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A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Nádia Maria Villa Paulino

Tatiane Aparecida de Souza

 

 

RESUMO

O uso da música na Educação Infantil atua como facilitadora no processo de ensino aprendizagem, visto que a música e os sons estão em contato com o ser humano deste o ventre materno até o fim da vida, portanto faz-se necessário questionar o porquê de não utilizá-la como ferramenta auxiliadora no processo de desenvolvimento da criança. A Base Nacional Comum curricular, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e a Lei de Diretrizes e Bases da educação asseguram a música como ferramenta no processo de ensino aprendizagem, e em especial na Educação infantil, período onde a criança está na fase de descobertas, que ela se desenvolve integralmente criando, recriando e explorando. A utilização da música na Educação Infantil ocorre muitas vezes de forma mecânica e rotineira, como formação de hábitos e respeito às regras, então cabe ao professor buscar meios para que mude esta realidade, propiciando as crianças momentos para que elas desenvolvam suas áreas afetivas, cognitivas, motoras e sociais. 



Palavras-chave: Criança. Música. Desenvolvimento. Aprendizagem. Educação Infantil.

1 INTRODUÇÃO

 

O presente tem como tema a música na Educação Infantil, onde aborda os principais pontos sobre o processo de musicalização da criança, tendo por principal objetivo mostrar a importância de usar a música no cotidiano escolar, não somente para formação de hábitos, mas para a formação pessoal e integral da criança.

A Base Nacional Comum Curricular assegura a criança da educação infantil os seis direitos de aprendizagem e os cinco campos de experiência, onde mostra o que a criança deve desenvolver nesta etapa, já o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil tem como ferramenta a música como facilitadora no processo de ensino aprendizagem, que é assegurada na Lei de Diretrizes e Bases.

Os sons e a música entram em contato com o ser humano desde o ventre, nas batidas do coração, em seguida a voz da mãe, logo os sons que o cercam após o nascimento, a partir do contato com estes sons é adquirido a fala, em seguida bate palmas, pés, desenvolvendo cada vez mais o senso rítmico através da musicalização do meio em que vive.

Na fase da Educação infantil a criança está aberta ao novo, neste momento então cabe ao professor propiciar a ela condições para que se desenvolva integralmente, e uma ferramenta facilitadora no processo de ensino aprendizagem é a música, os sons, através das cantigas de roda, das danças, cantos, histórias, imitações, possibilitando a criança a estar em contato com o novo, a criar, recriar, a estar em contato com a diversidade cultural, além de desenvolver as dimensões afetivas, cognitivas, motoras e sociais.

2 A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

2.1 CONCEITO DE MÚSICA

 

Segundo o Dicionário Figueiredo (1913) a música tem por significado “resultado da combinação de sons ou arte de combinar, para que produzam efeito agradável”.

Blacking (2007) afirma que “A “música” é um sistema modelar primário do pensamento humano e uma parte da infraestrutura da vida humana. O fazer “musical” é um tipo especial de ação social que pode ter importantes consequências para outros tipos de ação social”. 

A autora Maheirie (2003) ressalta que “A música, de forma geral, nos aborda num primeiro momento de maneira espontânea, e, neste estado específico, ela nos atinge no âmbito da afetividade, predominando esta esfera do humano no ouvir e, até mesmo, no fazer musical”. Sendo assim a música e consequentemente o som fazem parte da espontaneidade do ser humano, sendo aliados por toda a vida.

 

2.2 A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL DE ACORDO COM A BNCC E O RCNEI

 

A Educação Infantil até meados dos anos 1980 era chamada de pré-escolar e não fazia parte da educação formal, com a Constituição Federal de 1988 o atendimento das creches e pré-escolas de crianças até seis anos de idade tornaram-se dever do estado, em seguida com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em 1996 a Educação Infantil passa ser parte integrante da Educação Básica, sendo tão importante quanto Ensino Fundamental e Ensino Médio. Logo houve uma modificação na LDB em 2006 que antecipou o Ensino Fundamental para os seis anos de idade, sendo assim, a Educação Infantil passou a atender crianças de zero a cinco anos, porém, mesmo sendo reconhecida como direito da criança e dever do estado, de acordo com Emenda Constitucional nº 59/2009 o ensino passa a ser obrigatório para crianças de quatro a dezessete anos de idade, desta forma a Educação Infantil se torna obrigatória para crianças de quatro e cinco anos, essa extensão de obrigatoriedade foi incluída na LDB de 2013. (BRASIL, 2017)

Segundo o Art.29 da Lei de Diretrizes Bases n° 9394/96 “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até cinco anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”.

