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O papel da gestão escolar na educação inclusiva

Joyce Cristina dos Santos
Angelane Beck Soares dos Santos
Luana Aparecida Gomes Modanez
Bruna Xavier da Silva
Luana Raquel da Silva

DOI: 10.5281/zenodo.17058242

 

 

RESUMO

O objetivo do texto será abordar informações e reflexões sobre a inserção das crianças com necessidades especiais no sistema regular de ensino e a gestão escolar como intermediadora desse processo. Faz-se cada vez mais necessário a organização e o planejamento do ensino para uma melhor adaptação da criança especial. O espaço físico sem acessibilidade, sem recursos, é outro entrave para o gestor escolar. O ponto central na educação inclusiva é o empenho do educador em buscar meios, alternativas para trazer o melhor para seus alunos. A equipe gestora dentro da legislação presente na lei de diretrizes e bases deve proporcionar um ambiente acolhedor para o aluno, e formação adequada para os educadores e funcionários que receberão esses alunos.

 

PALAVRAS-CHAVE: Gestão Escolar. Educação Inclusiva.

 

 

ABSTRACT

This article aims to inform and meditate on the inclusion of children with special needs in the regular education system and the school management as an intermediary of this process. It becomes increasingly necessary to organize and use teaching planning to better accommodate the special child. The physical space without accessibility, without resources, is another obstacle for the school manager. The focus of inclusive education is the commitment of educators to seek means, alternatives to bring the best for their students. The management team within the present legislation should provide an inviting environment for the student, and appropriate training for the educators and staff who will receive these students.

 

Keywords: School management. Inclusive education.

 

 

Introdução

 

A educação inclusiva deve ser garantida a todos, independentemente das diferenças individuais.

O valor principal da educação inclusiva está alicerçado no princípio da igualdade de direitos. A LDB 9394/96, define princípios democráticos que tratam da educação inclusiva, e fala da necessidade de oferecer oportunidades iguais para todos e a percepção de que a escola deve atender as diferentes potencialidades.  

 Diante das diferenças e das necessidades individuais de aprendizagem de cada aluno, o gestor deve nortear os envolvidos no processo educativo.

Para LUCK (2004) a gestão pedagógica tem o princípio básico para criar uma gestão participativa, que venha a desenvolver no espaço escolar mudanças significativas para possibilitar aos alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE) uma educação igualitária, priorizando a efetivação da educação inclusiva nas escolas regulares, e não apenas nos centros especializados.

A gestão escolar democrática e participativa é responsável pelo envolvimento de todos que, direta ou indiretamente, fazem parte da comunidade escolar.

O estabelecimento de objetivos, metas para a solução de problemas, planos de ação, sua execução, o acompanhamento e a avaliação são responsabilidades de todos.

A gestão escolar bem estrutura, proporciona à escola um ambiente adequado e uma equipe comprometida com a inclusão.

Por isso, é necessário ouvir pais, comunidade e órgãos de representação. Buscando um diálogo onde todos possam estabelecer parâmetros de comunicação, pois o essencial será a construção da educação inclusiva.

Por fim, um gestor deve ter uma prática educativa voltada à ética, autonomia, dinamismo.

 

 

Capítulo 1: O papel da gestão escolar na construção da escola inclusiva

 

O gestor deve ser o principal intermediador entre o professor, funcionários e comunidade que estão a serviço da inclusão.  Encontra-se professores presos a paradigmas e que temem assumir riscos; a inclusão é encarada como difícil e complicada.

 

O papel do diretor em provocar as mudanças necessárias do sistema em cada nível – o setor escolar central, a escola e cada turma – é essencialmente um papel de facilitação. A mudança não pode ser legislada ou obrigada a existir. O medo da mudança não pode ser ignorado. O diretor pode ajudar os outros a encararem o medo, encorajar as tentativas de novos comportamentos e reforçar os esforços rumo ao objetivo da inclusão.  (SAGE, 1999, p. 135)

 

Outra dificuldade encontrada é no espaço físico da escola, ou seja, a falta de sala de recursos, e acessibilidade. Tudo cabe ao gestor, constatar e analisar. E a partir daí, levar a secretaria da educação suas necessidades, suas prioridades, para que seja promovida a inclusão do aluno especial de forma tranquila e com qualidade.

