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Letramento, alfabetização e livro didático

Luciana Dallazen Rodrigues[1]

 

DOI: 10.5281/zenodo.17571881

 

 

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo evidenciar a relevância do letramento, da alfabetização e do livro didático no processo de ensino e aprendizagem nas escolas. Busca-se compreender como esses três elementos se articulam para promover o desenvolvimento integral do aluno, contribuindo para a formação de leitores e escritores críticos e autônomos. Neste contexto, abordaremos o letramento, a alfabetização e o uso do livro didático sob uma perspectiva histórica, analisando suas transformações desde os meados da década de 1980 até a atualidade. Pretende-se, assim, fortalecer a compreensão do leitor sobre a importância desses processos ao longo da história da educação, destacando suas contribuições para a construção do conhecimento e para o avanço das práticas pedagógicas.

 

Palavras-chave: Relevância do letramento. Alfabetização. Livro Didático.

 

 

ABSTRACT

This article aims to highlight the relevance of literacy, alphabetization, and textbooks in the teaching and learning process in schools. It seeks to understand how these three elements are articulated to promote the integral development of the student, contributing to the formation of critical and autonomous readers and writers. In this context, we will address literacy, alphabetization, and the use of textbooks from a historical perspective, analyzing their transformations from the mid-1980s to the present day. The intention is, therefore, to strengthen the reader's understanding of the importance of these processes throughout the history of education, highlighting their contributions to the construction of knowledge and the advancement of pedagogical practices.

 

Keywords: Relevance of literacy. Alphabetization. Textbook.

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

A alfabetização e o letramento constituem processos fundamentais na formação do sujeito leitor e escritor, sendo indispensáveis para o pleno desenvolvimento das competências comunicativas e sociais. A alfabetização refere-se ao processo de aprender a decodificar a escrita, ou seja, dominar o sistema alfabético e fonológico que permite compreender a correspondência entre sons e letras. O letramento, por sua vez, ultrapassa a mera decodificação, envolvendo a capacidade de utilizar a leitura e a escrita de maneira funcional, significativa e crítica em diferentes contextos sociais. Nesse cenário, o livro didático assume papel essencial como mediador do processo de ensino e aprendizagem, pois reúne um conjunto organizado de textos, atividades e propostas pedagógicas que favorecem tanto o domínio técnico da escrita quanto a inserção do aluno em práticas sociais de leitura e produção textual. Assim, compreender a articulação entre alfabetização, letramento e o uso do livro didático é fundamental para repensar as práticas pedagógicas e promover uma educação linguística que forme leitores e escritores autônomos, críticos e participativos na sociedade.

O trabalho de alfabetização tem sido foco de inúmeras indagações, sobretudo no que concerne ao trabalho do professor. Nesse contexto, se tem discutido bastante acerca do real caráter da mediação didática, bem como sobre formação docente sob vertentes outras: postura, situações experiências, sonhos, crenças e utopias do profissional professor.

Neste contexto abordaremos o letramento a alfabetização e os livros didáticos numa perspectiva anterior e atual, fortalecendo o leitor o quão é importante ler sobre este processo ao longo de nossa história desde os meados dos anos 80.

 

 

2  UMA ANÁLISE ENTRE MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS: O PAPEL DO LIVRO DIDÁTICO NA ALFABETIZAÇÃO E NO LETRAMENTO DESDE OS ANOS 1980

 

Se, no início da década de 80, os estudos acerca da psicogênese da língua escrita trouxeram aos educadores o entendimento de que a alfabetização, longe de ser a apropriação de um código, envolve um complexo processo de elaboração de hipóteses sobre a representação linguística; os anos que se seguiram, com a emergência dos estudos sobre o letramento  , foram igualmente férteis na compreensão da dimensão sociocultural da língua escrita e de seu aprendizado. Em estreita sintonia, ambos os movimentos, nas suas vertentes teórico-conceituais, romperam definitivamente com a segregação dicotômica entre o sujeito que aprende e o professor que ensina. Rompeu também com o reducionismo que delimitava a sala de aula como o único espaço de aprendizagem.

