Vulnerabilidade socioambiental no espaço urbano de Colíder/MT e as ações de planejamento e de gestão pública
Nayara Rodrigues Madruga Barboza
Naiane de Souza Madruga Carvalho
Planejamento e gestão de áreas de vulnerabilidade socioambiental em espaço urbano
2 PROBLEMA OU QUESTÃO DE PESQUISA
A expansão urbana, historicamente tem ocorrido sem o devido planejamento que atenda aos interesses dos cidadãos, e com a revolução industrial isso se tornou quase que incontrolável, a maioria das pessoas que morava no campo veio em direção à cidade em busca de melhoria de vida, o que contribui para o aumento das contradições no uso do espaço urbano, por conseguinte amplia-se também os problemas socioambientais. Locais de vulnerabilidade ambiental, como as Áreas de Preservação Permanente (APP), as encostas, fundo de vale, dentre outros, que deveriam ser preservados; em razão dos interesses capitalistas na produção do espaço, são ocupados, especialmente por população de baixa renda.
As contradições na produção do espaço urbano são evidentes, quando por exemplo, se verifica que há leis que proíbem a ocupação de áreas de vulnerabilidade ambiental; porém, como aponta Pólis et al (2001, apud SILVA et al, 2014), o uso dessas áreas é induzido por conta da especulação imobiliária que eleva o preço da terra, especialmente nas áreas centrais da cidade, dificultando o acesso da população de baixa renda ao solo urbano. Em contrapartida, os mesmos autores chamam a atenção, para a existência, no centro, de espaços vazios e imóveis subutilizados que são usados como reserva de mercado para a especulação imobiliária.
Souza (2003) ao pensar os baixos rendimentos de famílias residindo na cidade e a segregação residencial, expõe que é possível relacioná-los à degradação ambiental; portanto, conclui que há interação direta entre problemas sociais e impactos ambientais, portanto se estabelecendo no espaço urbano as áreas de vulnerabilidade socioambiental.
Para reduzir estas situações no espaço urbano se faz necessária a inserção da gestão das áreas de vulnerabilidade socioambiental nos Planos Diretores dos municípios para que o planejamento urbano seja eficaz, além do dever de contar com a participação da população residente nas áreas de vulnerabilidade, pois é ela que vivencia e conhece empiricamente o local.
Neste contexto a questão a ser respondida por esta proposta de pesquisa é em que deve se pautar o planejamento e a gestão de áreas de vulnerabilidade socioambiental para que possa contribuir para a recuperação da qualidade de ambiental e de vida da população?
Para elevar a qualidade ambiental e de vida da população se faz necessária a inserção da gestão das áreas de vulnerabilidade socioambiental nos Planos Diretores dos municípios para que o planejamento urbano seja eficaz, além disso deve-se contar com a participação da população residente nas áreas de vulnerabilidade, pois é ela que vivencia e conhece empiricamente o local
4.1 Objetivos Gerais
Evidenciar a necessidade de implementação da gestão de áreas de vulnerabilidade socioambiental e como deve ser elaborada de forma a aperfeiçoar os instrumentos da gestão urbana previstos no Plano Diretor.
4.2 Objetivos Específicos
Levantar junto aos autores especializados a importância do planejamento e da gestão de áreas de vulnerabilidade socioambiental;
Identificar como deve ser elaborado o plano de gestão de áreas de vulnerabilidade socioambiental;
Discutir a vulnerabilidade socioambiental em Colíder com o exemplo das ocupações da Área de Preservação Permanente do Córrego Jaracatiá;
Verificar quais são os instrumentos de gestão urbana previstos nos Planos Diretores de modo geral e de Colíder em específico que visem a gestão de áreas de vulnerabilidade socioambiental;
Apresentar propostas de ações para o plano de gestão urbana de áreas de vulnerabilidade socioambiental.
A realização desta pesquisa se justifica em razão de no âmbito do espaço urbano serem evidenciados os conflitos e as contradições por meio das formas de uso e ocupação do solo, assim a gestão socioambiental é uma questão que deve ser inserida no rol de debates e discussão acadêmica, pois apresenta-se com papel preponderante para se alcançar a redução dos conflitos, ao aliar as questões ambiental, social e econômica.
