Análise curricular da modalidade EJA – um olhar interdisciplinar e transdiciplinar
Angélica de Oliveira Quirino
Neuilton Messias Bezerra Junior
Karen Joana Gomes Silva Rodrigues
Fabiana Cristina Nobre de Oliveira
Tamara Silva
RESUMO
O presente artigo tem a finalidade de fazer uma análise do currículo aplicado na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Bem como, com base na teoria da complexidade de Edgar Morin, fazer essa análise do currículo aplicado a EJA com base na importância do ensino votado para a interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade. Diante do exposto, faz se necessário fazer uma reflexão, de como a construção e aplicação do currículo pelos professores que atuam nessa modalidade podem contribuir para o sucesso ou fracasso do aluno, ou até mesmo a inclusão ou exclusão do educando no sistema de ensino. Através do levantamento de dados da pesquisa bibliográfica com a análise de artigos e outras publicações como teses e dissertações, buscou-se respostas de como o currículo é aplicado a EJA, bem como suas implicações positivas ou negativas nesta modalidade de Ensino. Por fim, abordou-se também como a teoria da complexidade de Edgar Morin pode produzir e trazer mudanças para a Educação de Jovens e Adultos, e também na formação dos professores desta modalidade.
Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos. Professores. Currículo. Transdisplinaridade.
ABSTRACT
The present article aims to analyse the curriculum applied in Youth and Adult Education (EJA). Furthermore, based on Edgar Morin’s complexity theory, it seeks to analyse the curriculum applied in EJA considering the importance of education geared towards interdisciplinarity and transdisciplinarity. In light of this, it becomes necessary to reflect on how the construction and implementation of the curriculum by teachers working in this modality can contribute to students’ success or failure, or even to their inclusion or exclusion within the educational system. Through data gathered from bibliographic research, including the analysis of articles and other publications such as theses and dissertations, answers were sought regarding how the curriculum is applied in EJA, as well as its positive or negative implications in this educational modality. Finally, the article also addresses how Edgar Morin’s complexity theory can produce and bring changes to Youth and Adult Education, as well as to the training of teachers working in this area.
Keyword: Youth and Adult Education. Teachers. Curriculum. Transdisciplinarity.
INTRODUÇÃO
A trajetória histórica da EJA expõe a importância de refletir sobre estratégias educacionais que contribuam para o desenvolvimento dos processos de aprendizagem desses sujeitos. Bem como, a EJA pode também, facilitar a redução das disparidades educacionais e oferecer oportunidades igualitárias de aprendizado e consequentemente contribuir para a formação de cidadãos mais informados e ativos, que se tornam mais aptos ao envolvimento cívico, a participação na comunidade e a tomada de decisões.
Portanto, na presente pesquisa buscou apresentar a importância do currículo na Educação de Jovens e Adultos - EJA, uma vez que de acordo com Gimeno (2000), o currículo supõe a concretização dos fins sociais e culturais, de socialização, que atribui à educação escolarizada, ou de ajuda ao desenvolvimento, de estímulo e cenário do mesmo, o reflexo de um modelo educativo determinado, pelo que necessariamente tem de ser um tema controvertido e ideológico, de difícil concretização num modelo ou proposição simples. O currículo relaciona-se com a instrumentalização concreta que faz da escola um determinado sistema social, pois é através dele que lhe dota de conteúdo, missão que se expressa por meio de usos quase universais, embora por condicionamento e pela peculiaridade de cada contexto, se expresse em ritos, mecanismos, que adquirem certa especificidade em cada sistema educativo.
Buscou-se ainda com base na teoria da complexidade de Edgar Morin, evidenciar que uma a análise do currículo nesta modalidade revela desafios complexos, desde a adequação de conteúdos à realidade dos alunos até a formação de professores para atuar com esta diversidade. Assim, refletir sobre o currículo da EJA torna-se essencial para promover inclusão educacional, o exercício da cidadania e a valorização do saber adquirido ao longo da vida, dentro da proposta da transdisciplinaridade.
O artigo está organizado em títulos e subtítulos com temas voltados para Educação de Jovens e adultos e currículo, da complexidade de Edgar Morin, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, no contexto de formação de professores e trabalho pedagógico colaborativo.
EJA E SUAS DEMANDAS CURRICULARES.
