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Formação do aluno leitor no século XXI: desafios e estratégias pedagógicas para a promoção da literatura na escola

Rosilene Melo Silva[1]

 

Orientador: Fábio Coelho Pinto[2]

 

DOI: 10.5281/zenodo.16782634

 

 

RESUMO

A formação do aluno-leitor representa um dos principais desafios da educação contemporânea, em um contexto marcado pelo avanço das tecnologias digitais e pelo afastamento dos jovens da leitura literária. Este artigo tem como objetivo geral compreender os desafios e identificar estratégias pedagógicas eficazes para a formação do aluno-leitor no ambiente escolar. Trata-se de uma pesquisa de natureza bibliográfica, fundamentada em obras teóricas, artigos acadêmicos e publicações especializadas. Conclui-se que formar leitores implica desenvolver sujeitos críticos, sensíveis e preparados para os desafios do mundo atual, sendo essencial que escola e comunidade compartilhem esse compromisso, indo além dos resultados acadêmicos para promover o desenvolvimento humano integral.

 

Palavras-Chave: Leitura. Literatura. Formação do Leitor. Práticas Pedagógicas.

 

ABSTRACT

The development of student readers presents a significant challenge in today’s educational context, which is increasingly influenced by digital technologies and a growing detachment from literary reading. This study aims to understand the main challenges and identify effective pedagogical strategies for fostering reading habits among students through literature. It is bibliographic research based on books, academic articles, and specialized publications. The findings suggest that forming readers means cultivating critical, empathetic individuals prepared for contemporary challenges. The commitment to literature must therefore be shared by the entire school community, not only to improve academic outcomes but to foster holistic human development.

 

Keywords: Reading. Literature. Reader Formation. Pedagogical Practices.

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

A formação do aluno-leitor constitui um dos grandes desafios da educação contemporânea, especialmente em um cenário marcado pelo avanço das tecnologias digitais e pela crescente substituição da leitura literária por conteúdos fragmentados e imediatistas, como aqueles veiculados nas redes sociais. Apesar do reconhecimento da importância da literatura para o desenvolvimento humano, cultural e crítico dos estudantes, a prática da leitura ainda enfrenta inúmeras barreiras dentro e fora do ambiente escolar.

Muitos alunos enxergam o ato de ler como uma obrigação escolar, dissociada de suas vivências e interesses pessoais, o que dificulta a criação de um vínculo genuíno com os livros. De acordo com Souza (2021), esse afastamento ocorre, em grande parte, porque a leitura literária é frequentemente apresentada de forma impositiva, limitada a tarefas escolares e avaliações, e não como uma experiência prazerosa, de descoberta e construção de sentidos.

Nesse contexto, a participação da família e da escola é fundamental na formação do leitor. O ambiente familiar representa, muitas vezes, o primeiro contato da criança com o universo da leitura, sendo influenciado pelos hábitos e pelo exemplo dos responsáveis. No entanto, nem sempre o espaço doméstico oferece as condições necessárias para estimular o gosto pela leitura. Quando a escola assume essa responsabilidade de forma isolada, os desafios se intensificam, especialmente diante da desmotivação, das dificuldades de compreensão textual e da resistência dos alunos em relação à literatura.

A sociedade atual, marcada pelo uso intensivo de dispositivos eletrônicos, promove uma nova relação com os textos. A predominância de conteúdos breves e superficiais pode limitar o desenvolvimento de uma leitura crítica, reflexiva e aprofundada. Assim, a literatura — que exige tempo, concentração e envolvimento — acaba sendo percebida por muitos estudantes como uma atividade cansativa ou obsoleta (Souza, 2021). No entanto, a leitura literária vai além da obrigação escolar: ela amplia horizontes, estimula a imaginação, desenvolve a empatia e fortalece a argumentação, sendo um direito essencial à formação plena do ser humano.

Diante desse cenário, é necessário ressignificar o ensino da literatura, adotando práticas pedagógicas que valorizem o repertório cultural dos estudantes e dialoguem com suas realidades. Estratégias inovadoras, como projetos de leitura, rodas de conversa, atividades lúdicas e o uso de tecnologias digitais, podem tornar o processo de formação do leitor mais dinâmico e significativo (Silva, 2024).