A pesquisa proposta procura evidenciar, por intermédio de bibliografia especializada, a necessidade de implementação de gestão de áreas de vulnerabilidade socioambiental e como esta deve se pautar para contribuir para a recuperação da qualidade ambiental e garantir o desenvolvimento econômico e social. Neste contexto a pesquisa proposta se torna de grande relevância no que toca tanto o plano científico quanto o social.
6.1 Vulnerabilidade
A vulnerabilidade é uma característica que indica um estado de fraqueza, que pode se referir quanto ao comportamento das pessoas, como objetos, lugares, dentre outros. No que concerne à palavra vulnerabilidade, Kuhnen (2009) aponta que ela:
Insere-se no cotidiano atual, reflexo de uma sociedade que se sente insegura e exposta ao perigo. Ao mesmo tempo o termo vem sendo usado das mais diversas formas e nos mais distintos contextos (vulneráveis no contexto da AIDS, crianças e jovens sem proteção da família, violência, exclusão social ou racial, ausência de privacidade etc.). (KUHNEN, 2009, p. 39).
Kuhnen (2009, p.39) aponta que Acserald faz uma alerta de que “na maioria das vezes a condição vulnerável é apontada para os sujeitos e não para os processos que os tornam vulneráveis”, e com este entendimento ele “propõe um modo mais politizado de entender a questão: as pessoas vulneráveis são aquelas vítimas de proteção desigual”.
A vulnerabilidade é uma noção relativa - está normalmente associada à exposição aos riscos e designa a maior ou menor susceptibilidade de pessoas, lugares, infra-estruturas ou ecossistemas sofrerem algum tipo particular de agravo. (ACSERALD, 2006, apud KUHNEN, 2009, p.39).
O autor Acserald (2006), segundo (KUHNEN, 2009, p.39), destaca que para eliminar a vulnerabilidade é necessário que as causas das privações sofridas pelas pessoas ou grupos sociais sejam ultrapassadas e que haja mudanças nas relações que os mesmos mantêm com o espaço social mais amplo que estão inseridos. Isto porque, segundo o autor encontram-se diferentes “vulnerabilidades” e condições que se articulam nos distintos momentos e localizações.
De acordo com Hogan e Marandola Jr. (2005), segundo Bata e Mariano (2015 p.39), “a vulnerabilidade é evocada na tradição de estudos sobre pobreza enquanto um novo conceito forte, na esteira dos utilizados em outros tempos como exclusão ou inclusão, marginalidades, apartheid, periferização, segregação, dependência, dentre outros”.
Mas não é somente a pobreza que se encaixa na vulnerabilidade, o meio ambiente em muitas situações se encontra em situação de vulnerabilidade, como por exemplo, as catástrofes naturais e ação antrópica deixa o meio ambiente em estado de vulnerabilidade.
O homem tem gerado significativos impactos sobre os ecossistemas. Problemas como poluição atmosférica, contaminação dos sistemas hídricos e destruição florestal são alguns dos danos diretos causados ao meio ambiente. Ao longo dos tempos a ação humana conceberam amplas consequências ao meio ambiente de complicados retornos.
Os recursos hídricos provavelmente sejam aqueles de maior importância para a evolução humana e econômica, eles são essenciais para agricultura, através de métodos de irrigação, para ocupação industrial e outras, que usam a água como matéria prima e fonte de energia.
Regiões localizadas na Europa, África, Índia, Leste asiático e centro dos Estados Unidos vêm apresentando redução na disponibilidade hídrica. A falta de água apropriado ao consumo humano já é uma realidade constatada em muitas partes do mundo (UNESCO, 2003 apud SANTIN, 2006, p.97).
Santin (2006) utilizando os dados da Unesco (2004) especifica que nos países em desenvolvimento, 50% da população utiliza água poluída, o país que mais se destaca é a Índia. Ressalta-se, segundo Santin (2006) que nos países de mais alta densidade populacional a situação se apresenta de forma mais grave. Ainda segundo dados da Unesco, atualmente cerca de dois bilhões de lixo são jogados diariamente em ambiente fluvial, como rios, lagos e riachos, o que contribui para a indisponibilidade de água potável, impossibilitando o acesso seguro da população mundial a este recurso.