De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) “Como primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil é o início e o fundamento do processo educacional”. Ou seja, é nesta fase onde a criança inicia o seu processo de ensino aprendizagem. (BRASIL, 2017)

Os eixos estruturantes das práticas pedagógicas dessa etapa da Educação Básica são as interações e as brincadeiras, experiências nas quais as crianças podem construir e apropriar-se de conhecimentos por meio de suas ações e interações com seus pares e com os adultos, o que possibilita aprendizagens, desenvolvimento e socialização. (BRASIL, 2017, p.35)

Diante destas afirmações, a BNCC nos apresenta os eixos estruturantes das práticas pedagógicas sendo os seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento que asseguram condições para que as crianças aprendam em situações nas quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes do mundo social e natural, sendo eles: Conviver, Brincar, Participar, Explorar, Expressar e Conhecer-se, é diante destes seis direitos de aprendizagem que a criança irá se desenvolver integralmente, cabe ao professor procurar meios para que estes sejam desenvolvidos. Considerando os eixos estruturantes da educação infantil, a organização curricular está estruturada em cinco campos de experiências: O eu, o outro e o nós; Escuta, fala, pensamento e imaginação; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. (BRASIL, 2017, grifo nosso).

Ainda nos campos de experiências temos:

Com o corpo (por meio dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou intencionais, coordenados ou espontâneos), as crianças, desde cedo, exploram o mundo, o espaço e os objetos do seu entorno, estabelecem relações, expressam-se, brincam e produzem conhecimentos sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e cultural tornando-se, progressivamente, conscientes dessa corporeidade. Por meio das diferentes linguagens, como a música, a dança, o teatro, as brincadeiras de faz de conta, elas se comunicam e se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem. (BRASIL, 2017, p.38)

 

Conviver com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituição escolar, possibilita às crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com base nessas experiências, elas se expressam por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais, exercitando a autoria (coletiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos, modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos tecnológicos. (BRASIL, 2017, p.39)

 

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) define dois âmbitos de experiências: Formação Pessoal e Social e o Conhecimento de mundo. O âmbito de Formação pessoal e social refere-se à construção do sujeito, ou seja, questões que envolvem afetividade e natureza global cabem então às instituições trabalharem para que a criança desenvolvam estas questões de convivência, estar com o outro e com o meio em que vive. No âmbito conhecimento de mundo refere-se às diferentes linguagens que as crianças desenvolvem com os objetos de conhecimento, o domínio destas linguagens favorecem a comunicação de sentimentos, emoções e ideias, propiciam também a interação com o meio em que vivem e facilitam a mediação com as culturas e os conhecimentos constituídos, englobando instrumentos fundamentais ao longo da vida. 

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil ressalta ainda, para que os objetivos sejam atingidos é necessário seguir os eixos de trabalho: Identidade e autonomia, Movimento, Artes visuais, Música, Linguagem oral e escrita, Natureza e sociedade, e Matemática. (BRASIL, 1998, grifo nosso)

Ainda sobre o RCNEI (1998), nele se afirma que as práticas educativas devem ser organizadas de forma que as crianças desenvolvam as seguintes capacidades, com a faixa etária de zero a três anos:

 

O RCNEI (1998) afirma que, para a faixa etária de crianças de quatro a seis anos, é necessário que os objetivos estabelecidos na faixa etária anterior sejam aprofundados, oportunizando desta forma um bom desenvolvimento e garantindo que nesta fase as crianças sejam capazes de:

 

Podemos perceber que a linguagem musical é um dos eixos norteadores da educação infantil, portanto precisa ser assegurada na faixa etária entre zero e cinco anos para contribuir efetivamente no desenvolvimento integral da criança.  O ensino da música na educação básica é amparado pela Lei n° 11.769, sancionada em 18 de agosto de 2008, que determina que a música deve ser conteúdo obrigatório em toda a educação básica. 

 

2.3 PROCESSO DE MUSICALIZAÇÃO DA CRIANÇA

 

Segundo Brito (2003), a música relaciona-se com o ser humano antes mesmo do nascimento, quando a criança ainda está no útero da mãe.