O gestor deve ter também como meta possibilitar a construção de uma comunidade inclusiva que abranja o planejamento escolar e o desenvolvimento curricular, refletindo na preparação da equipe, trabalhando de forma cooperativa e compartilhando saberes, a fim de, desenvolver um programa de equipe em progresso continuo criando dispositivos de comunicação entre comunidade e a escola. Aprimorando a criação de tempo para reflexão sobre a prática desenvolvida.

A gestão escolar demanda maior participação de todos os interessados no processo decisório da escola, envolvendo-os também na realização das múltiplas tarefas de gestão.

 

A participação, em seu sentido pleno, caracteriza-se por uma força de atuação consciente, pela qual os membros de uma unidade social reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na determinação da dinâmica dessa unidade social, de sua cultura e de seus resultados, poder esse resultante de sua competência e vontade de compreender, decidir, e agir em torno de questões que lhe são afetas (LUCK, 1996, p. 18 e 19).

 

O gestor escolar é o grande responsável para que a inclusão ocorra na escola. Toda escola (regular ou especial) deve organizar-se para oferecer educação de qualidade para todos.

Assim, ao matricular uma criança com NEE, a primeira providência que a direção deverá tomar será comunicar-se com a secretaria de educação e solicitar a capacitação de seus professores e demais elementos da comunidade escolar.

A forma como a escola vai desenvolver o currículo com as crianças com NEE vai depender de sua proposta pedagógica e do número de crianças com NEE matriculadas.

É importante ter a clareza de que o que faz a diferença na educação do aluno com NEE não é se a escola é especial ou se a escola comum, mas sim a excelência de seu trabalho. Portanto, o mais importante é que a escola tenha um programa pedagógico que atenda às necessidades do aluno especial, que ofereça capacitação para a comunidade escolar, que busque parcerias e que tenha em seu quadro de profissionais todos os elementos necessários para o desenvolvimento do trabalho de forma a educar um indivíduo socialmente ajustado, pessoalmente completo, autônomo e competente, ou seja, um cidadão.

 

O não-acesso a saber historicamente construído faz do diferente um sujeito com reduzidas chances do exercício do pensamento, fator crucial para o estabelecimento de suas relações com o mundo. Essa prática decreta a “paralisia mental” desse indivíduo e “se suas asas pareciam curtas para voar, nessa perspectiva parecem se encurtar ainda mais” (TOMASINI, 1994, p.93).

 

Estudos e experiências realizados no Brasil e no mundo demonstram que a Educação Inclusiva é benéfica para todos os envolvidos.

A Educação Inclusiva envolve a participação das famílias e da comunidade que podem contribuir para fortalecer e multiplicar as ações inclusivas.

A escola também deve buscar parcerias com outros setores da sociedade para que as pessoas com deficiência possam ser inseridas nesses espaços e para que a própria comunidade se desfaça de resistências e preconceitos.

 

 

Capítulo 2: Desafios da Gestão Escolar na Prática Inclusiva

 

A construção de uma escola inclusiva envolve enfrentar diversos obstáculos no cotidiano escolar. Apesar dos avanços legislativos e do reconhecimento dos direitos das pessoas com deficiência, muitos gestores ainda lidam com realidades desafiadoras, como a carência de recursos, formação inadequada e resistência da comunidade escolar.

Um dos principais entraves identificados é a ausência de formação continuada voltada para a inclusão. Muitos profissionais da educação não se sentem preparados para atender adequadamente alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE), o que compromete a eficácia do processo de ensino-aprendizagem. Cabe ao gestor escolar identificar essas lacunas e buscar alternativas para a capacitação da equipe, por meio de parcerias com universidades, secretarias de educação ou ONGs especializadas.

Além da formação, a infraestrutura das escolas é, frequentemente, um fator limitante. Faltam rampas de acesso, banheiros adaptados, sinalização adequada e materiais pedagógicos inclusivos. A gestão escolar precisa atuar de forma estratégica, realizando diagnósticos da realidade institucional e encaminhando as demandas aos órgãos competentes, sempre com o respaldo de dados e justificativas pedagógicas.