Reforçando os princípios antes propalados por Vygotsky e Piaget, a aprendizagem se processa em uma relação interativa entre o sujeito e a cultura em que vive. Isso quer dizer que, ao lado dos processos cognitivos de elaboração absolutamente pessoal (ninguém aprende pelo outro), há um contexto que, não só fornece informações específicas ao aprendiz, como também motiva, dá sentido e “concretude” ao aprendido, e ainda condiciona suas possibilidades efetivas de aplicação e uso nas situações vividas. Entre o homem e o saberes próprios de sua cultura, há que se valorizarem os inúmeros agentes mediadores da aprendizagem (não só o professor, nem só a escola, embora estes sejam agentes privilegiados pela sistemática pedagogicamente planejada, objetivos e intencionalidade assumida).

Neste sentido podemos apresentar o impacto dos estudos sobre o letramento para as práticas alfabetizadoras, capitaneada pelas publicações de Angela Kleiman, (95) Magda Soares (95, 98) e Tfouni (95), a concepção de letramento contribuiu para redimensionar a compreensão que hoje temos sobre:

- As dimensões do aprender a ler e a escrever;

- O desafio de ensinar a ler e a escrever;

- O significado do aprender a ler e a escrever;

- O quadro da sociedade leitora no Brasil;

- Os motivos pelos quais tantos deixam de aprender a ler e a escrever, e as próprias perspectivas das pesquisas sobre letramento.

Durante muito tempo a alfabetização foi entendida como mera sistematização do “B + A = BA”, isto é, como a aquisição de um código fundado na relação entre fonemas e grafemas. Em uma sociedade constituída em grande parte por analfabetos e marcada por reduzidas práticas de leitura e escrita, a simples consciência fonológica que permitia aos sujeitos associar sons e letras para produzir/interpretar palavras (ou frases curtas) parecia ser suficiente para diferenciar o alfabetizado do analfabeto.

Com o tempo, a superação do analfabetismo em massa e a crescente complexidade de nossas sociedades fazem surgir maiores e mais variadas práticas de uso da língua escrita. Tão fortes são os apelos que o mundo letrado exerce sobre as pessoas que já não lhes basta a capacidade de desenhar letras ou decifrar o código da leitura. Seguindo a mesma trajetória dos países desenvolvidos, o final do século XX impôs a praticamente todos os povos a exigência da língua escrita não mais como meta de conhecimento desejável, mas como verdadeira condição para a sobrevivência e a conquista da cidadania. Foram no contexto das grandes transformações culturais, sociais, políticas, econômicas e tecnológicas que o termo “letramento” surgiu  , ampliando o sentido do que tradicionalmente se conhecia por alfabetização (Soares, 2003).

Hoje, tão importante quanto conhecer o funcionamento do sistema de escrita é poder se engajar em práticas sociais letradas, respondendo aos inevitáveis apelos de uma cultura grafocêntrica. Assim, Enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio históricos da aquisição de uma sociedade (Tfouni, 1995, p. 20).

Com a mesma preocupação em diferenciar as práticas escolares de ensino da língua escrita e a dimensão social das várias manifestações escritas em cada comunidade, Kleiman, apoiada nos estudos de Scribner e Cole, define o letramento como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos. As práticas específicas da escola, que forneciam o parâmetro de  prática social segundo a qual o letramento era definido, e segundo a qual os sujeitos eram classificados ao longo da dicotomia alfabetizada ou não alfabetizada, passam a ser, em função dessa definição, apenas um tipo de prática – de fato, dominante – que desenvolve alguns tipos de habilidades, mas não outros, e que determina uma forma de utilizar o conhecimento sobre a escrita. (1995, p. 19)

Mais do que expor a oposição entre os conceitos de “alfabetização” e “letramento”, Soares valoriza o impacto qualitativo que este conjunto de práticas sociais representa para o sujeito, extrapolando a dimensão técnica e instrumental do puro domínio do sistema de escrita: Alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia – do conjunto de técnicas – para exercer a arte e ciência da escrita. Ao exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita denomina-se Letramento que implica habilidades várias, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos (In Ribeiro, 2003, p. 91).

“A alfabetização diz respeito à compreensão e ao domínio do chamado código escrito, que se organiza em torno de relações entre a pauta sonora da fala e as letras (e outras convenções) usadas para representá-la, a pauta, na escrita” (VAL, 2006, p. 19).

