O papel do professor frente às novas metodologias ativas de aprendizagem
Mariza da Silva Santos
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo discutir o papel do professor diante das novas metodologias ativas de aprendizagem, que vêm transformando o cenário educacional contemporâneo. As metodologias ativas buscam romper com o modelo tradicional de ensino, centrado na figura do docente como transmissor de conhecimento, propondo uma prática pedagógica que coloca o aluno como protagonista do processo de aprendizagem. Nesse contexto, o professor assume um novo papel: o de mediador, orientador e facilitador do conhecimento. O estudo parte de uma revisão teórica sobre o tema, abordando conceitos, fundamentos e exemplos de práticas pedagógicas ativas, como a sala de aula invertida, a aprendizagem baseada em projetos e a aprendizagem colaborativa. Além disso, analisa-se como essas metodologias exigem do educador novas competências, uma postura reflexiva e o uso de tecnologias digitais como instrumentos de apoio ao ensino. Conclui-se que as metodologias ativas não diminuem a importância do professor, mas, ao contrário, ampliam sua função enquanto agente transformador, desafiando-o a reinventar-se constantemente para atender às demandas de uma educação mais significativa, crítica e humanizadora.
Palavras-chave: Professor. Metodologias ativas. Aprendizagem. Educação contemporânea. Protagonismo discente.
Introdução
Nas últimas décadas, a educação tem passado por transformações profundas impulsionadas pelo avanço das tecnologias, pelas mudanças sociais e pelas novas demandas do mundo do trabalho. Nesse contexto, o modelo tradicional de ensino, baseado na transmissão de conhecimento e na memorização de conteúdos, tem sido amplamente questionado. Surge, assim, a necessidade de repensar as práticas pedagógicas, valorizando metodologias que promovam a autonomia, o pensamento crítico e o protagonismo dos estudantes.
As metodologias ativas de aprendizagem emergem como uma resposta a essa demanda, propondo um processo educativo centrado no aluno, no qual o aprender ocorre de forma participativa, colaborativa e significativa. Entretanto, essa mudança de paradigma também implica uma redefinição do papel do professor. O educador deixa de ser o detentor exclusivo do saber para tornar-se um mediador, facilitador e orientador do processo de aprendizagem.
Dessa forma, compreender o papel do professor frente às novas metodologias ativas é essencial para o aprimoramento da prática docente e para a construção de uma educação mais conectada com a realidade dos alunos e com os desafios contemporâneos. O presente artigo tem, portanto, o objetivo de refletir sobre as mudanças nas atribuições e competências do professor, discutindo as principais metodologias ativas e suas implicações pedagógicas.
Desenvolvimento
- O contexto histórico e conceitual das metodologias ativas
As metodologias ativas têm origem em correntes pedagógicas que valorizam o aprendizado pela experiência e pela ação. As ideias de John Dewey (1859–1952), um dos principais expoentes da Escola Nova, foram fundamentais para o desenvolvimento dessa perspectiva. Dewey defendia que a educação deveria preparar o indivíduo para a vida democrática e que o conhecimento deveria surgir da interação entre o aluno e o meio. Para ele, aprender é um processo ativo, no qual o estudante constrói o saber a partir da resolução de problemas reais.
Outro autor importante é Jean Piaget (1896–1980), que contribuiu com sua teoria construtivista ao afirmar que o conhecimento é construído por meio da interação entre o sujeito e o objeto de estudo. Nessa mesma linha, Lev Vygotsky (1896–1934) destacou o papel do contexto social e das interações na aprendizagem, introduzindo o conceito de “zona de desenvolvimento proximal”, que fundamenta práticas pedagógicas colaborativas.
Esses princípios teóricos serviram de base para o surgimento das metodologias ativas, que se consolidaram como alternativas ao ensino tradicional, promovendo uma aprendizagem significativa e contextualizada. No século XXI, com o avanço das tecnologias digitais, essas metodologias ganharam força, integrando recursos tecnológicos e novas formas de comunicação.