A Educação de Jovens e Adultos - EJA constitui-se como uma modalidade de ensino essencial para a promoção da justiça social, garantindo o direito à educação àqueles que, por diferentes razões, não concluíram os estudos na idade regular. Com características próprias, a EJA vai além da simples transmissão de conteúdos, pois busca reconhecer e valorizar as vivências, experiências prévias e trajetórias dos alunos adultos, integrando-as ao processo educativo. Entre os teóricos que fundamentam essa modalidade, destaca-se Paulo Freire, cujas ideias transformadoras permanecem atuais ao propor uma educação libertadora e consciente, pautada no diálogo, na reflexão crítica e na ação coletiva.
Paulo Freire, critica a chamada educação bancária, caracterizada por práticas que tratam o estudante como receptor passivo de informações, defendendo, em contrapartida, uma pedagogia que desenvolva a autonomia intelectual e social do educando. Para ele, a educação deve partir da realidade concreta do aluno, estimulando a consciência crítica e possibilitando a compreensão e transformação do mundo em que vive. Essa abordagem é especialmente significativa para a EJA, pois seus alunos carregam múltiplas experiências de vida que devem ser consideradas como ponto de partida para a construção do conhecimento.
Em termos legais, a Resolução CNE/CEB nº 1/2000 estabelece que o currículo da EJA deve ter planejamento diferenciado, adequado às especificidades dos alunos jovens, adultos e idosos. Essas diretrizes reforçam que a EJA é um direito assegurado por lei, sendo sua oferta uma obrigação do Estado, garantindo não apenas o acesso, mas também a permanência e a aprendizagem significativa desses estudantes.
Conforme Nery (2024), a flexibilidade curricular constitui um princípio central na EJA, permitindo adaptar conteúdos, metodologias e estratégias pedagógicas às realidades dos estudantes adultos. No entanto, a prática revela desafios para efetivar essa flexibilidade, tais como a rigidez de alguns sistemas educacionais, a falta de formação específica dos professores e a escassez de recursos didáticos adequados. Além disso, embora a valorização dos conhecimentos prévios seja reconhecida como essencial, sua validação formal ainda enfrenta obstáculos burocráticos e metodológicos que dificultam o avanço escolar e a certificação dos alunos.
A motivação e o engajamento dos alunos adultos também dependem diretamente das práticas pedagógicas adotadas. Pesquisas indicam que professores que utilizam materiais didáticos conectados com as vivências dos estudantes, incluindo situações reais, casos práticos e recursos digitais, conseguem maior participação e interesse nas aulas. O uso de plataformas digitais e roteiros de estudo favorece a autonomia, permitindo que cada aluno organize seu tempo de aprendizagem conforme suas possibilidades.
Silva e Oliveira (2023, apud Nery, 2024) destacam que o sucesso na EJA exige metodologias ativas, sensibilidade às trajetórias de vida dos alunos e estratégias pedagógicas que respeitem suas singularidades. Estabelecer metas claras e realistas também se apresenta como elemento motivador, pois permite ao aluno visualizar seus avanços, promovendo a construção de um ambiente educativo inclusivo e acolhedor.
Por fim, a formação de professores para a EJA é um fator determinante para a qualidade do ensino ofertado. Nogueira e Lima (2024) defende que tanto a formação inicial quanto a continuada devem contemplar conteúdos teóricos e práticos específicos para a EJA, abordando a pedagogia de adultos e proporcionando experiências supervisionadas em sala de aula. Somente assim os docentes estarão preparados para lidar com os desafios e potencialidades dessa modalidade, atuando como agentes de transformação na vida dos alunos.
A Educação de Jovens e Adultos é mais do que um espaço de recuperação escolar: é uma oportunidade de transformação pessoal, social e profissional para pessoas que, em muitos casos, foram historicamente excluídas dos processos educativos formais. Para cumprir essa missão, é fundamental que a EJA seja orientada por princípios de flexibilidade, diálogo, valorização das experiências de vida e práticas pedagógicas que estimulem a autonomia dos estudantes. Além disso, políticas públicas eficazes, formação docente adequada e integração entre educação básica e profissionalizante são imprescindíveis para garantir que a EJA cumpra seu papel emancipador, promovendo uma sociedade mais justa, inclusiva e democrática.
