento, como exemplo, atividades de dança que podem contribuir para a adaptação dessas crianças em seu meio escolar.

 

Além disso, utilizar em sala de aula estratégias que fazem diferença no ensino e aprendizagem, tais como: adaptar instrumentos para facilitar a manipulação, repetir músicas, utilizar recursos visuais como cartões com imagens que representem a música, gestos e movimentos corporais, atividades mais curtas e diversificadas, integrar a música em algum momento do dia da criança, tornando uma rotina, deixar a criança participar da escolha da música ou do instrumento musical e ter como objetivo o expressar e a interação da criança.

Cabe ao professor, adaptar estratégias voltadas para as crianças, garantindo que todas sejam incluídas e participem das atividades. Contudo, o professor atua como mediador e facilitador do processo ensino e aprendizagem, trazendo a socialização, a criatividade e a comunicação através da música.

 

 

O papel do professor na mediação da musicalização: a música como recurso pedagógico na Educação Infantil

 

O papel do professor é ser mediador em sala de aula ao longo de todo o processo de ensino e aprendizagem, organizando e estimulando experiências musicais significativas. Para se trabalhar musicalização na Educação Infantil, o professor não precisa ter formação na área da música. Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC):

 

Integrar a música à educação infantil implica que o professor deva assumir uma postura de disponibilidade em relação a essa linguagem. Considerando- se que a maioria dos professores de educação infantil não tem uma formação específica em música, sugere-se que cada profissional faça um contínuo trabalho pessoal consigo mesmo (BRASIL, 1998, p. 67).

 

O importante é ser criativo e explorar os sons e ritmos junto às crianças, aprendendo, experimentando, fortalecendo vínculos afetivos, tornando algo mais rico e prazeroso. Contudo, o professor sendo criativo, faz com que o trabalho seja lúdico, cooperando para o desenvolvimento das crianças. Segundo Borges (2003):

 

“[...] é preciso insistir quando à necessidade de se recuperar sua verdadeira função. Isto só será possível na medida em que o professor for também sensível à expressão musical. Não que precise ser um especialista em música, ou saber tocar, necessariamente, algum instrumento. Porém, deverá estar consciente de que, em contato com a música, a criança poderá: manter em harmonia a relação entre o sentir e o pensar; proteger a sua audição, para que não se atrofie diante do aumento de ruídos e da desqualificação sonora do mundo moderno; habituar-se a isolar um ruído ou som para dar-lhe sentido, especificidade ou perceber a beleza que lhe é própria”.

 

Dessa forma, destaca-se que a música já tem um valor muito importante para o desenvolvimento da criança, despertando emoções, movimentos e expressões. Entretanto, é papel fundamental do professor transformar a música como um recurso pedagógico, contribuindo para o desenvolvimento integral da criança. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI):

 

Nessa perspectiva, o professor é mediador entre as crianças e os objetos de conhecimento, organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos diferentes campos de conhecimento humano. Na instituição de educação infantil o professor constitui-se, portanto, no parceiro mais experiente, por excelência, cuja função é propiciar e garantir um ambiente rico, prazeroso, saudável e não discriminatório de experiências educativas e sociais variadas. (BRASIL, 1998).

 

Nesse sentido, quando trabalhamos a música na Educação Infantil de forma diária e não isolada, é criado um vínculo afetivo entre o professor e a criança. No momento em que utilizamos diferentes recursos musicais, estamos estimulando o desenvolvimento da memória, atenção, linguagem e coordenação motora. Assim, trabalhar atividades interativas, que abordam a vivência socioafetiva na qual as crianças se envolvam e sejam protagonistas reforçam o desenvolvimento cognitivo, social e emocional. Segundo Rosa (1990, p22-23):

 

A linguagem musical deve estar presente nas atividades [...] de expressão física, através de exercícios ginásticos, rítmicos, jogos, brinquedos e roda cantadas, em que se desenvolve na criança a linguagem corporal, numa organização temporal, espacial e energética. A criança comunica-se principalmente através do corpo, ela é ela mesma, ela é seu próprio instrumento.

 

Outro ponto relevante a ser analisado, para o bom desenvolvimento da linguagem musical em sala de aula, é o planejamento da atividade pelo educador, pois ele é peça fundamental na busca do objetivo que queremos conquistar e desenvolver na criança. Seguindo o pensamento de Jeandot (1990) e Brito (2003) é de suma importância que o educador busque alternativas para estimular a criança e pesquisar novas possibilidades para ampliar seu repertório musical. Assim, caberá ao professor buscar maneiras diversificadas de trabalhar a música em sala de aula, de forma que traga conhecimentos e vivências culturais de diferentes povos, sejam eles próximos ou distantes. Segundo Becker:

 

A música auxilia no ensino e aprendizagem em algumas disciplinas, sendo que cabe ao educador determinar seu tempo de trabalho, bem como definir o seu interesse, procurando planejar e construir novas técnicas que auxiliarão no seu dia a dia, de acordo com a capacidade dos estudantes, critérios didáticos, pedagógicos, currículo escolar de maneira a relacionar à sua realidade (BECKER, 2006. p.27).

 

Por fim, é possível observar que o professor tem o papel fundamental de inserir a música no cotidiano da sala de aula, buscando estar sempre inovando seus métodos de ensino, a fim de despertar o interesse das crianças.