Este estudo tem como objetivo compreender os principais desafios e estratégias pedagógicas envolvidas na formação do aluno-leitor por meio da literatura. Em termos metodológicos, trata-se de uma pesquisa de natureza bibliográfica, fundamentada na análise de livros, artigos acadêmicos e publicações especializadas sobre o tema. A coleta e interpretação dos dados foram realizadas com base na seleção de obras relevantes, priorizando produções recentes e de reconhecida relevância na área da educação.

Esta investigação justifica-se pela necessidade de refletir sobre práticas educacionais que promovam uma relação mais significativa entre os estudantes e a leitura literária. Compreender os entraves e as possibilidades no processo de formação do leitor é essencial para que a escola cumpra seu papel de agente transformador, contribuindo para o desenvolvimento crítico, cultural e humano dos alunos.

 

 

2 FATORES QUE INFLUENCIAM A FORMAÇÃO DO ALUNO-LEITOR

 

A formação do aluno-leitor é um processo complexo, que envolve uma multiplicidade de aspectos interdependentes. Entre os principais fatores que influenciam esse percurso estão o ambiente familiar, o contexto escolar, as práticas pedagógicas adotadas e os recursos disponíveis para o acesso à leitura. Compreender essas influências é essencial para identificar caminhos que promovam o desenvolvimento de leitores críticos, autônomos e engajados. A seguir, serão discutidos alguns dos elementos mais relevantes nesse processo, com ênfase no papel da família e da escola na construção do hábito de leitura.

 

2.1 Impacto do ambiente familiar e escolar na construção do hábito de leitura

 

De acordo com Costa e Condé (2018), quando pais ou responsáveis mantêm o hábito de ler para os filhos, compartilham histórias e demonstram interesse genuíno por livros, atuam como modelos positivos, despertando na criança a curiosidade e o desejo de explorar o universo literário. A presença de livros no ambiente doméstico, a criação de momentos de leitura em família e o incentivo ao diálogo sobre as obras lidas são práticas que fortalecem o vínculo afetivo com a leitura. Dessa forma, a criança passa a associar o ato de ler a experiências prazerosas, o que favorece a consolidação desse hábito ao longo do tempo.

Além disso, a pesquisa de Jesus (et. al., 2022) destaca que os recursos disponíveis no ambiente familiar — como o acesso a livros, revistas, materiais educativos e até visitas a museus ou bibliotecas — contribuem significativamente para o desempenho em leitura na adolescência. O estudo indica que práticas parentais ativas, como o acompanhamento das atividades escolares, o estímulo ao estudo e o interesse pelas conquistas dos filhos, estão diretamente associadas ao sucesso acadêmico e ao desenvolvimento da proficiência leitora. Em contrapartida, a ausência de estímulo, a escassez de recursos e uma rotina familiar desorganizada podem comprometer a aprendizagem e dificultar o desenvolvimento das habilidades necessárias à leitura.

Entretanto, é fundamental reconhecer que nem todas as famílias dispõem das mesmas condições socioeconômicas, o que impacta diretamente nas oportunidades de acesso à leitura. Segundo Amorim (2024), crianças oriundas de famílias com maior poder aquisitivo e com acesso facilitado a materiais de letramento tendem a desenvolver o hábito de leitura de maneira mais precoce e abrangente. Já aquelas provenientes de contextos socioeconômicos mais vulneráveis enfrentam obstáculos adicionais, como a falta de livros em casa e a indisponibilidade de tempo dos pais para acompanhar a vida escolar. Diante disso, a escola assume um papel ainda mais relevante como espaço de democratização do acesso à leitura e de compensação das desigualdades sociais existentes.

Nesse cenário, o ambiente escolar atua como um complemento fundamental ao processo de formação leitora iniciado na família. Conforme Costa e Condé (2018), cabe a professores e gestores escolares a responsabilidade de construir um ambiente acolhedor, motivador e propício ao desenvolvimento do gosto pela leitura. Isso envolve a oferta de uma biblioteca diversificada e acessível, a realização de projetos de leitura e a valorização de diferentes gêneros textuais no cotidiano pedagógico. O professor, em especial, desempenha o papel de mediador do processo, ao apresentar livros atrativos, propor atividades lúdicas e promover momentos de troca de experiências entre os estudantes.