O envolvimento das crianças com o universo sonoro começa ainda antes do nascimento, pois na fase intrauterina os bebês já convivem com um ambiente de sons provocados pelo corpo da mãe, como o sangue que flui nas veias, a respiração e a movimentação dos intestinos. A voz materna também constitui material sonoro especial e referência afetiva para eles. (IBID, 2003, p.35) apud (ASSMAN E SANTOS, 2011, p.3)

 

Quando um bebê é gerado, todos os órgãos estão em plena atividade, neste sentido o som é uma das partes mais aguçadas, o bebê então já entra em contato com as vibrações sonoras, uma delas é o som da voz de sua mãe, e depois outros ruídos e sons que o cercam, a partir disso inicia-se a educação musical. Quando um bebê passa a reconhecer sons, suas atividades cerebrais são mais desenvolvidas e consequentemente ao nascer tenha maior facilidade de aprendizagem. (MELO, LÚCIA, 2013)

De acordo com Brito (2003), o processo de musicalização de uma criança começa espontaneamente e de forma intuitiva, por meio do contato com os sons no seu cotidiano, sendo assim as canções de ninar, as cantigas de roda e todo tipo de música é indispensável para o desenvolvimento infantil, pois é através destas interações que permitem à criança comunicar-se através dos sons.

Segundo Reis (2012), a criança ao longo dos primeiros meses de vida começa a interagir com os sons e com a música, balbuciando sons únicos, e aos poucos conseguem diferenciar diversos sons musicais, começam a balançar mãos e pés, em seguida associam música às palmas, pés e assim sucessivamente. O autor relata ainda que em torno dos dois anos, as crianças começam a fase da imitação, reagem rapidamente a qualquer tipo de som, cantando ou dançando, tendo controle sobre sua voz, iniciando a fase de composição e improvisação, a partir dos cinco anos já tem seu gosto musical e sons específicos, e na maioria das vezes já tem seu próprio repertório musical.

De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil desde o primeiro ao terceiro ano de vida as crianças ampliam os modos de expressão corporal pelas conquistas tanto vocais, quanto corporais, reproduzindo sons, gestos sonoros, batendo palmas, pés, e até mesmo acompanhando uma música com a marcha dos pés. É importante ressaltar no que diz respeito à relação da criança com materiais sonoros, sendo de suma importância seu contado direto, como por exemplo, tocar as teclas de um piano, cordas de um violão, sentir suas vibrações, explorar materiais sonoros diversos, relacionando e construindo seus próprios objetos que produzam som, assim, descobrindo possibilidades sonoras com todo material acessível. O RCNEI destaca ainda que a partir do terceiro ano de vida a criança desenvolve um maior domínio com relação à entonação da música, consegue memorizar um maior número de canções, refrãos completos, e é muito comum que brincando sozinha crie longas canções, além de aumentar o interesse pelos instrumentos sonoros, despertando a curiosidade, levando a criança a compreender que é preciso ritmo, que deve haver sintonia entre tocar e cantar, aumentando também o interesse por diferentes estilos musicais quando se tem a possibilidade de conhecê-los. (BRASIL, 1998)

Ao se relacionar com a música a criança consegue interagir melhor socialmente, com os colegas e familiares, levando em consideração que ao brincar de cantigas de roda consegue lidar com suas frustrações, diante das regras e limites que elas trazem, melhoram a concentração, tem mais facilidade de absorver informações. O autor relata ainda que o aprendizado musical, além de favorecer o desenvolvimento afetivo da criança amplia a atividade cerebral, melhora o desempenho escolar, e contribui para integrar socialmente o indivíduo. (BRÉSCIA, 2003, p.81 apud SOUSA, 2014, p.14)

 

2.4 A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

 

Durante o processo de desenvolvimento da criança na educação infantil podemos perceber que a presença da musicalização é de suma importância, como relata Gohn (2010):

Musicalização é um processo de construção do conhecimento musical que tem como objetivo despertar e desenvolver o gosto musical da criança, contribuindo para sua capacidade de criação e expressão artística. Na musicalização o lúdico caminha lado a lado com a música, oferecendo ao educando a possibilidade de desenvolver e aperfeiçoar a percepção auditiva, a organização, a imaginação, a coordenação motora, a memorização, a socialização e a expressividade. (GOHN, 2010, p.6)

 

Sobre a importância da música RCNEI (1998) relata que “A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social”.

