Vivências de um estágio intercultural
Rosângela Gomes Moreira
O estágio realizado na Faculdade Indígena Intercultural (FAINDI) vinculada ao campus universitário Deputado Estadual Renê Barbour, localizado na cidade de Barra do Bugres no estado de Mato Grosso, como disciplina obrigatória no curso de pós-graduação Mestrado em Educação PPGEdu/UNEMAT, trouxe uma experiência incrível, pois tive a oportunidade de ter um contato mais próximo com a cultura e os povos indígenas, contato esse que possibilitou a todos os envolvidos um aprendizado gratificante. Pois o convívio durante seis dias com povos de várias etnias, com diferentes culturas, costumes e crenças foi enriquecedor.
A UNEMAT (Universidade Estadual de Mato Grosso) oferece cursos diferenciados para a formação de professores indígenas desde 2001, com o objetivo de reforçar as ações para a Educação Superior Indígena em nosso estado. No ano de 2008 tornou-se Faculdade Indígena Intercultural. Oferecendo cursos de licenciatura intercultural indígena e pedagogia intercultural. Ao todo são 120 alunos matriculados, na pedagogia são 57 frequentando as aulas. E um total de 23 etnias do Estado de Mato Grosso, entre eles estão os Apiaká de Juara, etnia a qual irei pesquisar.
Quando chegam á cidade, ficam alojados no prédio da antiga Escola Agrícola Municipal de Barra do Bugres e permanecem na cidade por um período de trinta dias com aulas em período integral. Alguns dos acadêmicos já trabalham como professores em suas aldeias ou estão na direção e coordenação de suas escolas. Mesmo estando longe da família por um período considerável de tempo, eles demostram muito interesse pelas aulas, pois sabem da importância de serem professores em suas aldeias, resgatar a língua originária e também aprender o português como segunda língua.
Cada povo tem uma situação diferente com relação à língua materna, pois algumas comunidades já perderam sua língua, outras estão em processo de recuperação e outras, mantém a língua materna viva. Todos demonstram preocupação em manterem vivas a sua cultura. Trabalhar com um currículo voltado para a interculturalidade é de suma importância nesse processo. Todas as culturas devem ser respeitadas e valorizadas, possibilitando o acesso e a construção de conhecimento. É preciso oportunizar aos povos indígenas condições de aperfeiçoamento para que possam levar as suas comunidades educação de qualidade e diferenciada, respeitando as diferenças culturais entre os povos.
[...] a dimensão cultural é intrínseca aos processos pedagógicos, “está no chão da escola” e potencia processos de aprendizagem mais significativos e produtivos, na medida em que reconhece e valoriza a cada um dos sujeitos neles implicados, combate todas as formas de silenciamento, invisibilização e/ou inferiorização de determinados sujeitos socioculturais, favorecendo a construção de identidades culturais abertas e de sujeitos de direito, assim como a valorização do outro, do outro, do diferente, e o diálogo intercultural. (CANDAU, 2011, p.253).
A escola é o espaço onde podemos oportunizar uma educação que trabalhe com o intuito de legitimar as diferenças, de se valorizar e também valorizar o outro.
No estágio trabalhamos com a disciplina denominada TICs, Tecnologias da Informação e Comunicação. No primeiro momento nos apresentamos, e eles fizeram a leitura de um caderno de memórias, que tinha o registro da aula anterior, e tudo que havia acontecido nesse dia. Após a leitura, a pessoa responsável pelo caderno, escolhe alguém para fazer o registro da aula que irá acontecer, os registros acontecem diariamente, e a cada dia uma pessoa fica responsável pelo registro das aulas. Após esse momento conversamos a respeito da disciplina a ser ministrada e propomos uma atividade na qual eles fariam um desenho que representasse o significado da tecnologia para cada um, ao término apresentariam seu desenho para a turma e se apresentariam, falando o nome e a etnia da qual pertenciam. A maioria desenhou computadores, celulares e televisores, ao apresentarem seus desenhos iam falando o que a tecnologia ilustrada por eles significava e se eles tinham acesso na comunidade. Pudemos constatar que a maioria das pessoas em suas comunidades têm acesso a aparelhos de celular e televisores, com relação a computadores, apenas alguns possuem acesso, alguns relataram que a escola na comunidade em que vivem tem computadores, mas o acesso é de uso restrito, em outros casos, tem internet mas não tem computadores, em ouras comunidades nem internet nem computadores, para terem acesso á internet é necessário ir á um ponto da comunidade onde tem o sinal.
