Imprimir

O Uso do Computador em Sala de Aula

Inês Warmling Maurina [1]

 

Resumo

Com o advento da tecnologia à nossa sociedade atual, houve-se a necessidade de atualizar e diversificar propostas pedagógicas com o intuito de inserir de uma forma direta processos tecnológicos no desempenho das atividades docentes. No entanto, a realidade mostra que, embora o laboratório de informática é parte integrante das escolas, este tem elevada taxa de ociosidade quanto a ser um instrumento que auxilie no processo educacional.  A informática está inserida em praticamente todos os ambientes escolares, no entanto, o conceito de uso de computadores, principalmente quando se trata de alunos, vem carregado de medos e preocupações ou, infelizmente de puro desleixo, pois muitas vezes, quando se deveria tornar o ambiente computacional uma porta aberta para novos caminhos e descobertas, professores têm deixado seus pequenos aprendizes a mercê de jogos e programas nada educacionais.  Para se reverter este quadro, é fundamental o reconhecimento do professor, bem como dos demais profissionais da educação da importância da utilização de uma máquina tecnológica que hoje, faz parte da vida de todos.

Palavras-chave: Aluno. Informática. Professor.

 

Abstract

With the advent of technology in our society today, there is a need to upgrade and diversify educational proposals in order to enter in a direct way technological processes in the performance of teaching activities. However, reality shows that although the computer lab is an integral part of the schools, this has high rate of idleness as being a tool to assist in the educational process. Information technology is embedded in virtually all school environments, however, the concept of using computers, especially when it comes to students, comes loaded with fears and worries or, unfortunately pure sloppiness, because often when it should become the an open door to new avenues and discoveries computing environment teachers have left their young learners at the mercy of games and nothing educational programs. To reverse this situation, it is essential to recognize the teacher as well as other education professionals the importance of using a technological machine that today is part of everyone's life.

Keywords: Student. Informatics. Teacher.

 

INTRODUÇÃO

Em nosso país, desde o final do século XIX, a escola tem ganhado destaque como uma das utopias da modernidade. Esta, por sua vez, consolidou-se como lugar institucionalizado para o preparo das novas gerações, assumindo um importante papel não só social com vistas a atender aos ideais do Estado, mas também como instrumento de modernização e progresso do Estado -Nação.  Para atender a estes ideais, programas advindos de poderes públicos estão levando computadores para escolas públicas brasileiras com o intuito de fornecer aos educandos a melhoria da qualidade educacional na área da tecnologia.

No entanto, apenas fornecer de forma aleatória o uso da tecnologia em sala de aula sem um respaldo pedagógico, ou seja, programas e projetos  que contemplem  o uso  do computador de forma que este incremente o saber pedagógico,  tem gerados medos e,  inclusive o mau uso dos equipamentos em ambiente escolar. Segundo Almeida, p. 15:

“...À escola cabe acolher todos e partindo de uma visão sincrética de suas vidas e necessidades e sonhos organizar lhes estas demandas com 2 valores e com as habilidades cognitivas e com a sistematização das ciências. O uso dos computadores neste  contexto tem o significado de ajudar a fazer os diagnósticos da realidade e de facilitar o cruzamento entre as necessidades locais e os conteúdos da ciência, da arte e da cultura disponíveis em suas enormes redes. Mas para isso é necessário um excelente projeto pedagógico da escola e de cada professor em sua disciplina.” (ALMEIDA, 2009. p. 15)

Nos dias atuais, não só em nosso trabalho, mas nos vários ambientes em  que atuamos, podemos perceber o quanto o computador se tornou importante e ferramenta de uso constante nos mais diferentes espaços. Um exemplo disso são os caixas eletrônicos, o qual utilizamos muito, inclusive fora de nosso horário de trabalho. Se pararmos para observar à nossa volta, perceberemos o quanto fazemos uso dessa tecnologia. Ainda segundo Almeida,

“Em se tratando do computador fica claro que nasceu por graça da matemática (e de ciências afins) e que não é senão um instrumento matematizador de informações (...)” (ALMEIDA, 2009. p. 75)

Portanto, ao pensar o uso das tecnologias computacionais em sala de aula nos dias de hoje, é  provável deparar-nos uso inadequado dessas poderosas máquinas como também o despreparo do corpo docente na aplicação da utilização em sala de aula.