- O papel tradicional do professor e a necessidade de mudança
Historicamente, o papel do professor esteve associado à transmissão de conhecimento. Na escola tradicional, o docente era a figura central do processo educativo, responsável por ensinar conteúdos previamente definidos e avaliar o desempenho dos alunos com base em critérios de reprodução. Nesse modelo, o aluno ocupava uma posição passiva, sendo mero receptor de informações.
Entretanto, as transformações sociais e tecnológicas desafiaram esse modelo. A sociedade contemporânea demanda cidadãos críticos, criativos e capazes de resolver problemas complexos — competências que não podem ser desenvolvidas apenas por meio da memorização. O professor, portanto, precisa abandonar o papel de mero transmissor e assumir o de mediador e facilitador da aprendizagem.
Essa mudança não implica uma desvalorização da função docente, mas sim uma ressignificação. O educador continua sendo essencial, pois é ele quem planeja, organiza e orienta as experiências de aprendizagem, criando situações que estimulem a reflexão, a curiosidade e a autonomia dos alunos. Sua autoridade deixa de estar na imposição e passa a residir no domínio metodológico e na capacidade de inspirar.
- Princípios e fundamentos das metodologias ativas
As metodologias ativas se baseiam em alguns princípios fundamentais, entre eles:
- Protagonismo do aluno: o estudante é o centro do processo e participa ativamente da construção do conhecimento.
- Aprendizagem significativa: o conteúdo é conectado à realidade do aluno e aos seus conhecimentos prévios.
- Colaboração: o aprendizado ocorre em grupo, por meio da troca de ideias e experiências.
- Reflexão e autonomia: o aluno é incentivado a pensar criticamente e tomar decisões sobre o próprio aprendizado.
- Integração com a tecnologia: recursos digitais são utilizados para potencializar a aprendizagem e estimular o engajamento.
Esses princípios tornam o ambiente de aprendizagem mais dinâmico, flexível e participativo, promovendo o desenvolvimento de habilidades cognitivas, socioemocionais e comunicativas.
- Principais metodologias ativas aplicadas à educação
Existem diversas abordagens classificadas como metodologias ativas. Entre as mais conhecidas e utilizadas estão:
4.1 Sala de Aula Invertida (Flipped Classroom)
A sala de aula invertida propõe que o aluno tenha acesso ao conteúdo teórico antes do encontro presencial — por meio de vídeos, textos ou outros recursos — e que o tempo de aula seja dedicado à aplicação prática, à discussão e à resolução de problemas.
Essa metodologia valoriza o tempo do professor como mediador e o aluno como agente ativo. Exige, porém, planejamento cuidadoso e autonomia discente, bem como acesso equitativo às tecnologias.
4.2 Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP)
Na Aprendizagem Baseada em Projetos, os alunos trabalham em torno de um problema real, elaborando soluções e aplicando o conhecimento em contextos práticos. O papel do professor é orientar o grupo, estimular a pesquisa e promover a integração entre diferentes áreas do conhecimento.
Essa metodologia favorece o desenvolvimento de competências como cooperação, criatividade e responsabilidade social.
4.3 Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL)
Originada na área da saúde, especialmente no ensino médico, a Problem Based Learning estimula os alunos a resolver problemas complexos de forma colaborativa. O professor atua como tutor, ajudando os estudantes a identificar o que precisam aprender e a buscar as informações necessárias.
A PBL promove pensamento crítico, autonomia e raciocínio lógico, sendo amplamente aplicada em diferentes níveis de ensino.
4.4 Gamificação
A gamificação consiste no uso de elementos de jogos — como desafios, recompensas e níveis — em contextos educacionais. Essa abordagem aumenta o engajamento dos estudantes e torna a aprendizagem mais prazerosa. O professor precisa, contudo, equilibrar a diversão com a intencionalidade pedagógica, garantindo que o foco permaneça na aprendizagem.
4.5 Rotação por Estações e Aprendizagem Híbrida
Essas metodologias combinam momentos presenciais e virtuais, permitindo ao aluno aprender de diferentes formas e ritmos. O professor, nesse modelo, organiza estações com atividades variadas (teóricas, práticas, digitais e colaborativas), adaptando o ensino às necessidades individuais.