 

 

Brincadeiras musicais: o resgate de cantigas e jogos tradicionais na Educação Infantil

 

O professor pode utilizar diversas estratégias para praticar a musicalização em sala de aula e uma delas é através da brincadeira e dos jogos. De acordo com Ilari:

 

Os jogos musicais, quando utilizados de forma lúdica, participativa e não-competitiva podem constituir uma fonte rica de aprendizado, motivação e neurodesenvolvimento. Em geral, os jogos acontecem em aulas coletivas o que obviamente visa a estimulação dos sistemas de orientação espacial e do pensamento social. Jogos de memória de timbres, notas e instrumentos, dominós de células rítmicas e brincadeiras de solfejo podem ativar os sistemas de controle de atenção, da memória, da linguagem, de ordenação sequencial e do pensamento superior. Já os jogos que utilizam o corpo, tais como mímica de sons imaginários, brincadeira de cadeira, cantigas de roda, encenações musicais e pequenas danças podem incentivar o sistema da memória, de orientação espacial, motor e do pensamento social, entre outras. Além de prazerosos, os jogos musicais de participação ativa podem constituir exemplos típicos do aprendizado divertido (ILARI 2003).

 

Os jogos e as brincadeiras musicais, trazem vivências significativas para as crianças, podendo despertar habilidades motoras e emocionais, principalmente quando trabalhamos de forma lúdica. Segundo Kishimoto (1994):

 

Por meio de uma aula lúdica, o aluno é estimulado a desenvolver sua criatividade e não a produtividade, sendo sujeito do processo pedagógico. Por meio da brincadeira o aluno desperta o desejo do saber, a vontade de participar e a alegria da conquista. Quando a criança percebe que existe uma sistematização na proposta de uma atividade dinâmica e lúdica, a brincadeira passa a ser interessante e a concentração do aluno fica maior, assimilando os conteúdos com mais facilidades e naturalidade. (KISHIMOTO, 1994).

 

Outro fator importante que os educadores podem buscar para praticar a música é resgatar a cultura popular de diferentes povos e tradições, por meio das cantigas de roda, jogos e brincadeiras, que recordem e valorizem os aprendizados do passado, transmitido de geração em geração, reforçando o vínculo entre escola e família. De acordo com Brito (2003):

 

Por isso, tão importante quanto conhecer e preservar nossas tradições musicais é conhecer a produção musical de outros povos e culturas e, de igual modo, explorar, criar e ampliar os caminhos e os recursos para o fazer musical. Como uma das formas de representação simbólica do mundo, a música, em sua diversidade e riqueza, permite-nos conhecer melhor a nós mesmos e ao outro – próximo ou distante. (BRITO, 2003, p. 28).

 

Ademais, o educador pode buscar construir instrumentos com materiais recicláveis para ensinar as crianças os diferentes tipos de sons e ritmos que existem. Segundo Brito (2003):

 

Construir instrumentos musicais e/ou objetos sonoros é atividade que desperta a curiosidade e o interesse das crianças. Além de contribuir para o entendimento de questões elementares referentes à produção do som e às suas qualidades, à acústicas, ao mecanismo e o funcionamento dos instrumentos musicais, a construção de instrumentos estimula a pesquisa, a imaginação, o planejamento, a organização, a criatividade, sendo, por isso, ótimo meio para desenvolver a capacidade de elaborar e executar projetos.[...] As criança se relacionam de modo mais íntimo e integrado com a música quanto também produzem os objetos sonoros que utilizam para fazer música, o que não significa que essas peças devam substituir o contato com instrumentos convencionais, industrializados ou confeccionados artesanalmente.(BRITO, 2003, p. 69).

 

Diante do exposto, observamos que as brincadeiras musicais contribuem para aprendizagem significativa e quando somamos a música nessa atividade tão importante, estamos contribuindo para uma formação lúdica e prazerosa que resultam no desenvolvimento de diversas habilidades da criança, tais como: a memória, a atenção, coordenação motora e a socialização. A autora Brito (2003) explica que:

 

A criança é ser ―brincanteǁ e, brincando, faz música, pois assim se relaciona com o mundo que descobre a cada dia. Fazendo música, ela, metaforicamente, ―transforma-se em sonsǁ, num permanente exercício: receptivo e curiosa, a criança pesquisa materiais sonoros, ―descobre instrumentosǁ, inventa e imita motivos melódicos e rítmicos e ouve com prazer a música de todos os povos. (BRITO 2003, p.35).

 

Por fim, constata-se que a música pode ser trabalhada em sala de aula de diversas formas, desde cantigas de roda, jogos e brincadeiras. Tudo isso, só reforça o significado da ludicidade para a aprendizagem na educação infantil. Logo, como educadores,devemos buscar metodologias que tragam juntamente com a música a cultura popular, costumes e valores que propiciem uma vivência com sentido para a aprendizagem da criança.

 

 

CONCLUSÃO

 

Nessa pesquisa, nota-se que a Educação Infantil é de grande relevância para o desenvolvimento integral da criança, principalmente quando utilizada de forma lúdica. A música desempenha um papel muito importante para o desenvolvimento cognitivo, emocional, linguístico, social, motor, inclusivo e transforma a criatividade da criança, vivenciando de forma prazerosa e significativa. O professor tem um papel fundamental em transformar a música em recursos lúdicos, significativos e orientador das crianças em suas atividades. É possível observar que o professor é um mediador indispensável para transformar a música em uma ferramenta para o desenvolvimento do ensino e aprendizagem. Cabe ao professor preservar a cultura da música, por meio de cantigas populares e brincadeiras tradicionais, trazendo a música na rotina diária da criança, fazendo com que ela participe e desperte o interesse em participar. Portanto, conclui-se que a musicalização deve ser vista como uma ferramenta de grande significado, que podemos utilizar em nossas práticas pedagógicas ajudando no desenvolvimento integral da criança. Precisamos garantir que a música esteja presente em nossas escolas, sendo parte da formação das crianças, trazendo a diversidade, a inclusão e a ludicidade.

 

 

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