Outro desafio significativo é a mudança de cultura dentro do ambiente escolar. Muitas vezes, a inclusão é vista como uma obrigação legal e não como um direito fundamental. Nesse cenário, o papel do gestor é sensibilizar e mobilizar a equipe para que todos compreendam que a inclusão é responsabilidade de todos. Criar momentos de reflexão coletiva, encontros pedagógicos e rodas de conversa pode contribuir para que os profissionais da escola se envolvam com a causa.

Portanto, a superação desses desafios exige uma gestão comprometida, participativa e inovadora, que busque constantemente soluções para tornar a escola um espaço de pertencimento para todos.

Um ponto crítico frequentemente relatado por gestores é o acúmulo de funções. Muitas vezes, o diretor escolar se vê sobrecarregado com questões administrativas e burocráticas, o que limita o tempo e a energia disponíveis para atuar diretamente nas demandas da inclusão. Essa sobrecarga pode comprometer ações importantes como o acompanhamento pedagógico dos docentes e o estabelecimento de redes de apoio.

Além disso, a rotatividade constante de professores também interfere na continuidade das ações inclusivas. A cada nova mudança, há uma necessidade de reiniciar processos formativos, o que impacta diretamente a adaptação dos alunos com NEE.

 

 

2.1 Desafios Emocionais e Atitudinais na Prática Inclusiva

 

A inclusão não enfrenta apenas obstáculos estruturais ou legais — ela esbarra, muitas vezes, em barreiras emocionais e culturais, profundamente enraizadas no cotidiano escolar. A prática inclusiva exige não apenas conhecimento técnico, mas também uma mudança de postura, de valores e de atitudes por parte de todos os envolvidos no processo educativo.

Entre os principais desafios enfrentados pelos gestores está o despreparo emocional de parte da equipe docente para lidar com a diversidade. Muitos professores, mesmo com uma formação sólida, sentem-se inseguros diante de alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE). Essa insegurança pode gerar sentimentos de inadequação, receio de errar, frustração e até resistência à adoção de práticas pedagógicas mais inclusivas.

Além disso, ainda é comum encontrar nas escolas uma cultura escolar excludente, onde a diferença é vista como problema e não como riqueza. Essa visão limitada pode se manifestar em discursos e atitudes sutis, como a relutância em adaptar atividades, a exclusão do aluno com deficiência de tarefas coletivas ou a simples ausência de expectativa quanto ao seu potencial de aprendizagem.

A gestão escolar, nesse cenário, precisa atuar como agente mobilizador, promovendo espaços de escuta, acolhimento e formação continuada. Campanhas internas de sensibilização, rodas de conversa, grupos de estudo e momentos de reflexão coletiva podem auxiliar na desconstrução de preconceitos e no fortalecimento de uma cultura mais empática e inclusiva.

É fundamental que o gestor reconheça que a resistência dos profissionais, em muitos casos, está ligada ao medo do novo, da exposição e da responsabilidade aumentada. Por isso, em vez de impor mudanças de forma autoritária, é mais eficaz adotar uma postura dialógica, valorizando as experiências dos professores e construindo alternativas de forma conjunta.

Também é papel da gestão atuar na valorização e no apoio emocional dos docentes. O trabalho inclusivo pode ser emocionalmente exigente, e muitos profissionais se sentem sozinhos diante dos desafios. Criar uma rede de suporte, estimular o trabalho colaborativo entre professores e promover o reconhecimento dos avanços — mesmo que pequenos — são ações que fortalecem o engajamento da equipe.

Outro ponto importante é a formação da comunidade escolar como um todo. A inclusão só se consolida quando há envolvimento de todos: professores, coordenadores, funcionários, pais e alunos. É necessário promover uma mudança cultural que ultrapasse os muros da sala de aula e alcance toda a instituição. Atividades como palestras, campanhas de conscientização e projetos integradores podem ampliar a compreensão da importância da inclusão como um direito humano e um valor social.

Por fim, é preciso reforçar que a transformação atitudinal é um processo contínuo. Ela exige paciência, empatia e comprometimento. A gestão escolar, quando exercida com sensibilidade e liderança participativa, pode ser a grande propulsora dessa mudança, ajudando a construir uma escola onde a diferença não seja apenas tolerada, mas verdadeiramente respeitada e valorizada.

