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Desafios e estratégias pedagógicas para a inclusão de alunos com transtorno do espectro autista (TEA) nos anos iniciais do Ensino Fundamental

Jady Isabela Rodrigues Ligor

 

DOI: 10.5281/zenodo.17434954

 

 

RESUMO

A inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental é um direito garantido por lei e um compromisso ético com a diversidade. Entretanto, esse processo apresenta desafios que envolvem desde a formação docente até a adaptação do ambiente escolar. A falta de preparo específico dos professores, as dificuldades de comunicação e a ausência de estratégias adequadas podem comprometer o aprendizado e a socialização desses estudantes. Diante disso, práticas como o uso de suportes visuais, a elaboração do Plano de Ensino Individualizado (PEI), a atuação do Professor de Apoio e o emprego da Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) mostram-se fundamentais para o sucesso da inclusão. O trabalho destaca que a inclusão efetiva depende de uma ação pedagógica planejada, colaborativa e centrada nas necessidades singulares do aluno com TEA, de modo a promover sua autonomia, participação e desenvolvimento integral.

 

Palavras-chave: Inclusão escolar. Autismo. Educação Especial. Comunicação Aumentativa e Alternativa. Plano de Ensino Individualizado.

 

 

Desenvolvimento:

 

A inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental é um dever legal e ético. No entanto, este processo traz consigo desafios consideráveis, que exigem preparo especializado e flexibilidade institucional por parte do ambiente escolar. O sucesso desta empreitada depende, em grande parte, da capacidade da escola e de seus profissionais de adaptar o espaço físico, as metodologias de ensino e a comunicação às necessidades particulares desses estudantes.

O maior desafio, frequentemente, reside na formação e na confiança do corpo docente. A falta de conhecimento sobre o TEA e suas características – como as dificuldades na interação social, os padrões de comportamento restritos e repetitivos e a sensibilidade sensorial – causa insegurança na aplicação de práticas pedagógicas apropriadas.

Além disso, as formas de comunicação e a rotina escolar tradicional podem funcionar como obstáculos. Alunos com TEA, via de regra, precisam de previsibilidade e podem reagir negativamente a alterações inesperadas ou a ambientes desorganizados, fatores que nem sempre são priorizados em uma sala de aula regular.

A dificuldade em expressar as próprias necessidades ou em compreender as regras sociais pode levar à frustração, o que frequentemente desencadeia comportamentos desafiadores.

Para lidar com estas dificuldades, as estratégias de intervenção pedagógica devem ser focadas na organização e no uso de suportes visuais. A implementação de um Plano de Ensino Individualizado (PEI) é essencial, pois permite que as adequações curriculares e avaliativas sejam elaboradas considerando as forças e limitações de cada aluno.

No cotidiano escolar, o uso de quadros de rotina e calendários visuais facilita a antecipação das atividades, representando visualmente a sequência de eventos. Esta antecipação visual ajuda a reduzir a ansiedade e facilita a transição entre tarefas. As instruções devem ser objetivas, visuais e, em muitos casos, a demonstração prática é fundamental para a verificação da compreensão. É importante, ainda, que a utilização de interesses restritos do aluno como ponto de partida para o ensino seja vista como uma ferramenta eficaz de engajamento.

O Professor de Apoio ou Acompanhante Especializado desempenha um papel crítico, atuando como o agente facilitador para a participação e o acesso pleno do aluno com TEA ao currículo escolar.

Sua função principal não é substituir o professor titular na docência do conteúdo, mas sim servir como mediador entre o estudante e o ambiente pedagógico. Este profissional oferece suporte na organização e na autorregulação, auxiliando o aluno a assimilar e seguir a rotina, a manejar crises sensoriais ou emocionais e a navegar pelas interações sociais. Sua atuação é necessária para o fomento da autonomia, garantindo que o aluno consiga participar das atividades, interagir com os colegas com segurança e dignidade, e retirando gradualmente o apoio conforme o progresso do estudante.

A Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) é essencial, principalmente para aqueles que apresentam deficiências na comunicação verbal funcional. A CAA inclui recursos de baixa tecnologia, como pranchas e cartões de comunicação com símbolos (e.g., PECS), e também tecnologias avançadas, como comunicadores eletrônicos com saída de voz.

Ao proporcionar meios práticos de expressão, a CAA possibilita ao aluno com TEA expressar suas necessidades, desejos e frustrações, o que leva a uma diminuição significativa na incidência de comportamentos-problema.

Não se limitando à expressão, a CAA funciona como um caminho para o desenvolvimento da linguagem e para o processo de alfabetização, oferecendo um sistema visual que simplifica a abstração e incentiva a participação ativa na trajetória de aprendizagem.

Em suma, a inclusão de alunos com TEA nos anos iniciais do ensino fundamental demanda um esforço colaborativo que exige uma reestruturação da perspectiva e da prática educacional. Com uma organização pedagógica estruturada, o suporte individualizado do Professor de Apoio e o uso estratégico da CAA, a escola pode se tornar um ambiente verdadeiramente inclusivo, capaz de acolher a neurodiversidade e impulsionar o desenvolvimento integral de cada um de seus alunos.

 

 

CONCLUSÃO

 

A inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista nos anos iniciais do Ensino Fundamental exige um olhar mais sensível e humanizado, planejamento pedagógico individualizado e trabalho colaborativo entre todos os profissionais da escola. O processo de inclusão não se resume à inserção do aluno na sala de aula, este é só o primeiro passo, se necessita, contudo, que sejam criadas condições que lhe permitam participar ativamente, expressar-se, aprender e desenvolver sua autonomia.

A atuação do Professor de Apoio é essencial para garantir a mediação adequada entre o estudante, os colegas e o ambiente escolar. Da mesma forma, o uso da Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) amplia as possibilidades de expressão e reduz barreiras comunicativas, contribuindo para o desenvolvimento da linguagem e para a redução de comportamentos desafiadores.

Portanto, a inclusão de alunos com TEA é uma tarefa complexa, mas possível e necessária. Com formação continuada, empatia e compromisso pedagógico, as escolas podem transformar-se em espaços verdadeiramente inclusivos, valorizando a neurodiversidade e promovendo o desenvolvimento integral de todos os alunos.

 

 

REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 7 jul. 2015.

 

BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008.

 

CARVALHO, Rosita Edler. Educação inclusiva: com os pingos nos “is”. Porto Alegre: Mediação, 2016.

 

SCHWARTZMAN, José Salomão. Transtorno do Espectro do Autismo: conceitos e generalidades. Revista CEFAC, v. 15, n. 3, p. 673-677, 2013.

 

SILVA, Ana Cláudia; LIMA, Patrícia de Oliveira. A importância do professor de apoio na inclusão de alunos com autismo. Revista Educação e Linguagem, v. 25, n. 2, p. 45–58, 2021.

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