Freitas Brito et al. (2023) enfatizam que promover o hábito da leitura exige não apenas o fornecimento de materiais adequados, mas também a adoção de estratégias pedagógicas que tornem a leitura uma experiência prazerosa e significativa. Práticas como clubes do livro, rodas de conversa, dramatizações e concursos literários podem despertar o interesse dos alunos. A integração de recursos digitais e o uso de plataformas online também contribuem para ampliar o acesso e tornar a leitura mais atrativa para as novas gerações.

Amorim (2024) reforça que a participação dos pais nas atividades escolares, o acompanhamento das tarefas de casa e a presença em reuniões pedagógicas são fatores que potencializam o desenvolvimento das competências leitoras. Quando família e escola atuam de forma colaborativa, trocando informações e estabelecendo metas comuns, aumentam as chances de formar leitores autônomos, críticos e engajados.

É importante ressaltar, contudo, que a simples presença de livros ou de atividades de leitura, seja no ambiente doméstico ou escolar, não garante, por si só, a formação do hábito de ler. É essencial que a leitura seja apresentada como uma experiência de prazer, descoberta e imaginação, e não apenas como uma obrigação curricular. Segundo Costa e Condé (2018), tanto o contexto familiar quanto o escolar devem investir em práticas que despertem o encantamento pelas histórias, demonstrando que a leitura pode ser divertida, transformadora e capaz de proporcionar novas formas de compreender o mundo.

A pesquisa de Jesus (et. al., 2022) reforça a importância de políticas públicas voltadas ao fortalecimento da relação entre família e escola, à ampliação dos recursos disponíveis para as famílias e à criação de ambientes educativos favoráveis. Investimentos na formação continuada de professores, na implementação de bibliotecas comunitárias e em projetos de incentivo à leitura são fundamentais para assegurar que todos os alunos, independentemente de sua origem social, possam desenvolver plenamente suas competências leitoras.

O impacto do ambiente familiar e escolar na construção do hábito de leitura é, portanto, significativo e multifacetado. A presença de adultos leitores, o acesso a materiais diversificados, o estímulo constante e a vivência de experiências positivas são fatores determinantes para que a criança desenvolva o gosto pela leitura e se torne, futuramente, um leitor autônomo e crítico. Família e escola possuem responsabilidades complementares nesse processo, e a parceria entre ambas pode potencializar os resultados, contribuindo para a formação de cidadãos mais preparados para os desafios do mundo contemporâneo. Como destacam Costa e Condé (2018) e Freitas Brito (et. al., 2023), investir na promoção do hábito de leitura é investir no futuro dos estudantes e no fortalecimento da educação como um todo.

 

2.2 Práticas pedagógicas que contribuem para o engajamento dos estudantes com a literatura

 

Promover o engajamento dos estudantes com a literatura exige a adoção de estratégias pedagógicas inovadoras, sensíveis à realidade escolar e capazes de dialogar com os interesses e as vivências dos alunos. Segundo Pereira (et. al., 2025), personalizar o ensino, considerando os diferentes perfis dos estudantes, é essencial para despertar o interesse pela leitura. O professor que conhece sua turma e suas experiências prévias pode selecionar obras mais próximas da realidade dos alunos, facilitando a identificação com os textos e tornando a prática de leitura mais significativa. Esse processo favorece o desenvolvimento de leitores críticos, autônomos e participativos.

Outro aspecto relevante para o engajamento está na utilização de metodologias interativas, como a gamificação e a aprendizagem colaborativa, que contribuem para tornar as aulas mais dinâmicas e motivadoras (Pereira et. al., 2025). A inclusão de desafios, jogos, pontuações e atividades em grupo transforma a experiência de leitura em algo envolvente, promovendo a cooperação entre os estudantes. Essa abordagem torna o aluno protagonista do processo de aprendizagem, como destaca Reis Fim (2024), favorece a construção de um ambiente participativo e significativo.

Reis Fim (2024) também observa que projetos de leitura, clubes do livro e rodas de conversa são práticas eficazes para fortalecer o vínculo entre os alunos e a literatura. Essas atividades estimulam o diálogo, o respeito à diversidade de opiniões e o compartilhamento de interpretações, tornando a leitura uma experiência social, afetiva e enriquecedora. Quando os estudantes percebem que suas vozes são ouvidas e valorizadas, o envolvimento com os textos tende a se intensificar, e o hábito da leitura se consolida de forma mais espontânea.