 

 

Capítulo 3: A Importância da Formação Docente e do Trabalho Colaborativo

 

Para que a inclusão aconteça de fato, é essencial investir na formação dos professores e demais profissionais da escola. O conhecimento técnico-pedagógico precisa ser aliado à sensibilidade humana. A formação continuada deve oferecer não apenas subsídios teóricos sobre as deficiências, mas também práticas pedagógicas efetivas que respeitem as especificidades de cada aluno.

Nesse processo, o gestor escolar atua como articulador. Ele deve promover espaços de troca entre os professores, estimular o planejamento coletivo e valorizar o trabalho em equipe. A inclusão não se sustenta na prática isolada de um único profissional; ela requer cooperação, diálogo e corresponsabilidade.

A colaboração entre o professor regente e o professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE) é um exemplo concreto da importância do trabalho em conjunto. Quando há parceria, a construção de estratégias adaptadas se torna mais eficaz e o aluno com NEE passa a ter mais oportunidades de participação e aprendizagem.

Outro aspecto essencial é a escuta ativa às famílias. A parceria com os pais ou responsáveis dos alunos com deficiência é fundamental para o sucesso do processo inclusivo. A gestão deve garantir canais de comunicação eficientes e abertos, onde a família seja ouvida, respeitada e envolvida nas decisões pedagógicas e administrativas que envolvem seus filhos.

Por fim, é importante destacar que o investimento em formação e no fortalecimento dos vínculos profissionais contribui para uma escola mais empática, reflexiva e preparada para os desafios contemporâneos da educação.

 

 

Capítulo 4: Parcerias e a Participação da Comunidade na Educação Inclusiva

 

A construção de uma escola verdadeiramente inclusiva não depende apenas do trabalho interno realizado por gestores e professores. A participação ativa da comunidade e a articulação de parcerias externas são elementos fundamentais para fortalecer as práticas pedagógicas inclusivas e ampliar os recursos disponíveis.

Nesse sentido, a gestão escolar deve assumir o papel de mediadora entre a escola e outros segmentos da sociedade, como instituições de ensino superior, centros de atendimento especializado, secretarias municipais e estaduais de educação, organizações não governamentais e serviços de saúde e assistência social. Essas parcerias podem oferecer formações, atendimentos especializados, apoio psicológico e outras ações que contribuam diretamente para o desenvolvimento dos estudantes com necessidades educacionais especiais (NEE).

Além disso, a valorização da participação das famílias no cotidiano escolar é indispensável. Os pais e responsáveis precisam ser ouvidos e acolhidos como parceiros no processo educacional. A escuta ativa e o diálogo constante com as famílias fortalecem a confiança mútua e permitem que as decisões pedagógicas e administrativas considerem as especificidades de cada aluno.

A comunidade local também pode contribuir significativamente para a inclusão. A abertura da escola para ações culturais, sociais e esportivas, bem como a integração com lideranças comunitárias, permite que a inclusão se estenda além dos muros escolares, promovendo uma conscientização social mais ampla sobre o direito à diferença e à igualdade de oportunidades.

Assim, cabe ao gestor escolar atuar como elo entre os diversos agentes sociais, criando uma rede de apoio ao processo inclusivo. A escola deixa de ser um espaço isolado e passa a se constituir como um polo de transformação social, comprometido com a equidade e com a formação de cidadãos conscientes e participativos.

 

 

Capítulo 5: Legislação e Políticas Públicas de Apoio à Inclusão Escolar

 

A legislação educacional brasileira tem avançado no reconhecimento e promoção da educação inclusiva como um direito fundamental. A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência – Lei nº 13.146/2015) representa um marco ao assegurar que a educação seja oferecida em igualdade de condições a todos os estudantes, independentemente de suas particularidades.

Em seu artigo 28, a referida lei determina que o poder público deve garantir:

- Acesso à educação inclusiva, preferencialmente na rede regular de ensino;

- Formação de professores para o atendimento das necessidades específicas dos alunos com deficiência;

- Recursos e serviços de apoio especializados, conforme necessidade individual.

Outro documento de grande relevância é a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008). Esta política propõe uma reestruturação da cultura escolar, de modo a garantir que a diversidade seja não apenas respeitada, mas valorizada como elemento enriquecedor do processo de ensino-aprendizagem. Além disso, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, promulgada no Brasil com equivalência constitucional, reforça o compromisso do país com a construção de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, promovendo a participação plena e efetiva dessas pessoas na sociedade.

