Integração de práticas de ABA no contexto escolar para alunos com TEA em Sinop-MT: um estudo sobre a colaboração entre educadores e profissionais de saúde
Luzilene Ramos
Justificativa
Muitas escolas enfrentam dificuldades em adaptar o ambiente e as práticas pedagógicas às necessidades de alunos com TEA, e em Sinop-MT possui essas dificuldades no Ensino da Educação Básica. A ABA tem demonstrado resultados positivos em contextos clínicos, mas a transposição dessas práticas para o ambiente escolar ainda é um desafio, especialmente em relação à formação de professores e à adaptação das técnicas para o dia a dia da sala de aula.
Objetivo Geral
O objetivo desta investigação é compreender como a aplicação de práticas da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) pode ser integrada ao ambiente escolar de maneira eficaz para promover o aprendizado e o desenvolvimento social de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A pesquisa se concentrará em identificar estratégias baseadas em ABA que possam ser aplicadas tanto por professores quanto por profissionais de apoio escolar, como terapeutas comportamentais, visando uma abordagem colaborativa e interdisciplinar.
Essa investigação buscará compreender como os princípios da ABA podem ser adaptados ao contexto escolar para facilitar o desenvolvimento de habilidades acadêmicas e sociais dos alunos com TEA. Para os professores, o foco estará na utilização de técnicas que incluam reforço positivo, instruções claras e sequenciais, discriminação de comportamentos, estabelecimento de rotinas estruturadas e o uso de recursos visuais para promover o engajamento e a compreensão. Além disso, serão exploradas formas de adaptar essas estratégias às necessidades individuais de cada aluno, promovendo uma inclusão mais personalizada e efetiva.
No caso dos profissionais de apoio escolar, como terapeutas comportamentais, a aplicação de ABA poderá envolver intervenções específicas para o ensino de habilidades sociais, gerenciamento de comportamentos desafiadores e fortalecimento de interações positivas em sala de aula. Esses profissionais desempenham um papel essencial ao orientar e apoiar os professores na implementação de práticas de ABA, promovendo uma intervenção coordenada que beneficia tanto o ambiente de aprendizado quanto o desenvolvimento integral dos alunos com TEA.
A integração dessas práticas exige capacitação contínua e uma visão compartilhada entre todos os envolvidos, permitindo que as estratégias de ABA sejam aplicadas de maneira coesa e sustentável. Com isso, espera-se que o estudo contribua para a construção de um modelo de práticas inclusivas que favoreçam o desenvolvimento acadêmico e social dos alunos com TEA, fortalecendo as escolas como ambientes de aprendizado acessíveis e acolhedores para todos.
Objetivos específicos
Mapeamento das Práticas de ABA nas Escolas Municipais de Sinop-MT: Realizar um levantamento detalhado das escolas municipais em Sinop, identificando aquelas que já aplicam a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e aquelas que ainda não utilizam essa abordagem. Esse mapeamento permitirá uma visão geral da adoção de ABA no município, bem como das escolas que estão abertas a implementar apoio clínico para atender alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA);
Análise das Dificuldades dos Profissionais do AEE e Professores Regentes na Aplicação de ABA: Investigar os principais desafios enfrentados pelos profissionais do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e pelos professores regentes na aplicação das práticas de ABA. Essa análise incluirá entrevistas e questionários para captar as percepções, limitações e necessidades desses profissionais, identificando aspectos práticos, recursos pedagógicos e apoio institucional necessário para uma implementação mais eficaz.
Propostas de Capacitação e Formação com Profissionais de Saúde para Instituições Necessitadas: Desenvolver propostas de formação continuada e cursos voltados para a capacitação em ABA, voltados às escolas que não aplicam essa prática e carecem de conhecimento especializado em Sinop-MT. Essas formações, realizadas em parceria com profissionais da saúde especializados em ABA, terão como objetivo fornecer ferramentas teóricas e práticas aos educadores, visando ampliar o atendimento inclusivo e promover o desenvolvimento acadêmico e social dos alunos com TEA.
Procedimentos Metodológicos
O projeto iniciará com uma Revisão de Literatura abrangente, visando aprofundar o conhecimento teórico sobre a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) no contexto educacional e seus impactos no atendimento de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esse primeiro momento permitirá uma base sólida para o estudo, examinando pesquisas que exploram os desafios e benefícios da integração de práticas clínicas em escolas.