A incorporação de recursos digitais é outro fator que pode ampliar o acesso e a atratividade da leitura. De acordo com Pereira (et. al., 2025), o uso de plataformas online, audiolivros e fóruns de discussão criam possibilidades de contato com os textos, aproximando-se das práticas tecnológicas dos jovens. Embora não substituam o livro físico, essas ferramentas representam alternativas inclusivas, que respeitam os diferentes estilos de leitura presentes no ambiente escolar e contribuem para a democratização do acesso à literatura.

A avaliação das práticas leitoras também merece atenção no contexto pedagógico. Souza (2021) argumenta que métodos avaliativos tradicionais, como provas e resumos, podem ser complementados ou substituídos por instrumentos mais formativos, como portfólios, diários de leitura e autoavaliações. Essas estratégias valorizam o percurso individual do aluno, estimulam a autorreflexão e promovem maior autonomia no processo de aprendizagem.

Silva (2024) ressalta que a criação de ambientes acolhedores, nos quais o erro não é interpretado como fracasso, é fundamental para fortalecer a autoestima dos estudantes. O professor, ao cultivar um espaço de confiança, respeito e escuta ativa, favorece a construção de uma relação mais afetiva com a leitura, que passa a ser vista não apenas como uma obrigação escolar, mas também como uma fonte de prazer, autoconhecimento e lazer.

A valorização da diversidade literária também é apontada como um elemento central para o engajamento dos alunos. Souza (2021) defende que a escolha de obras de diferentes autores, gêneros e temáticas amplia o repertório cultural dos estudantes, promove o respeito às diferenças e aproxima a literatura de suas realidades sociais e emocionais. Ao se reconhecerem nas histórias lidas, os alunos estabelecem vínculos afetivos com os textos, desenvolvendo um olhar mais empático e crítico sobre o mundo.

Nesse sentido, Reis Fim (2024) reforça a importância de repensar o ensino de literatura, superando abordagens meramente técnicas ou acadêmicas. É necessário adotar metodologias contextualizadas, criativas e interdisciplinares, que transformem a leitura em uma atividade prazerosa, significativa e relevante para os jovens. Produções criativas, dramatizações, oficinas e projetos integradores são algumas das práticas que podem gerar maior envolvimento e protagonismo estudantil.

Para Pereira (et. al., 2025), o papel do professor como mediador do processo de leitura é insubstituível. Cabe a ele inspirar, orientar, provocar reflexões e mostrar que a literatura é um campo aberto a múltiplas interpretações e descobertas. A formação continuada dos docentes, o intercâmbio de experiências e a constante busca por novas metodologias fortalecem uma prática pedagógica mais efetiva, criativa e motivadora.

Souza (2021) enfatiza que o engajamento do estudante com a leitura depende, em grande parte, do vínculo afetivo que ele estabelece com os textos e da valorização de sua autonomia. Nesse sentido, é papel da escola criar condições para que a literatura seja vivenciada como uma experiência transformadora, capaz de estimular a criatividade, o senso crítico e a curiosidade intelectual. Investir em práticas pedagógicas inovadoras, respeitosas e alinhadas à realidade dos estudantes é um passo essencial para formar leitores apaixonados e cidadãos preparados para os desafios da contemporaneidade.

 

2.3 A integração das tecnologias às estratégias de incentivo à leitura

 

A incorporação de tecnologias digitais como estratégia de incentivo à leitura representa uma tendência crescente no ambiente educacional contemporâneo. Segundo Sousa Azevedo (et. al., 2024), os recursos tecnológicos ampliam as possibilidades pedagógicas, favorecendo a criação de ambientes interativos e personalizados, nos quais o estudante assume um papel ativo em seu processo de aprendizagem. Ferramentas como plataformas digitais, aplicativos de leitura, audiolivros e softwares educativos têm sido utilizadas para tornar a leitura mais acessível, dinâmica e alinhada aos interesses das novas gerações.

No contexto atual, a leitura transcende o suporte físico do livro e ocorre também em meios digitais, ampliando o repertório dos alunos e desenvolvendo múltiplas competências. Ferreira e Portilho (2023) destacam que recursos como audiolivros, podcasts, jogos educativos e e-books são especialmente eficazes para atender estudantes com dificuldades de aprendizagem ou com diferentes estilos cognitivos. Essa diversidade de formatos promove a inclusão e possibilita que cada aluno interaja com o texto de maneira compatível com seu ritmo e suas preferências.

