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Relação da Arteterapia com o cotidiano profissional da Psicopedagogia: contribuições teóricas

Maria Alexandra Santos de Sousa1

Maria Verônica Quirino da Silva2

Girlene de Amorim Jesus3

 

DOI: 10.5281/zenodo.11505454

 

 

RESUMO

Desde a pré-história, a arte surge como um instrumento importante para as sociedades. A arte possibilita a transmissão horizontal de informações, costumes, expressões e saberes. Além disso, propicia a liberdade de expressão e exposição de aspectos resultantes do cognitivo individual do sujeito. Dessa forma, destaca-se a relação da arte com a área da psicopedagogia. Desenvolver uma breve dissertação teórica sobre a Arteterapia e sua importância para o cotidiano da psicopedagogia. Atualmente, a arteterapia tem ganhado cada vez mais espaço de discussão. O uso desse instrumento está relacionado à expressão artística com foco na terapêutica de algum agravo específico. Apesar de sua utilização ser realizada em maior parte por profissionais da área da saúde, a arteterapia é muito eficiente para os profissionais arte-educadores. Destaca-se a importância dessa ferramenta na psicopedagogia. Os psicopedagogos podem utilizar diversas técnicas artísticas para o desenvolvimento da arteterapia, entre elas a: desenho, colagens, fotografia, teatro, dança e outros. Conclui-se a importância da arteterapia como instrumento prático para o profissional de psicopedagogia. Uma vez que a utilização dessa ferramenta contribui significativamente para o desenvolvimento de ações de avaliação e criação de intervenções. Ademais, considera-se o uso da arteterapia como um recurso inovador e capaz de trabalhar ass questões que permeiam o emocional e cognitivo dos sujeitos.

 

PALAVRAS-CHAVE: Arteterapia. Educação. Psicopedagogia.

 

 

  1. INTRODUÇÃO

 

Desde os primórdios, a arte é considerada uma ferramenta essencial para o estabelecimento de comunicação entre os indivíduos. Além disso, Ribeiro e Andrade (2022) salientam que no período pré-histórico a arte, enquanto instrumento popular, pôde propiciar a transmissão de saberes e costumes entre os indivíduos e, consequentemente, a perpetuação de expressões, valores e ideias até os dias atuais. De acordo com Jung (1920), a arte apresenta-se como uma forma de expressão resultante da demonstração do inconsciente de cada indivíduo. Dessa forma, essa ferramenta possibilita a liberdade de expressão e a exposição de sensibilidade e criatividade. Salienta-se, portanto, que o efeito democrático da arte propicia a expressão criativa de ações e ideias advindas do cognitivo individual (Barbosa, 2006). Dessa forma, destaca-se a relação imbricada que a arte possui com o ramo da psicopedagogia, uma vez que esse instrumento se apresenta como artifício essencial para o desenvolvimento afetivo, social e cognitivo de indivíduos de modo a promover um desenvolvimento integral do meio coletivo.

No ramo da psicopedagogia, a arte é uma metodologia relevante para o cotidiano dos alunos. Pois, possibilita que o paciente/aluno acesse sua imaginação e afetividade, demonstre suas necessidades e auxilia no processo de superação de suas dificuldades de ensino-aprendizagem (Ribeiro e Andrade, 2022). Nesse ínterim, Rodrigues (2017), enfatiza que a utilização da arte propicia a mobilização e a cativação dos indivíduos para determinados assuntos que são, muitas vezes, complexos de serem trabalhados. Dessa forma, por meio da relação entre a arte e a psicopedagogia, inaugura-se a importância do uso da arteterapia pelos profissionais psicopedagogos. A partir do exposto, pauta-se como objetivo do presente artigo desenvolver uma breve dissertação teórica sobre a Arteterapia e sua importância para o cotidiano da psicopedagogia.

 

 

  1. DESENVOLVIMENTO

 

No Brasil, a Arteterapia tem conquistado cada vez mais novos espaços e se consolidado como um instrumento significativo do cotidiano de algumas profissões. O ramo da arteterapia baseia-se na utilização de arte com foco na melhoria terapêutica de pacientes que possuem algum agravo biopsicossocial (Carvalho, 1995). De acordo com Reis (2014) a Associação Brasileira de Arteterapia defende que a utilização dessa ferramenta baseia-se no uso da criatividade artística com foco na realização da comunicação entre os atores envolvidos. A partir desse conceito, percebe-se que, comumente, a arteterapia é utilizada em prol da saúde. Dessa forma, pode se afirmar que a arteterapia tem por objetivo refletir e debater a importância da arte como fator de promoção de saúde e transformação social na passagem do Milênio. Assim, esse instrumento analisa, acima de tudo, o processo de criação artística do paciente por meio da expressão de arte em todos os níveis e linguagens, como a pintura, o desenho, o teatro, a plástica, o som, a literatura e outros.