Alfabetização é um processo dentro do letramento, esta afirmação vem com muito mais força na concepção de Magda Soares que diz: Alfabetização é a ação de ensinar/aprender a ler e a escrever enquanto o letramento envolve o uso social da leitura e escrita em diferentes contextos.

Ao permitir que o sujeito interprete, divirta-se, seduza, sistematize confronte, induza, documente informe, oriente-se, reivindique, e garanta a sua memória, o efetivo uso da escrita garante-lhe uma condição diferenciada na sua relação com o mundo, um estado não necessariamente conquistado por aquele que apenas domina o código (Soares, 1998). Por isso, aprender a ler e a escrever implica não apenas o conhecimento das letras e do modo de decodificá-las (ou de associá-las), mas a possibilidade de usar esse conhecimento em benefício de formas de expressão e comunicação, possíveis, reconhecidas, necessárias e legítimas em um determinado contexto cultural. Em função disso, talvez seja a diretriz pedagógica mais importante no trabalho (dos professore), tanto na pré-escola quanto no ensino médio, seja a utilização da escrita verdadeira nas diversas atividades pedagógicas, isto é, a utilização da escrita, em sala, correspondendo às formas pelas quais ela é utilizada verdadeiramente nas práticas sociais. Nesta perspectiva, assume-se que o ponto de partida e de chegada do processo de alfabetização escolar é o texto: trecho falado ou escrito, caracterizado pela unidade de sentido que se estabelece numa determinada situação discursiva. (Leite, p. 25).

 


Essas imagens ilustram bem o conceito de letramento. É abrir as portas e janelas do mundo por meio da leitura, da oralidade e ser capaz de se relacionar bem nas diversas práticas sociais. "Letramento é, sobretudo, um mapa do coração do homem, um mapa de quem você é, e de tudo que pode ser.” Magda Soares.

Tomando os dois extremos como ênfases nefastas à aprendizagem da língua escrita (priorizando a aprendizagem do sistema ou privilegiando apenas as práticas sociais de aproximação do aluno com os textos), Soares defende a complementaridade e o equilíbrio entre ambos e chama a atenção para o valor da distinção terminológica:  Porque alfabetização e letramento são conceitos frequentemente confundidos ou sobrepostos, é importante distingui-los, ao mesmo tempo em que é importante também aproximá-los: a distinção é necessária porque a introdução, no campo da educação, do conceito de letramento tem ameaçado perigosamente a especificidade do processo  de alfabetização; por outro lado, a aproximação é necessária porque  não só o processo de alfabetização, embora distinto e específico, altera-se e reconfigura-se no quadro  do conceito de letramento, como também este é dependente daquele. (2003, p. 90)

Sob a ótica da formação profissional, isso implica acertar o passo das políticas educacionais e metodologias didático-pedagógicas, uma vez que é utopia crer que as tão sonhadas transformações e consequentemente as melhorias da educação advirão tão-somente pela mudança da postura do educador. É fato: a melhoria da educação só será impulsionada quando o sistema educacional, em todas as suas esferas, seja igualmente, sensibilizadas.

É preciso ir além e transcender o ensino didático mecanizado. Deve haver, logo, mais humanização, compromisso, ética e vontade de todos os envolvidos na educação, sejam na esfera administrativa, familiar e escolar.

É ai então, que entra os livros didáticos onde devem pautar-se pela clareza e correção dos conceitos e das informações que veicula e estimular a curiosidade e o interesse para o desenvolvimento dos conhecimentos, assim como instigar a discussão, a análise a crítica.

Os livros didáticos têm que ser isentos de erros, sua formulação tem que ser explicita, as concepções de ensino e de aprendizagem a partir das quais se estrutura. Os livros não são os únicos meios de ensino e aprendizagem, mais é um dos recursos mais eficazes à nossa disposição. Ele fornece informações, propõe atividades, ajuda a organizar o trabalho em classe, apresenta textos interessantes para leitura, entre outras funções.

Ensinar a ler vai muito além de ensinar a decodificar palavras em um texto. É um processo que deve orientar os alunos no emprego de estratégias de leitura, na busca de construção e reconstrução do significado de um texto.