Além de ampliar o acesso, a tecnologia favorece o desenvolvimento da autonomia e do protagonismo discente. Oliveira et al. (2023) argumentam que a leitura em ambientes digitais — como blogs, fóruns e redes sociais educativas — estimula o pensamento crítico e a argumentação, ao permitir que os alunos compartilhem suas impressões, debatam ideias e explorem diferentes perspectivas. Projetos colaborativos mediados por plataformas digitais também favorecem a construção coletiva do conhecimento e tornam a experiência literária mais envolvente.

Contudo, para que a integração tecnológica seja eficaz, é necessário garantir acessibilidade e equidade. Conforme salientam Sousa Azevedo (et. al., 2024), a ausência de infraestrutura adequada e a desigualdade no acesso à internet podem comprometer os resultados das iniciativas digitais. Dessa forma, torna-se essencial o investimento em políticas públicas, formação continuada de professores e desenvolvimento de materiais acessíveis, de modo a assegurar que todos os estudantes possam usufruir dos benefícios das tecnologias aplicadas à leitura.

Ferreira e Portilho (2023) também apontam como ponto positivo o monitoramento do progresso individual, possibilitado por muitas plataformas digitais. Com esses dados, o professor pode acompanhar o desempenho dos alunos em tempo real, identificar dificuldades específicas e propor intervenções pedagógicas personalizadas. Essa capacidade de diagnóstico contínuo fortalece o papel do docente como mediador do processo leitor, contribuindo para um ensino mais eficiente e responsivo.

Outro aspecto relevante é a promoção de ambientes colaborativos de leitura. Souza (2021) ressalta que fóruns, redes sociais educativas e clubes de leitura virtuais promovem a interação entre os estudantes e estimulam o senso de pertencimento à comunidade escolar. A possibilidade de dialogar com autores, especialistas ou colegas de outras localidades enriquece o contato com a literatura e amplia os horizontes culturais dos alunos.

O papel do professor, nesse contexto, é fundamental para orientar o uso responsável e crítico das tecnologias. Silva (2024) enfatiza que cabe ao educador selecionar ferramentas adequadas, contextualizar as atividades digitais e promover a reflexão crítica sobre os conteúdos consumidos. Em um ambiente marcado pelo excesso de informações, desenvolver a competência leitora crítica — isto é, a capacidade de analisar a veracidade, qualidade e relevância dos textos — torna-se uma prioridade educacional.

Apesar das inúmeras vantagens, o uso excessivo ou indiscriminado da tecnologia pode apresentar desafios, como a superficialidade na leitura, a dispersão da atenção e a dependência de recursos digitais. Por isso, Ferreira e Portilho (2023) recomendam um equilíbrio entre práticas tradicionais e digitais, de modo que os alunos possam desenvolver habilidades múltiplas e transitar com fluidez entre diferentes suportes e gêneros textuais.

Dessa forma, como enfatiza Oliveira (et. al., 2023), a tecnologia, quando utilizada de forma planejada e consciente, potencializa a formação de leitores autônomos, críticos e preparados para os desafios da sociedade contemporânea. As ferramentas digitais ampliam o acesso à informação, diversificam os suportes de leitura e estimulam a construção coletiva do conhecimento. O incentivo à leitura, nesse contexto, deve ser uma responsabilidade compartilhada entre escola, professores, alunos e comunidade, com a tecnologia atuando como uma aliada na formação de sujeitos mais reflexivos, criativos e socialmente engajados.

 

 

  1. Principais desafios e estratégias pedagógicas envolvidas na formação do aluno-leitor por meio da literatura

 

A formação do aluno-leitor constitui um processo complexo, permeado por diversos desafios pedagógicos que demandam a adoção de estratégias diversificadas para sua efetivação. Um dos principais obstáculos identificados nas escolas refere-se ao distanciamento dos estudantes em relação à literatura, resultado tanto de fatores internos ao ambiente escolar quanto de aspectos externos, como a escassez de estímulos à leitura no contexto familiar. Soares (2020) enfatiza que a leitura literária ocorre somente quando existem condições favoráveis e práticas contínuas de incentivo, salientando que muitos alunos percebem a leitura apenas como uma obrigação escolar, e não como fonte de prazer e descoberta. Tal realidade evidencia a necessidade de se trabalhar, antes de qualquer técnica, o vínculo afetivo dos estudantes com os livros, demonstrando que a literatura pode estabelecer diálogos significativos com suas realidades.