Com relação ao seu surgimento, acredita-se que a Arteterapia surge em meados da década de 30 a partir das teorias dos pensadores Freud e Jung. Carvalho e Andrade (1995) explicam que esses autores foram responsáveis por construir as primeiras bases que sustentam a definição e o uso prático dessa ferramenta. Essa afirmação é pautada na informação de que Freud (1856-1939) ao analisar algumas obras de arte, se deu conta de que elas apresentavam características diferentes e, através de sua análise, concluiu que as obras expressavam aspectos inconscientes do artista. Dessa forma, Freud passou a acreditar que as obras permitiam que o artista expressasse o que estava reprimido e, assim, funcionavam como uma forma de comunicação do artista com os apreciadores. Reis (2014) pontua que Freud acreditava na ideia de que o inconsciente se expressa por imagens. Dessa forma, entendia que a expressão artística funcionava como um acesso fácil ao inconsciente do artista. Uma vez que, diferente de um momento de conversa, dificilmente, o artista conseguiria esconder ou mascarar seus pensamentos mais internos ao realizar sua arte. Contudo, apesar de tamanho avanço, Freud não chegou a associar a arte como um processo terapêutico.

Anos mais tarde, o autor Jung (1875-1961) - considerado discípulo de Freud -, desenvolveu sua própria teoria intitulada como Psicologia Analística. A Psicologia Analítica de Jung associava a linguagem artística com a psicoterapia (Reis, 2014). Enquanto Freud considerava a expressão artística como uma forma de liberação das pulsões, o teórico Jung acreditava que a arte era uma função psíquica natural e estruturante capaz de possibilitar a cura de alguns agravos à medida que o indivíduo transformava o que estava em seu inconsciente em algo simbólico e expressado, muitas vezes, em forma de arte (Silveira, 2001). Os registros mostram que os pacientes de Jung eram instruídos a desenhar ou pintar o que viam, sentiam e consideravam importante de seus sonhos. Dessa forma, o teórico analisava as produções artísticas criadas e as entendia como um símbolo do inconsciente (Andrade, 2000). Reis (2014) pontua que, mais tarde, outros pensadores e teóricos trabalharam a arteterapia e seus aspectos, como A educadora norte-americana Margareth Naumburg (1890-1983) e, no Brasil, o psiquiatra Osório César (1895-1979) e a médica Nise da Silveira (1905-1999).

Ainda sobre o Brasil, o uso da expressão artística (desenho, pintura, modelagem, música, dança, construções, drama) no diagnóstico e no trabalho psicoterápico passou a ser algo sedimentado na psicologia clínica (desde aproximadamente 1940) e na academia. Dessa forma, hoje em dia, verifica-se o uso, em larga escala, da Arteterapia em instituições de Reabilitação Física e Cognitiva como Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e outros hospitais. Ademais, a arte tem sido excelente instrumental nas terapias sexuais, familiares e nos problemas do dia a dia, principalmente nos casos de dificuldade de comunicação verbal oral. Ademais, é importante citar que o processo de arteterapia facilita o contato com a percepção e órgãos sensoriais, integrando a sabedoria intuitiva, os sentimentos inscritos na memória corporal e psíquica e o nível racional adequado para a organização e discernimento das escolhas, prioridades e ideias. A arte age como importante agente curativo de nossos desequilíbrios, atualizando situações negativas em nossos registros mentais, as possibilidades do desenvolvimento da personalidade.

É importante ressaltar que a Associação Brasileira de Arteterapia considera que esse ramo é uma especialização destinada a cursos da área da saúde, como Enfermagem, Psicologia, Fisioterapia e Medicina. Contudo, reconhece-se a importância da utilização da arteterapia com foco nos aspectos clínicos pelas áreas das artes e da educação. Uma vez que a utilização dessa ferramenta por arte-educadores contribui significativamente para a realização de promoção da saúde e qualidade de vida para os indivíduos. Nos dias atuais, a arteterapia não está voltada apenas aos consultórios, por outro lado, revela-se como uma ferramenta importante para as áreas da psicologia, saúde e escola e entre outras. Dado que, a depender da formação profissional e do indivíduo atendido, a utilização da arteterapia pode assumir diferentes enfoques, como: avaliação diagnóstica, prevenção, tratamento e reabilitação. Dessa forma, seu uso perpassa o pedagógico e a saúde (Reis, 2014).