O leitor utiliza de vários procedimentos e tais procedimentos são empregados pelos leitores quando observam, antecipam, avaliam, interpretam, enfim, ao fazerem a leitura do mundo que os rodeia.

Ler é um ato, pois, que exige esforço mental ativo, portanto, a importância de o professor intervir nesse processo, orientando, incentivando, ensinando novos procedimentos que facilitem a interpretação de um texto.

Ensinar a ler faz parte do conjunto de práticas sociais que constituem o letramento e não é suficiente, pois, decodificar a língua escrita para ser um ser letrado. É necessário apropriar-se de uma nova condição, ou seja, tornar-se usuário dessa língua como leitor e produtor de textos, selecionando o que é de seu interesse de acordo com suas intenções: interagir com o outro, orientar-se, influenciar, informar, instruir-se ou prescrever, entre outros. Expressar-se enfim, quando a comunicação escrita aos diferentes contextos e condição de produção não apenas relacionados ao espaço escolar.

 

 

3 LETRAMENTO, ALFABETIZAÇÃO E LIVRO DIDÁTICO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES NA FORMAÇÃO DO LEITOR DO SÉCULO XXI

 

Podemos perceber que ao longo dos anos, a alfabetização passou por transformações significativas: deixou de ser um processo centrado apenas na decodificação de sons e letras para adotar uma perspectiva mais ampla, que considera o contexto social, cultural e as experiências do aluno. Apesar dos avanços, ainda persistem desafios que dificultam o alcance pleno da alfabetização de todas as crianças, exigindo reflexões e práticas pedagógicas cada vez mais inclusivas e significativas.

A alfabetização no século XXI assume um papel fundamental na formação das crianças, constituindo-se como um passo essencial para o desenvolvimento das múltiplas linguagens e para o início do processo de letramento.

Nesse contexto, torna-se necessário buscar subsídios teóricos e práticos que permitam discutir as principais abordagens adotadas na alfabetização, bem como os desafios atuais enfrentados no campo educacional diante das constantes transformações sociais, tecnológicas e culturais.

Portanto, o livro didático surge como um importante mediador no processo de ensino e aprendizagem, especialmente nas etapas iniciais da alfabetização. Mais do que um simples instrumento de apoio, ele deve ser compreendido como um recurso pedagógico que orienta, amplia e enriquece as práticas educativas, desde que utilizada de forma crítica e contextualizada.

Quando o professor faz uso reflexivo desse material, relacionando seus conteúdos às vivências e realidades dos alunos, o livro didático torna-se um aliado na formação leitora e escritora, favorecendo a construção do conhecimento e o desenvolvimento das competências linguísticas e cognitivas. Assim, o processo de alfabetização e letramento ganha sentido social, aproximando a escola do cotidiano e da cultura dos estudantes.

O desafio do professor contemporâneo é articular as práticas de alfabetização e letramento de forma integrada e significativa. Atividades que envolvem a leitura de diferentes gêneros textuais, a produção de textos reais, as rodas de leitura e o uso de materiais complementares ao livro didático contribuem para uma aprendizagem mais ampla e contextualizada.

O educador deve, portanto, compreender o livro didático como ponto de partida, e não de chegada, promovendo experiências em que a leitura e a escrita assumam sentido e função social. A alfabetização diz respeito ao aprendizado do sistema alfabético de escrita — isto é, à capacidade de ler e escrever de maneira convencional. Já o letramento ultrapassa essa dimensão técnica, envolvendo o uso social da leitura e da escrita em situações reais de comunicação. Conforme afirma Magda Soares (2004), alfabetizar e letrar são processos que devem ocorrer simultaneamente e de forma integrada, pois o domínio do código e o uso social da linguagem escrita se completam mutuamente.

O livro didático constitui um dos principais recursos pedagógicos disponíveis nas escolas brasileiras, sendo amplamente distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Sua função é oferecer suporte ao planejamento escolar, orientando o trabalho docente e contribuindo para a organização do processo de ensino e aprendizagem. No entanto, é fundamental compreender que o livro didático deve ser visto como um instrumento de apoio, e não como um modelo único e absoluto a ser seguido.