Durante as atividades desenvolvidas, íamos conhecendo um pouco mais da realidade de algumas etnias, seus desejos e expectativas com relação á disciplina ministrada, pois demonstravam muito interesse em utilizar os computadores. Mas no primeiro dia de aula, não fomos ao laboratório, separamos a turma em 7 grupos e trabalhamos alguns textos relacionados ás TICs. Após a leitura e discussão dos textos, cada grupo apresentou o que compreendeu do texto e fez relações com a realidade de cada comunidade. Falaram sobre a dificuldade em manusear os computadores, que eles não recebem formação sobre como utilizar, que os computadores que alguns têm na escola, já estão sucateados e demonstraram um grande interesse em aprender um pouco mais sobre como utilizar o computador de forma a melhorar as práticas de ensino na escola. Trabalhar com as TICs na educação, significa construção de conhecimento, utilizando o computador como ferramenta que possa enriquecer a ação pedagógica.
Podemos afirmar que a capacitação dos professores é um dos princípios fundamentais para apoiar a integração da tecnologia na escola. O aperfeiçoamento pessoal contínuo dos profissionais que trabalham com a informática na educação é necessário para que o processo ensino-aprendizagem mediado pelo computador traga resultados positivos. (STRAUB,2009, p.37).
Dessa maneira podemos afirmar que é indispensável uma formação adequada para que os professores tenham conhecimento necessário para trabalhar com as TICs na escola, para que possam alcançar resultados positivos. Pois na fala da maioria dos acadêmicos da Faind, na escola onde trabalham, essa formação não acontece, limitando assim o uso dos computadores apenas para o lançamento dos diários.
AULAS PRÁTICAS NO LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA
Enfim, chegamos ao momento mais esperado pelos acadêmicos, a aula prática no laboratório de informática, manuseio dos computadores. Neste primeiro contato com os computadores propusemos a utilização do word e também do paint. A proposta feita aos acadêmicos foi criar um texto que falasse sobre a cultura deles na língua portuguesa e também na língua materna, essa segunda proposta, obviamente era para aqueles que mantém a língua materna viva. Em um segundo momento, utilizamos o paint para criar desenhos que representassem o texto escrito anteriormente sobre a cultura. Eles se mostravam interessados e envolvidos o tempo todo com as atividades propostas. O resultado foram desenhos muito criativos, lindos, cheios de cor e significado, pois a maioria demonstrou grandes habilidades para o desenho. Ficaram tão envolvidos, que não tinham nem a preocupação com a hora do intervalo, não queriam sair da sala, nem ao menos para lanchar e o tempo todo diziam que queriam aprender mais e mais, para que pudessem desenvolver as atividades na escola utilizando os computadores.
Após o término dessa atividade que levou um dia inteiro, pois a maioria teve dificuldades para utilizar os programas e se habituar a eles, no dia seguinte iniciamos as apresentações dos trabalhos realizados, utilizando o data show para que todos pudessem visualizar o desenho e também o texto. Cada um explicou o seu trabalho, fizeram a leitura do texto em português e na língua materna e explicaram o desenho e o significado para a etnia da qual pertencem. Momentos de muito aprendizado, de reconhecimento em manter a cultura viva e repassar esses valores culturais para as crianças.
Tivemos também uma aula muito importante, pois em uma conversa com a turma, descobrimos que muitos dos caracteres existentes na língua materna de várias etnias, não eram possíveis de ser encontrados nos caracteres especiais dos computadores, então propomos a eles construir esses caracteres utilizando o Editor de Caracteres Particular do Windows, foi entregue um manual com o passo a passo para que cada um pudesse se orientar e levar para casa, pois com o manual ficaria mais fácil e evitaria que eles esquecessem. Criaram os caracteres ainda não existentes nos computadores para a língua materna. E a alegria dessa realização estava estampada no rosto de cada um deles. Alguns com mais dificuldades, outros com menos, mas todos eles tinham um interesse em comum, a vontade de aprender. E nós professores envolvidos aprendíamos juntos. Como dizia Paulo Freire (1996) “Ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho e se “dispõe” a ser ultrapassado por outro amanhã”. Todos os dias tínhamos a oportunidade de construir juntos novos conhecimentos.