Além das informações acima, a autora mencionada, apresenta, tendo como fonte a Unesco (2004), que ainda como agravante, a atividade agrícola com a finalidade de irrigação consome aproximadamente 70% de toda água no mundo fato que reduz a quantidade de água para o uso doméstico.
O continente africano é a região mais problemática, quando se analisa o acesso da população à fonte de água despoluída. Apesar da oferta ser abundante, prevalece uma grande porcentagem da população sem acesso à água potável, devido ao alto índice de poluição, decorrente, principalmente da atividade mineradora. A situação africana é tão grave que já se cogita a possibilidade de se ter conflitos armados envolvendo questões de acesso à água (BBC,2004, apud SANTIN, 2006, p.16).
A poluição hídrica também está relacionada com o despejo de substâncias poluentes e resíduos sólidos nos corpos de água e nos canais de drenagem de águas pluviais ou sobre áreas impermeabilizadas decorrentes de atividades urbanas.
6.2 Vulnerabilidade ambiental
A vulnerabilidade, segundo Lourenço et. al. (2007, p.235) “pode ser definida como uma situação em que o meio físico está vulnerável às pressões humanas”. Os autores destacam ainda que geralmente, estão presentes três fatores: “exposição ao risco, incapacidade de reação, e dificuldade de adaptação diante da materialização do risco”.
Jordão e Moretto (2015 P.81), seguindo o entendimento de Tobin e Montz (1997), esclarecem que o “conceito de vulnerabilidade ambiental também pode ser compreendido como a probabilidade que uma comunidade, estrutura, serviços ou áreas geográficas têm de ser danificada ou perturbada pelo impacto de um determinado perigo”.
De acordo com Luers (2005) apud Jordão e Moretto (2015 p.15) “a vulnerabilidade de pessoas e lugares é um fenômeno complexo que é definido pela longa história entre os seres humanos e o meio ambiente”. Os autores utilizam Kaperson et.al. (2005) para afirmar que a discussão sobre essa temática é de extrema importância, ao considerar “que muitas pessoas e lugares são afetados por mudanças nos ecossistemas e nos serviços ecossistêmicos, estando altamente vulneráveis a efeitos negativos com significativos danos ao bem-estar”. Santin (2006) explica que:
Nas últimas décadas, muitos estudos foram realizados na tentativa de avaliar os impactos causados pelas atividades humanas sobre o meio ambiente. Os resultados de tais estudos evidenciam a necessidade urgente de medidas capazes de reverter o processo de degradação ambiental. Desta forma, a identificação das vulnerabilidades ambientais se torna de grande importância para balizar e direcionar medidas que tenham por objetivo a preservação do ecossistema. (SANTIN,2006, p.91 e 92).
Lourenço at. Al. (2007) como Vevret (2002) expressam que a vulnerabilidade está ligada a processos intrínseco, que ocorrem em ambiente, em razão dos diferentes graus de conservação de suas características naturais, bem como a resiliência ou capacidade de recuperação após um dano, soma-se ainda os processos extrínsecos, que são por exemplo, relacionado a exposição a pressões ambientais futuras.
Nesta perspectiva, a vulnerabilidade ambiental pode ser entendida como uma capacidade ou incapacidade do meio natural a resistir e/ou a recuperar-se, após sofrer impactos decorrentes de atividades antrópicas, consideradas normais ou atípicas. Ressalta-se que a remoção da vegetação de uma floresta numa encosta, não pode ser considerada uma atividade antrópica normal, sobretudo, se for uma Área de Preservação Permanente.
6.3 Vulnerabilidade social
A vulnerabilidade social é um sério problema para a sociedade, as condições precárias de moradias, saneamentos deficitários, recursos financeiros insuficientes para a promover a subsistência dos indivíduos, são exemplos de fatores que contribuem para que muitas pessoas sejam reconhecidas como vulneráveis, em outras palavras expostas aos riscos sociais, sujeitas às situações de degradação social, em desigualdade socioeconômica.
Nas circunstâncias descritas anteriormente verifica-se que os indivíduos que podem ser considerados vulneráveis sociais, são aqueles que em razão de possuírem baixos ou nenhum rendimento, se não tiverem auxílio do governo ou de outros cidadãos, corre o risco de não sobreviver.