Na segunda fase, será conduzido um estudo de caso em escolas da rede municipal, considerando aquelas que já aplicam práticas de ABA, as que estão abertas a receber apoio clínico e também aquelas que ainda não adotaram essa abordagem. Esse levantamento permitirá mapear a diversidade de práticas e a receptividade institucional em relação ao uso de ABA no ambiente escolar.
A terceira fase envolve a coleta de dados qualitativos por meio de entrevistas e questionários com professores, terapeutas e familiares, visando identificar as principais dificuldades e facilidades encontradas na adaptação das práticas de ABA ao contexto escolar. Essa etapa fornecerá uma visão ampla das percepções e experiências dos envolvidos, revelando obstáculos e possíveis soluções para a implementação efetiva de práticas clínicas nas escolas.
Em seguida, será realizada a observação direta e o registro das práticas de ABA em sala de aula, buscando compreender o impacto dessa abordagem nas habilidades acadêmicas e sociais dos alunos com TEA. Essa etapa permitirá uma análise prática e detalhada da aplicação das técnicas de ABA, possibilitando ajustes e melhorias conforme necessário.
Por fim, com base nos resultados obtidos, serão elaboradas propostas específicas para a implementação das práticas de ABA nas salas de Atendimento Educacional Especializado (AEE) e para o trabalho conjunto com professores regentes. Essas diretrizes servirão como um guia para promover uma integração mais eficaz entre a prática clínica e o ambiente educacional, contribuindo para o desenvolvimento integral dos alunos com TEA.
Referencial Teórico
No Brasil, a educação especial foi oficialmente reconhecida como uma modalidade da educação escolar no ensino regular com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) em 1996. Esse marco legal trouxe à tona uma série de questionamentos sobre como promover efetivamente a aprendizagem de estudantes com necessidades educacionais específicas.
A inclusão escolar visa garantir a presença de todos os indivíduos no ambiente educacional, independentemente de seu nível de comprometimento cognitivo ou social, buscando atenuar a discriminação e promover a socialização em um espaço compartilhado. Nesse contexto, Farias (2006) argumenta que o educador tem a responsabilidade de desenvolver estratégias pedagógicas que atendam às necessidades específicas desses alunos, adotando metodologias que se adequem a cada caso.
No entanto, ao se depararem com alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que frequentemente apresentam um conjunto de habilidades e desafios singulares, surge a questão: estão os educadores devidamente preparados para atender de forma plena às necessidades desses estudantes? Para que a inclusão seja realmente efetiva, é necessário que o corpo docente esteja capacitado e apoiado com estratégias baseadas em evidências, que permitam não apenas o aprendizado acadêmico, mas também o desenvolvimento social e emocional desses alunos.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição crônica e permanente que afeta o desenvolvimento em diversas áreas, exigindo uma abordagem multidisciplinar para que o indivíduo alcance seu potencial de desenvolvimento. Devido à ampla variabilidade no espectro autista, muitos casos demandam um atendimento especializado e adaptado às necessidades individuais, variando conforme o nível de comprometimento.
A intervenção precoce, bem estruturada e baseada em evidências, tem um papel fundamental nesse contexto. Quando iniciada nos primeiros anos de vida e conduzida de maneira eficaz, essa intervenção pode minimizar comportamentos inadequados e promover o desenvolvimento de habilidades sociais, cognitivas e comunicativas. O sucesso de uma abordagem individualizada e precoce reside na capacidade de maximizar o potencial de aprendizagem e adaptação do aluno, favorecendo uma inclusão escolar mais efetiva e uma melhor qualidade de vida, neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo identificar as instituições de ensino na cidade de Sinop-MT que adotam a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) como metodologia para alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A pesquisa buscará avaliar a presença e a qualidade da aplicação de ABA, identificando as práticas utilizadas e os resultados alcançados para o desenvolvimento desses alunos.
Nos casos em que a ABA ainda não seja adotada, o trabalho visa desenvolver propostas de formação e sensibilização para os profissionais da educação, apresentando os princípios e técnicas dessa abordagem. A intenção é capacitar os educadores e outros agentes escolares para aplicarem a ABA de forma prática e eficaz, demonstrando como essa metodologia pode favorecer a inclusão, potencializar o aprendizado e promover o desenvolvimento de habilidades sociais e comportamentais nos alunos com TEA.