Nesse sentido, cabe salientar que na área da psicopedagogia, a arteterapia é considerada um instrumento importante e necessário para o cotidiano profissional. A associação dessas duas ciências se dá pelo fato de que a psicopedagogia surge como uma formação que age na identificação dos fatores que podem interferir no processo de construção individual e no desenvolvimento de potencialidades. Dessa forma, como mencionado, a utilização da arteterapia tem potencial significativo para auxiliar nesse processo de identificação diagnóstica e, em alguns casos, proposição de intervenções em situações de dificuldades de aprendizagem, alguns transtornos e desenvolvimento pessoal do indivíduo (Ribeiro e Andrade, 2022). Ribeiro e Andrade (2022) salientam ainda que, ao utilizar a arteterapia, o psicopedagogo proporciona a possibilidade de o indivíduo reconhecer limitações e dificuldades e, a partir disso, trabalhá-las de modo a se desenvolver aspectos ligados à criatividade, relacionamento, autoconhecimento e comunicação. Entre as técnicas de arteterapia que os psicopedagogos podem dispor, estão: desenho, fotografia, colagens, máscaras, construções, desenvolvimento de personagens, teatro, dança e entre outros. Isso significa que qualquer expressão artística que possibilite a exposição da subjetividade individual pode ser utilizadas como técnica da arteterapia (Rodrigues, 2010).

 

 

  1. CONCLUSÃO

 

A partir do exposto, cabe reafirmar que a prática da arteterapia, não fica restrita aos médicos e aos psicólogos. Pois, nos dias atuais, a área educacional é campo de grande aplicação dessa ferramenta. Em razão disso, entende-se a importância do uso da arteterapia como instrumento prático do cotidiano profissional do psicopedagogo, uma vez que, sua contribuição possibilita o desenvolvimento de recursos e técnicas avaliativas e maiores probabilidades de intervenção. Dessa forma, a utilização da arteterapia no contexto da psicopedagogia é considerada um recurso inovador, eficaz e possibilitador o desenvolvimento de subsídio de forma preventiva ou remediativa a essência do ser, saber e entender. Além disso, essa ferramenta proporciona o alcance da harmonia emocional e afetiva dos sujeitos aprendizes.

 

 

REFERÊNCIAS

 

ANDRADE, L. Q. Terapias expressivas. 1 ed. São Paulo: Vetor, 2000.

 

BARBOSA, A. M.. Arte-Educação no Brasil. 5 ed. São Paulo: Perspectiva, 2006.

 

CARVALHO, M. M. M. J.; ANDRADE, L. Q. A. Breve histórico do uso da arte em psicoterapia. In: CARVALHO, M. M. M. J. A arte cura? Recursos artísticos em psicoterapia. Campinas, SP: Editorial Psy II, 1995, p. 27-38.

 

JUNG, Carl Gustav. Fundamentos da Psicopedagogia Analítica. 4 ed. Rio de Janeiro: Vozes. 2004.

 

REIS, A. C. Arteterapia: a arte como instrumento no trabalho do psicólogo. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 34, n.1, p. 142-157, jan. 2014. DOI: https://doi.org/10.1590/S1414-98932014000100011. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/pcp/a/5vdgTHLvfkzynKFHnR84jqP/#>. Acesso em: 02 jun. de 2024.

 

RIBEIRO, C., ANDRADE, M.. A arte terapia como ferramenta auxiliar da psicopedagogia: a importância da arte na avaliação à intervenção psicoeducativa. Revista Pesquisa e Educação a Distância, América do Norte, v.1, n. 1, abr. 2022. Disponível em: http://revista.universo.edu.br/index.php?journal=2013EAD1&page=article&op=view&path%5B%5D=9487&path%5B%5D=4952 . Acesso em: 02 jun. 2024.

 

RODRIGUES, R. N. L.; SOUZA, L. J.; TREVISO, V. C. Arte-educação: a relevância da arte no processo de ensino e aprendizagem. Revista Cadernos de Educação: Ensino e Sociedade, Bebedouro, v. 4, n. 1, p. 114-126, 2017. Disponível em: <https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/cadernodeeducacao/sumario/50/26042017193023.pdf>. Acesso em: 01 jun. de 2024.

 

SILVEIRA, N. O mundo das imagens. 1 ed. São Paulo: Ática, 2001.

1 Psicopedagoga. Professora adjunta do Município de Nova Olímpia - MT. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

2 Psicopedagoga. Professora adjunta do Município de Nova Olímpia - MT.

3 Neuropsicopedagoga. Professora adjunta do Município de Nova Olímpia - MT.