Este trabalho viabiliza um repensar do uso adequado do computador em ambiente escolar de forma que este possa contribuir de  maneira  precisa  com a formação a capacitação do educando não só para com o mercado de trabalho, mas também para viver bem preparado para esta sociedade que está em constante avanço tecnológico.

 

DESENVOLVIMENTO

Em nossos dias podemos perceber que a tecnologia está presente em todos os lugares e que a informática faz parte de nossas vidas e intensifica essa presença a cada dia. Pouco a pouco o computador tem se tornado um aparelho inclusive corriqueiro em nossa sociedade e mais cedo ou mais tarde todos terão que aprender a conviver com essas máquinas tanto na vida pessoal como na vida social.

Portanto, na educação não é diferente. Como Gianolla, 2006, p. 12:

“Como uma derivação natural desses contextos múltiplos cotidiano, a escola também convive com todo esse processo de informatização sob diversos aspectos, seja no controle administrativo e financeiro, na utilização do computador como ferramenta auxiliar do processo de ensino/aprendizagem e nas questões do cotidiano trazidas até a sala de aula.” (GIANOLLA, 2006, p. 12)

No entanto, para se ter uma adequada utilização dessa tecnologia em sala de aula, é imprescindível que se haja uma preparação da escola, dos professores e de todo os profissionais ligados à educação de forma mais direta. Pois é notável e claro os problemas causados pelo mau uso do computador no ambiente escolar, como por exemplo, jogos violentos, imagens pornográficas, diálogos inadequados, quando se poderia utilizar-se dessa rica ferramenta para o aperfeiçoamento inesgotável do saber.

Embora esta seja uma ferramenta riquíssima em face a sua capacidade de armazenamento de informações, devemos levar em consideração que este equipamento não fora desenvolvido para fins pedagógicos. Daí a importância de se olhar com criticidade e buscar, em meio às teorias e práticas, o bom uso deste recurso.

Infelizmente, o que ocorre nas escolas quanto ao uso de computadores tem redirecionado o aprendizado significativo para uma educação com pretexto na modernidade, pois escolas têm investido em salas de informática, onde os alunos a frequentam uma vez por semana juntamente com um monitor e, usam o computador para jogos e outras atividades descontextualizadas e sem nenhuma ligação com outras disciplinas ou concepções pedagógicas.

Cox, em seu livro “Informática na educação escolar” cita alguns bons requisitos para o bom uso da informática na educação escolar:

 “1. Sensibilizar os agentes escolares – professores, pais, administradores, governantes e alunos precisam ser sensibilizados quanto à importância da reestruturação da escola e quanto ao papel dos computadores nesse processo para que uma atmosfera de cooperação se estabeleça.

2. Preparar o professor – o corpo docente da escola que se prepara para ser repensada e para implantar as ferramentas computacionais em sua prática educacional precisa de capacitação para bem explorar os novos ambientes de trabalho e para contribuir com o processo de reformulação.

3.  Equipar a escola – nessa tarefa, o ideal é que os agentes escolares tenham o apoio de profissionais da área de informática para elaboração das especificações dos equipamentos físicos a serem adquiridos, pois os avanços nessa área são significativamente velozes, geralmente impossibilitando a elaboração de projetos com validade média superior a seis meses.

4. Ajustar o funcionamento das atividades escolares para adoção dos instrumentos computacionais na prática educacional escolar, inevitáveis ajustes no funcionamento escola são necessários: elaboração de horário de funcionamento dos laboratórios, definição de equipe responsável pelo suporte técnico aos usuários dos equipamentos, provisão de recursos para manutenção das máquinas de apoio.” (COX, 2008, p. 73-81)

O computador, quando utilizado de forma realmente educativa, ou seja, uma ferramenta pedagógica, auxilia no processo de construção do conhecimento e então passa de ser um fim para ser um meio de obtenção do conhecimento. Nesse sentido, a informática na sala de aula trona-se um poderoso recurso à aprendizagem significativa, com inúmeras possibilidades pedagógicas.