A vulnerabilidade social, como cita Wisner et al (2004), referenciado por Mendes et. al (2011), é um procedimento formado por seguimentos que rodeiam motivos intensos como, por exemplo, fatores históricos, políticos, econômicos, ambientais e demográficos que ajudam a fornecer diferenças sociais, um outro exemplo é uma ligeira urbanização, condições sociais e de vida pouco seguras, exposição e desigualdade ao risco.
Sendo assim para Hewitt (1983) apud Mendes et. al. (2011) o conceito de vulnerabilidade social surgiu como uma crítica explícita aos paradigmas dominantes e convencionais de análise dos desastres. Expressando o mesmo sentido Bolin (2006) citado por Mendes et. al. (2011) destaca a importância de averiguar os procedimentos econômicos e espaciais de segregação que constrangem certos grupos sociais a ocuparem áreas marcadas por perigos naturais e tecnológicos.
Com isso as zonas periféricas se destacam por concentrar um alto nível de pobreza, tendo que abrigar a maior parte da população de baixa renda. Essa situação acaba contribuindo para o agravo das condições de vulnerabilidade social e são nas regiões periféricas que se concentram os piores referenciais de segurança pública.
De acordo com Gomes e Pereira (2005) a situação de vulnerabilidade social da família de baixa renda está ligada diretamente à miséria estruturada, que é agravada pela crise econômica que coloca o cidadão ao desemprego.
Para Kaloustian e Ferrari (1994) citados por Gomes e Pereira (2005), por detrás de uma criança abandonada, em favela, em trabalho precoce e em situações de risco, está a família desassistida pela política oficial. Pode se afirmar, seguindo a linha de raciocínio dos autores, que quando se trata de criança em situação de risco, se está tratando de família abandonada, na medida em que a família encontra barreiras para realizar suas obrigações básicas de socialização e de amparo aos seus membros, criam-se situações de vulnerabilidade sociais.
Lopes (1998) afirma que as cidades estão se beneficiando com o desenvolvimento gerado pela nova geometria global, mas ao mesmo tempo se tornam receptoras dos inúmeros e complicados problemas que por elas são criados, como por exemplo:
As dualidades, as exclusões e inclusões, a riqueza e a pobreza, a cultura e a ignorância, a organização e a anomia, a participação e irrelevância, a segurança e a violência, e muitos outros, são hoje problemas característicos da sociedade urbana. A tudo isso se sobrepõe uma enorme crise de identidade que define a organização política institucional. O estado-nação está cada vez mais condicionado pelo fluxo de globalização que limita sua capacidade de atuação em quase todos os campos. Como alternativa a essa fragilização, as cidades como local de interseção com os fluxos globais tornam-se um importante componente da formação de identidade. (LOPES,1998, p.18).
Seguindo a linha de pensamento de Lopes (1998) em 1996 grande parte da humanidade começou a viver em cidades, e na atualidade pode-se dizer que, com exceção da África e da Ásia, os níveis de urbanização chegam a 70%. Nos espaços urbanos identificam-se dialeticamente a concentração e exclusão, para muitos o que resta, conforme Lopes (1998) é:
A desocupação ou a sobrevivência na informalidade como alternativa de vida, gerando um novo tipo de cidadania com diferentes valores sociais. O grande desafio da sociedade urbana é a diminuição do tamanho dessas áreas, através de um grande esforço de qualificação urbana, função basicamente de governos, de identificação cultural e de apoio social. (LOPES, 1998, p.64).
Maricato (2011) explica que com a enorme desigualdade social, a situação nas cidades piorou bastante nos últimos 30 anos e se os governos não tomarem providências cabíveis vai continuar piorando. Entende-se que neste contexto mais pessoas poderão se encontrar residindo em locais como os descritos abaixo.
O espaço urbano da moradia precária inclui as várias formas de provisão da moradia pobre: casas inacabadas, insalubres, congestionadas, localizadas em favelas ou invasões, em loteamentos ilegais, em áreas de riscos geotécnico ou sujeita a enchentes. (MARICATO, 2011, p.105).