Outro desafio destacado por Sarlo (2021) relaciona-se à preparação dos professores para atuarem como mediadores da leitura. Frequentemente, os docentes não receberam uma formação leitora sólida durante sua trajetória escolar, o que se reflete em insegurança ao lidar com a literatura em sala de aula. A autora defende a importância de investir em programas de formação continuada que propiciem experiências de leitura, o contato com novas obras e a discussão de estratégias capazes de tornar o ensino literário mais atraente. Apenas a partir de uma formação crítica e reflexiva, o professor poderá desenvolver práticas mediadoras e se posicionar como referência no universo da leitura para seus alunos.

A carência de acesso a materiais literários de qualidade, associada à insuficiência de bibliotecas estruturadas, configura um desafio recorrente no cenário educacional brasileiro. Sousa Azevedo (et. al., 2024) destacam que o desenvolvimento de habilidades leitoras e escritoras vinculadas à literatura depende da democratização do acesso aos livros, tanto em formato impresso quanto digital. As tecnologias podem representar uma alternativa complementar ao contato com o livro físico, ampliando a experiência leitora. Contudo, é imprescindível que escolas e gestores públicos invistam na constituição de acervos diversificados e mantenham projetos de incentivo à leitura ao longo de toda a trajetória escolar.

A abordagem metodológica adotada nas aulas de literatura também merece atenção. Araújo (2017) observa que práticas excessivamente tradicionais, centradas na análise gramatical e na exigência de resumos, tendem a desestimular os alunos e a limitar sua capacidade de interpretação crítica. O autor cita o exemplo do projeto “Sarau Literário”, no qual atividades lúdicas, encenações e rodas de conversa são empregadas para aproximar os estudantes dos textos, fomentando o debate e a expressão oral. Tais estratégias valorizam a experiência literária, contribuindo para a criação de um ambiente acolhedor, no qual o erro é compreendido como parte do processo de aprendizagem.

Superar a visão utilitarista da literatura, presente em documentos curriculares e na pressão por resultados em avaliações externas, constitui outro desafio importante. Reis Fim (2024) ressalta que o ensino da literatura muitas vezes é reduzido a um preparo para provas e vestibulares, o que empobrece a experiência leitora e afasta o aluno do universo artístico e imaginativo dos livros. Para transformar essa realidade, é necessário apostar em práticas pedagógicas que respeitem o tempo e o ritmo individual dos estudantes, promovendo a leitura por prazer e incentivando a reflexão pessoal sobre as obras. Assim, a literatura passa a ser reconhecida como elemento central na formação crítica e cultural dos jovens.

A interdisciplinaridade surge como estratégia pedagógica eficaz para a formação do aluno-leitor. Soares (2020) enfatiza que, ao integrar a literatura a outras áreas do conhecimento, torna-se possível contextualizar os textos e ampliar o repertório dos estudantes, tornando a leitura mais atrativa. Projetos que envolvem história, artes, ciências e tecnologia possibilitam que os alunos relacionem os temas literários às suas vivências cotidianas, percebendo a literatura não como conteúdo isolado, mas como ferramenta de compreensão do mundo e construção identitária.

A mediação pedagógica, conforme Sarlo (2021), deve respeitar a diversidade cultural dos estudantes e valorizar as múltiplas linguagens presentes no ambiente escolar. Trabalhar com gêneros variados, autores de diferentes regiões e obras que dialoguem com as experiências dos alunos é fundamental para garantir identificação e engajamento. Além disso, promover ambientes de leitura colaborativa, nos quais os estudantes possam compartilhar ideias, opiniões e sentimentos sobre os textos, fortalece a construção de sentidos e o hábito da leitura literária.

A tecnologia, quando integrada de forma planejada, constitui aliada importante na formação do leitor. Sousa Azevedo et al. (2024) destacam que plataformas digitais, audiolivros, clubes de leitura online e jogos educativos dialogam com o universo dos jovens, ampliando as possibilidades de acesso à literatura. O desafio está em utilizar esses recursos pedagogicamente, evitando dispersão e promovendo a leitura crítica e reflexiva. Para tanto, é essencial que o professor acompanhe atentamente as interações dos alunos no ambiente virtual, propondo discussões, avaliações e atividades que estimulem análise e interpretação textual.

