A importância de se trabalhar Educação Financeira com os alunos do Ensino Médio
Luciano José P. S. da Silva
DOI: 10.5281/zenodo.16740326
RESUMO
A Educação Financeira tem se tornado um tema cada vez mais relevante no contexto educacional brasileiro, especialmente após sua inclusão na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Este artigo discute a importância de abordar esse conteúdo com alunos do Ensino Médio, visando prepará-los para lidar com questões econômicas do cotidiano de forma consciente, crítica e responsável. Através de uma análise teórica e reflexiva, busca-se evidenciar como o ensino da Educação Financeira pode contribuir para a formação de cidadãos autônomos e capazes de tomar decisões mais assertivas quanto ao uso do dinheiro.
Palavras-chave: Educação Financeira. Ensino Médio. Cidadania. BNCC. Formação crítica.
INTRODUÇÃO
Vivemos em uma sociedade movida pelo consumo, onde decisões financeiras fazem parte da rotina de todos os indivíduos. Diante desse cenário, a escola assume um papel fundamental na formação de cidadãos conscientes e preparados para administrar seus recursos financeiros de forma ética e sustentável. A inclusão da Educação Financeira como tema transversal na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) representa um avanço significativo nesse sentido, especialmente no Ensino Médio, fase em que os jovens estão prestes a ingressar no mercado de trabalho e tomar decisões mais autônomas.
Este artigo tem como objetivo discutir a relevância de se trabalhar a Educação Financeira com os estudantes do Ensino Médio, destacando os benefícios pedagógicos e sociais dessa prática. Pretende-se, também, refletir sobre estratégias e desafios enfrentados pelos educadores ao abordar esse tema nas escolas.
DESENVOLVIMENTO
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Educação Financeira é definida como o processo por meio do qual os indivíduos desenvolvem um conjunto de habilidades e conhecimentos necessários para compreender conceitos e produtos financeiros, administrar seus recursos de forma eficiente, avaliar riscos e oportunidades, e tomar decisões informadas e responsáveis com relação às finanças pessoais. Esse processo envolve não apenas a aquisição de informações técnicas, mas também o desenvolvimento de atitudes e comportamentos que favoreçam uma relação equilibrada com o dinheiro.
No contexto brasileiro, essa abordagem assume uma importância ainda maior diante de indicadores alarmantes, como os elevados índices de endividamento e inadimplência entre as famílias, a baixa taxa de poupança e o consumo impulsivo, muitas vezes estimulado por práticas de marketing agressivas. A ausência de uma cultura de planejamento financeiro e a falta de orientação desde a juventude contribuem para a perpetuação de ciclos de instabilidade econômica nas famílias. A Educação Financeira, portanto, surge como ferramenta indispensável para a promoção da estabilidade individual e coletiva, ao preparar os cidadãos para enfrentar os desafios da economia contemporânea.
A escola, enquanto espaço privilegiado de formação integral, tem o papel fundamental de contribuir ativamente para o desenvolvimento dessas competências. No Ensino Médio, essa responsabilidade torna-se ainda mais urgente, uma vez que os alunos começam a experimentar maior autonomia, seja por meio de estágios, primeiros empregos ou pela gestão de pequenas quantias de dinheiro. Além disso, é nessa etapa que se consolidam habilidades cognitivas mais complexas, como o pensamento crítico, a análise de consequências e o planejamento de ações, todos elementos essenciais para a tomada de decisões financeiras conscientes.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reconhece essa necessidade ao incluir a Educação Financeira como uma temática transversal que deve ser abordada de forma interdisciplinar. Essa diretriz propõe que o tema seja integrado aos componentes curriculares de Matemática, Ciências Humanas e, inclusive, Língua Portuguesa, favorecendo uma compreensão ampla e contextualizada. O objetivo é que os estudantes desenvolvam competências como raciocínio lógico-matemático, leitura crítica de textos e mídias que envolvam o consumo, análise de informações econômicas, além da capacidade de elaborar e gerenciar orçamentos pessoais e familiares.
A presença efetiva da Educação Financeira na escola amplia as possibilidades de formar indivíduos mais conscientes dos impactos de suas escolhas econômicas, tanto no plano pessoal quanto social. Essa formação permite que o estudante compreenda a lógica do sistema financeiro, reconheça práticas de consumo sustentáveis, evite armadilhas do crédito fácil e adquira o hábito do planejamento. Além disso, contribui para o fortalecimento da cidadania, pois um indivíduo financeiramente educado tende a participar com mais autonomia e responsabilidade das decisões econômicas que afetam sua comunidade e o país.
Entre as práticas pedagógicas eficazes para o ensino da Educação Financeira destacam-se diversas estratégias que tornam o processo de aprendizagem mais atrativo e significativo. O uso de jogos didáticos, por exemplo, permite a simulação de situações do cotidiano, como o controle de um orçamento mensal ou a administração de uma pequena empresa fictícia. Simulações de compras, elaboração de planilhas, análise de propagandas e campanhas publicitárias também são métodos eficazes para discutir questões como consumo consciente, marketing e influência social. Além disso, projetos interdisciplinares envolvendo diferentes áreas do conhecimento proporcionam um olhar mais holístico e reflexivo sobre o tema.
Apesar dos avanços e das diretrizes estabelecidas, muitos professores ainda enfrentam diversos desafios para implementar a Educação Financeira em sala de aula. Entre os obstáculos mais recorrentes estão a ausência de formação específica para lidar com o tema, a escassez de materiais didáticos adaptados à realidade dos alunos e, em alguns casos, a falta de apoio institucional para projetos que envolvam inovação pedagógica. Soma-se a isso a resistência de alguns setores escolares em aceitar a abordagem de temáticas que extrapolam os conteúdos tradicionais, ainda que sejam de extrema relevância social.
Superar essas barreiras requer ações articuladas em diferentes níveis. É necessário investir em formação continuada para os docentes, disponibilizar recursos pedagógicos acessíveis e atualizados, fomentar a produção de conteúdo voltado para o contexto da juventude e valorizar experiências exitosas de escolas que já trabalham o tema. Além disso, políticas públicas mais incisivas podem estimular parcerias entre escolas, universidades e instituições financeiras, promovendo uma rede de apoio ao desenvolvimento da Educação Financeira como um direito básico de todo cidadão em formação.
CONCLUSÃO
A Educação Financeira é uma ferramenta essencial para a formação integral dos estudantes do Ensino Médio. Ao trabalhar esse tema, a escola contribui para o desenvolvimento de competências fundamentais para a vida em sociedade, como o planejamento, a responsabilidade e o consumo consciente.
É necessário que a Educação Financeira deixe de ser um conteúdo secundário e se torne parte efetiva do currículo escolar, por meio de práticas contextualizadas, interdisciplinares e voltadas para a realidade dos alunos. Dessa forma, estaremos formando cidadãos mais preparados para tomar decisões conscientes e éticas, promovendo maior justiça econômica e social.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação. Brasília: MEC, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em: 03 ago. 2025.
DAMÁSIO, Ricardo; MOURA, Ana Paula. Educação financeira nas escolas: um caminho para a autonomia. São Paulo: Cortez, 2019.
ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO (OCDE). Financial Education in Schools: Policy Guidance, Challenges and Case Studies. Paris: OECD Publishing, 2014.
SOUZA, Maria Clara de. Educação financeira: saber lidar com o dinheiro desde cedo. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 30, 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br. Acesso em: 03 ago. 2025.