Desta forma, nesse projeto de pesquisa entende-se que a vulnerabilidade social, não pode ser analisada separadamente da vulnerabilidade ambiental, haja vista a população carente ser obrigada, em razão dos seus poucos rendimentos ocupar áreas frágeis no ambiente urbano, como as áreas sujeitas às enchentes, de risco geotécnico, morros, encostas, Áreas de Preservação Permanente, dentre outras. Portanto, a análise deve partir do pressuposto de que os problemas sociais estão intrínsecos aos problemas ambientais, por isso o uso do termo vulnerabilidade socioambiental. Desta feita entende-se, conforme Alves e Torres (2006) que a vulnerabilidade socioambiental é a sobreposição de problemas e riscos sociais e ambientais em uma determinada área.
Para que haja avanço, redução deste tipo de situação, muitas ações necessitam ser realizadas, algumas já foram efetivadas e tiveram resultados positivos, um exemplo é o Programa Bolsa Família, um auxilio que nos últimos anos vem contribuindo para que muitas famílias saiam da indigência.
Segundo Maricato (2011, p.31) em dezembro de 2008, o Bolsa Família chegava a 11.353.445 famílias com recursos no valor de R$ 10,9 bilhões. Ainda segundo a autora o Programa Bolsa Família retirou 5,5 milhões de pessoas da indigência, e metade do recurso do Programa se destina a região Nordeste, onde os rendimentos do trabalho se configuraram como os mais deprimidos do país.
Neste cenário se mostra de suma importância na gestão urbana, o planejamento voltado ao atendimento das áreas de vulnerabilidade socioambiental na cidade.
6.4 Planejamento e gestão urbana
O processo de globalização, conforme Lopes (1988) trouxe para as cidades atuais diversas provocações, seja de possibilidades de desenvolvimento e geração de patrimônios, novas similaridades culturais, sociais, atuais formas de inclusão, diálogo, seja de desintegração social, duplicidades, restrições e violência. Dessa maneira exige novas linhas de pensamentos ao falar em cidade e lutar para arquitetar um futuro provável (LOPES,1998).
Existe um amplo interrogatório sobre o amanhã das cidades, o processo de urbanização de forma desordenada que traz como uma de suas consequências a pouca assistência à população, especialmente aquela de áreas mais carentes, ficando a população privada de equipamentos públicos, o que conduz a dúvidas sobre a atuação do poder público.
Desta forma, compreende-se que o planejamento urbano é um método de formação e desenvolvimento de programas que tem como propósito a busca melhorar a qualidade de vida da população que reside em área urbana. De acordo com Duarte (2007 apud FILHO e OLIVEIRA, 2013) o conceito de planejamento urbano, em muitos casos, se apresenta relacionando-se com outros vocábulos, como pode ser verificado na citação que segue:
O conceito de planejamento urbano sempre esteve relacionado a outros termos, como, desenho urbano, urbanismo e gestão urbana. Todos esses vocábulos, apesar de serem distintos, têm algo em comum: o seu objeto de estudo é a cidade, considerada tanto em relação a suas características físicas quanto sociais, culturais e econômicas. (DUARTE, 2007 apud FILHO E OLIVEIRA, 2013, p. 24).
Segundo Souza e Rodrigues 2004, planejamento e gestão são duas atividades diferentes, a diferença básica reside no tempo de cada uma. O planejamento tem a ver com o médio e longo prazo, o médio prazo pode se dizer um tempo de poucos anos e a longo prazo um período de muitos anos.
Seguindo a linha de pensamento de Souza e Rodrigues 2004 o grande desafio colocado diante da atividade de planejamento é o esforço de imaginar o futuro. No entanto, essa imaginação do futuro não é feita a partir do nada, para pensar e imaginar o futuro é necessário que se faça uma reflexão e uma análise prévia da situação atual, de maneira que se possa imaginar o desdobramento de seus processos.
A gestão refere-se ao curtíssimo prazo questão de dias ou semanas e ao curto prazo meses no máximo um ano. Podemos olhar o planejamento como a preparação de uma gestão futura, como pode se ver gestão e planejamento são duas coisas totalmente diferente, mas estão longes de serem rivais, elas são interdependentes. Souza e Rodrigues (2004)
Os planejadores urbanos geralmente trabalham junto com autoridades locais, na maioria das vezes é a prefeitura local, ou seja, da cidade, apesar de que nas últimas décadas tenham se destacado os especialistas que trabalham para empresas que apresentam projetos para o governo. O cotidiano de um planejador urbano integra a qualidade de vida dentro de uma certa comunidade. Uma comunidade é contemplada por um planejador urbano como um conjunto, em que todas as suas partes dependem umas das outras.