O que vemos é que a cada dia a escola está sendo mais e mais informatizada e, nossas crianças precisam ser inseridas neste processo tecnológico já que o mundo em que vivem utiliza-se desses meios constantemente. Cox (2008, p. 23) ressalta que “sabendo que a realidade a qual o homem precisa interpretar é continuamente construída e reconstruída, é válido ressaltar que o refazer permanente deve ser  capacidade fundamental do homem de todos os tempos, modernos ou não”, ou seja, o ambiente escolar deve interligar-se à realidade social, aproximando-se cada dia mais daquilo que o educando necessita para sobreviver dentro e fora da escola.

Quando o aluno então consegue criar, agir sobre um determinado software, solucionando seu problema, ele (aluno) passa a ser sujeito ativo de sua aprendizagem. O computador ao ser utilizado pelo educando viabiliza a construção e reconstrução tornando a aprendizagem uma nova descoberta. Neste contexto, o aluno ganha em qualidade de ensino e aprendizagem.

Valente afirma que:

“A mudança da função do computador como meio educacional acontece juntamente com um questionamento da função da escola e do papel do professor. A verdadeira função do aparato educacional não deve ser a de ensinar, mas sim a de criar condições de aprendizagem. Isso significa que o professor precisa deixar de ser o repassador de ... e passa a ser o criador de ambientes de aprendizagem e o facilitador do processo de desenvolvimento intelectual do aluno.” (VALENTE, 1993, p.06).

Portanto, a escola deve ser o elo entre o aprender e a preparação para o convívio e aprendizagem social e, para que isto ocorra, não deve haver barreiras entre a escola e o mundo em que a criança vive. Deve estar tudo interligado e, na escola a criança deve encontrar o seu mundo e descobrir formas de sobreviver nele.

O computador é um instrumento de essencial importância, já que ele faz parte de quase todas, ou pelo menos da maioria das atividades humanas, então não tem mais como pensar em uma aprendizagem significativa sem seu uso. É bem claro que sua chegada ao  ambiente escolar provocou mudanças de paradigmas, no entanto,  a vastidão de recursos que o computador oferece possa facilmente e de maneira clara dar suporte para as diversas áreas de conhecimento. Todavia, nossas escolas ainda continuam arraigadas à padrões tradicionais onde apenas o professor fala e o aluno escuta.

É nessa nova era digital que o professor tem um “novo” papel, o de mediador dos processos de conhecimento, pois os alunos já chegam às salas com seus saberes prévios. Mas para que isso ocorra de forma tranquila, é necessário que o professor não tenha “medo” da autonomia do aprendiz, mas ao invés, se utilize de todas as possíveis ferramentas e possibilidades oferecidas por esta tecnologia, pois infelizmente muitos acreditam que o professor perde seu lugar frente ao computador.

As máquinas jamais substituirão o professor, no entanto, há a necessidade de uma ressignificação de seu papel frente às novas abordagens pedagógicas facilitadas pela tecnologia.  Por exemplo, a adoção das TICs em sala de aula traz aos educandos muitos e novos caminhos a percorrer, mas como fazê-lo sem a presença do professor? É ele quem vai articular e dinamizar todo o processo fazendo com que o aprendiz chegue ao seu ponto máximo.  Valente acentua que:

...o computador não é mais o instrumento que ensina o aprendiz, mas a ferramenta com a qual o aluno desenvolve algo e, portanto, o aprendizado ocorre pelo fato de estar executando uma tarefa por intermédio do computador. (VALENTE, 1993, p.13).

