Educação no contexto atual: desafios, transformações e perspectivas
Erison Ricardo Marchi
Ivete Fernandes Gomes
Maria Aparecida Francisco
Juliana Ribeiro Teixeira
Danielle da Silva Muniz
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo analisar criticamente a educação no contexto atual, discutindo seus desafios, transformações e perspectivas diante das mudanças sociais, tecnológicas e culturais que marcam o século XXI. A educação contemporânea enfrenta profundas reconfigurações impulsionadas pelo avanço das tecnologias digitais, pela globalização, pelas demandas do mercado de trabalho e pelas novas formas de interação social. Além disso, a pandemia de COVID-19 intensificou debates sobre inclusão, desigualdade e inovação pedagógica. Com base em revisão bibliográfica, este estudo busca compreender de que forma a educação pode responder a esses desafios, promovendo uma formação integral, crítica e cidadã. Conclui-se que a construção de uma educação significativa e equitativa requer políticas públicas consistentes, formação continuada de professores e a valorização de práticas pedagógicas que integrem tecnologia, ética e diversidade cultural.
Palavras-chave: Educação contemporânea. Tecnologia educacional. Inclusão. Desafios pedagógicos. Formação docente.
INTRODUÇÃO
A educação é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento humano e social. No contexto atual, ela tem sido constantemente desafiada a adaptar-se às transformações tecnológicas, econômicas e culturais que caracterizam a sociedade contemporânea. O avanço da globalização e da tecnologia da informação tem reconfigurado as formas de aprender, ensinar e interagir, exigindo da escola e dos educadores uma postura dinâmica, crítica e inovadora.
Historicamente, a educação sempre desempenhou o papel de mediadora entre o indivíduo e a sociedade, sendo responsável por transmitir conhecimentos, valores e práticas culturais. No entanto, no século XXI, essa função adquire novos contornos. O acesso à informação tornou-se quase ilimitado, e o conhecimento passou a ser produzido e compartilhado de maneira descentralizada e colaborativa. Nesse cenário, a escola deixa de ser o único espaço de aprendizagem, e o professor deixa de ocupar o papel exclusivo de transmissor do saber, passando a ser um mediador do processo educativo. A pandemia de COVID-19 (2020–2022) evidenciou ainda mais as desigualdades educacionais e os desafios de acesso à educação de qualidade.
A suspensão das aulas presenciais e a adoção do ensino remoto emergencial colocaram em pauta questões sobre infraestrutura tecnológica, capacitação docente e inclusão digital, trazendo à tona uma nova reflexão sobre o papel da escola na sociedade contemporânea. Diante desse panorama, o presente artigo busca discutir o papel da educação no contexto atual, analisando seus principais desafios e apontando caminhos possíveis para uma educação mais justa, inclusiva e transformadora.
DESENVOLVIMENTO
- A educação e suas transformações históricas
A educação, ao longo da história, acompanhou as transformações sociais e econômicas de cada época. Segundo Saviani (2008), a escola moderna nasceu com a consolidação do Estado-nação e com o desenvolvimento do capitalismo industrial, tendo como função principal preparar os indivíduos para o trabalho e para a vida social.
Com o advento da Revolução Industrial e o surgimento da sociedade moderna, a escola assumiu o papel de transmitir saberes sistematizados, estabelecendo uma distinção clara entre o espaço de aprendizagem e o espaço da vida cotidiana. Essa estrutura, baseada na hierarquia entre professor e aluno, manteve-se durante boa parte do século XX.
Entretanto, as últimas décadas foram marcadas por uma profunda reconfiguração. As tecnologias digitais, a globalização da economia e as mudanças culturais colocaram em xeque o modelo tradicional de ensino. A escola, antes centrada na memorização e na transmissão de conteúdos, é agora convocada a desenvolver competências, habilidades socioemocionais e pensamento crítico, em consonância com as exigências de um mundo cada vez mais complexo e interconectado (MORAN, 2015).
1.1 Educação, tecnologia e inovação
As Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) tornaram-se parte indispensável da vida contemporânea. Na educação, seu uso tem potencializado novas formas de ensinar e aprender, abrindo possibilidades para metodologias ativas e ambientes virtuais de aprendizagem. De acordo com Kenski (2012), o uso pedagógico das tecnologias pode favorecer uma aprendizagem mais significativa, colaborativa e autônoma. O estudante passa de receptor passivo a sujeito ativo do conhecimento, participando de experiências interativas e construindo saberes de forma coletiva. A pandemia acelerou a incorporação das TDIC nas práticas educativas, mas também revelou as limitações estruturais do sistema educacional. Muitos alunos, especialmente das classes populares, não possuíam acesso adequado à internet ou equipamentos tecnológicos. Essa desigualdade digital traduziu-se em desigualdade educacional, reforçando a exclusão social (UNESCO, 2021). Diante disso, o desafio da educação atual não é apenas tecnológico, mas também ético e político. É necessário garantir que a inclusão digital seja acompanhada de políticas públicas que democratizem o acesso às ferramentas tecnológicas, promovendo a equidade de oportunidades para todos os estudantes.