Lopes (1998, 35, p. 18) entende que “o Planejamento Estratégico de Cidade é um esforço de mobilização eficiente e direcionada de recursos, no seu sentido mais amplo”. Ainda complementa explicando que “não somente recursos físicos, humanos ou financeiros, como também recursos intangíveis de diversas naturezas”, o autor acaba exemplificando que as, “autoridades, prestígio político, características históricas, civilidades, devem ser considerados na definição de objetivos, ações, projetos, com resultados intangíveis, mas com efeitos concretos sobre a cidade”.
Seguindo a linha de pensamento de Lopes o planejamento estratégico de cidade surgiu como uma característica de um procedimento interativo atento em construir o futuro das cidades.
Na concepção de Carneiro e Façanha (2015, p. 1092) a gestão do espaço urbano não deve ficar a cargo apenas “de um agente ou de um conjunto de órgãos estatais”, embora se entenda que a administração da cidade é uma função pública. Entretanto, conforme os autores “governar uma cidade exige a percepção dos anseios da população; o estabelecimento de planos e programas que contemplem a equidade social do uso do solo urbano” e a mediação dos conflitos entre os diversos “agentes produtores de espaço urbano”.
Segundo Lopes (1998, p. 15) há a necessidade de analisar a cidade como um sistema vivo que precisa se interligar com o exterior, ter sua política de relações distintas como um objeto competitivo em um mercado mundial, mas no qual as linhas de competências encontram-se na obrigação de garantir a qualidade de vida das cidades.
Para Souza e Rodrigues (2004, p.15) o planejamento urbano é uma atividade que remete sempre para o futuro. É um meio que os homens têm de procurar entender o crescimento de um fenômeno ou de um processo, e a partir desse conhecimento, procurar se prevenir contra os problemas e dificuldades, e aproveitar da melhor maneira os benefícios possíveis.
Seguindo a mesma linha de pensamento dos autores citados acima o planejamento urbano é diferente de gestão urbana, enquanto planejamento pensa no futuro, a gestão urbana é uma atividade que remete ao presente ao aqui e agora. Ela é administração de determinadas situações dentro de uma situação, com os recursos disponíveis no presente tendo em vista as necessidades imediatas.
A pesquisa proposta é de cunho bibliográfico e terá como método de análise o materialismo histórico e dialético. Segundo Gomedi (2013) apud esse método foi Produzido por Kal Marx (1818-1883) e Freiedrich Engels (1820-1895) o materialismo histórico dialético é um enfoque teórico, metodológico e analítico entender a situação e as grandes mudanças da história e das sociedades. O termo materialismo se diz aceitação a condição material da existência humana, o termo histórico parte do conhecimento de que a percepção da existência humana mexe na compreensão de suas reservas históricas, e o termo dialético tem como suposição a mudança da incompatibilidade produzida na própria história.
A pesquisa bibliográfica, segundo Pizzani et al (2012, p. 54) se constitui em “levantamento bibliográfico ou revisão bibliográfica, a qual pode ser realizada em livros, periódicos, artigos de jornais, sites, entre outras fontes”. Este tipo de pesquisa é importante para o estudo a ser realizado porque pretende-se verificar como os autores especializados têm apresentado e debatido o planejamento e a gestão de áreas de vulnerabilidade socioambiental e como elas devem ser inseridas no Plano Diretor.
As informações sobre a vulnerabilidade socioambiental em Colíder serão levantas em Trabalhos de Conclusão de Curso que a tiveram como temática e realizaram a pesquisa empírica. Embora muitos dos dados apresentados nestes trabalhos são quali-quantitavos, a abordagem deles será qualitativa.
Compreende-se que a metodologia a ser empregada na pesquisa a ser desenvolvida é pertinente, pois possibilitará o entendimento da importância do planejamento e gestão urbana que visem propor ações para serem implantadas nas áreas de vulnerabilidade socioambiental com vistas a reduzir as situações de risco.
8 CRONOGRAMA DE ATIVIDADES DE PESQUISA
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