Observamos que todos os acadêmicos possuíam aparelhos de celular, então propomos uma atividade, na qual eles iriam utilizar esse aparelho, iam aprender a criar vídeos a partir de fotografias. Fizemos uma aula expositiva, usando o data show para explicar melhor a atividade que seria trabalhada e mostrando o passo a passo, para que aprendessem a fazer os vídeos. Eles podiam utilizar fotos como também desenhos para a criação dos vídeos. Após a explicação, o primeiro passo foi baixar o aplicativo no celular, o aplicativo Stop Motion Studio.Logo em seguida iniciamos nossa prática, dividimos a turma em 11 grupos e eles se dividiram em diferentes salas, alguns preferiram criar desenhos que representassem algo referente à cultura, e outros preferiram tirar fotografias, de danças, pinturas no corpo, tudo relacionado á cultura. Essa etapa foi mais demorada, pois exigia criatividade, criação e muita imaginação. E imaginação não faltou, ao final tivemos lindos vídeos produzidos por eles. Mas essa produção não ficou restrita apenas ao uso do celular, usamos também o Power Point. Quando todos já haviam terminado de produzir os vídeos no celular, fomos novamente para o laboratório de informática para construirmos os mesmos vídeos também no computador usando o programa Power Point, ao final tivemos o momento de exposição dos vídeos criados, para isso utilizamos novamente o data show, o vídeo era passado para que todos pudessem ver, e uma pessoa do grupo ia falando sobre o mesmo, o que representava e o significado que tinha para a etnia. Tivemos a criação de lindos vídeos, uma criatividade na criação que nos deixou completamente envolvidos no momento das apresentações. Em todos os momentos durante as realizações das atividades podíamos ver o compromisso e a satisfação em aprender algo novo.
Durante conversas informais com alguns acadêmicos sobre o por que optaram por serem professores, deixaram transparecer a preocupação em manterem a cultura viva. “sabemos das dificuldades que enfrentamos para mantermos nossa cultura viva, já tivemos professores não-indígenas na nossa aldeia, mas eles não compreendem o nosso tempo, querem tudo pra logo, correm o tempo topo”. Fala de um Kaiabi. Em outro momento em conversa com um Xavante que é professor na sua aldeia ele disse “quando aparece uma criança com cabelo cortado, estilo Neymar, chamo o pai pra conversar e digo que esse não é o corte de cabelo que os Xavante usam”. Enfatizaram a importância da escola nesse processo de manutenção da cultura, falaram sobre a importância de ensinar a língua portuguesa para as crianças e também a língua materna, os Xavantes não perderam a língua, e o tempo todo conversavam entre si com o idioma materno.
A escola indígena tem como objetivo a conquista da autonomia socioeconômico-cultural de cada povo, contextualizada na recuperação de sua memória histórica, na reafirmação de sua identidade étnica, no estudo e valorização da própria língua e da própria ciência, sintetizada em seus etnoconhecimentos, bem como no acesso ás informações e aos conhecimentos técnicos e científicos da sociedade majoritária e das demais sociedades, indígenas e não- indígenas (MEC, 1993, p.12).
Falaram das mudanças que acorreram na aldeia, por conta das tecnologias, a televisão, o rádio e o celular são vistos como tecnologias importantes para terem acesso às informações, se comunicarem com outras pessoas de diferentes lugares, mas também afastou um pouco as pessoas. Relataram que “os jovens não querem mais participar das festas na comunidade, preferem ficar no celular”, e que “as mulheres deixam a comida queimar por causa do celular”. Mas que os professores os mais velhos sempre conversam com os pais, alertando quanto ao uso das tecnologias, que a cultura não pode perder espaço. Pois entendem que é responsabilidade dos pais e dos mais velhos ensinar os valores da cultura para as crianças. Alexis Leontiev (2004, p. 290-291) diz que:
As aquisições do desenvolvimento histórico das aptidões humanas não são simplesmente dados aos homens nos fenômenos objetivos da cultura material e espiritual que os encarnam, mas são aí apenas postas. Para se apropriar destes resultados, para fazer deles as suas aptidões, “os órgãos da sua individualidade”, a criança, o ser humano, deve entrar em relação com os fenômenos do mundo circundante através de outros homens, isto é, num processo de comunicação com eles. Assim, a criança aprende a atividade adequada. Pela sua função esse processo é, portanto, um processo de educação. [...] o movimento da história só é, portanto, possível com a transmissão, às novas gerações, das aquisições da cultura humana, isto é, com educação.
Consideram a escola como um espaço importante para a continuação da cultura, pois sabem que a educação é a única forma de construir e transmitir os conhecimentos para a nova geração. O desejo em aprender mais sobre a tecnologia é também para aplicar na sala de aula, usar os computadores de maneira a favorecer a ação pedagógica. Comentaram que iam pedir pra que houvesse mais aulas de TICs, que gostaram muito do que aprenderam e que queriam continuar aprendendo cada vez mais.