O ENSINO NA EJA E A TEORIA DA COMPLEXIDADE
A Educação de Jovens e Adultos - EJA exige abordagens pedagógicas que transcendam métodos tradicionais, considerando as especificidades do público atendido. Nesse contexto, a Teoria da Complexidade, proposta por Edgar Morin, apresenta-se como uma perspectiva capaz de contribuir significativamente para a prática docente na EJA, ao propor a integração de saberes e a superação de fragmentações disciplinares, alinhando o conhecimento escolar à realidade vivida pelos estudantes.
A Teoria da Complexidade defende que o conhecimento não deve ser compartimentado em disciplinas isoladas, mas compreendido como uma rede interligada de saberes que se complementam. Morin enfatiza a necessidade de um olhar transdisciplinar, o professor ultrapassa os limites de sua área de formação e relaciona seus conteúdos com outros campos do saber, possibilitando uma aprendizagem mais contextualizada e significativa.
No âmbito da EJA, essa visão contribui para o desenvolvimento de práticas pedagógicas mais abertas, criativas e próximas das vivências dos estudantes adultos. A transdisciplinaridade, enquanto desdobramento da Teoria da Complexidade, propõe que o docente se disponha a aprender continuamente, integrando novos conhecimentos à sua prática, para além de sua disciplina específica, criando pontes com outros saberes que dialoguem com o cotidiano do aluno.
Entretanto, essa proposta enfrenta desafios para sua efetivação. Muitos professores demonstram resistência, seja pela falta de formação específica para atuar de maneira transdisciplinar, seja pela dificuldade de romper com modelos pedagógicos tradicionais, nos quais cada disciplina funciona de forma estanque. Além disso, o trabalho colaborativo necessário para construir práticas transdisciplinares requer não apenas disponibilidade individual, mas também o apoio de toda a gestão pedagógica, que deve organizar momentos de formação coletiva, planejamento conjunto e definição de objetivos comuns.
A da Teoria da Complexidade na EJA representa uma oportunidade para construir práticas pedagógicas integradas, contextualizadas e dialógicas, aproximando o conhecimento escolar da realidade dos estudantes. Contudo, sua implementação exige formação continuada, abertura ao trabalho colaborativo entre docentes de diferentes áreas e apoio institucional que favoreça a construção de projetos transdisciplinares. Dessa forma, será possível desenvolver uma educação que reconheça a pluralidade dos saberes e potencialize a formação crítica, emancipatória e cidadã dos alunos da EJA.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise sobre a Educação de Jovens e Adultos (EJA) evidencia a necessidade de uma prática pedagógica que vá além da simples transmissão de conteúdos, reconhecendo as múltiplas dimensões que compõem a trajetória dos estudantes adultos. Nesse sentido, a flexibilidade curricular surge como um princípio essencial para adequar os conteúdos, métodos e estratégias de ensino às realidades concretas desses alunos, respeitando suas experiências, saberes prévios, expectativas e demandas sociais.
Ao integrar a Teoria da Complexidade, proposta por Edgar Morin, ao ensino na EJA, amplia-se a compreensão de que os saberes não podem ser fragmentados em disciplinas isoladas, mas devem dialogar entre si, formando uma rede integrada de conhecimentos significativos e contextualizados. Essa perspectiva valoriza a transdisciplinaridade como ferramenta para superar práticas pedagógicas rígidas, promovendo uma educação que forme cidadãos críticos, autônomos e preparados para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.
Contudo, para que essas propostas se concretizem, é indispensável investir na formação inicial e continuada dos professores, promovendo o desenvolvimento de competências para o trabalho interdisciplinar e transdisciplinar, além de fomentar espaços de planejamento coletivo que envolvam toda a equipe pedagógica. Também é necessário fortalecer políticas públicas que garantam recursos, estrutura adequada e organização curricular compatível com as especificidades da EJA.
Assim, o compromisso com uma educação inclusiva, emancipadora e transformadora requer esforços conjuntos de educadores, gestores, formuladores de políticas públicas e comunidade escolar. Somente dessa forma será possível construir práticas educativas que reconheçam e valorizem a diversidade dos sujeitos da EJA, assegurando-lhes o direito de aprender de maneira significativa e de participar plenamente da vida social, cultural e profissional.
REFERÊNCIAS
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