Apesar dos avanços legais, a implementação efetiva dessas políticas ainda enfrenta desafios. Muitas escolas não possuem infraestrutura adequada, os recursos especializados são limitados e a formação docente ainda está distante das demandas da prática.

Portanto, cabe à gestão escolar conhecer profundamente essas legislações e atuar como agente de cobrança e implementação. Um gestor bem informado sobre os direitos assegurados aos alunos com NEE tem mais embasamento para exigir investimentos, buscar apoio técnico e orientar sua equipe pedagógica para práticas realmente inclusivas.

 

 

Capítulo 6: Práticas e Ferramentas para a Gestão Escolar Inclusiva

 

6.1 Planejamento Estratégico para a Inclusão

 

A inclusão na escola não acontece por acaso. É preciso que o gestor conduza um planejamento estratégico que considere as necessidades específicas dos alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) e as condições da escola. Para isso, o planejamento deve contemplar:

- Diagnóstico Institucional: levantamento da infraestrutura, recursos humanos, materiais pedagógicos e dificuldades presentes.

- Definição de metas claras: estabelecer objetivos de curto, médio e longo prazo relacionados à acessibilidade, capacitação, adaptação curricular, entre outros.

- Elaboração de um plano de ação: ações concretas, responsáveis, prazos e formas de avaliação.

- Monitoramento e avaliação contínuos: criar indicadores para medir o avanço das ações inclusivas e realizar ajustes sempre que necessário.

Esse planejamento deve ser construído coletivamente, envolvendo professores, equipe técnica, famílias e, quando possível, os próprios alunos. A participação garante maior comprometimento e eficácia das ações.

 

6.2 Ferramentas para Avaliação e Acompanhamento do Aluno com NEE

 

Para que o processo inclusivo seja eficaz, é fundamental acompanhar o desenvolvimento dos alunos com NEE, adaptando estratégias conforme suas necessidades. Algumas ferramentas importantes são:

- Plano de Atendimento Individualizado (PAI): documento que descreve as necessidades, estratégias pedagógicas, recursos e formas de avaliação específicas para cada aluno com NEE. O gestor deve garantir que todos os profissionais envolvidos conheçam e utilizem o PAI.

- Relatórios e registros pedagógicos: acompanhamento sistemático por meio de registros escritos, que ajudam a identificar avanços e dificuldades, permitindo intervenções rápidas.

- Reuniões periódicas de equipe: encontros entre professores, coordenadores e especialistas para avaliar o progresso dos alunos e ajustar as práticas pedagógicas.

- Ferramentas digitais: softwares e aplicativos que auxiliam no monitoramento do aprendizado e na comunicação entre escola, família e equipe pedagógica.

 

6.3 Comunicação Efetiva com Famílias e Comunidade

 

A gestão escolar inclusiva depende da construção de uma parceria sólida com as famílias dos alunos com NEE, bem como da sensibilização da comunidade em geral. Algumas práticas recomendadas são:

- Canais abertos de comunicação: criar espaços e meios (reuniões, grupos de WhatsApp, e-mails, encontros presenciais) para que os pais possam dialogar, tirar dúvidas e participar ativamente do processo educacional.

- Escuta ativa: ouvir atentamente as demandas e sugestões das famílias, respeitando suas experiências e saberes.

- Encontros de formação e sensibilização: promover palestras, oficinas e rodas de conversa para informar e envolver as famílias na temática da inclusão.

- Articulação com a comunidade: realizar campanhas de conscientização e projetos sociais que envolvam instituições locais, associações e organizações de apoio às pessoas com deficiência.

 

6.4 Formação Continuada e Trabalho Colaborativo

 

A capacitação dos profissionais da escola é pilar para o sucesso da inclusão. O gestor deve organizar e incentivar:

- Cursos, oficinas e seminários regulares: com temas específicos sobre inclusão, estratégias pedagógicas, uso de tecnologias assistivas e manejo de diferentes deficiências.

- Grupos de estudo e prática pedagógica: espaços onde os professores possam trocar experiências, planejar juntos e refletir sobre suas práticas.