Já as vantagens para o aluno deste contato com as aprendizagens através dessas tecnologias, de acordo dom Ferreira são:

“(...) a) ser ‘sinônimo’ de status social, visto que seu usuário, geralmente crianças e adolescentes, experimentam a inversão da relação de poder do conhecimento que consideram ser propriedade dos pais e professores, quando estes não dominam a Informática; b) possibilitar resposta imediata, o erro pode produzir resultados interessantes; c) não ter o erro como fracasso e sim, um elemento para exigir reflexão/busca de outro caminho. Além disso, o computador não é um instrumento autônomo, não faz nada sozinho, precisa de comandos para poder funcionar, desenvolvendo o poder de decisão, iniciativa e autonomia; d) Favorece a flexibilidade do pensamento; e) estimula o desenvolvimento do raciocínio lógico, pois diante de uma situação-problema é necessário que o aluno analise os dados apresentados, descubra o que deve ser feito, levante hipóteses, estabeleça estratégias, selecione dados para a solução, busque diferentes caminhos para seguir; f) Possibilita ainda o desenvolvimento do foco de atenção-concentração; g) favorece a expressão emocional, o prazer com o sucesso e é um espaço onde a criança/jovem pode demonstrar suas frustrações, raiva, projeta suas emoções na escolha de produção de textos ou desenhos.” (FERREIRA, 2002, p.29)

Os benefícios da utilização da informática educativa tanto por meios formais como informais são nítidos culminando em uma conexão entre a escola e o aprendiz. No entanto, a democratização do acesso a esses produtos tecnológicos de forma adequada é talvez o maior desafio para esta sociedade, tanto para os poderes políticos quanto para os professores que infelizmente ainda se sentem inseguros em ambientes que ainda não têm pleno domínio.

Certamente o papel do professor está mudando, e seu maior desafio é aprender a reaprender compreendendo que agora é um transmissor de conhecimento e que deve priorizar agora não apenas o domínio dos conteúdos, mas as habilidades, competências, atitudes e valores do aprendiz.

Pois para se educar é necessário dar-se a oportunidade de mudar e de renovar, mesmo que isso signifique caminhar por caminhos ainda não trilhados sem medo, mas, se preciso for, retornar.

 

Conclusão

A democratização do acesso ao computador e recursos que a tecnologia nos apresenta é papel da escola, pois é preciso inserir nossos alunos ao processo sócio-digital que reina em nossa sociedade. Neste contexto, a utilização dos TICs pode em muito contribuir para mudanças de paradigmas antes intransponíveis, aumentando assim a motivação em aprender.

Compete ao professor  incumbir-se de seu papel de mediador e  impulsionar o aluno a utilizar-se ao máximo dos recursos oferecidos por essa tecnologia de forma eficaz tornando o aprendizado mais fácil e prazeroso. Contudo, faz-se necessário a conscientização de que não é apenas a introdução dessa tecnologia em sala de aula que fará com que haja mudanças ou solucione problemas educacionais, é necessário treinamentos, estudos e planejamentos sobre como utilizar essas ferramentas em sala de aula, pois do contrário, elas poderão trazer prejuízos ao aprendiz.

No entanto, se usadas de forma adequada, e, partindo de uma reformulação do currículo pedagógico, as ferramentas computacionais podem ser um poderoso recurso de possibilidades que contribuirão para a melhoria do nível de aprendizagem.

Nosso grande desafio não é trazer para a sala de aula o uso do computador, mas tornar essa nova maneira de ensinar, através das ferramentas computacionais, um ensino significativo que perdurará por toda a vida de educando.

 

Referências

ALMEIDA, Fernando José. Educação e informática: os computadores na escola. 4.

ed. São Paulo: Cortez, 2009.

 

ALMEIDA, Maria Elizabeth. Informática e formação de professores. vol 2. Brasília:

Ministério da Educação, Seed, 2000.

 

COX, Kenia Kodel. Informática na educação escolar. 2. ed. Campinas, SP: Autores

Associados, 2008.

 

FERREIRA, A. L. D. Informática educativa na educação infantil: riscos e benefícios.

Fortaleza: Universidade Federal do Ceará-UFC, 2000. Monografia (Especialização

em Informática Educativa).

 

GIANOLLA, Raquel. Informática na educação: representações sociais do cotidiano.

3. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

VALENTE, J. A. Computadores e conhecimento: repensando a educação.

Campinas: UNICAMP. 1993.



[1] Pedagoga. Especialista em Informática e Comunicação na Educação pela Universidade Cândido Mendes. Atua na rede pública de Ensino.

 

Acessos: 4692