- O papel do professor nas metodologias ativas
Nas metodologias ativas, o professor exerce um papel multifacetado. Ele é mediador, orientador, pesquisador e facilitador. Em vez de transmitir informações, ele cria situações de aprendizagem que incentivam o estudante a buscar, refletir e construir o conhecimento.
O professor deve:
- Planejar experiências significativas, conectadas ao cotidiano dos alunos;
- Despertar a curiosidade e o interesse, por meio de desafios e problemas reais;
- Promover a colaboração, estimulando o trabalho em grupo e a troca de saberes;
- Acompanhar e avaliar o processo, considerando não apenas os resultados, mas também as trajetórias individuais;
- Integrar tecnologias digitais, favorecendo o acesso a diferentes linguagens e mídias.
Essas competências demandam formação continuada, autonomia e flexibilidade por parte do docente. O professor torna-se, assim, um designer de experiências de aprendizagem, capaz de articular metodologias, recursos e objetivos pedagógicos.
- 6. Desafios enfrentados pelos professores
A implementação das metodologias ativas não ocorre sem desafios. Entre os principais estão:
- Resistência à mudança, tanto por parte de alguns docentes quanto de alunos acostumados ao ensino tradicional;
- Falta de infraestrutura tecnológica, que dificulta a aplicação de metodologias que dependem de recursos digitais;
- Carga horária e planejamento intensivo, pois as aulas ativas exigem maior tempo de preparação;
- Necessidade de formação docente específica, uma vez que muitos professores não tiveram contato com essas metodologias durante sua formação inicial;
- Avaliação coerente, pois é preciso desenvolver formas de avaliação que valorizem processos e não apenas resultados.
Superar esses desafios requer políticas públicas de valorização e formação docente, além de uma cultura escolar aberta à inovação.
- Benefícios das metodologias ativas
Apesar dos desafios, os resultados são amplamente positivos. As metodologias ativas:
- Estimulam o protagonismo e a autonomia dos alunos;
- Desenvolvem habilidades socioemocionais, como empatia, cooperação e resiliência;
- Melhoram o engajamento e o interesse pela aprendizagem;
- Favorecem a aprendizagem significativa, conectada ao cotidiano;
- Promovem a formação integral do sujeito, articulando saberes cognitivos, sociais e éticos.
Esses benefícios reforçam a importância do papel docente na mediação de processos ativos, pois sem a orientação do professor, a aprendizagem pode perder sentido ou profundidade.
- A formação docente e o futuro da educação
Para que o professor exerça com eficácia seu papel nas metodologias ativas, é essencial investir na formação inicial e continuada. A prática pedagógica precisa estar acompanhada de reflexão teórica, troca de experiências e atualização constante.
O futuro da educação requer profissionais inovadores, autônomos e colaborativos, capazes de articular metodologias tradicionais e contemporâneas, utilizando a tecnologia de forma crítica e consciente. O professor torna-se, assim, o elo entre o conhecimento e a vida, entre a escola e o mundo.
Conclusão
As metodologias ativas representam um avanço significativo na busca por uma educação mais humanizadora, participativa e voltada para o desenvolvimento integral do aluno. Elas rompem com o paradigma tradicional e colocam o estudante como protagonista do processo educativo. Nesse contexto, o papel do professor é fundamental, pois é ele quem planeja, orienta e media as experiências de aprendizagem.
Longe de ser um mero executor de conteúdos, o professor das metodologias ativas é um intelectual reflexivo, capaz de adaptar-se às mudanças e promover a construção do conhecimento de forma colaborativa. Sua função é criar oportunidades para que o aluno pense, descubra e se torne sujeito do próprio aprendizado.
Assim, a docência assume um caráter dinâmico e desafiador, exigindo do educador novas competências e uma postura aberta ao diálogo, à inovação e à constante formação. A transformação da prática docente é, portanto, condição essencial para que a escola cumpra seu papel social de formar cidadãos críticos, criativos e comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa e democrática.
Referências Bibliográficas
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