1.2 O papel do professor na contemporaneidade
O papel do professor, nesse novo cenário, torna-se ainda mais complexo e desafiador. O docente precisa não apenas dominar conteúdos, mas também desenvolver competências pedagógicas, digitais e socioemocionais. Segundo Freire (1996), ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua construção. Essa concepção coloca o educador como mediador, facilitador e inspirador do processo de aprendizagem, capaz de estimular a curiosidade, o diálogo e a reflexão crítica dos alunos. Além disso, o professor deve ser um agente de transformação social. Em uma sociedade marcada por desigualdades e injustiças, a educação deve assumir um papel emancipador, capaz de formar cidadãos críticos e conscientes de sua realidade.
Entretanto, a valorização do professor ainda é um desafio. Baixos salários, excesso de carga horária, falta de formação continuada e infraestrutura precária são fatores que comprometem a qualidade do ensino. É fundamental que políticas públicas de valorização docente sejam implementadas, garantindo condições dignas de trabalho e o reconhecimento social da profissão.
- Desigualdades e inclusão na educação
A educação contemporânea também enfrenta o desafio de combater as desigualdades históricas que permeiam a sociedade. Questões relacionadas à raça, gênero, deficiência, classe social e território continuam a influenciar o acesso e a permanência dos estudantes na escola.
A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) asseguram o direito à educação para todos, sem discriminação. No entanto, o cumprimento efetivo desse direito ainda depende de ações concretas que promovam a inclusão e a equidade. A educação inclusiva, conforme define Mantoan (2015), não se resume à integração física dos alunos com deficiência, mas à construção de práticas pedagógicas que reconheçam e valorizem a diversidade. Nesse sentido, a escola precisa adaptar-se às necessidades dos alunos, garantindo o aprendizado de todos, sem exceção. A pandemia evidenciou ainda mais as desigualdades sociais e educacionais. Milhares de alunos ficaram sem acesso às aulas remotas, especialmente nas regiões periféricas e rurais. Essa realidade exige políticas urgentes de combate à evasão escolar e estratégias para recuperação das aprendizagens.
2.1 A formação integral e a educação para a cidadania
A educação no contexto atual deve ir além da transmissão de conteúdos. É necessário formar indivíduos capazes de pensar criticamente, agir com responsabilidade social e interagir de maneira ética e solidária.
Segundo Delors (2000), a educação deve basear-se em quatro pilares fundamentais: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Esses pilares continuam atuais e reforçam a importância de uma formação integral, que contemple dimensões cognitivas, afetivas e sociais do desenvolvimento humano.
Nesse sentido, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), implementada no Brasil em 2017, busca orientar a educação básica para o desenvolvimento de competências gerais, que incluem empatia, responsabilidade e respeito à diversidade. Embora sua aplicação ainda enfrente desafios, representa um avanço na busca por uma educação mais significativa e contextualizada.
A formação para a cidadania deve ser uma prioridade. Em tempos de desinformação, discursos de ódio e polarização social, a escola tem o papel de promover o diálogo, a reflexão crítica e o respeito aos direitos humanos. A educação, portanto, deve ser compreendida como um ato político e libertador, nos termos de Paulo Freire (1996).
- Políticas públicas e desafios futuros
O fortalecimento da educação pública de qualidade é essencial para o desenvolvimento do país. Contudo, o cenário educacional brasileiro enfrenta desafios estruturais que comprometem o alcance desse objetivo: baixo investimento, desigualdade regional, defasagem idade-série e evasão escolar.
De acordo com o Censo Escolar (INEP, 2024), o Brasil ainda possui altos índices de defasagem entre idade e série, especialmente no ensino médio. Isso reflete a necessidade de políticas mais eficazes de permanência e recuperação da aprendizagem. Além disso, é necessário repensar os currículos, a formação docente e a gestão escolar, de forma a torná-los mais alinhados às demandas da contemporaneidade. A educação do futuro precisa ser interdisciplinar, crítica, sustentável e humanizadora. O investimento em políticas de inovação, formação continuada e infraestrutura tecnológica deve ser acompanhado de uma gestão democrática, que valorize o diálogo entre professores, alunos, famílias e comunidade. Somente assim será possível construir uma educação que responda aos desafios do século XXI e contribua para a construção de uma sociedade mais justa e solidária.
Conclusão
A educação no contexto atual encontra-se diante de um cenário desafiador e repleto de transformações. A inserção das tecnologias digitais, as novas demandas sociais e as consequências da pandemia de COVID-19 exigem que as instituições escolares repensem suas práticas e objetivos. Mais do que nunca, é preciso compreender a educação como um processo emancipador, capaz de promover a autonomia, o pensamento crítico e o respeito à diversidade. O papel do professor deve ser valorizado e reconhecido como essencial para a construção de uma sociedade democrática e inclusiva. Superar os desafios da educação contemporânea requer o comprometimento coletivo de governos, escolas, educadores e comunidades. Políticas públicas eficazes, formação docente continuada e práticas pedagógicas inovadoras são caminhos para alcançar uma educação de qualidade, equitativa e transformadora. Somente com uma educação comprometida com a justiça social, a ética e a cidadania serão possíveis enfrentar os desafios do presente e construir um futuro mais humano e sustentável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Senado Federal, 1988.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996). Diário Oficial da União, Brasília, 1996.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.
DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 30. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
INEP. Censo Escolar 2024. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2024.
KENSKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. Campinas: Papirus, 2012.
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2015.
MORAN, José. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. 5. ed. Campinas: Papirus, 2015.
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 41. ed. Campinas: Autores Associados, 2008.
UNESCO. Relatório Global sobre Educação 2021: Tecnologia e inclusão. Paris: UNESCO, 2021.