- Acompanhamento e supervisão pedagógica: visitas e orientações para apoiar o desenvolvimento das competências necessárias para trabalhar com alunos com NEE.

- Valorização do trabalho em equipe: promover a cooperação entre professores regentes, professores do Atendimento Educacional Especializado (AEE), psicólogos, fonoaudiólogos e outros profissionais.

 

6.5 Organização da Equipe Multidisciplinar

 

Uma gestão escolar inclusiva deve garantir a presença e o trabalho articulado de profissionais especializados para atender às diferentes demandas dos alunos. O gestor pode:

- Formar uma equipe multidisciplinar interna: composta por professores especializados, coordenadores, psicólogos, assistentes sociais, entre outros.

- Estabelecer parcerias externas: com clínicas, universidades e instituições que ofereçam suporte técnico e profissional.

- Promover reuniões periódicas da equipe: para o planejamento integrado e o alinhamento das estratégias educacionais e sociais.

- Garantir o respeito e valorização do trabalho coletivo: estimulando a troca constante de informações e o apoio mútuo.

 

6.6 Recursos Pedagógicos e Tecnológicos

 

Outro aspecto fundamental da gestão inclusiva é a disponibilização de recursos adequados:

- Materiais adaptados: livros em braile, recursos visuais, materiais táteis, jogos pedagógicos adaptados.

- Tecnologias assistivas: softwares de leitura, ampliadores de tela, teclados adaptados, dispositivos de comunicação alternativa, entre outros.

- Ambiente acessível: adequações físicas que favoreçam a mobilidade e o conforto de todos os alunos.

- Capacitação para uso dessas tecnologias: garantindo que a equipe esteja apta a utilizar os recursos da melhor forma.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Considerando o panorama da educação inclusiva, nos deparamos com inúmeros recursos e instrumentos legais, pedagógicos e sociais que podem contribuir para a construção de uma escola verdadeiramente acessível a todos. Entretanto, a verdadeira inclusão somente acontecerá quando toda a comunidade escolar — gestores, professores, funcionários, estudantes e famílias — se debruçar sobre a realidade, reconhecendo suas limitações e assumindo, de forma ética e colaborativa, os compromissos que lhe cabem.

A escola é um espaço de formação integral do sujeito e, nesse sentido, deve garantir não apenas o acesso, mas também a permanência, a participação e a aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais (NEE). Isso exige muito mais do que boa vontade: requer planejamento, capacitação, escuta, sensibilidade e, sobretudo, compromisso com a equidade.

Dessa forma, todo o conjunto de fatores que incidem sobre o desenvolvimento, a personalidade, a aprendizagem e o desempenho de tarefas cotidianas precisa ser considerado de forma integrada e estratégica pela gestão escolar. O gestor, nesse contexto, não é apenas um administrador, mas um articulador de processos, um mediador de conflitos, um mobilizador de pessoas e um defensor dos direitos de todos os alunos.

Suas habilidades de liderança, sua sensibilidade frente à diversidade e sua capacidade de engajamento serão, sem dúvida, o diferencial dentro da escola. É por meio de sua atuação que se estabelece o clima organizacional necessário para que os profissionais se sintam motivados a buscar formação contínua, a adaptar suas práticas e a construir, juntos, uma cultura escolar mais inclusiva.

Além disso, as parcerias com instituições externas e a participação ativa das famílias e da comunidade ampliam as possibilidades de sucesso da educação inclusiva. Uma gestão escolar comprometida busca apoio, integra saberes e constrói redes de colaboração que fortalecem o trabalho pedagógico e favorecem o desenvolvimento integral dos estudantes.

Portanto, cabe à gestão escolar não apenas cumprir um papel burocrático, mas assumir uma postura ética e transformadora, capaz de liderar um projeto educativo inclusivo, democrático e de qualidade. A inclusão não é um favor, é um direito. E garantir esse direito é responsabilidade de todos — mas, principalmente, de quem ocupa posições de liderança dentro do espaço escolar.

 

 

Referências bibliográficas

 

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LUCK, Heloísa. Gestão educacional: uma questão paradigmática. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

 

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TOMASINI, Shirley. Educação especial: inclusão e integração. São Paulo: Papirus, 1994.

 

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