FESTA E COMEMORAÇÃO COM UMA QUADRILHA INTERCULTURAL
Ao término da aula nos dirigimos até o prédio da antiga escola agrícola onde após a janta, iria acontecer a festa Julina Intercultural, estavam todos muito animados, e as mulheres é que haviam costurado suas próprias saias. Enquanto eles se arrumavam, nós íamos organizando os brindes arrecadados para o bingo, organizando o salão, verificando o som, e o pessoal da cozinha dando um toque final no cachorro-quente, na canjica e na pipoca. A festa teve direito a uma fogueira enorme, todos muito bem caracterizados e muita animação.
Iniciamos a quadrilha e eu também participei, pois havia ensaiado com eles uma das noites. A quadrilha intercultural foi narrada pela professora Waldinéia que também é coordenadora da Faind, a narração foi feita de acordo com algumas peculiaridades da cultura indígena, misturadas com alguns aspectos da cultura não indígena. Foi uma quadrilha linda! Ao término, saboreamos as comidas típicas de festa Julina, e em seguida iniciou-se o bingo, alguns cantando as pedras que precisavam que saísse, outros “comendo barriga”, uns com muita sorte, já outros nem tanto. Mas uma coisa todos ali tinham em comum, a alegria. Encerrava-se ali, o meu estágio intercultural. Nos despedimos muito emocionados, recebemos abraços calorosos, tiramos fotografias para registrar o momento, saímos de lá enriquecidos, uma experiência maravilhosa, pois até então, eu ainda não havia tido contato com a cultura indígena, tão diretamente. Fui acolhida por eles, me senti privilegiada por poder ter a oportunidade de ter vivenciado cada momento de interação com povos de diferentes etnias, com uma história de luta, superação, persistência e de muita esperança. Tenho certeza que aprendi mais do que ensinei.
Durante todo o estágio muitas coisas me chamaram a atenção, mas algo particularmente me fez refletir um pouco mais, o comportamento das crianças que por motivos maiores tiveram que acompanhar suas mães durante esses dias na Faindi. Em nenhum momento vi os pais chamando a atenção dos filhos por mau comportamento,os pequenos ficavam a maioria do tempo livres, explorando os espaços, brincando entre si, havia uma criança maior tomando conta deles. As crianças de colo ficavam o maior tempo com as mães na sala de aula, choravam apenas quando sentiam fome. Durante a festa julina haviaduas crianças não indígenas, que corriam o tempo todo pelo salão, mexiam nos copos descartáveis, no bebedor de água, e o tempo todo chamavam o pai para ir com eles em determinados pontos do salão, esse pai nem conseguia marcar as pedras na sua cartela do bingo. Foi impossível não comparar as crianças de diferentes culturas, a criança indígena ficou o tempo todo, brincando sozinha e em alguns momentos interagia com as outras, a mãe permanecia sentada conferindo a cartela do seu bingo tranquilamente. Todos de certa forma estavam cuidando da criança. Em algum momento essa criança indígena correndo com as outras, caiu, minha reação imediata foi de ajudar aquela criança a se levantar, mas dei um passo para trás e recuei. A criança logo em seguida se levantou e continuou a correr como se nada tivesse acontecido. Parei e refleti mais uma vez, nós não indígenas, correríamos para acudir aquela criança e ficaríamos preocupados se tinha se machucado ou não. Os indígenas demonstram muito amor por suas crianças, mas as deixam com maior liberdade.
A concepção de infância ligada à ideia de liberdade é bastante forte nas populações indígenas em geral e está vinculada à maneira como as crianças são percebidas por toda comunidade como sendo alguém que tem o direito de permanecer em todos os lugares da aldeia, pois este é o seu momento de interagir e aprender com os demais membros do seu grupo de convívio. (ZOIA, 2009, p.28).
As crianças aprendem o tempo todo, pela observação, pela interação, e todos os adultos se sentem responsáveis pela formação da criança. Diferente do que ocorre em nossa sociedade não indígena, onde cada um é responsável pela criação e educação de seus filhos, não permitindo que outro membro interfira nesse processo.