Nesse contexto, o livro didático exerce uma função pedagógica e cultural de grande relevância. Ele organiza conteúdos, propõe atividades e, sobretudo, pode estimular o gosto pela leitura quando utilizado de modo reflexivo e criativo. Um material didático bem selecionado e mediado pelo professor oferece textos de diferentes gêneros, amplia o repertório linguístico dos estudantes e favorece o desenvolvimento da interpretação crítica. No entanto, é fundamental que o docente vá além das páginas do livro, articulando práticas de leitura diversificadas que dialoguem com o cotidiano e as vivências dos alunos.

Além disso, o contato com diversos tipos de textos — narrativos, poéticos, informativos, jornalísticos, entre outros — contribui para o desenvolvimento do sujeito leitor, autônomo e crítico, capaz de refletir sobre as mensagens e construir sentidos próprios. Assim, quando articulado a outras práticas pedagógicas, o livro didático torna-se um aliado na formação de leitores conscientes e participativos, preparados para compreender e interagir com o mundo por meio da linguagem.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) reconhecem a relevância dessa ideia e a incorporam como um dos pilares da prática pedagógica. Assim:

 

...se o objetivo é formar cidadãos capazes de compreender os diferentes textos com os quais se defrontem, é preciso organizar o trabalho educativo para que experimentem e aprendem isso na escola. Principalmente quando os alunos não têm contatos sistemáticos com bons materiais de leitura e com adultos leitores, quando não participarem de práticas onde ler é indispensável, a escola deve oferecer materiais de qualidade, modelos de leitores proficientes e práticas de leitores eficazes. "Cabe as instituições escolares proporcionarem aos alunos diversos materiais de apoio que possam desfrutar e avançar com eficácia o seu desenvolvimento na leitura". (1998, p.12)

 

Em outras palavras os PCN ressaltam que é papel essencial da escola criar um ambiente que favoreça o contato constante com a leitura, oferecendo oportunidades reais para que os alunos aprendam a compreender e a interpretar textos. Isso implica não apenas disponibilizar bons materiais, mas também promover experiências que envolvam a leitura em situações significativas, orientadas por educadores que sirvam como exemplos de leitores competentes.

Conforme ressalta Paulo Freire (1996), o educador deve atuar como mediador do conhecimento, adaptando os conteúdos e as atividades às vivências, aos saberes prévio e às necessidades dos alunos. Nessa perspectiva, quando o livro didático é utilizado de maneira crítica, reflexiva e criativa, torna-se um aliado essencial no processo de alfabetização e letramento, ao proporcionar o acesso a diferentes gêneros textuais e a propostas pedagógicas que ampliam o repertório cultural e linguístico dos estudantes.

Por outro lado, o uso mecânico e descontextualizado desse recurso pode reduzir o ensino à simples memorização de regras e conceitos, afastando o aluno das práticas reais de leitura e escrita e comprometendo o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa e emancipadora. Segundo Magda Soares (2003), alfabetizar significa ensinar o funcionamento do sistema de escrita alfabética, enquanto letrar envolve possibilitar o uso social e significativo da leitura e da escrita. Ambos os processos são indissociáveis, pois é essencial que o aluno aprenda não apenas a decodificar e escrever palavras, mas também compreenda os sentidos e as finalidades de ler e escrever.

Nessa perspectiva, Emilia Ferreiro e Ana Teberosky (1985) contribuíram de forma decisiva ao demonstrarem que a criança constrói hipóteses sobre a escrita, participando ativamente de seu próprio processo de alfabetização. Assim, o ensino deve reconhecer e valorizar as experiências linguísticas e culturais que o aluno traz consigo, compreendendo-as como ponto de partida para o desenvolvimento das práticas de leitura e escrita no contexto escolar.

Portanto no século XXI, a educação enfrenta o desafio de formar sujeitos críticos, autônomos e capazes de interagir de maneira significativa com o conhecimento e com a sociedade. Nesse cenário, alfabetização, letramento e o uso consciente do livro didático assumem um papel transformador, pois ultrapassam o simples ato de ler e escrever, promovendo a compreensão e a interpretação do mundo.