A avaliação, por sua vez, necessita ser repensada para valorizar o processo de construção leitora, e não apenas o produto. Sarlo (2021) defende o uso de instrumentos como portfólios, diários de leitura e projetos coletivos para acompanhar o desenvolvimento dos estudantes, respeitando seus avanços e dificuldades. Avaliações que envolvem debates, produções criativas e apresentações orais também fortalecem a autoconfiança dos alunos e oferecem feedbacks construtivos. Assim, a avaliação torna-se aliada na formação do leitor, estimulando seu interesse pela literatura.

Por fim, a parceria entre escola, família e comunidade é fundamental para potencializar o processo de formação do aluno-leitor. Soares (2020) ressalta que, quando o incentivo à leitura é compartilhado entre diferentes agentes educativos, aumentam-se as chances de consolidar o hábito leitor e promover a formação de sujeitos críticos, sensíveis e preparados para os desafios da sociedade contemporânea. Investir na formação de professores, democratizar o acesso aos livros, diversificar estratégias pedagógicas e valorizar a participação dos estudantes são caminhos essenciais para superar os desafios e construir uma educação literária transformadora.

 

 

4 CONCLUSÃO

 

As reflexões apresentadas ao longo deste estudo evidenciam que a formação do aluno-leitor é um processo dinâmico e desafiador, que demanda a articulação conjunta entre família, escola, professores e o próprio estudante. Em uma sociedade marcada pela presença constante da tecnologia e por novas formas de interação com a informação, a literatura precisa ser ressignificada no ambiente escolar, assumindo um papel central na formação crítica, cultural e pessoal dos alunos.

Foi possível observar que ainda persistem inúmeros obstáculos para a consolidação do hábito de leitura, como a insuficiência de acesso a obras literárias, o desinteresse de parte dos estudantes e práticas pedagógicas pouco inovadoras. Em contrapartida, a adoção de estratégias diversificadas, o uso consciente das tecnologias digitais, a valorização da leitura em família e o incentivo ao protagonismo do aluno revelam-se caminhos promissores para despertar o gosto pelos livros e promover a formação de leitores autônomos.

Assim, torna-se fundamental que os professores estejam em constante formação, busquem novas metodologias e se posicionem como mediadores sensíveis e inspiradores no processo de leitura. Além disso, políticas públicas voltadas para a democratização do acesso aos livros e para o fortalecimento das bibliotecas escolares e comunitárias são essenciais para garantir que todos os estudantes possam vivenciar o prazer da leitura.

Conclui-se que formar leitores é investir na construção de sujeitos mais críticos, empáticos e preparados para os desafios do mundo contemporâneo. O compromisso com a literatura deve, portanto, ser compartilhado por toda a comunidade escolar, visando não apenas resultados acadêmicos, mas, sobretudo, o desenvolvimento humano integral dos alunos.

 

 

REFERÊNCIAS

 

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SOUZA, Thayze Sátira Neves de. Formação do aluno-leitor: desafios e estratégias. Formação do aluno-leitor: desafios e estratégias, 2021.

 

[1]Mestranda pela Faculdade de Ciências Sociais Interamericana - FICS. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

[2] Doutor em Ciências da Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Educação da Faculdade Interamericana de Ciências Sociais - FICS; Mestre em Educação e Cultural pelo Programa de Pós-Graduação em Educação e Cultura pela Universidade Federal do Pará – UFPA; Mestre em Ciências da Educação – FICS; Especialista em Gestão e Planejamento da Educação – UFPA; Especialista em Gestão Financeira e de Projetos Sociais – Faculdade de Patrocinio -FAP; Graduado em pedagogia – UFPA; Graduado em Letras Habilitação em Língua Inglesa – UFPA; Graduado em Sociologia – UNIASSELVI; Acadêmico de Direito pela Faculdade Estratego. Professor efetivo vinculado à Secretaria de Estado de Educação do Pará (SEDUC-PA); Professor efetivo vinculado à Secretaria Municipal de Educação do Município de Cametá (SEMED-Cametá-Pa). E-mail: <O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.>. Orcid: <https://orcid.org/0000-0002-7169-2716>.