Segundo Feliciano (2012) na Educação Infantil as possibilidades de aprendizagem são inúmeras, esta fase tem o papel de favorecer descobertas e possibilitar vivências na aprendizagem, para que isso aconteça é necessário que a criança tenha contato direto com diversos materiais, que estes sejam apresentados de forma concreta, para que possam conhecer, tocar e explorar, sejam eles instrumentos convencionais ou não convencionais.

Segundo Weigel (1998) e Barreto (2000) apud Santos (2009) as atividades de musicalização contribuem de maneira inolvidável no desenvolvimento cognitivo/linguístico, psicomotor e sócio afetivo da seguinte forma:

Desenvolvimento cognitivo/ linguístico: Toda e qualquer situação que as crianças lidam no dia a dia são fontes de conhecimento, desta forma, quanto maior for à riqueza de estímulos melhor será o seu desenvolvimento intelectual. As experiências de contato direto (vendo, ouvindo, tocando) favorecem os sentidos, ao trabalhar os sons desenvolvem a acuidade auditiva; ao acompanhar gestos e sons desenvolve a coordenação motora e a atenção; ao cantar e imitar sons desenvolve suas capacidades de lidar com o meio em que vive. 

Desenvolvimento psicomotor: As atividades que contém música oferecem para a criança inúmeras formas de desenvolver suas capacidades motoras e aprenda a controlar seus músculos e se mover com desenvoltura, o estímulo rítmico é responsável por desenvolver o equilíbrio e o sistema nervoso, qualquer movimento relacionado ao ritmo é resultado de um conjunto completo e complexo de atividades coordenadas, por este motivo as atividades rítmicas como bater palmas, pés, dançar são importantes para a criança, através destas atividades desenvolvem o senso rítmico e a coordenação motora que são fatores importantes para o processo de aquisição da leitura e da escrita.

Desenvolvimento sócio afetivo: Ao longo do desenvolvimento infantil a criança forma sua identidade, percebendo ser diferente do outro e ao mesmo tempo se integra com o meio em que vive, neste processo trabalhar a autoestima é de suma importância, é através deste processo que a criança irá aceitar-se, e descobrirá suas limitações e capacidades. As atividades de musicalização coletivas favorecem o desenvolvimento da socialização, cooperação e participação desenvolvendo assim seu conceito de grupo, além de expressar-se musicalmente em atividades que lhe proporcionam prazer, demonstram sentimentos, liberam suas emoções desenvolvendo assim sentimento de segurança e auto realização.

Melo e Lúcia (2013) afirmam que existem três eixos fundamentais que mostram de diferentes ângulos a música como peça estrutural na educação, tais como: formação pessoal, cultural e social. A formação pessoal traz alegria à criança, contribui para o desenvolvimento da coordenação motora, além de trabalhar a aprendizagem em outras disciplinas, já a formação cultural desperta na criança o senso rítmico, desenvolve a sensibilidade musical, desperta a criatividade durante danças, gestos, cantos, no eixo da formação social ela estimula o convívio coletivo, implanta o gosto pelo canto, ou dança, levando a criança a compreender o que é trabalhar em grupo.

Gohn e Stavracas (2011) relatam que no processo de musicalização o lúdico e a música caminham lado a lado, oferecendo ao educando a possibilidade de desenvolver e aperfeiçoar a percepção auditiva, coordenação motora, imaginação, socialização e a expressividade, neste momento então cabe a escola e ao professor propiciar as crianças momentos para que ela possa se expressar e desenvolver.

De acordo com (Chiarelli, Barreto, 2005, apud Reis, 2012) as atividades musicais nas escolas não tem a intenção de formar músicos e sim oportunizar a criança o contato com o universo da música e dos sons, que auxilia no desenvolvimento e também na aprendizagem. Algumas crianças veem a escola como um espaço sem muita atração, e a inclusão da música pode ser um dos facilitadores desta interação entre escola e aluno, despertando o desejo e o interesse em aprender, e assim auxiliar no seu desenvolvimento. 