Dessa forma, o educador consolida seu papel de mediador essencial do conhecimento, transformando o livro didático em um recurso dinâmico, capaz de despertar a curiosidade e favorecer a construção ativa do saber. O uso crítico e contextualizado desse material possibilita que os estudantes compreendam a leitura como uma prática social significativa, e não apenas como uma tarefa escolar.

Em síntese, compreender a alfabetização e o letramento como processos complementares é essencial para a construção de uma educação mais significativa e transformadora. O livro didático, quando utilizado de forma crítica e criativa, pode se tornar um importante aliado nesse percurso, servindo como ponte entre o conhecimento escolar e as experiências sociais e culturais dos alunos. Contudo, é o professor quem desempenha o papel central nesse processo, mediando o saber, contextualizando os conteúdos e promovendo práticas que despertem o interesse, a curiosidade e o prazer pela leitura e pela escrita. Somente por meio de uma atuação pedagógica consciente e comprometida será possível formar leitores e escritores autônomos, críticos e participativos, capazes de compreender e transformar a realidade em que vivem.

 

 

4 CONCLUSÃO

 

A reflexão sobre o letramento, a alfabetização e o livro didático permite compreender que esses três elementos constituem pilares fundamentais do processo educativo, sobretudo na formação de sujeitos críticos, autônomos e socialmente participativos. A alfabetização, entendida como o domínio do sistema de escrita alfabética, e o letramento, como o uso social e significativo da leitura e da escrita, devem caminhar de forma integrada e indissociável, possibilitando ao aluno não apenas decodificar palavras, mas atribuir sentido ao que lê e escreve.

O livro didático, por sua vez, quando utilizado de maneira crítica e contextualizada, ultrapassa o papel de mero instrumento de ensino para se tornar um mediador do conhecimento. Ele deve ser visto como ponto de partida para práticas pedagógicas reflexivas, criativas e significativas, que dialoguem com as experiências, saberes e realidades dos estudantes. Assim, o ensino da leitura e da escrita adquire função social e emancipadora, aproximando o aluno do seu contexto e preparando-o para atuar conscientemente na sociedade.

Nesse cenário, o professor assume papel central como mediador da aprendizagem, sendo responsável por transformar o livro didático em um recurso vivo, dinâmico e formativo. Cabe-lhe promover práticas de leitura e escrita que estimulem a reflexão, o pensamento crítico e a autonomia intelectual, contribuindo para a formação integral do sujeito.

Conclui-se, portanto, que alfabetização, letramento e livro didático, quando articulados sob uma perspectiva crítica e humanizada, constituem caminhos essenciais para o fortalecimento da educação no século XXI. É por meio dessa integração que a escola poderá cumprir sua função social de formar cidadãos capazes de compreender, interagir e transformar o mundo por meio da linguagem.

 

 

REFERÊNCIAS

 

ARTIGO SOBRE alfabetização, intervenção didática e letramento: uma tríplice possível. Netsaber. Disponível em: http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_7600/artigo_sobre_alfabetizacao,_intervencao_didatica_e_letramento:_uma_triplice_possivel. Acesso em: 29 set. 2025.

 

FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1985. Acesso em: 9 ago. 2025.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. Acesso em: 29 set. 2025.

 

KLEIMAN, Ângela B. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. Campinas: Mercado de Letras, 1995. Acesso em: 29 set. 2025.

 

LEITE, Sérgio Antônio da Silva. Letramento e alfabetização: uma proposta de articulação teórico-metodológica. Campinas: Autores Associados, 2003. Acesso em: 29 set. 2025.

 

SCHI OCHETTI, Neuzi Schotten. Caderno de estudos: fundamentos e metodologia da alfabetização. Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2006. p. 80. Acesso em: 10 out. 2025.

 

SILVIA. Videtur. Disponível em: http://www.hottopos.com/videtur29/silvia.htm. Acesso em: 29 set. 2025.

 

SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2003. Acesso em: 10 out. 2025.

 

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. Acesso em: 10 out. 2025.

 

TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e alfabetização. São Paulo: Cortez, 1995. Acesso em: 10 out. 2025.

 

VAL, Maria da Graça Costa. Alfabetização e letramento: perspectivas linguísticas. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. Acesso em: 29 set. 2025.

 

[1] Autora: Graduada em Pedagogia, com Especialização em Educação Infantil e Anos Iniciais pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.;

 

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