Durante alguns momentos, até mesmo no trajeto de ônibus da Faind até o antigo prédio da escola agrícola, onde estavam alojados, pude conversar com alguns indígenas e durante essas conversas eles falaram um pouco sobre seus sonhos. Sonhos esses relacionados á formação pessoal como serem professores de sua aldeia, comprar uma moto, tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação), enfim, sonhos que parecem simples, mas para eles têm um significado muito importante, pois sempre foram vistos pela sociedade majoritária como seres de cultura atrasada e na atualidade, infelizmente ainda são vistos desta maneira.
Fazemos menção à educação como base de nossa reflexão, segundo uma perspectiva intercultural. A educação, assim delineada, poderia ser o eixo da preservação da identidade cultural e criar o espaço democrático, que torne possível o encontro e o diálogo de culturas. Atualmente, essa reflexão é fundamental para imaginar como viver a muliculturalidade que caracteriza as sociedades contemporâneas. (MARIN, 2007, p.140-141).
Algumas comunidades indígenas foram de certa forma, afetadas pelo capitalismo, ao qual estamos mergulhados. E isso faz com que eles tenham hábitos que não faziam parte de suas culturas. Mas isso não significa que eles não tenham interesse em manterem viva sua própria cultura. Podem fazer uso das tecnologias sim, sem prejudicar suas crenças, seus valores e costumes. Pois nosso Brasil é rico exatamente por essas misturas culturais, conhecido pela grande diversidade cultural que possui, e o que nós podemos fazer, é conhecer um pouco mais dessas diferentes culturas e respeitá-las em suas singularidades e semelhanças.
Quando nos referimos às diferenças culturais e diversidades culturais, é importante destacarmos as diferenças. De acordo com Bhabha (apud AZIBEIRO, 2003, p. 92-93):
[...] a diversidade cultural refere-se ao reconhecimento da pluralidade de culturas presente em sociedades complexas [...], admite e ressalta a multiplicidade de práticas, valores, costumes, significados [...]. Já o conceito de diferença cultural captura o processo mesmo de constituição e hierarquização desses significados múltiplos [...]. São construções histórico-culturais, que decorrem de relação de poder, nas quais diferentes grupos sociais, particularmente os subalternos, podem redescobrir e reconstruir o valor positivo de suas culturas e experiências ressignificando-as.
É necessário romper com o preconceito tão presente, em nosso meio social desmistificando o julgamento negativo, depreciativo e desfavorável que fazemos do outro por não conhecê-lo em sua diferença cultural.
Há alguns dias durante uma apresentação do meu projeto de pesquisa para uma banca, fui questionada se os povos indígenas realmente queriam manter ou resgatar sua cultura, uma vez que a maioria se encontra com hábitos bem semelhantes aos da cultura não indígena, usando celulares, computadores, televisores, rádios, roupas e acessórios que não condizem com suas culturas? No momento, me vi sem resposta, pois não sabia responder aquela pergunta. Hoje, após alguns dias de convívio e de conversas informais, sem dúvida alguma, responderia que sim, que estão na luta para resgatarem o que se perdeu e querem sim, manter viva a cultura indígena da qual muito se orgulham. Cultura essa que tem muito a nos ensinar.
REFERÊNCIAS
AZIBEIRO, Nadir Esperança. Educação intercultural e complexidade: desafios emergentes a partir das relações em comunidades populares. In: Educação intercultural: mediações necessárias. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 92-93.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes para a Política Nacional de Educação Indígena. Brasília: MEC, 1993.
CANDAU, Vera Maria. Diferenças culturais, cotidiano escolar e práticas pedagógicas. Currículo sem fronteiras. v. 11, n. 2, 240-255,2011. Disponível em:<http://www.curriculosemfronteiras.org/vol11iss2articles/candau.pdf>. Acesso em 11 ago. 2019.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p.13.
LEONTIEV, Alexis. O desenvolvimento do psiquismo.2.ed. São Paulo: Centauro, 2004.
MARIN, José. Globalização, diversidade cultural e desafios para a educação. Revista de Educação Pública. Cuiabá, v.16, n.30, 2007, p.139-160. Disponível em:<http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/educacaopublica/issue/view/71>. Acesso em 11 ago.2019.
STRAUB, Sandra Luzia Wrobel. Estratégias, desafios e perspectivas do uso da informática na educação: realidade na escola pública. Cáceres: UNEMAT, 2009.
ZOIA, Alceu. A infância indígena: algumas considerações sobre a comunidade Terena do note de Mato Grosso. In: DIAS, Marieta Prata de Lima; ROQUE-FARIA, Helenice Joviano (orgs.). Cultura e Identidade: Discursos II. São Paulo: Ensino Profissional, 2009.