O processo de musicalização nas escolas ainda continua lento e rotineiro, sendo utilizada como ferramenta de suporte para atender vários propósitos pedagógicos como formação de hábitos, atitudes e comportamentos como hora do lanchinho, formação de fila, respeitos às leis de trânsitos e aos colegas, acompanhadas de gestos, como se a música fosse um produto pronto e mecânico, e não uma linguagem cujo conhecimento se constrói. Deve-se entender o papel da música na Educação Infantil e deixar de lado esta ação mecânica, sem uma intencionalidade definida a escola deve buscar meios de propiciar a criança situações para que ela desenvolva sua criatividade, e visão de mundo. Quando as crianças ouvem músicas, dançam, cantam, participam de brincadeiras e jogos diversos, ação estas que propiciam o estímulo fundamental para a formação do ser humano. (BRASIL, 1998; GOHN, 2010; SOUSA, 2009.)

Os autores relatam ainda que algumas práticas musicais devem estar presentes no cotidiano escolar das crianças, como jogo, dança, dramatização, canto, brinquedos musicais, bandinhas rítmicas, tais práticas podem estar presentes também na parte cultural, como as brincadeiras de roda, parlendas, cantigas de ninar, trava-línguas e versos, estas práticas resgatam o folclore brasileiro despertando nas crianças a preservação da cultura nacional. Segundo as autoras o trabalho com as práticas culturais, dentre elas a música, podem ser feitas juntamente com as famílias e suas diversidades culturais, possibilitando desta forma o resgate cultural musical. (GOHN, 2011; STAVRACAS, 2008.)

De acordo com BRASIL (1998), “o trabalho com a diversidade de culturas e o convívio com a diferença possibilitam a ampliação de horizontes tanto para o professor quanto para o aluno”.

 Ao aprender sobre a diversidade sonora musical cultural a criança percebe que o som existente na sua cultura pode ser igual ou completamente diferente do outro, por conseguinte a criança terá respeito ao olhar do outro e principalmente o respeito a diferença. FELICIANO (2012)

Ressaltando a importância das práticas musicais citadas por Gohn (2011) e Stavracas (2008), temos os jogos, dança, canto, brinquedos musicais, bandinha rítmica e a dramatização. Os jogos possibilitam inúmeras formas de trabalhar o som e o silêncio, como exemplo a brincadeira de estátua; jogos de improvisação que permitem a criança a criar e recriar. As bandinhas rítmicas são um dos principais recursos pedagógicos e consiste em utilizar instrumentos convencionais e não convencionais para determinadas atividades e através dela é possível explorar sons altos e baixos, fortes e fracos, além de ser um excelente instrumento para desenvolver o senso rítmico das crianças. Na dramatização a música aparece como um elemento complementar, como fundo musical durante a dramatização de uma história ou ainda uma música que as crianças reproduzem seus comandos através da dança, ou ainda através do canto, sendo um aliado importante, atuando no desenvolvimento da coordenação motora, ritmo e também na atenção e concentração da criança, tais práticas possibilitam que as crianças interajam e construam relações com o meio, estimulando-as a expressar-se livremente e aprendendo a lidar com suas conquistas e derrotas.

Rodrigues e Rosin (2011) comentam que a música no processo de ensino-aprendizagem é uma oportunidade de agregar conhecimento histórico-cultural e que ela não é uma atividade inata, mas sim construída pelo homem e desenvolvida através de suas interações. O professor pode utilizar esse recurso para ensinar e também desenvolver nos alunos as capacidades de imaginação, compreensão e o respeito às regras para uma melhor convivência social promovendo o aprendizado escolar.

De acordo com Feliciano (2012) a música é tão forte no desenvolvimento humano que ela funciona como uma marca, ao contrário do que muitos pensam, a música na infância acompanha a vida, nos momentos de lembrança da época, e na maioria das vezes isto é passado para os filhos ou ainda parentes próximos, e isto vai se passando de geração a geração. O autor relata ainda que no processo de desenvolvimento do fazer musical é importante destacar para a criança a diferença e a importância do som e do silêncio, que se torna agradável ao ser humano e que muitas vezes o silêncio é importante para valorizar o som, a partir do momento que a criança consegue diferenciá-los passa a se tornar mais atenciosa na maneira de criar e realizar o fazer musical.