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é, fundamentalmente, um sistema teórico baseado em evidências empíricas, utilizado para explicar e modificar o comportamento humano (HEFLIN; ALAIMO, 2007). Contudo, uma definição mais abrangente da ABA exige compreender essa disciplina como uma abordagem científica, tecnológica e profissional. Como ciência, a ABA aplica os princípios do condicionamento operante, introduzidos por B.F. Skinner (1953), para avaliar, explicar e alterar comportamentos.
O condicionamento operante, base da ABA, propõe que os comportamentos são adquiridos e mantidos através da interação constante entre o indivíduo e o seu ambiente físico e social (SKINNER, 1953). Nessa perspectiva, o comportamento é influenciado por estímulos ambientais antecedentes, conhecidos como antecedentes, e pelos estímulos que o sucedem, chamados de consequências. O processo é caracterizado por uma sequência em que, se o comportamento for seguido por uma consequência agradável (como atenção ou uma recompensa), a tendência é que ele seja repetido. Por outro lado, se a consequência for desagradável (como uma reprimenda), a probabilidade de repetição do comportamento diminui (ALBERTO; TROUTMAN, 2009).
A ABA, ao investigar essas variáveis ambientais, busca identificar as causas e funções dos comportamentos humanos, considerando-os como previsíveis e analisáveis a partir dos estímulos que os antecedem e das consequências que os sucedem. Assim, a ABA se propõe a modificar comportamentos ao alterar esses elementos críticos do ambiente, ajustando os antecedentes (potenciais gatilhos) e as consequências para aumentar ou diminuir a probabilidade de que o comportamento ocorra novamente (SUGAI; LEWIS-PALMER; HAGANBURKE, 2000). Essa modificação é apoiada por técnicas baseadas em evidências que visam promover comportamentos desejáveis e reduzir aqueles que não são adaptativos, possibilitando, assim, intervenções eficazes e duradouras.
No Brasil, há uma lacuna significativa de estudos que explorem a aplicação dos princípios da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) em contextos educacionais para promover comportamentos socialmente relevantes, especialmente no atendimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Embora a eficácia da ABA seja amplamente documentada em estudos internacionais, esses contextos diferem substancialmente das realidades e desafios enfrentados nas escolas brasileiras, evidenciando a necessidade de uma adaptação cultural e metodológica.
Essa escassez de pesquisas reflete, em parte, o número reduzido de profissionais qualificados e familiarizados com a abordagem ABA no Brasil, além da falta de investimentos em estudos que comprovem sua aplicabilidade em ambientes escolares locais (CAMARGO; RISPOLI, 2013). Adicionalmente, há uma demanda por pesquisas focadas em intervenções comportamentais que possam facilitar a adaptação de crianças com TEA na educação infantil. Esse período é especialmente sensível para essas crianças, pois o processo de inserção escolar apresenta desafios adicionais, tornando ainda mais relevante a implementação de práticas eficazes e contextualizadas.
É nesse contexto que o município de Sinop se insere, destacando-se a necessidade urgente de aprimorar o ensino para alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) por meio da aplicação dos princípios da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) nas instituições escolares. Esse aprimoramento envolve não apenas a implementação de práticas de ABA, mas também o fortalecimento da formação de professores regentes e dos profissionais do Atendimento Educacional Especializado (AEE).
Investir na capacitação desses profissionais permitirá que as práticas de ABA sejam incorporadas de forma eficaz e sensível às necessidades dos alunos com TEA, criando um ambiente educacional mais inclusivo e responsivo. A integração de ABA, aliada a um suporte contínuo aos educadores, tem o potencial de elevar o nível de ensino e de adaptação escolar, contribuindo para o desenvolvimento acadêmico e social dos alunos, além de fortalecer o papel das escolas como espaços de inclusão e desenvolvimento para todas as crianças.
Recurso Educacional
Materiais Didáticos;
Recursos Digitais e Tecnológicos;
Planos de Aula e Atividades Práticas;
Estudos de Caso e Projetos;
Recursos Adaptativos e Inclusivos.
Referências bibliográficas
ALBERTO, P. A.; TROUTMAN, A. C. Applied behavior analysis for teachers. 8. ed. Upper Saddle River, NJ: Pearson, 2009.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996.
HEFLIN, L. J.; ALAIMO, D. F. Teaching children with autism: strategies for initiating positive interactions and improving learning opportunities. Upper Saddle River, NJ: Pearson Merrill Prentice Hall, 2007.
SKINNER, B. F. Science and human behavior. New York: Macmillan, 1953.