 

2.5 O PAPEL DO PROFESSOR

 

Para que o professor consiga realizar um bom trabalho o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil propõe que acima de tudo deve-se respeitar o nível de percepção e desenvolvimento tanto global e musical da criança, seguindo os conteúdos que são divididos em dois blocos, o fazer musical e a apreciação musical. O fazer musical acontece por meio da improvisação e composição da criança, aquilo que ela cria brincando, as composições durante uma brincadeira, ou quando inventam algum instrumento musical com os materiais que tem à disposição, já a apreciação musical refere-se à audição e interação com a diversidade de músicas que as crianças tem contato no dia a dia de forma direta ou indireta. O professor deve também trabalhar a música no cotidiano infantil de forma lúdica trazendo a valorização da voz humana, do respeito aos diferentes estilos musicais, dos sons existentes ao nosso redor. (BRASIL, 1998)

Feliciano (2012) ressalta a importância de mostrar as crianças os variados sons, como os naturais, ou produzidos por instrumentos, os sons naturais por sua vez são o vento, chuva, folhas o som dos animais, sem deixar de lado o som dos instrumentos, sejam eles convencionais, instrumentos prontos/industrializados, ou não convencionais, instrumentos produzidos de sucatas/ improvisados, levando a criança a conhecer a diversidade sonora que ela está inserida e que os sons não vem somente dos instrumentos musicais, mas sim de todas as situações ao redor. 

Embora a maioria dos professores da educação infantil não sejam especializados em música, ou ainda não saibam utilizar diversos instrumentos, devem possibilitar ao aluno, ver, ouvir e sentir o mundo a sua volta dando oportunidades para que ele possa cantar, tocar, criar, modificar e dançar músicas, tanto tradicionais, quantos as não tradicionais. Sabemos ainda que é preciso planejar uma diversidade de músicas que serão levadas ao ambiente escolar, considerando que cada pessoa tem um gosto musical, no entanto, o gosto musical particular do professor não deve interferir no seu trabalho, devendo lembrar que as crianças estão na fase de descobertas e abertas para o novo, e muitas vezes, tem acesso limitado no meio onde vivem e a escola deve ser facilitadora garantindo o direito ao acesso a uma diversidade musical. (SILVA, 2014)

Silva (2014) afirma ainda que o professor na Educação infantil com relação à música deve atuar de forma que possa ajudar os alunos a tirarem proveito das músicas levando-as a refletir sobre o que ouvem, cantam, dançam e criam para que a música não sirva apenas como uma forma de lazer ou entretenimento e sim como formação de indivíduos.

De acordo com Reis (2012) podemos então compreender que é função da escola não só formar cidadãos, mas sim proporcionar oportunidades de aprendizagens as crianças para que elas desenvolvam, este é o papel da escola e principalmente do professor, oportunizar e ampliar o contato com conteúdos que possam garantir seus direitos de aprendizagem, como exemplo a música, os sons, não somente de maneira lúdica, mas que ela seja uma aliada no dia a dia tanto para a criança, quanto para o professor.

A música deve ser percebida pelos educadores como fonte de ensino-aprendizagem, as ações mais comuns realizadas no dia a dia das crianças devem ser transformadas em possibilidades, a música tem intensa relação com o brincar, que em todas as culturas é preservada e por este motivo, a escola pode e deve ser uma condutora deste processo, oferecendo as crianças os subsídios necessários para que potencialize seus conhecimentos e se desenvolvam integralmente. Faz-se necessário definir objetivos, metodologias, estratégias e avaliação do processo que envolve a música, no entanto é importante que o professor tenha a clareza dos benefícios que ela traz para o processo integral de ensino aprendizagem. (STAVRACAS, 2008)

3 CONCLUSÃO

 

Por meio deste houve uma melhor compreensão sobre a importância da música para o desenvolvimento infantil e a diversidade de possibilidades que esta ferramenta proporciona para a ação docente. 

Foi possível compreender como é o dia a dia do professor durante seu planejamento, seus objetivos de acordo com a necessidade de cada criança, respeitando suas especificidades, modificou também a ideia de que a música não é inata e mecânica, ela tem seus valores e são riquíssimos para o desenvolvimento infantil. 

Na Educação Infantil a criança está na fase de descobertas, onde desenvolvem as áreas cognitivas, afetivas, motoras e sociais, são áreas em que a música se torna instrumento indispensável. Neste sentido o papel do professor com relação à música no ambiente escolar é ser facilitador e mediador, buscando diversos meios para cativar o interesse das crianças.

Dessa forma, verifica-se que a música e os sons no processo de ensino aprendizagem são cruciais e devem ser trabalhados não somente na Educação Infantil, mas em todos os níveis da Educação Básica, uma vez que a música e os sons nos acompanham desde o útero materno até o fim da vida.

 

REFERÊNCIAS

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STAVRACAS, Isa. O PAPEL DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL. 232f. 2008.

 









   

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